quinta-feira, 3 de julho de 2025

UM LUGAR POR AÍ (197)


APRESENTO AOS INTERESSADOS EM NAVEGAR NUM MUNDO DIFERENTE O MEU "MAFUÁ", ANTES NAS BARRANCAS DO RIO BAURU E AGORA, NUM LOCAL MENOR, PORÉM, CHEIO DE ACARINHAMENTO PARA TUDO, TODAS E TODOS OS COM VONTADE DE NAVEGAR POR MARES DESCONHECIDOS*
* Se o nome deste blog é Mafuá do HPA, nada como apresentá-lo decentemente.

Um reduto possibilitado, após esse acúmulo de décadas vivenciadas e com o ajuntamento, pela mesma quantidade de tempo, de preciosidades. Juntei tudo e nelas navegando, encontro disposição para continuar tocando este barco, nevegando contra adversidades e flanando no meio deste turbilhão de coisas que gosto. Não consigo mais viver sem comparecer diariamente neste espaço e dele subtrair magnetismo e ser por ele recarregado. O convite está aberto e feito. Isso tudo não pode - e nem deve - ser desfrutado de forma isolada e solitária.












quarta-feira, 2 de julho de 2025

BAURU POR AÍ (241)


O LARGO DOS PARALELEPÍPEDOS DEFRONTE A FEIRA DO ROLO PODE SER TOMBADO – A PRESERVAÇÃO HISTÓRICA MUNICIPAL AGRADECE
Eu tenho uma relação afetiva de grande envergadura com o local onde hoje ocorre a dominical Feira do Rolo, junto da rua Júlio Prestes, beirada dos trilhos férreos e da antiga Estação da Cia Paulista. Este largo é histórico e nele, muitas décadas atrás, bem no seu centro um bebedouro de animais, pois ali local de concentração de carroceiros de antanho. Com a feira dominical na rua Gustavo Maciel, este lugar recepcionou o que é denominado mundo afora de Mercado das Pulgas, um comércio onde se encontra de tudo um pouco. Hoje o denomino de o local mais democrático da cidade de Bauru.

Este piso tem história, inclusive uma última de resistência. Dos tempos quando presidi o CODEPAC - Conselho da Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru, a Polícia Militar instigou a administração municipal da época para colocar asfalto sob o paralelepípedo. Isso começou a ser feito e devido a uma ação rápido do Conselho, este foi interrompido. Do contrário, neste momento não restaria mais nada a relembrar o passado histórico ali vivenciado. A alegação era de que o local era fácil esconderijo de drogas e com tudo asfaltado, mas fácil o serviço deles. Com uma ação rápido interrompemos algo que, foi iniciado e nunca retirado, permanecendo ali aquilo de parte estar com o piso original e parte já asfaltada. Visualmente um horror.

A boa notícia lida semana passada pelo JC, 28/06, matéria assinada por Tisa Moraes, “Codepac dá início a estudo sobre tombar ou não rua de paralelepípedos no Centro – Pavimento da rua Júlio Prestes, onde ocorre a Feira do Rolo, mantém características da época da formação do município”. Ao ler a matéria, passa um filme em minha cabeça e na de tantos outros, fazendo de tudo e mais um pouco, para ao menos manter preservado alguns resquícios do passado férreo, motivo do progresso de Bauru. Pelo que li, o estudo está muito bem fundamentado e sendo acompanhado de perto pela atual presidente do Conselho, a arquiteta Juliana Cavalini, mandato de 2025/2027.

Na Bauru fundamentalista dos tempos atuais é até perigoso fazer a defesa de algo neste sentido, pois só por isso, embirram e decidem não mais tombar. Já vimos este filme. A minha argumentação passa por uma futura revitalização completa naquela área, com a estação sendo transformada na reabertura do Museu Histórico, com o Projeto Ferrovia para Todos tendo sua composição férrea ali posicionada e mais que isso, o barracão defronte a feira, sendo transformado no tão acalentado Mercado Municipal. Um sonho, que sei, um dia se tornará realidade. E neste conjunto todo, evidentemente, o calçamento do local deverá ser mantido como da época de sua efervescência, ou seja, os paralelepípedos.

Em Bauru, foi mantido até bem pouco tempo algumas ruas de paralelepípedos próximas ao Cemitério da Saudade, vila Cardia e adjacências, com muitos afirmando ali existir uma praga: quem retirasse o piso teria fim trágico. Hoje quase tudo já é asfalto, a Prefeitura que até décadas atrás mantinha uma equipe especializada neste tipo de piso, hoje não possui mais ninguém e qualquer reparo, o asfalto é colocado no lugar. Resta o que deste piso na cidade? O local onde deveria ser mantido, preservado é este e mais nenhum. Sua importância histórica é mais do que reconhecida. Pensando no futuro de todo o entorno, não existe algo plausível de uma restauro de tudo aqui, trocando o paralelepípedo por asfalto.

Li um outro artigo do JC, datado de 06/03, onde nele, algo da posse da nova diretoria do Conselho, “Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Codepac) já tem nova presidência; professora fala sobre ações”. Tomara consigam efetuar uma votação sem pressões, algo normal na história do Conselho, pois este é um local onde realmente se faz necessário algo ser feito em prol da preservação. Diante de tantos imóveis tombados, alguns já demolidos, outros em ruínas, muitos em péssimo estado de conservação, eis um ótimo mote para uma retomada em grande estilo. Torço muito por isso. Circulo pela Feira do Rolo todo domingo, ou seja, bato cartão e sonho com aquilo tudo transformado. Este tombamento já seria mais que um ótimo começo. Mesmo que tombamento ocorra, ele ainda passa pelo crivo do Executivo Municipal, que dá a última palavra, mas isso já é um segundo momento.

Link da matéria do JC de 06/03/2023: https://sampi.net.br/.../codepac-tem-nova-presidencia...
Link da Matéria do JC de 28/06/2025: https://sampi.net.br/.../codepac-da-inicio-a-estudo-sobre...

