quarta-feira, 14 de maio de 2025

CHARGE ESCOLHIDA À DEDO (219)


COMO É BOM CRUZAR POR AÍ COM QUEM TEM ALGO PARA TE ACRESCENTAR - MILTON EPSTEIN
Eu provoquei o reencontro. Na verdade queria prosear com alguém como ele. Miltão, como o chamo, creio que pelo tamanho. Ele é grandão por todos os lados, um baita cidadão. Veio para Bauru de Sampa e aqui teve um bar, o Mió, ali na Cussy Junior. Ele era o chefe de cozinha e me conquistou, primeiro pelo jeito peculiar de fazer aquele cozido e depois, quando da primeira conversa, nos transformamos em amigos. Isso já vai mais de uma década. Ele perdeu a esposa, trouxe o irmão pra morar com ele e juntos tocam a vida. Trabalhou boa parte da vida dentro de uma das maiores empresas de água deste estado, a Cetesb e depois, caiu dentro de Bauru, de onde resolveu não mais sair. O motivo do encontro de hoje foi lhe entregar o boné "O Brasil é dos Brasileiros", de apoio ao Governo Lula, comprado de outro amigo jauense.

Uma delícia ouvir suas histórias. Falávamos da sacanagem que foi espezinharem o irmão do Lula, Frei Chico no quesito do lesa aposentados. Essa nossa mídia é mesmo perversa e cruel, pois quando descobriu que o cerne da questão estava bem distante do militante e fundador do PT, parou de pegar pesado sobre o assunto. Queriam encontrar um viés para culpabilizar Lula, mas como este não despontou e tudo foi mesmo coisa de seus adversários, mudaram o foco. Daí, ele me contou de quando conheceu Frei Chico e na sequência Lula. Numa chuva forte na região paulistana, caminho de Santos, moradores foram desalojados e se alojaram numa área próxima, mantida pela empresa de águas e onde a elevação de águas era constante. Fopi negociar com os moradores e pediram para falar com aquele senhor, muito conceituado entre os moradores. Este era Frei Chico, que o ouviu e pediu um dia para voltarem a se reunir. Voltou com outra pessoa, era Lula, ainda presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Lula e Frei Chico entenderem que precisavam tirar aquele pessoal de onde se instalaram, pois o perigos era iminente. Em menos de 24h, uns 8 ou mais caminhões transferiuram tudo de lá. SAbe para onde removeram provisoriamente o pessoal? Para um terrenão existente na época ao lado do sindicato e um campo de futebol. Choveu forte no dia seguinte, o lugar onde saíram foi alagado e em pouco tempo, aquela gente foi acomodada em lugar mais seguro. Isso foi e é como age Frei Chico e, consequentemente, Lula. Isso é história, relembrada por quem a vivenciou.

Sentamos ali na padaria famosa na Nossa Senhora de Fátima e perdi até a hora de fazer almoço em casa. Ou seja, a prosa foi boa e me esqueci da hora. Eu e Miltão somos do time dos que se sentem muito incomodados com essa inércia e queremos fazer mais, dando o quinhão de contribuição para alavancar este governo, com uma pegada popular e fazer o possível e o impossível para travar, brecar e denunciar esse bando de impunes fascistas em ação. Pensando nisto tudo, ficamos quase hora e meia ali, sem consumir quase nada, esquecendo que estávamos num ambiente comercial. Falamos também deste pessoal hoje instalado dentro da Prefeitura de Bauru e arquietando até nomeações para entidades inexistentes. Na verdade, a única conclusão plausível e possível: "Pode reparar, não erramos nunca, isso é coisa de bolsonarista. Sem possibilidade de erro". Quando passamos pelo JC, vendido na padaria, a foto na primeira página era do astronauta, pois está chegando o dia da festa aérea em Bauru. "Esse nada fez e nada fará por Bauru e nada lá no Senado. Que dinheiro mal gasto o governo federal teve lá atrás investindo num sujeito desprovido de qualquer básida sólida de conhecimento e cultura". Ficamos mais um tempo no estacionamento, sempre numa conversa ligada noutra e o almoço que já estava atrasado quase desandou e levo comida da rua. Marcamos algo mais pro meu aniversário de 65 anos, o que vai comemorar minha aposentadoria e ele, cozinheiro de mão cheia já se comprometeu a ser o mestre cuca dos festejos. Vou juntar força com diletos amigos e comemorar essa data e junt ode gente querida, buscar forças para continuar tocando a vida como ela deve e precisa, ao estilo de alguém pelo qual nos espelhamos, Pepe Mujica.

EU QUERIA ESCREVER ALGO MAIS NESTE MOMENTO SOBRE O PAPEL DE PEPE MUJICA. NÃO CONSEGUI NADA DE PROVEITOSO E COMPARTILHO ESTE TEXTO, POIS O ACHEI NA EXATA MEDIDA DO QUE PENSO.
"Mujica e o funeral que a imprensa quis escrever
Morreu José "Pepe" Mujica. Morreu o homem de fala mansa e ideias incendiárias, de ternos surrados e moral reluzente; o camponês que presidiu um país sem jamais abandonar o campo. Morreu — e a imprensa brasileira, essa mesma que há décadas se apressa em colar etiquetas onde deveria haver perguntas, correu a batizar o corpo ainda morno com o rótulo mais funcional possível: “símbolo da esquerda”.

