RETRATOS DE BAURU (118)
SARA, REINANDO NO CARNAVAL DE RUA E NO MARY DOTA
SARA FERNANDES, 55 anos é uma das grandes vencedoras do Carnaval de rua de Bauru de 2012. Sai seguidamente com belas fantasias e sempre no chão, rodando a avenida com seu salto alto. Ano passado pela Águia de Ouro e nesse, pelo amor de sua vida, a Tradição do Mary Dota. Corajosa e despreendida, essa escorpiana, nascida em Ipauçu, veio para Bauru ainda jovem e aqui construiu sua vida. Família grande, nove irmãos, descobriu-se mulher cedo, mas seus primeiros empregos foram todos masculinos. Um deles, o na extinta Friar. Passou dez anos na capital paulista e no retorno montou o salão de cabeleireira, sua eterna e única fonte de renda ("eu nunca gostei de me prostituir, soube me virar", diz). Isso aos 27 anos, quando assume definitivamente a Sara. Já dona do seu nariz se realiza profissionalmente, primeiro no Parque Vista Alegre, depois no Mary Dota, desde a fundação do bairro em 1982. Extrapola somente no Carnaval, quando não abre mão dos desfiles, no mais é totalmente do lar, vivendo para o salão e para a criação de cães (Lhasa Apso e Shiatzu), um hobby que pegou gosto e divide sua atenção diária. “Sempre vivi na raça. Nunca curti droga, não bebo e não fumo há cinco anos, mas vivo intensamente. Não sou careta. Sou esclarecida e para exigir meus direitos e respeito, tenho que me dar ao respeito. Não dou espetáculo e não gosto nem de ver casal hetero se beijando na rua, imagine um homo. Não posso exigir respeito de uns e devolver tudo em forma de agressão”, diz. Vive a vida ao seu jeito e após o rompimento de um relacionamento de dez anos afirma não possuir mais um salão e sim, clientes. Por esses continua atuando, alguns fazendo questão de retornar há mais de trinta anos, esteja onde estiver. Sara não desiste, dessas inquebrantáveis, cheia de boas histórias, uma grande pessoa (imensa com seus quase 1m80) e dignificando o lema “sangue, suor e lágrimas”. A cara da resistência (e da persistência).
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
MEMÓRIA ORAL (116)
SAGA MOÇAMBICANA: DA ORIGEM PORTUGUESA À VIVÊNCIA EM BAURU
Paula Alexandra Moutinho Loureiro é de família toda portuguesa. Nasceu em 1963, em Moçambique, então colônia portuguesa encravada em terras africanas e aos 15 anos desembarcou no Brasil, morando desde então em Bauru, terra onde seus avós já estavam instalados. Sua trajetória foi a dos colonizadores portugueses, com avô colonizador, pai português e mãe nascida na África, mas com sangue todo luso. “O portugueses não se fixavam em lugar nenhum. Eram viajantes, descobriram muitas terras, colocavam os marcos e voltavam ao mar. Faziam questão da rota, do mercado. Como não tomavam posse, atrás deles vieram os holandeses, ingleses, esses sim com um perfil bem conhecido de colonizadores. Moçambique e Angola não interessaram aos que buscavam lucro rápido e Portugal acabou ficando com eles. Não faz parte da característica de Portugal a batalha e sim, a aventura. Pouca guerra em sua história, um povo mais ingênuo, generoso. O inglês, sim, mais estrategista”, o início do relato de sua instigante saga.
“Moçambique era talvez um dos mais pobres na época. Meu avô morreu de tuberculose em Moçambique. Quando ele faleceu minha mãe tinha um apenas ano, voltou para Portugal, sendo ali criada. Aí um hiato de minha família na África. O Portugal colonizador sempre existiu, mas existia uma demora na ocupação de fato de algumas de suas colônias. Na ditadura de Salazar, esse resolveu dinamizar ao seu modo, enviando para Moçambique uma grandiosa equipe de funcionários públicos, que deu vida nova ao lugar. A urbanização lá ocorrida é toda portuguesa e dessa época, com edificações importantes e majestosas. Lourenço Marques (nome de um colonizador), a capital, que hoje se chama Maputo se parece muito com Santos, arquitetura dos anos 60. São cidades relativamente modernas. Lá não existem cidades como Ouro Preto, pois a urbanização é recente e tudo aconteceu de fato após os anos 60. Meu pai, que sempre trabalhou na Polícia, foi designado para trabalhar numa espécie de Polícia Federal em Moçambique e minha mãe no serviço público de Saúde. Na minha infância não convivi com a pobreza, pois lá entre os brancos só havia a classe média e os ricos. Os negros viviam nas tribos, em lugares mais afastados. Muitos trabalhavam na cidade, permaneciam dias em quartos nos fundos da casa dos brancos e voltavam para seu habitat aos finais de semana”, continua seu relato, para que entenda como foi sua formação.