ARMAÇÃO ILIMITADA PRA CIMA DA CLASSE ARTÍSTICA BAURUENSE
A imagem é nebulosa por natureza.

O que se viu hoje à tarde no auditório da Prefeitura Municipal de Bauru, no seu terceiro andar, quando o presidente da Câmara Municipal de Bauru agenda um encontro da alcaide Suéllen Rosin, por mim denominada de incomPrefeita, com a classe artística foi algo além do surreal. Ela ouviu as reivindicações dos presentes em vários documentos entregues no ato e tentou demonstrar desconhecimento do preço cobrado pelo aluguel do Teatro Municipal, R$ 4 mil reais por diária e pior, da perda dos prazos dos editais em curso da Lei Aldir Blanc. Alegou, estar fora por uns dias e desta forma, quis se isentar de qualquer responsabilidade. Isso não cola.

Vamos à armação. O atual sectário, ops, digo, Secretario Municipal de Cultura, que sabia do encontro não estava presente. Evidente a existência de uma armação para sacá-lo do cargo. O presidente da Câmara já tem um nome para substituí-lo e isso, pelo que se prevê deverá ocorrer em breve. O atual está mais desgastado que pneu careca. Não se iludam artistas e todos os interessados nos rumos da Cultura. A alcaide sabe tudo o que se passa em todas secretarias municipais. Conhece muito bem a situação atual da Cultura e nada lá ocorre sem seu conhecimento. Tudo decisão dela. O atual secretario nada faz sem sua anuência. E é claro, a alcaide vai vir à publico em alguns dias, anunciar o novo preço do aluguel do teatro, muito mais baixo que o atual, deixará seu secretario numa saia muito justa e assim, meio caminho andado para o indicado pelo vereador assumir.

Despontando um nome, que já havia sido sugerido anteriormente pelo mesmo vereador, vingando desta vez, acreditam que algo mudará? Nada. Com certeza, piorará. Ele só terá mais poder, agora total dentro da Cultura, também sua área de atuação. Não existe nenhuma possibilidade de nada salutar ocorrer nas hostes da Cultura municipal dentro da atual administração. Os prazos continuarão sendo perdidos, o distanciamento entre a necessidade da classe artística e o seu atendimento continuará sem solução. A alceide assim o quer. Existe uma só certeza, a atual administração menospreza a Cultura e os artistas bauruenses. E trocar seis por meia dúzia, será a continuidade da perdição cultural. Cair nessa artimanha só o faz quem quer. Nenhuma luz no final do túnel para a Cultura bauruense. Nenhuma prefeitura de cunho bolsonarista, ainda mais quando aliada do fundamentalismo, faz algo concreto em prol da Cultura. Nenhuma. A queda de um secretario e substituição por outro, nessa altura do campeonato, é querer tapar o sol com a peneira.

terça-feira, 1 de julho de 2025

AMIGOS DO PEITO (241)


A PIZZA QUE UM AMIGO LEVOU ONTEM NA CÂMARA ILUSTRA BEM MOMENTO ATUAL POLÍTICO BAURUENSE
Conheço Nelson Fio de longa data. Atuamos juntos no mesmo time do último governo Tuga (2005/2008). Ele foi duramente perseguido e até gravado, por um gravitando até hoje pela aí. Passou incólume por aquele período. Depois estivemos juntos no primeiro Conselho da,Água, que nem sei se existe mais. Fio nunca se filiou a nenhum partido dito como de esquerda, mas não esconde de ninguém seus posicionamentos. Passa longe de ser considerado conservador. É um líder comunitário de respeito. Gosta de bater cartão nas sessões semanais da Câmara de Vereadores. Ontem mesmo, voltou lá e diante da certeza do encerramento da CEI a investigar suposto desvio de bens da Prefeitura para igreja da família da atual alcaide, já chegou demonstrando como seria a finalização de mais um dia de trabalho (sic) por lá. Munido de duas potentosas caixas de pizza se deixou fotografar e assim, sem precisar ser bidu, como a cidade inteira já sabia, a imensa maioria dos vereadores não estão nem um pouco afim de investigar algo referente ao lado apoiado - poderia ser também escorado - por eles. Quando de 21, no mínimo 17 votam cegamente tudo o proposto pela atual administração e o vice-líder da atual alcaide preside os trabalhos, esperar o que como resultado desta CEI? Com certeza, duas pizzas é pouco para tanta gente. Nelson Fio continua antenado e muito bem representando os ainda com saco para assistir a ópera bufa repetida toda segunda-feira na dita como Casa das Leis.

A FELICIDADE EM REENCONTRAR O REMOÇADO MÚSICO MARQUINHO VANDERLEY
Prazer inenarrável reencontrar Marquinho Vanderley no estacionamento do Confiança Nações hoje no meio da tarde. Ele é dos mais renomados músicos em atividade por estas plagas, completando por estes dias 40 anos de plena atividade artística. É dos remando contra a maré e conseguem sobreviver, ou seja, vive exclusivamente da música. Lembranças eu tenho dele tocando pra uma infinidade de artistas aqui de Bauru e região. Bate em todas. Se tem que ser samba, tá dentro, se tem que ser MPB, melhor ainda, se tem que ser jazz ou blues, antenadíssimo, se tem que ser sertanejo, não desafina, o mesmo posso dizer de forró e outros ritmos. Marquinho bate nas onze, ou seja, polivalente. Músico na acepção da palavra. Paparico mesmo, pois qualificação não lhe falta. Até junto do bloco do Tomate já tocou, isso nos tempos do inesquecível Kananga do Alermão.

