sexta-feira, 14 de junho de 2024

UM LUGAR POR AÍ (181)


HOJE É DIA DE REGINOPOLAR
Pois é, depois de treze anos sai a continuação do primeiro, o "Reginópolis, Sua História". Agora, quando Fausto Bergocce me instiga, vou novamente junto dele e revivemos juntos a saga de contar algo dos habitantes da vizinha Reginópolis, Cidade Rainha, através de novo livro, "Está no Gibi - Reginópolis, sua Gente e suas Histórias". Fausto novamente desenha sua cidade, desta feita, em sua maior parte, através de curtas histórias, revividas, cidadão por cidadão, em cantos estrategicamente citados de sua terra natal. Ele desenha e eu escrevo. Quando o convite surgiu, disse ser mais um livro de sua lavra, mas na insistência aportei na cidade e fui perambular pelas suas ruas, conhecer de perto o que havia mudado em treze anos. Escolhi para tanto, seu maior memorialista Maurílio Peres Camargo, proprietário do escritório de contabilidade O Globo, o lugar onde todos circulam e todos acabam por fazer algo. Ou seja, junto de uma das pessoas com maior conhecimento da cidade, revivi o que foi o primeiro livro e entregamos um produto com nova roupagem, 13 anos depois.

Confesso, muita coisa me surpreendeu e faço essa comparação, medindo pela métrica do que ocorreu em minha cidade, Bauru. Tudo bem, podem me dizer que, em cidade pequena, tudo é mais fácil e mais visibilizado. Que nada, pois antes de voltar a circular por Reginópolis, fiz questão de circular também por outras da região e para minha surpresa, muitas pararam no tempo e no espaço. E daí, quando circulo com o Maurílio, ele vai me contando as novidades - eu só anotando -, vi que uma das maiores preocupações, atendidas pelas administrações desde então foi a da moradia popular. Despontaram na linha do horizonte daquela cidade muitos novos conjuntos habitacionais e até o bairro mais popular, o Marajá, hoje todo repaginado, conta com muitos dos seus morando hoje em outros locais, residências novas e com um custo muito baixo. Isso é qualidade de vida, como o bom atendimento de Saúde e o ônibus gratuito, em horários previamente divulgados. Como é bom você ter uma cidade onde o atendimento de saúde se dá sem filas e sem burocracia. Vi isso com meus próprios olhos e escrevo sobre isso. Cidade pequena é uma espécie de paraíso terrestre, mesmo ela tendo renda abaixo do que ocorre nos grandes centros. Qualidade de vida em primeiro lugar e depois, na somatória, quando do outro lado, administradores olhando para as necessidades de seus moradores, algo de bom tem de frutificar.

Meu papel foi assuntar sobre tudo isso e botar no papel. Fiz com esmero. O do Fausto foi fazer o que faz uma vida inteira, a de recolher em suas idas e vindas para a cidade, a desenhando em todos os seus mínimos detalhes. Fausto é um perfeccionista nato. Não deve ter habitante da cidade, hoje beirando os 4 mil, que não tenha sido ainda retratado pelo traço do artista. E ele continua, pois em cada novo lance, cada nova história que toma conhecimento, coloca aquilo no papel. Eu ouço algo, tomo conhecimento de algo ocorrido e já quero escrever e com Fausto ocorre o mesmo, só que através do traço. Daí, juntos, formamos uma equipe, um escreve e o outro desenha. Pensamos em outros projetos e parcerias juntos e nesta, felicidade pelo resultado agora apresentado, dever cumprido e como sempre, algo pode pintar para daqui mais uns 15. Enfim, Reginópolis é logo ali, ele lá de sua Guarulhos observando tudo à distância e comparecendo com uma frequência certeira, a para recarregar baterias e estar junto dos de sua aldeia. Eu, quando instigado, provocado, compareço e botando o pé na estrada, também me recarrego, pois saio de minha rotina e vou prum lugar onde me sinto muito bem, sou bem recebido e circulando por todos seus cantos, junto causos e histórias - estórias também. 

Daí veio a ideia do livro, sempre do Fausto e para sua realização, nada de dinheiro público. Tudo foi propiciado com ação coletiva, um bocadinho de cada um. Cotas e essas sendo adquiridas pelos munícipes, valores baixos e na junção de todas, o livro sai, com pequena tiragem, porém, todo lindão, colorido, como manda o figurino, pelo traço do Fausto e minhas fotos e textos. Reginópolis é muito bem dissecada por este filho querido, o Fausto. Lindo acompanhá-lo em sua devoção pelo seu torrão natal. Vejo poucos com tamanha disposição, garram talento e perseverança para fazer algo tão sólido e consistente. É mais que um embaixador de sua cidade, sendo seu maior divulgador. Se muitos pela aí ouviram falar um dia de Reginópolis, tenah certeza, isso se deve muito em função do que ele já a divulgou. No livro, um bocadinho disso tudo, juntado agora com caricaturas de muitos dos seus habitantes e também as pequenas histórias de seus moradores. Um lindo trabalho que o tempo demonstrará sua importância, pois quando não mais estivermos pro aqui e alguém for querer reviver, olhar para trás e lembrar de lugares, pessoas, fatos, eis nossos livros e com muita ilustração, feita mesmo para sonhar, divagar, reviver e sonhar.

Fazer um livro destes é mais que um sonho. Sonho besta, poderia dizer alguns, mas não, sonho altaneiro. Poucas cidades possuem algo assim, com essa consistência e abrangência. Li agora mesmo num texto do mestre Aldir Blanc sobre a insistência de se descrever um lugar. Quem o faz sem sapiência, torna-se chato, repetitivo. Fausto inova sempre e sigo junto dele, pois a pegada é boa. Ouvir tudo e guardar, histórias sempre inacabadas numa barberia, numa esquina, num botequim, numa roda de conversa, na fila do banco, sentados na paradia, no posto de saúde, na espera do ônibus, tomando banho de rio, mesmo numa sessão da Câmara ou no plantão policial ou enviando algo pelo Correios. Aqui tudo foi e é retratado. Sem chatice, sem repetição, com muito amor. 

Hoje volto pra lá, lançamos no livro, sentamos num bar, conversamos com todos à nossa volta, bebemos e comemos algo, dormimos no hotel da cidade, estaremos até mais tarde olhando pro céu e como sempre, juntando mais histórias. Isso é nossa vida, começar algo, terminar e já estar a postos para começar algo novo. Talvez até um novo projeto já sendo reformatado em nossas cabeças e desta feita, o pontapé inicial para ter início. Em Reginópolis tudo é possível. Hoje vou pra lá...

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