sábado, 24 de maio de 2025

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (184)


VER UBU REI NO TEATRO FOI DEMAIS: SERÁ QUE O PESSOAL DA ADMINISTRAÇÃO FUNDAMENTALISTA SABIA QUE O TEXTO DE ALFRED JARRY É UM LIBELO CONTRA O AUTORITARISMO?
Na primeira peça encenada depois da reforma - reinauguração é desmerecer tudo o que por ali já aconteceu - no Teatro Municipal de Bauru, Celina Lourdes Alves Neves, UBU REI, não poderia ter sido melhor, servindo exatamente para mostrar como age a administração Suéllen. Creio eu, ela chega até Bauru pelas mãos do ator bauruense Juliano Dip, se esforçando para trazê-la para a cidade. Caiu como uma luva para o momento que a cidade vive, enlameada no meio de uma administração autoritária, prepotente, arrogante, onde a mandatária poderia muito bem ser comparada com o Rei Ubu e todo seu séquito.

"Ubu Rei foi escrita por Alfred Jarry no final do século 19 e, nos 120 anos em que vem sendo encenada em todo o mundo, não perde a atualidade. É considerado um texto visionário não apenas do surrealismo, mas da era de totalitarismos, extremismos, ditaduras e atentados antidemocráticos, nos séculos 20 e 21. A peça conta a história de Pai Ubu e Mãe Ubu, que usurpam o trono do rei da Polônia e instauram um governo de caos absoluto, normatizando a estupidez e a barbárie. A identificação entre a sátira de Jarry e a calamidade política, cultural e humanitária deixada pelo desgoverno Bozonaro confere à montagem de Ubu Rei a qualidade de um tratado sobre nossos tempos.

Em um mundo que regride ao fascismo, a peça tem um caráter de observatório da realidade, ou crônica, ainda que por meio da sátira. Complexifica a tarefa o fato de a crônica contemporânea, diferentemente do século 20, ter de se pautar hoje não só por experiências vividas ou fatos noticiados, mas por verdades produzidas em redes sociais, pela indistinção entre fato e ficção e pelo empoderamento da extrema-direita pelos algoritmos. Se o Rei e a Rainha Ubu encarnaram casos de deturpação e abuso de poder ao longo da história, agora eles representam o dirigente que incita ao ódio, dissemina a violência digital, desmantela políticas públicas, sufoca direitos humanos e pacientes de Covid-19. As desventuras de Pai Ubu concorrem com barbaridades ubuescas atuais que nem Jarry ousou imaginar”
, texto de Paula Alzugaray.

Que sorte termos na peça o bauruense Dip, pois com certeza é dele as citações sobre Bauru, inclusive saindo de sua boca a delirante: "Mas então é normal contratar a mãe?". Não se fez necessário dizer mais nada, estava tudo dito numa só frase, justamente no dia de outra citação, a feita também por ele, "não seria melhor vocês estarem no casamento da prefeita?". O Teatro Commune, trazendo para a cidade a divinal Esther Góes, não poderia ter sido melhor. Sai da sala do sempre bonito e agora repaginado teatro rindo à toa. Ubu foi na veia do que representa hoje Suéllen para Bauru.

Li no JC de quarta, 21/05, algo sobre como Dip se desdobrou para trazer a peça para Bauru: "Rodamos o Estado todo nos últimos quatro anos e eu não conseguia vir para Bauru. Não tinha local, o Municipal fechado, os anos passando e nada. (...) Agora, Habemus Teatro". Interpretem como queiram, eu fiz a minha: Dip tão logo soube da reabertura do Teatro foi logo correndo oferecer gratuitamente para o público bauruense, uma vez que tudo é bancado por lei de incentivo e ciente da barbaridade dessa administração, assim desferiu um petardo contra os desmandos em curso. Adoraria reencontrar Dip e lhe dar um incontido abraço, pelo proporcionado para todos querendo e necessitando dar uma dessas, com luvas de pelica na cara dessa absurda administração. Isso me fez lembrar dele nas participações do CQC na Band TV.