O acompanho de longe e hoje, ao reencontrá-lo logo digo: "Se tá bonitão demais. Fininho, sem barriga. Que foi isso?". Ele ri, me abraça e diz estar se cuidando mais. É desses que não confessa a idade, pois diz estar solteiro e nas paradas de sucesso, daí quando lhe conto ter completado 65, ele diz estar pela aí, nem perto, nem longe, na lida. Marquinho deu um breque em muita coisa em sua vida e hoje, se cuida muito mais. Louco por pães, não os deixa fora de sua comilança diária, mas pegando leve. Se antes numa sentada, tarde como hoje, fria e comia logo três, hoje vai de um por dia. Conseguiu segurar a ansiedade e se deu bem. Com a cerveja a mesma coisa, se antes enchia a pança, hoje pega leve e se achar por bem, bebe outras coisas, quantidade muito menor e assim, fechando a boca e pensando em viver mais, perdeu peso e está redondinho - no sentido de estar batendo bem demais -, ou seja, feliz da vida, correndo por fora e cheio de gás. Uma belezura ver sua disposição e me dando uma aula de como devo proceder para trilhar algo parecido. "Os resultados são uma qualidade de vida que não tinha e hoje esbanjo", conta.
Contou mais e a dica eu anotei num papel. Ele diz me ler nas indicações diárias do Vitrolinha e pede que procure no youtube um velho LP do Taiguara, o "Fotografias", do ano de 1973.

Chego em casa e tem uma recado dele no whats: "Ah, tem uma faixa desse álbum pros músicos ouvirem, New York. Após a letra vira um free jazz tupiniquin. Altíssimo nível. Salve Tayguara". E me indica o link para encontrá-lo, tudo mastigadinho: https://www.youtube.com/watch?v=udJKpzYFl9Y .Paro tudo e vou ouvir, curtir, rever o velho e bom Taiguara, com mais essa letra instigante, bem ao estilo do que gosto. Te tudo, que bom rever Marquinho esbanjando vitalidade, baita exemplo para tentar diminuir a barriguinha e só por me indicar a dica musical, chego em casa e não quero fazer outra coisa: malhar na esteira com Taiguara ao fundo. Ganhei o dia.

CHEGANDO PERTO DE MAIS UM FESTIVAL INTERNACIONAL DE DANÇA, DIREÇÃO DE MÁRCIA NURIAH, BAURU DE TEATRO REFORMADO, PORÉM CONTINUARÃO LÁ NA BARRA BONITA
O Festival Internacional de Dança que a Márcia Nuriah apresentava em Bauru anualmente, pelo visto, mesmo com nosso Teatro Municipal reaberto e em condições, por mais um ano ele continuará ocorrendo na vizinha cidade de Barra Bonita. Nos últimos anos, por falta de um espaço, ocorre a transferência para outra cidade. Hoje, pelo visto, o quesito principal é a cobrança do aluguel diário de R$ 4 mil reais. Recebo whatts dela, direto de Amsterdam, Holanda, lamentando a falta de diálogo para resolver a questão:

“Oi Henrique, tudo bem por ai?Olha só, eu cancelei a solicitação do Teatro Municipal porque ficou inviável pagar 4 mil por dia de evento. Ao mesmo tempo, a Fundação Gulbekian aceitou patrocinar a ida da Oniscidea Cia de Dancas para o "meu" festival. Bauru perdeu!! Claro que nem vamos arriscar um prejuízo de fazer um espetáculo deles fora do Festival. Uma pena. Ganhou Barra Bonita, que vai assistir ao espetáculo. O diretor criou uma linguagem que reúne dança contemporânea, Butoh e Aikido. É conceitual e está fazendo muito sucesso na Europa. Mas estou chateada de não poder fazer o Festival por ai. Será que não conseguimos um espaço alternativo?”.
Seu recado é como se lançasse uma garrafa ao mar com um pedido de socorro. Ela acompanhou o que escrevi dias atrás, não só da majoração absurda do aluguel do teatro, mas da confusão quando não implantaram os editais da Lei Aldir Blanc. O festival como se sabe é iniciativa do CIAD – Confederação Interamericana de Dança, com regulamento internacional, sendo Márcia a coordenadora de um deles. Pessoas pagam um valor baixo para participar e recebem seus respectivos ingressos. O teatro lota quase que totalmente com participantes e o preço ao público é baixo. Antes da pandemia, muitos participantes, hoje tentando recuperá-los. Diante da planilha completa do evento, melhor seria abrir um diálogo, mas em Bauru, por enquanto, isso não existe. É R$ 4 mil ou um percentual da bilheteria e pronto acabou. Ou seja, praticamente impossível essa cobrança diária para um evento de uma semana.

Márcia nunca se recusou a pagar pelo aluguel do teatro, mas o valor definido atualmente é extremamente fora da realidade. "Neste ano a Fundação Gulbekian está patrocinando o evento, bancando passagens e isso precisa ser levado em consideração. Estamos tentando recuperar o que já fomos um dia, antes da pandemia. Estou a mil, mas ficou inviabilizado com este valor de aluguel. Quanto teríamos que cobrar de ingresso? O evento não ocorre somente num dia. O teatro negocia com dinheiro público, ele tem que ser acessível”, ela me relata. O Festival já tem data e local definidos. O espaço alternativo sugerido pela Márcia é para apresentação dos artistas, principalmente estrangeiros na cidade. Isso talvez possa ocorrer até de forma gratuita, me diz, porém, como negociar diante da irredutibilidade do valor cobrado de aluguel. Com o exemplo do que está neste momento ocorrendo com o Festival de Dança da Márcia Nuriah, um exemplo de tudo o mais. Isso aqui sai publicado só para o entendimento de como Bauru perde muitas apresentações, motivadas pela decisão sem fundamento sem nenhum tipo de lastro, tomada na base do chutômetro. Indiscutível a representatividade do Festival, mas pelo visto, não é assim o entendimento de quem hoje dirige a Cultura municipal. Baita atraso já se consolidando na terra do sanduíche.

