domingo, 13 de novembro de 2011

MEMÓRIA ORAL (112)

COMEÇAR DE NOVO, ROTINA NA VIDA DO HP E DE HORÁCIO
O Restaurante e Lanchonete HP está localizado na rua Marcondes Salgado defronte a antiga fábrica da Antarctica, hoje Rede Atacadista Assaí e numa das áreas mais valorizadas no mercado imobiliário bauruense. É que ali, onde antes estava localizada a fábrica de refrigerantes, após anos de negociação está sendo levantando um imponente shopping center e que, segundo informações terá mais de 250 lojas em atividade. Aquela pequena vila, que leva o nome de Antarctica, braço da vila Cardia ao lado da via férrea, vive momentos de plena ebulição. Primeiro com a intensa movimentação do levantamento das edificações do empreendimento e depois com algo a beneficiar muitos e prejudicar outros, o “boom” nos preços e na cabeça dos envolvidos com a repentina reviravolta instituída na região.

Horácio Yohihiro Hayashi, 52 anos é um pequeno comerciante, proprietário do citado estabelecimento comercial, fundado por ele há exatos 22 anos. Viveu todas as transformações da região, com a fábrica funcionando, campo varzeano do Arca ao lado, depois o fechamento e a decadência. Sua história é marcada por “sangue, suor e lágrimas” e representa bem o momento vivido por muitos comerciantes e moradores. A residência de muitos foi comprada e o mesmo foi feito com alguns tradicionais pontos comerciais. A empresa administradora do shopping trata a todos com bastante cuidado e são poucas as reclamações dos que tiveram que mudar. Cada caso é um caso e algumas histórias marcam mais que as demais.

O HP surgiu quando Horácio, após 15 anos trabalhando numa instituição bancária fez um acordo e aceitou um acordo financeiro para ser demitido. Com o dinheiro suficiente para comprar dois veículos 0km na mão, não sabia onde empregar seu capital. “Bancário não sabe fazer outra coisa. Sai e estava perdido. Um bar era algo que nunca imaginava ter. Sabia como devia ser administrado, mas não tinha jeito para executar. Sempre tive dificuldade no trato com o cliente. Um amigo me ofereceu sermos sócios num bar, não queria, mas pelo preço, R$ 1 mil reais, acabei topando. Era um típico boteco, de pinga, pão, leite e um movimento que dava só para comer, nada mais”, começa seu relato, relembrando as histórias do nascimento do bar, depois restaurante.

A grande surpresa para Horácio foi o decreto do Governo Collor, ocorrido semanas depois, congelando todo o dinheiro em contas bancárias. Ficou a zero, sem nada e com família ainda morando num apartamento. “Casado, eu, esposa e uma filha pequena. Chorei muito, copiosamente e me mudei para um quartinho nos fundos do bar. Vivi anos ali, tendo que montar e desmontar diariamente a cama de minha filha. Foi duro demais. Tirei leite de pedra, pois sem nenhum capital, tudo o que vendia tinha que dividir entre repor mercadorias e comer, sem nenhum tipo de luxo, tudo contado. Tenho uma passagem com minha filha que nunca tinha estado numa casa normal. Quando esteve numa ficou admirada de que aquilo, ter um quarto só dela era algo possível. Cresceu numa condição precária e aquilo me marcou muito. Arrumei um sócio, o Paulo, de onde vieram as iniciais do nome que demos ao lugar, primeiro HP Lanches e Petiscos. Passamos a servir refeições, com o proprietário do imóvel me cedendo mais um pequeno espaço, onde colocamos as mesas. Contratamos uma cozinheira e levamos até alguma sorte no começo”, continua Horácio.

Na vida de Horácio, quando tudo começa a dar certo, algo parece acontecer e dar uma guinada de rumo e procedimentos. “Absorvia bem o movimento da fábrica, gerando uns 20% do meu faturamento, mas a fábrica fechou e o impacto foi grande. Tive que contrair um empréstimo com o meu irmão, antes de quase desistir de tudo. Não o fiz por não saber o que faria para ganhar a vida. Logo a seguir reabre só o depósito da fábrica e o movimento dá uma crescida. Normalizou, mas não conseguia capitalizar. Ainda servia só prato feito e bebidas. A idéia do restaurante veio quando o dono do imóvel mudou dos fundos e me disse que tinha alguém interessado em montar um restaurante ali. Tive que me antecipar e aluguei. Nisso o sócio sai do negócio e a fábrica fecha de vez. O lugar ficou meio abandonado e voltei a trocar seis por meia dúzia”. Seu relato toma ares de muita emoção, pois exatamente nesse período, consegue reaver o valor congelado pelo plano econômico: “Não pude fazer nada além do que comprar o imóvel onde hoje moro. Não dava mais para morar do jeito que estava. Já tinha três filhos, juntei com um terreninho que a esposa tinha e vendeu e tudo deu justinho para a casa”.