Dip foi na veia e pelo que sei dessa turma hoje na Cultura municipal temo pelo futuro das próximas apresentações, pois o pessoal por lá deverá ser mais criterioso com a censura, algo feito mais ou menos assim: "Criticar até pode, mas nunca com a nossa mandante mór". Essa passou e se a estocada não foi sentida é por absoluta falta de entendimento do que estava sendo apresentado no palco. Adorei tudo. Estava acompanhado do casal de amigos jauenses, Fernando e Raquel, que como eu, rimos a dedéu e saímos com um peso a menos na consciência, pois qualquer tipo de apresentação cultural, seja ela qual for, querendo, dá para deixar bem claro de que lado estão.

OBS.: Impossível para mim assistir qualquer encenação de UBU REI e não me recordar de Pholyas Physicas, Pataphysicas e Musicaes, montagem do Teatro do Ornitorrinco, de Cacá Rosset, Maria Alice Vergueiro e Luiz Galizia, ficando duas décadas em cartaz – de 1985 a 1997 e marcando muito toda minha geração.


PLACAS
Volto hoje ao Teatro Municipal de Bauru Celina Lourdes Alves Neves, para assistir um libelo contra o autoritarismo, Ubu Rei e por lá, em destaque na entrada, uma placa de grande porte sobre "reinauguração e modernização" daquele espaço pela atual alcaide, o que é um desaforo para a própria homenageada, um tapa na cara de todos que antes ali labutaram e atuaram. 

O teatro está lindo, com seu ar condicionado funcionando, poltronas e pisos renovados, mas nenhuma modernização e nem motivos para reinauguração. Colocar num canto do hall a placa com o rosto de dona Celina e deixar no centro do local o reverenciando a alcaide é no mínimo brega, demonstrativo inequívoco de pobreza de sentimentos e, principalmente, de reconhecimento. 

Suéllen passará, Celina permanecerá ad eternum.

HPA CRIANDO CASO - DOIS NÃO GOSTARAM, HOJE DESPEJEI ALGO MAIS PELA TRIBUNA DO LEITOR DO JC
Eu escrevo, peço para publicar e aguento a pinimba, tenho argumentos para defender o que escrevo. Dois vieram com conversinha mole, trololó e querendo enrolar, tentando engambelar, melar, confundir. Enviei a resposta e hoje saiu publicada na mesma Tribuna do leitor, do JC.

A minha está na íntegra, publicada abaixo e a enrolação dos dois está numa das fotos publicadas. Vamos conversar. Por favor, digam se não tenho razão? Não é o fato de defender Lula, o PT e a esquerda, mas de no mínimo, ser sensato no que escreve e dentro da verdade factual dos fatos.

"FIM DA PICADA É A REPRODUÇÃO DE INVERDADES
Eu milito no campo da esquerda e disso não me arrependo. Não fosse o posicionamento e ação destes, o país hoje estaria numa posição desconfortável, pré falência e desacreditado mundo afora. Não trabalho, nem fico repetindo mentiras e fake news. Discuto fatos concretos, nada mais.
Diante de tudo o que já foi apurado sobre o escândalo da Previdência, alguém vir a público e afirmar algo de frei Chico, sobre seu sindicato ser um dos artífices da maracutaia, quando isso já foi comprovado não corresponder com a verdade dos fatos é no mínimo ser desleal. Por que continuam fazendo isso, mesmo após essa farsa já ter sido desmontada? Simples.

Quando tudo já está se delineando e mostrando quem de fato está por detrás disso, a cortina de fumaça precisa ter continuidade, a mentira não pode parar, pois com ela, desviando-se da verdade, tentam culpabilizar quem tomou providências e está resolvendo o problema. Bolsonaro não orquestrou pessoalmente o esquema, mas gente muito próxima dele, inclusive apoiadores financeiros de muitas campanhas. O mesmo não podem dizer da tentativa de golpe, quando este mesmo, o santo da pau oco, não tem mais como desdizer de sua responsabilidade por querer envolver o país num retrocesso sem fim. Seu fim, deverá ser mesmo a prisão. O conjunto da obra o condena.

Lula não negocia com ditadores. Negocia com países e se a China hoje ainda pode assim ser considerada, imagine como poderíamos classificar os EUA de Donald Trump? Os acertos de Lula nas negociações internacionais são reconhecidos por qualquer pessoa de bom senso. Resultados inolvidáveis.

Pelo visto, incomoda muitos o fato do Brasil de Lula seguir de forma altaneira e soberana, com progressistas avanços, quando ninguém consegue vislumbrar nada de positivo nos quatro de anos de Bolsonaro. Nada mesmo.

HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO - jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com)".

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