OBS.: A OCDD participará no 23° Festival Internacional CIAD Bauru e no 4° FestiDance Sem Limites Barra Bonita nos dias 4 e 5 de Outubro de 2025, no estado de São Paulo, Brasil. A Oniscidea Companhia de Dança, também conhecida como OCDD, tem sua sede em Santarém, Portugal. A companhia se inspira na dança Butoh, Tenchi Tessen, Zazen e movimentos de artes marciais, criando uma dança intimista e minimalista. Neste ano, a entidade financiadora do mesmo será a Fundação Calouste Gulbenkian
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segunda-feira, 30 de junho de 2025

MÚSICA (249)


TARCÍSIO E A SUA FIXAÇÃO POR RADARES NAS RODOVIAS PAULISTAS
Pra quem votou no malvadão do Tarcísio de Freitas como governador paulista, tudo deve ser creditado em sua caixinha de culpas. Enfim, a primeira cagada foi votar num cara totalmente desconhecido do povo paulista, simplesmente pelo fato dele representar o bolsonarismo, este viés destruidor de uma nação. Votaram, preferiram este ao um renomado professor e daí poucos podem se lamentar das sucessivas cagadas sendo implementadas dentro do estado de São Paulo. Não tem nada de bom advindo da canetada deste pérfido governador, mas assim mesmo tem quem puxe muito seu saco e continue lhe dando apoio, até para que concorra para a Presidência da República no próximo ano. Poderia escrevinhar longamente sobre a banalização da política exercida com maestria por gente como este Tarcísio, mas me atenho a um só fato. Escrevo desta imensidão de radares sendo pomposamente inaugurados por estes dias nas rodovias paulistas. Pego como exemplo uma rodovia simples, a Bauru/Arealva, trecho de uns 30 km e nele já prontinhos para serem colocados em funcionamento dois radares, um na entrada no Colina Verde, sentido quem adentra Bauru e outro logo depois do posto combustível, chegando no trevo que leva para Arealva e depois, pasmem, outro no meio dessa vicinal de 8km. O sentido é só um, nada educacional, mas só arrecadatório. O sacana quer juntar grana de forma fácil e assim, multiplica os radares e assim, faz bufar os cofres do governo do estado, sem que ocorra uma untilização plausível. Este desGovernador é o exemplo vivo de como o país ficou decrépito e elevado a um grau de baixaria explícita. Gente como ele, estão aí só para danar com os reais interesses do povão, querem privatizar até nossa alma, suprimir todos os direitos duramente conquistados e ficar apregoando que isso é modernidade. Este tal de Estado Mínimo é uma aberração contra o povo e essa enxurrada de radares é só o começo. Quem votou nessa desgraça deve se contentar e não pdoe reclamar, pois vem muito mais por aí. São PAulo caminhando prum atoleiro meio que sem volta.

NO MESMO BALAIO, VEREADORES BAURUENSES E DEPUTADOS DO CONGRESSO NACIONAL
IA de FERNANDO REDONDO
Falem com toda a sinceridade, existe alguma mínima diferença entre o que o Congresso Nacional fez semana passada quando legislou em prol de uma minoria e contra os interesses nacionais e a decisão da Câmara de Vereadores de Bauru, quando uma CEI decide pelo arquivamento da investigação de suposto desvio de bens públicos municipais para uma igreja pertencente à familia da alcaide Suéllen Rosin? No Congresso, comandando pelo que de pior temos, bolsonaristas jogando contra os interesses nacionais a todo instante, só para não favorecer o governo do presidente Lula. Para estes, dane-se o Brasil, dane-se o bem do povo, tudo para criar problemas. Perversidade elevada à sua máxima potência. Denominar estes de bando de insensatos é fichinha, perto do que estão a fazer. Em Bauru, guardadas todas as proporções, quem está capitaneando o comando da Câmara são também bolsonaristas e estes fazendo uso de sua maioria, decidem que a investigação sobre prováveis desvios de itens públicos municipais devem ser encerrados, sem uma declarada conclusão. Simples assim, o placar dos favoráveis à alcaide hoje deve estar em 17 x 4, dentro de 21 vereadores, se não já aumentou para 18 x 3. O vice líder dela na Câmara preside a tal da CEI e mesmo diante de mais de uma centena de celulares recebidos e desaprecidos dentro da estrutura da funcional da atual administração, dizem que uma coisa não tem nada a ver com a outra e dão por encerrada a questão, enfim, nada como tapar o sol com a peneira. De tudo, continuo, mesmo que a investigação policial também não tenha caminhado de forma a definir onde estariam os tais materiais desviados - e agora os celulares -, creio que, mais dia menos dia, tudo isso vai terminar num plantão policial. Pipocam casos similares Brasil afora e quando os vejo sendo anunciados em rede nacional, sinto uma aproximação latente, pulsante com a somatória de casos gritantes, clamando por solução. Em ambas as situações, deixo uma meu questionamento em forma de um simples pergunta: que esperar de um Congresso Nacional e uma Câmara Municipal com bolsonaristas no comando? Desesperança total e absoluta.


IMPLICAÇÃO COM MINHA VITROLINHA
Nem deveria dar atenção para um que dias atrás me cobrou pela insistência em inciar cada novo dia postando uma nova música, que intitulo de VITROLINHA DO HPA. Eu sempre fui um colecionador, primeiro de fitas cassetes, que me desfiz, depois de LPs, o bolachões e por fim de CDs. Juntando tudo tenho ainda guardados no meu novo Mafuá, um pequeno apê, estilo quitinete, todo meu rico acerco. Passar todos os dias por lá e ligar a vitrolinha é mais do que um lazer e um contentamento. Trata-se de um privilégio conquistado ao longo de tantos anos de ajuntamento. Junto deste acervo musical estão os livros, ainda espalhados pelo local, sem uma melhor catalogação, o que sempre deixo iniciar no dia seguinte. "Vou fazer", digo e vou adiando. E peguei gosto em ir mostrando algo do que me move. Publico junto de meus diários escritos uma pequena resenha do que tenho lido e diariamente estou novamente reproduzindo e mostrando um bocadinho no que me move na área musical. "Mas isso é coisa de quem não tem o que fazer", ouvi outro dia. Para mim, isso é exatamente o contrário. Isso aqui, estar junto destes livros e discos move a minha vida e dá sentido a ela. 

