sábado, 2 de março de 2024

CARTAS (226)


O LUGAR
Mesa de trabalho na residência de Milton Dota, 83 anos, falecido ontem, dentro de sua garagem. Um dos seus locais preferidos para todo tipo de discussão, debate e análise política.

DEIXA TE CONTAR TRÊS COISAS SOBRE O GRANDE MILTON DOTA
Felizmente tenho muitas histórias vividas pessoalmente com Milton Dota. Ter podido conviver com ele algumas passagerns desta vida é um alento, pois o vi envolvido em tanta coisa boa, tentando acertar e fazer vingar algo de positivo, que só de olhar para trás após seu passamento fico sem saber por onde começar.

Conto três coisinhas vivenciadas ali no velório. A primeira foi contada por um dos seus filhos, o advogado e ex-vereador Milton Dota Jr. Numa roda ele dizia ter encontrado tempos atrás o ex-prefeito Tidei de Lima num lugar, creio que num restaurante e este queria saber como estava seu pai, o que andava fazendo e se estava bem. Sua resposta é uma preciosidade e demonstra onde Dotão sempre esteve metido e enfurnado: "Meu pai está conspirando". Diz que, Tidei deu uma risada tão alta, com aquele seu vozeirão, chamando a atenção de todos os presentes no lugar.

Outra fui eu quem contei para alguns dos presentes. Meses atrás, Dota me liga e diz querer falar comigo. Passo em sua casa e ele sem pestanejar me diz estarmos perdendo o jogo para essa direitona perversa e cruel, pouco fazendo para recuperar o jogo. Olha bem pra mim, me diz gastar com tanta coisa, ajudar tanta gente, investir em tanta proposta por idealismo, mas faltar algo e lança sua proposta: "Henrique, o que precisamos fazer pra lançar um jornal com a nossa cara e por pra quebrar?". Fico lisongeado por ter procurado a mim, mas não devo ter dado a resposta que queria, pois disse temer não alcançarmos mais quem queiramos com um jornal impresso. Ficamos de pensar num meio virtual, mas o tempo foi passando e nada fizemos. Ele se foi com essa vontade de contar verdades escondidas do povão.

Por último, ouvi do professor Celso Zonta, algo com a cara do Dota. Seu espírito "conspirador" sempre foi o forte em sua vida, arrebatadora pessoa. Ele encontrou Zonta e dizia estava disposto a ir lá pessoalmente, talvez até sózinho peitar aqueles destranbelhados instalados na bazófia durando meses defronte o quartel da rua Bandeirantes. Alegava que aquilo não podia continuar, uma insanidade a olhos vistos, inaceitável e que, se nada fosse feito, ele estaria disposto a fazê-lo. Pelo visto, não encontrou quem o quisesse acompanhar e por sorte não foi só, pois naquele reduto estava concentrado um bando de gente da pior espécie, como hoje se sabe muito bem.

Encerro com algo natural, bem com a cara do Dota. O enterramos com muito menos pompa do que foi merecedor. Pusemos pra tocar a Internacional. Fizemos uma vaquinha, ligamos para um trompetista e ele encheu de esperança um bocado de gente ali presente no cemitério, meio claudicantes em continuar a luta. Por fim, não sei quem sugeriu, mas o fizemos como algo natural, saímos dali, atravessamos a avenida e fomos no Bar do Brecha tomar umas cervejas e umas pingas em homenagem ao falecido. Erguemos nossos copos e saudamos seu nome. O trompetista executou mais uma vez a Internacional, para um público ali presente, que certamente não conhecida aquela música, mas as quinze pessoas ali na mesa sabíamos muito bem. Dota foi muito phoda!!!

HPA NO JC - RETROSPECTIVA
Na terça, 27/2 sai na Tribuna do Leitor do JC minha missiva, a ISRAEL PASSOU DOS LIMITES. Por dois dias pau puro, ou seja, as carpideiras em ação. Evidentemente não repercuto estes. Enfim, não existe como justificar o que Israel faz. Quem tenta, em sua imensa maioria, tudo bolsonarista. Explicável a crítica para com as acertadas falas de Lula em ambientes perfilando e destilando ideais de ultra-direita. E para minha surpresa, na edição de sexta, 01/03, alguém a me defender no MEU VOTO VAI PARA ...O SR. HENRIQUE! Não conheço seu autor, Demerval Assis da Silva e, confesso, lisongeado fiquei. E na edição de hoje, sábado, 02/03, meu nome novamente numa NOTA DE PESAR, externando posicionamento do PT, onde milito, sobre dor pelo passamento de alguém muito grandioso, Milton Dota. HPA não se esconde, nem se omite.

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