domingo, 16 de maio de 2010

UM AMIGO DO PEITO (38)
LEITOR ENTREVISTA* - HPA FAZ TRÊS PERGUNTAS PARA MARCOS PAULO REZENDE
*Seção dominical do jornal diário BOM DIA Bauru, onde uma pessoa convidada pelo jornal faz três perguntas a outra. Fui o escolhido deste domingo e convidei o Marcos, supondo que com a polêmica de suas respostas, possa surgir uma boa e saudável discussão. Considero Marcos Paulo uma mente privilegiada, um teórico como poucos e com suas ácidas respostas, o início de um profícuo debate. Eis o texto publicado na edição de hoje, 16/05, na íntegra:
O professor de História Henrique Perazzi de Aquino convidou o militante comunista Marcos Paulo Rezende para um bate-papo. Confira:
1. Henrique: Como que é ser comunista hoje? Todos que assim se intitulam o são?
Marcos: Ser comunista hoje não é muito diferente de cinqüenta, cem anos atrás. É complicado você ter como ideal o comunismo, porque é a quebra de todo o padrão do sistema capitalista. Complicado porque você tem que conviver com algumas contradições que o sistema impõe sobre as pessoas. O comunismo é mais do que um sistema político. Nós nos baseamos no sistema materialista do universo. Eu digo que o comunista nasce duas vezes: a primeira quando ele sai da barriga da mãe, sem consciência e recebe uma doutrina da nossa sociedade. E quando você tem a oportunidade de despertar para a realidade a pessoa nasce uma segunda vez. As pessoas podem falar que são comunista, anarquista, capitalista. Simplesmente falam. O Aldo Rebelo (deputado federal), um dos cabeças do PC do B. O Aldo não é comunista coisa nenhuma. É um burocrata encastelado dentro do aparelho do Estado burguês. Um exemplo que eu daria quer sobreviveu ao idealismo é Fidel Castro. Diria que é a última página a ser fechada de uma história brilhante de uma revolução.
2. Henrique: Diante deste mundo onde predomina o pensamento único, onde pensar e agir diferente são quase uma heresia, como é a sua prática diante de algumas alienações na sociedade atual como a religião, a imprensa, o mundo virtual?
Marcos: No caso da religião, como comunista sou um feroz crítico dela. A religião como coisa institucionalizada anda sempre de braços dados com o Estado opressor. Ela sempre teve como papel a alienação das massas. Uma coisa que trago junto comigo é a base de uma estrutura social, mas trago também a teoria da evolução do Darwin, que é a base da estrutura natural das coisas. No caso dessa relação sócio-virtual que temos hoje, avalio que a internet ferrou com tudo. Acho que no caso da internet, a questão do online, deveria ter certas restrições e não essa banalização existente. A internet teve um impacto mais forte para a humanidade do que a própria Revolução Bolchevique. É uma pena porque as pessoas estão online e totalmente offline da realidade.
3. Henrique: O comunista hoje, mesmo combatendo o regime vigente, possui condições de atuar dentro do atual processo eleitoral com os partidos existentes?
Marcos: Não tem porque, pois o comunista prega uma nova ordem social. A revolução é você destruir uma ordem vigente e substituí-la por outra. O nosso sistema eleitoral é viciado com as regras do Estado burguês e os partidos que se dizem de esquerda se prostituiram ao querer estarem inseridos dentro deste sistema, principalmente aos que lutaram no passado e sobreviveram. Hoje também são burocratas encastelados dentro do aparelho deste Estado. Se no passado pegaram em fuzis para derrubar o sistema capitalista, hoje pedem votos e participam das regras do jogo, sem nenhum processo revolucionário. Se você quer derrubar um sistema, lute para derrubá-lo, mas não dentro de suas regras.
Obs.: A charge acima do cartunista argentino REP, foi publicada no diário argentino Página 12, 15/05/2010 e cai como uma luva para ilustrar esse papo entre eu e o Marcão.

3 comentários:

  1. Marcos disse:>>Acho que no caso da internet, a questão do online, deveria ter certas restrições e não essa banalização existente A internet teve um impacto mais forte para a humanidade do que a própria Revolução Bolchevique. É uma pena porque as pessoas estão online e totalmente offline da realidade.

    Bem, apoio seu ateísmo, mas se ele é adepto de Darwin ele deveria deixar a Internet "evoluir" por si mesma. Segundo Darwin os paradigmas que não são útis tendem a desparecer naturalmente. Viva a liberdade e o caos da internet. Abaixo o controle da mídia!

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  2. Henrique meu bem com tantas coisas lindas que escreve e boas amizades não consigo entender esse seu fascinio em querer ressuscitar ideólogo defunto.
    beijinhos no coração.

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  3. Minha cara amiga nada oculta:

    Essa ideologia exótica para alguns, retrógrada para outros, instigante para outro tanto, ideal para alguns, merece ser ouvida e com a devida atenção. Não desmereço nada do que Marcos disse. Uma boa reflexão em cima de tudo é mais do que louvável. Faço isso e constato que na maioria das vezes ele possui razão. E foi isso que propuz ao levá-lo comigo para a entrevista no jornal. Algo assim faz a gente pensar e estamos em falta nesse quesito.

    Henrique - direto do mafuá

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