Consegui este espaço após vender o antigo Mafuá, a casa herdada dos meus pais lá nas barrancas do rio Bauru. Era para ter muito mais, mas tendo tudo na beirada de um rio e suas frequentes enchentes, fui obrigado ao longo de muitas décadas a colocar tudo na calçada, para  ser recolhido como lixo, após a ocorrência de mais uma enchente. Vendi o imóvel, me desfiz com muita dor do antigo Mafuá do HPA, local de tantos encontros varonis. Com este valor e com a ajuda da companheira de todas as horas, Ana Bia, cá estou, num local duas quadras de onde moro. Este é meu santuário, local de minha diária devoção. E como venho aqui para escrever, ler e ouvir música, achei por bem ir mostrando, pouco a pouco, algo do que vai dentro de minha cabeça, também na forma da exposição de minhas preferências. Creio que o papel das redes sociais, além de tantos outros, é também este, o de expor as pessoas. E já que estamos todos expostos, exponho este meu outro lado. Mostro diariamente com meus escritos, o que vai pela minha cabeça, o que penso e como penso, depois com as leituras, as quais gostaria de aumentá-las mais e mais, pois ciente de que o tempo pela frente está a cada dia diminuindo, quero tirar o tempo perdido e por fim, a música. Olho para os discos e CDs aqui deste espaço e querendo multiplicá-los os exponho. Não existe pretensão nenhuma de se mostrar, mas de levar a música adiante. Minha intenção é somente essa. Isso me arrebata, junto da luta diária por dias melhores para este nosso mundo. Alio tudo, junto tudo no mesmo balaio e assim dou prosseguimento, sentido para a minha vida, agora a de um senhor, com seus 65 anos completados e navegando na incertitude do que vislumbro pela frente. Eu remo, navego sempre em frente e a música que ouço diariamente me ajuda muito neste sentido.

CENA BAURUENSE (265)


MAIS FOTOS DESTE HPA PUBLICADAS DURANTE MAIO DESTE ANO
01. Publicado em 01.05.2025: Nas prateleiras da Casa do Norte, lá no Jardim Redentor, na encruzilhada levando para diferentes bairros, uma imensa variedade de bebidas trazidas do Nordeste, para aquecer ainda mais a barriga do já aquecido ambiente, proporcionado pelas questiúnculas bauruenses.

02. Publicado em 04.05.2025: Quina de um dos barracões, balcões ou hangar da resistente edificação do Aeroclube de Bauru, feita toda em madeira, por trabalhadores ferroviários, numa história que necessita ser melhor preservada.

03. Publicado em 05.05.2025: Quando quase não mais existem bancas de jornais de revistas nas ruas, vejo algumas resistindo bravamente, como essa na rua Rio Branco, quase esquina com a avenida Rodrigues Alves, só com revenda de publicações de usadas, principalmente para colecionadores, algo como naquela inesquecível obra literária, "O Último dos Moicanos".

04. Publicado em 07.05.2025: Mensagem criptografada no alto de uma laje na Nações Unidas, ali pertinho de onde tem uma agência dos Correios, numa esquina, me faz fotografá-la e me por a pensar.

05. Publicado em 09.05.2025: Passei pelo Tauste da Rio Branco meio que rapidamente e quando a caminho do banheiro, as vi lanchando no meio da tarde. Achei a cena linda, um grupo de senhoras, certamente num encontro previamente combinado e além da comida, jogando conversa fora.

06. Publicado em 10.05.2025: São os tais jeitos e modos de ganhar a vida. Ele estava hoje numa rua lateral do centro comercial bauruense, a Ezequiel Ramos, defronte uma modesta loja, em cima de uma perna de pau, roupa de um super-herói, circulando pela calçada e junto das janelas dos carros. Movimentou o pedaço.

07. Publicado em 11.05.2025: O "Japa" é só um dos aproximadamente 20 nomes como o proprietário do famoso bar na rua Primeiro de Agosto, bem ao lado do Banco do Brasil, local point de encontro de parte de uma geração de senhores da terceira idade é chamado. Ele ri quando questionado por qual nome deve ser chamado: "Qualquer um, desde que continue vindo aqui e me prestigiando". Seu bar é um dos resistentes do centro da cidade, ele há mais de trinta anos atrás do balcão.

08. Publicado em 13.05.2025: No coração da vila Cardia, reduto operário de Bauru, quase ao lado da Tilibra, existia uma fábrica, muito lembrada até hoje, a Anderson Clayton e nesta foto algo do que restou dela, seus silos, ponto mais alto e ainda em pé, visto por todos os lados. Essa foto tiro do estacionamento do Tenda/Lerroy Merlin, ou seja, da vila Santana. São alguns resquícios de uma Bauru que já deixou de existir há algum tempo, mantendo marcas, sinais permanecendo ao longo do tempo.

09. Publicado em 14.05.2025: Fazia muito tempo não me deparava com um bilheteiro pelas ruas de Bauru. Eu que não jogo mais na loteria faz tempo, na federal nunca joguei, mas me lembrei na hora de minha avó Maria, que religiosamente comprava seus bilhetes toda semana. E diante de todos esses avanços, com loterias internéticas, descubro talvez, se não o último, um destes últimos profissionais exercendo este antigo ofício. Foi hoje na Feira Noturna das Nações.

10. Publicado em 17.05.2025: Quem disse que em Bauru não existe um castelo ao estilo medieval? Ele existe e está fincado na quadra 10 da rua Rubens Arruda, na antiga denominação do bairro Altos da Cidade.

11. Publicado em 20.05.2025: Por favor, não confundam, em Bauru não existe um Obelisco nos moldes do de Buenos Aires e o que se vê ali plantado na Agenor Meira, quadra debaixo da Duque de Caxias é mera torre de mais uma igreja evangélica na cidade. Comparações distorcem a realidade dos fatos.