E então desfilaram-se os obituários, em títulos uniformizados pela lógica do oligopólio, que diziam mais sobre os vivos que os redigiram do que sobre o morto que pretendiam homenagear.

O Globo: "O presidente mais pobre do mundo" que foi ícone da esquerda
Curioso caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde jornalístico, O Globo resolveu vestir-se de homenageador. Falou do "presidente mais pobre do mundo", mencionou o "ícone da esquerda", imprimiu uma foto grande, generosa. Por um instante, pareceu lembrar que há grandeza em quem ousa viver com pouco e sonhar com muito. Pareceu compreender que Mujica não foi apenas um símbolo da esquerda, mas a memória viva de uma possibilidade: a de que a política, sim, pode ter ética — e de que o poder não precisa deformar a alma. Mas, claro, tratou de limitar o alcance: foi "símbolo", sim, mas da esquerda. Ou seja, já sabemos: não é para todos.

Valor Econômico: Morre José Mujica, símbolo da esquerda na AL
Cão de guarda do capital em pele de jornal econômico, fez o dever de casa e repetiu o mantra do patrão (O Globo). "Símbolo da esquerda", mas comedidamente "na América Latina", como quem diz: não se assustem, leitores, ele foi apenas um folclore regional — uma espécie de Che Guevara sem fuzil e sem Paris Match. Nada que ameace os bons negócios ou a ordem global das coisas. Nada que perturbe o sono dos executivos da Faria Lima.

O Estado de S. Paulo: "Ex-presidente uruguaio virou símbolo da esquerda na América Latina"
O velho coronel de papel, com extrema má vontade — mas por obrigação de ofício — publicou o mínimo, o indispensável. Como se Mujica fosse uma pedra na garganta, produziu um constrangimento histórico, culminando num editorial ruminante e ressentido que mistura nomes que não cabem na mesma frase — Mujica, Lula e Bolsonaro — como se isso fosse possível sem insultar a inteligência do leitor. É o gesto típico de quem não compreende e, por isso mesmo, despreza. E comete, assim, o crime silencioso da desonestidade intelectual: o de nivelar todos por baixo, para que nenhum se destaque.

Folha de S.Paulo: "Morre Pepe Mujica, presidente do Uruguai e símbolo para a esquerda"
E então vem a Folha, sempre ela, faceira e desavergonhada e reduz Mujica a um "símbolo para a esquerda". Só para ela. Como se Mujica fosse um talismã tribal, um totem exclusivo — e não uma das raras figuras da política contemporânea capazes de comover até mesmo os desiludidos, os órfãos da utopia, os esquecidos pela democracia de mercado. A Folha, com sua ironia passivo-agressiva habitual, não consegue enxergar que Mujica transcendeu a esquerda — não para negá-la, mas para reencantá-la. Ele falava à parte mais adormecida de todos nós: aquela que ainda crê que há lugar para bondade na política, que ética e poder não são termos inconciliáveis.
Ao negar a Mujica a potência de ser universal, negam-lhe o direito de tocar corações para além das fronteiras ideológicas. Negam-lhe o direito de inspirar aquele operário que votou na direita, iludido por slogans e promessas, mas que sente, no fundo do peito, que algo está profundamente errado. Negam-lhe o direito de ser um alerta aos que se resignam a trocar suas vidas por parcelas intermináveis e promoções vazias. Negam-lhe, sobretudo, o direito de ensinar a amar a simplicidade — esse valor tão subversivo num mundo que nos quer consumistas, apressados e permanentemente insatisfeitos.

Porque Mujica, ao contrário do que sugerem esses títulos cautelosos, não era só um símbolo. Era um desafio. Um desconforto ambulante. Um lembrete incômodo de que talvez estejamos vivendo errado. E de que a felicidade — essa palavra tão prostituída pela publicidade — talvez resida menos em possuir do que em partilhar.

Esses jornais — especialmente os que fingem imparcialidade enquanto escorregam em preconceitos mal disfarçados — tratam de confinar Mujica ao gueto da esquerda porque não suportam a ideia de que ele possa ser maior que isso. Porque, se Mujica é um homem universal, então suas ideias também o são. E se suas ideias o são, então talvez precisemos rever não apenas nossos votos, mas nossas vidas.
PADRE PACO É OUTRO, IGUALZINHO MUJICA

E isso, claro, é pedir demais de quem prefere que tudo continue como está.
Morreu José Mujica.
Mas não morreu sua pergunta, feita com a força de uma vida coerente e não com as palavras ocas da retórica, vazias de existência: "É isso mesmo que vocês chamam de vida?"
Do Edward Magro

AS HISTÓRIAS DOS QUE VALEM À PENA - PADRE PACO, NA LIDA E LUTA PELOS MAIS NECESSITADOS NA ARGENTINA, IGUALZINHO O QUE FAZ NO BRASIL O PADRE JÚLIO LANCELOTTI
https://www.pagina12.com.ar/825122-asi-en-la-tierra-como...
Essas são as tais histórias que, quando leio, dá uma vontade desenfreada de ir conhecê-los pessoalmente. Li algo hoje de Padre Paco no diário argentino Página 12, edição virtual.

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