Nisso mudou o nome para o atual Restaurante e Lanchonete HP e com a ajuda da cozinheira, dona Cleusa, sua funcionária de mais de 20 anos começou a ficar famoso no preparo dos pratos que o tornaram conhecido, o Mocotó, Dobradinha, Moela, Rabada e Língua, além do carro chefe, segundo ele, a Feijoada, preparada todas as quartas e sábados. “Muitos começaram a vir só por causa dos pratos. Dizem que nos quatro cantos da cidade, quando perguntam sobre as especialidades, de cada dez pessoas, duas conhecem o HP. Reanimei ainda mais quando começaram a construir o Assaí. Daí em seis meses juntei o que não havia juntado em dez anos. Trabalhei muito, mais de dez horas por dia, abrindo as 9h e fechando por volta da meia noite. Os operários e depois os funcionários todos me ajudaram muito”, conta.

Era a tal da volta por cima e a estabilidade, algo que faria com que Horácio pudesse se aposentar e descansar. “Primeiro o Assaí e depois o shopping, mas minha alegria durou pouco, pois fui comunicado pelo dono do imóvel que tenho até o final do ano para desocupar tudo. Eu ia começar a ganhar algum depois de 22 anos de labuta, mas tive que rever tudo. Pensei rápido e acabei conseguindo um financiamento pela CEF, comprando uma casa velha, aqui na mesma rua, uma quadra acima do final do shopping, mas ela está muito ruim, não comportando receber um restaurante e não tenho nenhum para a reforma. Acho que vai começar tudo de novo em minha vida”, conclui.

Horácio conta sua história num final de sexta, trabalhando e conversando, casa bem movimentada, gente chegando junto do balcão e pedindo cada um o que mais lhe agrada. "Descobri aqui e volto sempre, pois a comida é boa e a cerveja gelada", conta o professor de dança Sivaldo Camargo. “Dobradinha é o que mais gosto, trabalho aqui perto e repor as energias aqui é quase obrigação”, diz Francisco de Assis, 59 anos, funcionário da TL Mix. Foi no citado balcão que tudo começou, o mesmo desde o começo, comprado em Jaú, numa empresa cujos telefones ainda tinham somente três dígitos, a Ultrafrio. “Tudo aqui me lembra o começo. Os balcões, o freezer, a balança, o lava copos, tá tudo funcionando e não preciso de novos. Tenho que pensar como vai ser tudo daqui para frente. Passei aqui dentro 22 anos de minha vida, sem férias e devendo até hoje a Lua de Mel para a esposa. Talvez o faça junto do filho, tudo no mesmo pacote, quando esse casar”, diz para o filho Yudi Hayashi, 14 anos, que o ajuda diariamente após as aulas e que, pela expressão do rosto parece não concordar muito com a idéia.

O fato é que Horácio, esposa, seus três filhos (duas mulheres, 21 e 18 anos e Yudi), a cozinheira Cleusa estão agora diante de um novo dilema. Falta pouco mais de um mês e meio para a entrega do prédio, já não reside no aperto como antes (conquistou a tão sonhada casa), juntou fiel clientela, mas sabe que precisa ser rápido, fazer algo lá na casa comprada, pois em janeiro quando fechar o ponto ocupado por mais de duas décadas, o novo precisa estar sendo inaugurado. Acredita que tudo acontecerá dessa forma, só não sabe bem como isso será possível e nem está tendo muito tempo para pensar sobre o assunto, pois nesse final de tarde, o corre-corre não lhe deixa parar nem para colocar as idéias no lugar. “E tudo passa tão rápido, não? Nem parece que já se passou tanto tempo e nem bem terminou uma história, já começa outra. Sempre foi assim”, finaliza.
OBS DO HPA (que nada tem a ver com o HP): Corram, pois no endereço atual, degustar os acepipes, somente até o final de dezembro.

3 comentários:

  1. Olá Profº Henrique Aquino:

    Neste domingo com chuvas para trazer uma brisa fresca, fui para o computa, e logo
    tomei conhecimento do Restaurante HP(não confundir), sorte q já havia almoçado.
    Com certeza vou conhecer e saborear no HP.
    Aquino, retornei na luta pelos direitos humanos, sociais, estou agregando a luta contra
    Privatização do Poder Público (DAE, Saúde), representando o Conselho Regional
    de Serviço Social - Seccional de Bauru, fomos eleitos e com posse 06/10/2011.
    Estou sabendo q vc. está engajado nesta e outras lutas pela Igualdade, Liberdade e
    Justiça e certeza nos encontraremos.
    Que vcs tenham uma boa semana , com muita Paz.
    Parabéns pela sua luta pelo Mafuá do HPA.

    Gaspar Reis Moreira
    Militante de Movimentos de Direitos Humanos .
    Diretor da Seccional de Bauru < CRESS/SP>

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  2. Valeu Henrique..Muito legal esta materia....Eu gosto pra caramba quando vc fala das coisas de Bauru..Vc retrata elas muito bem..Meus parabens.Abracos

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  3. Boa noite Henrique. Sou o genro do Horácio, dono do Restaurante HP. Ele gostaria de entrar em contato com você. Se possível me mande um e-mail com o seu telefone. Obrigado ;D

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