12. Publicado em 21.05.2025: Por onde circule, as lembranças de antanho pululam dentro de mim. Neste casarão na avenida Octávio Pinheiro Brisola, acho que confluência com a José da Silva Martha, coisa de uns 15 anos atrás, entrevistei para uma exposição na então edificante Cultura bauruense, o artista de rua, pintor de fachadas, Marivaldo Pinheiro de Oliveira, que ali residia. Era uma pensão, com seus vários quartinhos e hoje, pelo que vejo, a transformação num hotel, local todo repaginado e embelezando ainda mais a região. Passo por ali quase todos os dias e a lembrança de Marivaldo, que depois voltou para sua Barra Bonita, continuando a pintar as coisas de ruas, me enche de saudade de tempos idos. O local deu seu passo adiante nisso que é a sua eternização, conseguindo dar a tal volta por cima. Sucesso.

13. Publicado em 22.05.2025: Para quem nunca tinha ouvido falar numa carnal relação amorosa patriótica, eis o que sugere a união da bandeira do supermercado Atacadão, ao fundo e à frente, a fachada do Motel das Nações, no que pode ser resumido como o desfraldar da bandeira.

domingo, 29 de junho de 2025

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (186)


O FECHAMENTO DA DOCE FEST - TENTANDO ENTENDER DOS MOTIVOS
Dias atrás, andando pela quadra 9 da rua Primeiro de Agosto, justamente onde funciona hoje a unidade central do Bom Prato, me deparo na esquina desta rua com a Antonio Alves, canto esquerdo baixo da praça Rui Barbosa e lá mais um ponto comercial fechado. Por décadas funcionou ali a DOCE FEST e ouvindo uma moradora, que prefere não se identicar, relata a mim sua versão dos motivos dela hoje estar não só fechada, mas toda lacrada com tapumes, com letreiros retirados e no lugar uma placa de Aluga-se. 

"A região vive um medo generalizado. Pode reparar aqui no entorno, tudo fechado ou em vias de fechar. Os comerciantes não estão mais seguros, diante da licenciosidade desta região.O caso dessa loja, frequentada por todos os moradores aqui da região e muito conhecida na cidade foi a violência urbana. Conviver com moradores em situação de rua é uma coisa, mas hoje existe junto a eles outro tipo de pessoas, muito mais violentas. Criaram problemas com o pessoal da loja e pela repetição da violência, ficou claro, não mais permitiriam o seu normal funcionamento. Preferiram fechar as portas e encerrar o ciclo. Foram vencidos", me conta.

Não satisfeito, na manhã deste domingo, me acerco de um antigo guardador de carros, atuando sempre na região e ele me conta outra história: "O problema maior foi o aluguel. A região, como se vê está muito degradada, porém, o aluguel se mantém muito alto. Pagavam por volta de R$ 20 mil reais e na atual situação, sem negociação, preferiram encerrar, assim como o Empório Barres o fez meses atrás". Ele se diz amigo do proprietário e quando lhe digo da violência urbana, ele me aponta outras tantas, fechadas bem antes, como a Academia do Ciborg e a Churrascaria Gaúcha. "A situação não está fácil pra ninguém. Na esquina da Araújo com a Primeiro de Agosto, o chinês que tinha lanchonete também se foi. Pouco a pouco o comércio está sendo inviabilizado por aqui. O senhor se lembra da aniga padaria que tinha aqui e funcionava 24 horas? Naquele tempo isso aqui era bem diferente".

Sim, eram outros tempos. A Padaria Cidinha fez sucesso pro ali, como no andar superior a rádio 710 AM, tempos também da Churrascaria Gaúcha e de um anúncio feito na época, quando em Curitiba começou a funcionar a famosa rua 24h e foi aventada a hipóteses de algo parecido vingar por aqui. Não vingou e com o passar dos anos, o centro todo se deteriorou, porém, essa região, este canto da praça parece ter sofrido mais que os demais.

Procuro um antigo conhecido, hoje vivendo como morador em situação de rua. Tempos atrás, das vezes que por ali passava, me abordou pelos menos umas três e pediu, se podia comprar uma caixa de passocas ou doces ali na Doce Fest. Fazia algum dinheiro vendendo os doces dali da loja. Hoje o encontro no meio da feira e o questiono do fechamento. "O melhor é a gente ficar quieto. Eu não entrava na loja. Pedia sim para que me comprassem algo e depois saia revendendo. Não tinha problemas com eles lá na loja, mas sei de gente que teve. Tem muita gente de paz nas ruas, mas tem outros tantos que não são. Quero viver em paz, só isso. O que posso te dizer é só isso", me diz.

No mesmo dia em que via a loja fechada, um amigo comigo no carro, disse passar pela região frequentemente durante o dia e sente uma diferença enorme de uns anos para cá: "O tipo de abordagem feita para quem aqui circula é muito diferente. O morador em  situação de rua é de paz, quer ir tocando sua vida, sem problemas e quando nos abordam é pra pedir algo, sem nenhum tipo de violência. Percebo existir um outro tipo de pessoas junto destes, muito mais violentos. Circular por aqui depois que escurece é algo impraticável". O mesmo me diz uma moradora do prédio junto ao antigo Hotel Colonial: "Tudo o que tenho que fazer na rua faço na parte da manhã, mais tranquilo, pois à tarde já começa a mudar o ambiente e à noite só mesmo em caso de extrema urgência. Se vou em algum lugar à noite, quando me trazem, sempre de carro, peço até para descerem comigo e me esperar passar pela portaria. Moro aqui há dezenas de ano e a situação só tem piorado. A praça está em petição de miséria. Tudo mal feito, veja a questão do chafariz, lá na praça da Prefeitura funciona que é uma beleza, mas o daqui a Suéllen tirou e colocou grama no lugar. Ouço dizer que ela quer fazer uma limpa na praça para quando chegar o próximo período eleitoral. Me mostre algum estudo sério para resolver esse problema criado aqui com a chegada do Bom Prato?".