A Frelimo, a frente guerrilheira comandada por Samora Machel, o líder local a instigar a libertação do país exercia uma constante resistência à colonização, tanto que num certo momento, Paula afirma não se lembrar de um momento onde estivesse ausente. Moçambique era uma espécie de província ultramarina, até que em 1974, acontece em Portugal a Revolução dos Cravos com a chegada ao poder do general Spínola e do social-democrata Mario Soares. Esses colocaram em prática a descolonização africana. “Chegaram à conclusão de que as colônias davam muito trabalho para serem administradas. No famoso encontro de Lusaka, Portugal fecha acordo de entregar o país à Frelimo. Tudo ocorreu sem transição nenhuma e os portugueses que lá residiam se viram momentanemente desorientados, tudo de um dia para o outro. E uma geração como a minha que nasceu lá se viu toda desamparada. Tinha então 14 anos e minha família no meio da ação do Movimento Moçambique Livre. Tudo gerou grande instabilidade e a falta de comunicação era imensa. Existiam os negros que queriam a libertação, os que não queriam e nós, os brancos portugueses no meio. Esse levante foi logo abafado e tudo voltou relativamente à normalidade até a independência do pais tempos depois. Não existe como negar que a colonização portuguesa salazarista foi um período dinâmico, de uns vinte anos, onde Moçambique melhorou muito. Tudo ainda estava em transformação, avanços a cada dia. Eu nasci lá, mas tínhamos que acatar o pedido de ‘Portugueses retornem', sem discussão”, prossegue Paula. A independência do país ocorre em 25 de junho de 1975, gerando uma Guerra Civil que duraria aproximadamente dez anos.
Sua vida sofre uma transformação imensa a partir daí. Tudo aquilo que havia sido construído é perdido da noite para o dia, tudo se esvai com num castelo de cartas. Tudo é deixado para trás. “Meu pai é detido pelos portugueses e como a comunicação era precária, ouvíamos uma única transmissão, a do Movimento Moçambique Livre, pelo rádio, propondo que todos se unissem por um país ao estilo do Brasil. O slogan era ‘Queremos fazer daqui um Brasil’. Fugimos da cidade, minha mãe, eu e minha irmã. O Movimento libertou meu pai e esse fugiu para a África do Sul. Morávamos em Inhambane, pequena cidade e de lá fomos para a capital, quando um primo do meu pai nos abrigou e embarcarmos num trem de carga, ajudados por uma família indiana e com destino a fronteira com a África do Sul. Fugimos com uma pequena mala, a roupa do corpo e algumas joias que minha mãe levava em sua bolsa. Nossos empregados, depois nos contaram, ficaram dias chorando sentados na sarjeta diante da casa abandonada”.
Uma viagem cheia de riscos e com o passar do tempo, nem 10% dos portugueses permaneceram em terras moçambicanas. Quando o trem cruza a fronteira, numa parada num campo de refugiados, não conseguem se comunicar através de um número de telefone enviado pelo pai e já desesperadas o avistam entre os que conseguiram alcançar a fronteira. “Ficamos num imenso pavilhão, parecido com o recinto da Expo aqui de Bauru. De lá permanecemos três meses num quarto da casa de um alemão até meu pai conseguir um emprego e mudamos para um apartamento. Ele conseguiu emprego como funcionário já qualificado, ganhava bem, mas minha mãe nunca mais conseguiu trabalhar. Foram três anos em Pretória, na África do Sul e mesmo com a vida estável, meu pai tinha medo do que poderia acontecer quando do fim da Apartheid. Eu aprendi logo a língua inglesa, mas meus pais não. Não dava para voltar para Portugal, pois muitos o fizeram ao mesmo tempo e como meus avós maternos moravam em Bauru já há uns 20 anos viemos para cá”, continua sua descrição.
Todos aportam em Bauru e o choque foi imediato. Recebidos por Álvaro Rodrigues de Azevedo e Alda Abrantes da Fonseca Azevedo, os avós, saíram da África para o interior paulista. “Meu avô comandava o Hotel Português, na rua Alfredo Ruiz, ao lado de um posto de combustível e a seguir também o Hotel Estoril no começo da Rodrigues. Com dois dias meu pai me pediu para escrever uma carta em inglês pedindo para voltar. ‘Que cidade é essa?’, era nossa pergunta. Achávamos tudo uma velharia por aqui, as ruas de pedra, que não conhecíamos, esburacadas, casas mal pintadas. Tanto em Moçambique, como na África do Sul existia um zelo e aqui o oposto. Com um mês mudamos de idéia e quando chegou a resposta da aceitação para que voltássemos, já não queríamos mais”, conta.
