DIÁRIO DE CUBA (25)
ESCOLA HURTADO MENDOZA E A MARATONA DA ESPERANÇA
Acordo ouvindo a rádio Relógio (www.radioreloj.cu/) para desespero do Marcão, que não agüenta aquele tic-tac, minuto a minuto. Ele tenta esconder meu rádio. Hoje, sábado, 15/03/2008, deixaremos Santa Clara e temos a intenção de aproveitar ao máximo esse último dia por aqui. Compromisso marcado logo para às 8h, com a professora Judith, na Escola Hurtado Mendoza, no Boulevard, bem no centro da cidade, umas três quadras aqui do hotel. Marcos, com seus quase dois metros de comprimento e outro tanto de largura, alaga todo o quarto ao tomar banho. Estava assistindo a ESPN e quando percebi a catástrofe salvei a filmadora, mochila e tudo o mais que estava pelo chão. Ele ri e diz que tudo isso só ocorre pelo seu tamanho e que a água deve passar por cima do box. Quem ri sou seu. Ele é desproporcional ao tamanho do banheiro.
Hoje completa uma semana que estamos aqui em Cuba. Papeamos com a ascensorista sobre a dificuldade de permanecer o dia todo ali trancada. Ela se põe a falar, conta sua vida e ficamos a ouvir atentamente seu relato. Leva um susto ao saber que o salário mínimo do brasileiro está em torno dos 150 dólares. “Sonho em ganhar isso”, diz ela. Marcos aproveita e explica que isso no Brasil ou qualquer outro país capitalista vale pouco, pois se paga aluguel, escola dos filhos, telefone caro, água, luz, saúde, remédios, etc. “Na somatória, com o pouco que o cubano ganha, vive muito melhor do que com o que ganha um pobre no Brasil”, conclui Marcos. Não deu tempo para mais conclusões, chegamos ao térreo e voamos para nosso compromisso.
Ás 8h10 estávamos na escola. As professoras reuniram alguns alunos universitários, todos voluntários, prestando apoio nas atividades com as crianças. Reunidos no pátio, ouvimos a apresentação de todos e fizemos a nossa, dos motivos de nossa visita. Todas muito simpáticas, interesse coletivo de se reunirem, inclusive aos sábados. Ficamos sabendo que a escola é aberta aos sábados para que os universitários possam dar sua contribuição junto às crianças. Somos apresentados ao diretor da escola Ramon Palleiro, 35 anos, mas pouco pudemos conversar, pois as atividades do dia têm seu início. Nos despedimos de todos após os alunos entrarem nas salas de aula.
Voltamos para a praça central, onde aguardamos o início de mais uma etapa da Maratona da Esperança, que em todo país terá sua abertura exatamente às 10h, com transmissão pela tal da rádio Relógio, divulgando principalmente a luta contra o câncer. A praça vai lotando aos poucos, com as crianças praticando todo tipo de modalidades esportivas. Numa delas, ficam uns seis meninos, distantes uns dos outros, jogando uma bola de tênis para o alto. Aquele que não pega a bola vai para o centro da roda. Observo vôlei, patins, pernas-de-pau, futebol, bicicletas, pula-corda, boxe e muitos caminhando em volta do coreto. Através de um alto falante, instalado defronte a praça é divulgado o início do evento, tudo intercalado por música caribenha. De uma coisa tivemos certeza nesses dias por aqui: eles, os cubanos, vão para as ruas muito mais que nós brasileiros. Adoram esse congraçamento. Enquanto nós, preferimos mais nossas TVs, lares...
Enquanto aguardamos, Marcos me pergunta: “Quem seria o grande pensador brasileiro, equiparado à Marti?”. Ficamos a pensar. Tiradentes não seria essa pessoa. Falta-lhe embasamento teórico, pois nada deixou escrito (nem teria o que). Prestes e Lamarca foram desprezados pela historiografia e são até desconhecidos nas escolas. Getúlio e Caxias, nem pensar. Num primeiro momento não encontramos um nome de peso. Interrompemos as elucubrações para assistir a partida da maratona. Depois fomos fechar nossa conta no hotel. Comemos algo, pegamos um táxi até o terminal Via Zul (dois pesos). Compramos passagem, Marcos prefere aguardar horário numa sala de espera. Eu vou caminhar. Toda bagagem não fica conosco. Ela é deixada num guichê, de forma antecipada, para não acumular filas no horário de embarque. Os portões do embarque permanecem fechados à plataforma. Entrar ali só com a chegada dos ônibus. Dali a pouco conhecemos um cubano, que havia participado da luta em Angola. Essa história e a chegada na cidade de Cienfuegos ficam para a próxima vez.
Obs.: Cá estou cheio de boas recordações, pois hoje, 15/03, há um ano atrás estávamos, eu e o Marcos Paulo lá em Cuba e hoje, escrevo sobre esse dia. Bela coincidência.
Henrique
ResponderExcluirNão te conheço pessoalmente, nem Bauru. Sou daqui de São Paulo. Pesquisando sobre Cuba descobri teu blog. Venho acompanhando teu diário, pois o tema me interessa. Estive em Cuba por três vezes e também circulei pelo país no seu interior. Vivenciei muito disso que vcoê retrata nos textos.
Não havia ainda te escrito, mas dessa vez resolvi fazê-lo, pois mesmo tendo toda a admiração pelos cubanos, por Martí, um grande revolucionário e com belos textos, não dá para não citar muitos brasileiros que poderiam nos representar com a mesma intensidade que ele possui para Cuba.
Cito alguns de cabeça.
Sérgio Buarque de Hollanda
Darcy Ribeiro
Leonel Brizola
Raimundo Faoro
Gracialiano Ramos
Prestes
Paulo Freire
abraços
Canindé