Tento argumentar da necessidade do Bom Prato existir e ter continuidade, não sendo ele o motivador da deterioração do centro. Ela insiste e junto o que me diz com tudo o mais, querendo entender e buscar uma solução para o que vejo ali. Circulo pela quadra 9 da Primeiro de Agosto na manhã deste domingo e dois locais estão com portas arrombadas, demonstrando por ali entrarem e sairem pessoas. Na verdade, a região mantém dois edifícios residenciais, ambos na rua Antonio Alves, outro menos na esquina da Araújo com a Antonio Alves e nenhum ponto comercial funcionando mais à noite. Na quadra de cima da praça, uma lanchonete tenta funcionar até mais tarde, mas não abre mais à noite. Ali defronte a agência do Banco do Brasil, bem defronte a praça, encontro mais um morador da região e este me conta: "Está cada vez mais difícil. Dialogo com muitos frequentadoires da praça, atravesso ela durante o dia, quando tem policiamento e as lojas da Batista estão abertas. Até vir ao banco aqui quando escurece é algo mais do que arriscado. Eu também não sei o que aconteceu com a loja fechada recentemente. Não é a primeira e pelo visto não será a última. Com certeza algum problema deve ter tido, pois eu já tive vários e corto volta de certas pessoas que vejo por aqui".

Tento localizar alguém da loja para pegar sua versão dos fatos, mas pela internet nada encontro. O máximo que encontro é que a loja fechou e só. Nenhum sinal dos motivos. Mais do que conhecidos todos os problemas da região, inclusive os sociais, cada vez mais agravados e para revitalizar algo por ali, nada ocorrerá sem o atendimento e um olhar com muita atenção para o crescimento desmedido de pessoas vivendo em situação degradante, não só no entorno da praça, mas junto aos vários instrumentos existentes em seu amparo. Longe de querer culpá-los de alguma coisa. Na verdade, algo já é feito para ampará-los, existe toda uma rede assistencialista funcionando na região, inclusive com alimentação sendo servida quando do não funcionamento do Bom Prato. O quarteirão estão com cada vez menos lojas funcionando e os resistentes, uma loja de motos, uma de perfumes, outra de ferramentas, virando a esquina um tradicional açougue, do outro lado da rua uma floricultura e cada vez mais imóveis fechados e seus proprietários sem saber o que fazer para os verem alugados novamente. O fato é que a DOCE FEST já se foi. Questionando um pouco mais, com certeza, chegarei aos motivos de seu fechamento, mas o que interessa mesmo é o todo, o que está em evidência, o processo por inteiro, este muito mais complexo e de difícil solução.

LINDA A "PRAGA" ROGADA PELO POETA BRANDÃO AOS LADRÕES DE LIVROS, LEMBRANDO ALGO PRESCRITO MUITO TEMPO ATRÁS
Para quem surrupiou meu exemplar "Sonata ao luar", primeiro livro de Dalton Trevisan, raríssimo, agora mais raro ainda:

"Àquele que rouba, ou pede um livro emprestado e não o devolve ao seu dono, que a sua mão se transforme em serpente e o morda. Que fique paralisado e sejam condenados todos os seus membros. Que desfaleça de dor, suplicando aos gritos misericórdia, e que nada alivie o seu sofrimento até que pereça. Que as traças-dos-livros lhe roam as entranhas como fazem os remorsos que nunca terminam. E que quando, finalmente, desça ao castigo eterno, que as chamas do inferno o consumam para sempre."

Aviso exibido na biblioteca do mosteiro de San Pere de les Puelles de Barcelona, do livro "Uma História da Leitura" (1996), de Alberto Manguel.

sábado, 28 de junho de 2025

BEIRA DE ESTRADA (196)


HOJE É DIA DE RELEMBRAR ANTONIO PEDROSO JR, O CHINELO, EXATOS QUATRO ANOS SEM SUA PRESENÇA

QUATRO ANOS SEM PEDROSO JR - RELEMBRO ALGO DO LEGADO DEIXADO POR ELE
Quando Antonio Pedroso Jr, o Chinelo, voltou para residir em Bauru, escolha sua para passar sua última estada em sua cidade, escolheu junto um lugar específico no Bar do Genaro. O bar o adotou e ele, ao mesmo tempo, divulgou o bar, pois fez dali o seu escritório, ponto de encontro e de bate papo quase diário. Quando não era visto em sua pequena casa, era visto ali, sentado sempre no mesmo lugar e tendo ao seus pés, a famosa mala. Isso mesmo, veio muitas vezes direto da rodovoiária para o bar. No final, bebia bem menos que dantes, mas ali continuava, pois conseguia no lugar fazer o que mais gostava, propagar através de muita conversa, suas ideias e entrelaçar flechadas e disparos, muitos deles certeiros para todos os lados.
Pedroso construiu muitas histórias desta forma e jeito. Uma delas, foi mencionada pelo narrador da noite, o jornalista Gerson de Souza, depois relembrada por mim junto do fotógrafo Pedro Romualdo. Certa vez, também num bar, ele e Pedro, militando no PDT, após a desistência do candidato do partido a governador, bolaram e fizeram vingar o nome do Pitolli - não o da rádio, pelo amor, hem! -, hemérito representante da esquerda, como candidato a governador do estado de São Paulo. Pedro maquinava coisas deste tipo e desta forma, instigando, provocando, articulando e aprontando muito, sempre com tiradas incríveis, soube ir arquitetando pelas beiradas uma resistência dessas para endoidecer gente sã. Ousadia nunca lhe faltou.
Escreveu seus livros desta forma e jeito, pesquisando e juntando cacos e casos, numa junção que só ele mesmo conseguia produzir. E fez muito, pois em algo também lembrado ontem quando do evento para lembrar dos quatro anos sem ele, foi dito: ele deixou registrado histórias de uns tantos que, de outra forma, não seriam mais lembrados. Daí, a importância do que fez, sempre muito bem. Registrou como se deu a resistência aos constituídos donos do poder em Bauru, resgatando algumas de suas vitórias e, principalmente, como se deu essas vidas, envoltas em "sangue, suor e lágrimas". Ele optou por isso, contar essas histórias e também ajudou outro tanto a resgatar a dignidade, quando conseguiram reaver direitos, com indenizações recheadas de um senso comum, o de fazer valer direitos perdidos quando da ditadura. Ficou também conhecido por causa deste trabalho.
Foi uma noite para, de conversa em conversa, ir revendo passagens e confirmando de sua importância, não só na historiografia bauruense, como na forma como enfrentar poderosos de todas as matizes. Criou caso com muitos destes e, por outro lado, foi um fiel amigo para uma legião de pessoas que o circundavam. Pedrosinho não gostava de navegar sózinho. Estava sempre rodeado e isso o alimentava, numa espécie de recarregamento de baterias. De tudo, conversando com Ana Celia Ferreira Albuquerque, sua esposa e Pedro, o filho, o desejo de juntar seus escritos, todos reunidos em uma grande mala e deixado após sua morte aos cuidados de Milton Dota, que também já se foi. O trabalho agora é o de resgatar esses papéis, escritos inéditos e originais, publicando-os num livro que ele tinha já construído em sua cabeça nos últimos tempos, o de causos, todos políticos. Isso vai dar muito trabalho para o filho Pedro, que hoje, além disso tem a intenção de montar um site, onde irá disponibilizar a história de seus pai e ali também, de forma gratuita, todos os seus livros.