Seu pai, Joaquim Pereira Moutinho (a mãe Maria Helena Moutinho) começou a vida num bar defronte a antiga estação ferroviária e rodoviária, na praça Machado de Mello e depois, por anos comandou o Bar Rio Tinto, na rua Gerson França esquina com a Batista de Carvalho. Ali ganhou fama, sendo muito conhecido os petiscos portugueses do seu Joaquim. Os dois conseguiram receber respectivas aposentadoria pelos serviços prestados à Portugal e as filhas foram se abrasileirando cada vez mais. Nenhum nunca mais pisou os pés em nenhum país africano e Paula, primeiro acentua algo mais sobre o choque cultural, depois ameniza aquela primeira impressão que todos tiveram de Bauru: “Vivi na África outro tipo de pobreza, onde não existia a necessidade de consumismo, havia mais alegria. Sentia que o pobre daqui tinha uma necessidade de ter coisas, muita vaidade, preocupação com roupas. Diferentes dos de lá, se preocupavam muito com a aparência e muito pouco com o enriquecimento cultural. Pouca preocupação com a linguagem, onde com uma limitação de no máximo a cem palavras diziam tudo. O português era mais rebuscado. Porém havia algo no povo brasileiro diferente de tudo o que havíamos visto até então. Nunca mais falamos de ir embora, algo irresistível. O relaxo mesmo, isso te deixa a vontade, traz consequências negativas e por outro lado um baixar a guarda, algo a permitir a pessoa ser mais ela. Você fica a vontade, mais calor humano. Vidas caóticas, provocadas pela falta de cultura, mas muito de viver com o coração aberto”.
Paula perdeu o sotaque logo no primeiro mês de Bauru e com alguns meses na cidade, aos 16 anos, já ministrava aulas de inglês em cursos locais. Casou, teve dois filhos, um morando aqui e outro em Londrina. Inesquecível o relacionamento com o músico Xitão, falecido anos atrás. Lembranças muitas, quando pertenceu à banda Contrabando e a convivência diária no Bar 3 x 4, ao lado da igreja Santa Terezinha. Longe de Bauru por mais de dez anos, voltou e hoje ministra aulas de inglês, tentando também reencontrar uma Bauru que muitos dizem já não mais existir. Olha para seu passado e faz essas reflexões todas sem pedantismo e sem buscar culpados e inocentes no vivido: “Sou fruto de uma época. Estive no meio desse turbilhão e não tenho como fugir disso. Revejo isso naturalmente”.
OBS.: Esse texto não tem a pretensão de julgar ninguém, mas de prestar um serviço. Um relato a contribuir para que a história seja contada nos seus mínimos detalhes, abordando uma das possíveis interpretações de um acontecimento histórico. Algumas nos satisfazem, outros nos desgostam. É dessa forma, confrontando tudo, que a verdadeira história é escrita. Paula viveu a sua dentro de um desses lados e seu relato é dignificante. Essa história mereceria ser contada com uma riqueza muito maior de detalhes. Esse aqui poderia ser somente um pontapé inicial.
SAGA MOÇAMBICANA: DA ORIGEM PORTUGUESA À VIVÊNCIA EM BAURU
Paula Alexandra Moutinho Loureiro é de família toda portuguesa. Nasceu em 1963, em Moçambique, então colônia portuguesa encravada em terras africanas e aos 15 anos desembarcou no Brasil, morando desde então em Bauru, terra onde seus avós já estavam instalados. Sua trajetória foi a dos colonizadores portugueses, com avô colonizador, pai português e mãe nascida na África, mas com sangue todo luso. “O portugueses não se fixavam em lugar nenhum. Eram viajantes, descobriram muitas terras, colocavam os marcos e voltavam ao mar. Faziam questão da rota, do mercado. Como não tomavam posse, atrás deles vieram os holandeses, ingleses, esses sim com um perfil bem conhecido de colonizadores. Moçambique e Angola não interessaram aos que buscavam lucro rápido e Portugal acabou ficando com eles. Não faz parte da característica de Portugal a batalha e sim, a aventura. Pouca guerra em sua história, um povo mais ingênuo, generoso. O inglês, sim, mais estrategista”, o início do relato de sua instigante saga.
