quarta-feira, 2 de setembro de 2009

UMA ALFINETADA (59)

MICHELLY PAVANELLI, REALIZADA COMO MULHER
Começa hoje em Bauru o Primeiro Fórum Social da Diversidade (mais detalhes no http://www.baurupeladiversidade.org.br/), que discutirá direitos humanos e políticas públicas para a promoção da diversidade e combate ao preconceito e à discriminação. Tudo irá culminar com a 2ª Parada da Diversidade de Bauru, dia 06/09. Dou a minha contribuição para o evento, reproduzindo um texto que foi publicado no semanário ‘O Alfinete’, de Pirajuí, edição 300, de 04/12/2004. Dei uma pequena atualizada, inclusive nas fotos, tiradas ontem. Escrevia naquela época de alguns personagens de Bauru, dando o título de ‘Gente do lado de cá’. Michelly foi a de nº 8. Ligo para pedir sua autorização de publicação do texto no blog. Seu único pedido é para publicar fotos novas. Cá estão, o texto e as fotos:

Michelly atua naquilo que a maioria dos travestis acaba optando por ser quando não querem cair no mundo da prostituição. É cabeleireira desde os tempos em que me recordo de conhecê-la. E olha que lá se vão uns bons anos. As opções sempre foram poucas para eles. E ela sempre soube ter de procurar ser melhor que a maioria. A tal sociedade cobra e ela se estabeleceu com classe, competência e finesse. Ela tem alguns anos a menos que eu (como todas, não gosta de revelar a idade) e sempre conseguiu se sobressair na sua profissão. Os vários salões que teve, sempre foram movimentadíssimos. Eu freqüentei a todos, desde quando comecei a namorar minha primeira esposa. Ela ia ao salão da Michelly, como a posterior, minhas duas irmãs e até minha mãe. Quer dizer, sempre tinha uma boa desculpa para aparecer por lá e fiz isso, durante alguns anos, com certa regularidade.

Ela veio muito nova de Jaú e nunca trabalhou para os outros. Sempre teve que inventar seu próprio negócio. Já contei três nesses anos todos. Comunicativa como poucas, envolve os clientes com o bom atendimento e uma peculiar simpatia. Quem pinta por lá sempre acaba voltando. Ela sempre foi muito livre e nunca se esquivou de freqüentar todos os locais aonde todas as outras pessoas iam. E sempre se saiu muito bem, pois sempre esteve muito bem acompanhada, gerando até uma pontinha de inveja em muitos (as). Tocou a vida e venceu. Além do salão, muito bem localizado, tem uma chácara em Avaí, criando cavalos de raça. Tenta ser feliz, namorou muito, experimentou isso e aquilo, continuando até hoje na mesma trilha, enfim, como todos nós. Vai todo ano para Paris, onde se recicla e se diverte. Vive intensamente sua vida. E rala muito para isso.

Eu, particularmente tenho uma dívida de gratidão com essa excelente profissional. No salão, também produz e revende próteses estéticas para queda de cabelos. Minha primeira esposa teve câncer e o cabelo caiu repentinamente com o tratamento. Recorri a uma profissional, que na época me pediu R$ 4 mil reais, fazendo uma pressão horrível para fechar negócio em questão de horas. Já me preparava para fazer um empréstimo quando me lembrei da Michelly. Foi um lapso lamentável não ter ido em busca de seus serviços profissionais desde o primeiro momento. Com ela, a receptividade foi a adequada para o momento e em dois dias a prótese estava ajustada, num preço em torno de R$ 350 reais, com vários retornos garantidos. Depois fiquei sabendo que os produtos eram mais ou menos similares.

Fortaleci a amizade com Michelly, grande figura (1,70m de altura), ótimo papo, bela figura humana, dessas que não tem nada a dever a ninguém. Tem muito é para oferecer e a certeza de tocar sua vida da melhor forma possível. Termino com uma historinha de vinte e dois anos atrás. Roque Ferreira, hoje vereador, comandava a Escola de Samba Império da Vila Nova Esperança e com o desfile quase pronto, me diz faltar um destaque para encerrar o desfile, em cima do seu mais bonito carro alegórico. Apresento a ele a Michelly e a Império conquista o único título de campeã que possui. Ela integra-se maravilhosamente ao grupo e junto deles, arrasa na avenida (me diz ter fotos belas dessa época). Feliz da vida, ela hoje é uma mulher completa, em todos os sentidos. E o mundo sempre ganha quando existe o respeito e integração de toda forma de diversidade.
HPA, um que como eu, nunca leu um balanço financeiro, sempre acaba confundindo passivo com homossexual.

5 comentários:

  1. Henrique, legal a materia sobre a Michelle, eu ja fiz duas ou tres doaçoes de cabelo para ela poder fazer proteses..... uma das vezes que fiquei careca foi ela quem me pediu o cabelo.
    Beijos

    Tatiana Calmon

    ResponderExcluir
  2. Vc é craque, muito craque e não confunda esse craque com aquele que o pessoal consome no centro da cidade.

    (HPA, um que como eu, nunca leu um balanço financeiro, sempre acaba confundindo passivo com homossexual.) Essa colocação é genial e muito "alegre".
    Meus parabéns.

    EGBERTO CARAVIANI - BAURU CHIC

    ResponderExcluir
  3. Henrique
    maravilhosa sua homenagem no blog sobre a Michelli ela é fantastica nos conhecemos a umas 3 decadas e ela continua sendo sempre ela mesma parabens vc consegue enxergar lá no fundo das pessoas estaremos l´domingo unidos contra o preconceito vc já viu meu novo merchanda Vacine se contra a gripe suina.coma pipoca! um grande abraço
    Ines Faneco

    ResponderExcluir
  4. Muito boa a matéria sobre a Michelle. Ela é uma peça! Só fiquei com invejinha pq ela nunca deixou eu colocar ela na coluna, hehe.

    ResponderExcluir
  5. Irmão ...só vc mesmo ......
    Michelle é uma figura .... única...
    Faz tempo que não a vejo , sinto saudades, mas uma coisa é verdade, não esquecemos as pessoas que são verdadeiras, falam o que pensam de uma maneira especial, sem traumas e sem mágoas, falam com o coração ....
    Michelle é uma dessas pessoas, sabe ser agradável, comunicativa, amiga e principalmente verdadeira....
    Parabéns à vc e a ela por não esconderem oque realmente pensam da vida e das pessoas ....
    Beijosssssss

    Helena Aquino

    ResponderExcluir