O danado contou a história de muita gente, mas ninguém ainda contou a sua história. A grande recuperação a ser empreendida agora é essa, o resgate dessa história. Ou seja, reencontros como o deste sábado, não só só importantes para nos revermos e falarmos de alguém como o Chinelo, mas para com sua história, demarcar um território, o do resgate de como seu deu a luta, o enfrentamento desta cidade contra as perversidades lhe impostas ao longo do tempo. Quem resistiu e enfrentou isso tudo, merece ter essa história retratada. Deixo aqui meus parabéns para o Pedro Romualdo que, convidadndo o Gerson de Souza, juntou tudo o que encontrou sobre o Pedroso - inclusive o que eu já tinha publicado, me disse - e apresenta um documentário de alto valor. Assistimos todos contritos, calados, olhos e ouvidos colados na projeção, vendo como essa luta foi feita e continua sendo travada cidade afora. Pedroso fez a sua parte e agora é com os que ficaram. Quanto mais gente tomar conhecimento de como seu deu, melhor, pois serve de incentivo para que a chama nunca se apague. Saio deste evento revigorado e redespertado para tudo o mais que teremos pela frente. Poderia escrevinhar uma noite inteira sobre ele, revivendo suas histórias e feitos, mas no momento, é o que consigo.


RECEBO O LIVRO TRÊS ANOS GUARDADOS, PELAS MÃO DO JORGE, FILHO DO DARCY RODRIGUES
Essa história eu tenho que contar. Darcy Rodrigues se foi há três anos e desde antes de sua morte havia me dito deste livro, "LAMARCA - OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER", publicado pela Casa da Resistência de Feira de Santana BA. Contava detalhes de como foi entrevistado, sendo um dos que, com sua história, não só enriqueceu o relato, como elucidou fatos ainda em dúvida. Tinha o maior orgulho de sua passagem ao lado de Lamarca e este assunto sempre foi um dos seus preferidos. Deixando falava horas a respeito. Ouvi muito dele sobre sua passagem pela resistência armada na ditadura.

Pois bem, o livro saiu e logo a seguir Darcy faleceu. Dos exemplares encaminhados a ele, seu filho, o querido Jorge me disse desde aquele período ter um exemplar guardado para mim. Um dia cheguei a ir lá perto de onde mora, nas imediações do Rasi, mas ele estava ausente. Sabia que o exemplar estava bem guardado. Jorge esteve hoje no evento marcando os quato anos sem Pedroso Jr, o Chinelo e estava com o livro embaixo do braço. Sabia ali me encontraria. Dito e feito. Vi muita emoção em seus olhos marejados ao me entregar o livro e relembrarmos juntos algumas histórias vivenciadas num passado saudoso.

Tive o prazer da convivência próxima de Darcy Rodrigues e gravei muita conversa dele, uam delas relembrada por Jorge, dias antes dele falecer, vestindo uma camiseta regata do Palmeiras. Como sempre, naquele dia, mesmo já adoentado, falou grosso e forte, incisivo e preciso. Do livro, hoje o tenho em mãos, como uma jóia rara. Vou direto na Nota de Abertura feita por ele e de lá retiro este trecho: "Lamarca me honraste chamando 'mano'. (...) A história com certeza gravará o nome do 'mano' Lamarca com letras douradas, crevejadas de brilhante na história de nossa Pátria da mesma forma que depositará a vasilha de excremento ao autor e mandante do ato de vandalismo contra meu eterno comandante. Comandar (co-mandar) significa mandar junto. Portanto, continuarei sob seu comando".

Terei eternamente um apreço mais que especial por Darcy, por tudso o que representou e por me aconselhar muitas vezes, em conversas contínuas. Ao receber o livro, relembro com carinho tantas histórias e momentos. Um dia ele me pegou pelo braço e me levou até Três Lagoas. Queria me mostrar uma cidade que o acolheu. Passamos um dia inteiro por lá, andanças inesquecíveis. E depois, quando retornei de Cuba, foi o primeiro a me recepcionar, querendo saber se fui nos lugares indicados por ele, inclusive uma escola onde lecionou. Hoje, relembrei de Pedroso Jr e de Darcy Rodrigues, dois valentes destas plagas, que ousaram enfrentar o poder local com muita garra e perseverança. Inesquecíveis para todo o sempre. O livro não sairá de minha cabeceira enquanto não o ler adequadamente.

OBS. FINAL: Não existe nada mais reconfortante na vida do que ser reconhecido. Jorge, o filho do Darcy me disse algo ao pé do ouvido, onde choramos juntos. Depois, Ana Celia, esposa do Pedroso, disse que a entrevista Lado B que fiz com ele, lhe serviu para tirá-la da depressão onde se encontrava, quando lhe perguntei sobre Sorocaba, ela e o filho. Depois, Gerson de Souza, jornalista dos bons deste país, hoje residindo em Ribeirão Preto, diz me ler diariamente, "mesmo os textões" e isso me enche de orgulho e contentamento. De tudo, se acerto em algo, tô feliz da vida e me vendo trilhando um caminho salutar.