“Moçambique era talvez um dos mais pobres na época. Meu avô morreu de tuberculose em Moçambique. Quando ele faleceu minha mãe tinha um apenas ano, voltou para Portugal, sendo ali criada. Aí um hiato de minha família na África. O Portugal colonizador sempre existiu, mas existia uma demora na ocupação de fato de algumas de suas colônias. Na ditadura de Salazar, esse resolveu dinamizar ao seu modo, enviando para Moçambique uma grandiosa equipe de funcionários públicos, que deu vida nova ao lugar. A urbanização lá ocorrida é toda portuguesa e dessa época, com edificações importantes e majestosas. Lourenço Marques (nome de um colonizador), a capital, que hoje se chama Maputo se parece muito com Santos, arquitetura dos anos 60. São cidades relativamente modernas. Lá não existem cidades como Ouro Preto, pois a urbanização é recente e tudo aconteceu de fato após os anos 60. Meu pai, que sempre trabalhou na Polícia, foi designado para trabalhar numa espécie de Polícia Federal em Moçambique e minha mãe no serviço público de Saúde. Na minha infância não convivi com a pobreza, pois lá entre os brancos só havia a classe média e os ricos. Os negros viviam nas tribos, em lugares mais afastados. Muitos trabalhavam na cidade, permaneciam dias em quartos nos fundos da casa dos brancos e voltavam para seu habitat aos finais de semana”, continua seu relato, para que entenda como foi sua formação.
A Frelimo, a frente guerrilheira comandada por Samora Machel, o líder local a instigar a libertação do país exercia uma constante resistência à colonização, tanto que num certo momento, Paula afirma não se lembrar de um momento onde estivesse ausente. Moçambique era uma espécie de província ultramarina, até que em 1974, acontece em Portugal a Revolução dos Cravos com a chegada ao poder do general Spínola e do social-democrata Mario Soares. Esses colocaram em prática a descolonização africana. “Chegaram à conclusão de que as colônias davam muito trabalho para serem administradas. No famoso encontro de Lusaka, Portugal fecha acordo de entregar o país à Frelimo. Tudo ocorreu sem transição nenhuma e os portugueses que lá residiam se viram momentanemente desorientados, tudo de um dia para o outro. E uma geração como a minha que nasceu lá se viu toda desamparada. Tinha então 14 anos e minha família no meio da ação do Movimento Moçambique Livre. Tudo gerou grande instabilidade e a falta de comunicação era imensa. Existiam os negros que queriam a libertação, os que não queriam e nós, os brancos portugueses no meio. Esse levante foi logo abafado e tudo voltou relativamente à normalidade até a independência do pais tempos depois. Não existe como negar que a colonização portuguesa salazarista foi um período dinâmico, de uns vinte anos, onde Moçambique melhorou muito. Tudo ainda estava em transformação, avanços a cada dia. Eu nasci lá, mas tínhamos que acatar o pedido de ‘Portugueses retornem', sem discussão”, prossegue Paula. A independência do país ocorre em 25 de junho de 1975, gerando uma Guerra Civil que duraria aproximadamente dez anos.
Sua vida sofre uma transformação imensa a partir daí. Tudo aquilo que havia sido construído é perdido da noite para o dia, tudo se esvai com num castelo de cartas. Tudo é deixado para trás. “Meu pai é detido pelos portugueses e como a comunicação era precária, ouvíamos uma única transmissão, a do Movimento Moçambique Livre, pelo rádio, propondo que todos se unissem por um país ao estilo do Brasil. O slogan era ‘Queremos fazer daqui um Brasil’. Fugimos da cidade, minha mãe, eu e minha irmã. O Movimento libertou meu pai e esse fugiu para a África do Sul. Morávamos em Inhambane, pequena cidade e de lá fomos para a capital, quando um primo do meu pai nos abrigou e embarcarmos num trem de carga, ajudados por uma família indiana e com destino a fronteira com a África do Sul. Fugimos com uma pequena mala, a roupa do corpo e algumas joias que minha mãe levava em sua bolsa. Nossos empregados, depois nos contaram, ficaram dias chorando sentados na sarjeta diante da casa abandonada”.
Uma viagem cheia de riscos e com o passar do tempo, nem 10% dos portugueses permaneceram em terras moçambicanas. Quando o trem cruza a fronteira, numa parada num campo de refugiados, não conseguem se comunicar através de um número de telefone enviado pelo pai e já desesperadas o avistam entre os que conseguiram alcançar a fronteira. “Ficamos num imenso pavilhão, parecido com o recinto da Expo aqui de Bauru. De lá permanecemos três meses num quarto da casa de um alemão até meu pai conseguir um emprego e mudamos para um apartamento. Ele conseguiu emprego como funcionário já qualificado, ganhava bem, mas minha mãe nunca mais conseguiu trabalhar. Foram três anos em Pretória, na África do Sul e mesmo com a vida estável, meu pai tinha medo do que poderia acontecer quando do fim da Apartheid. Eu aprendi logo a língua inglesa, mas meus pais não. Não dava para voltar para Portugal, pois muitos o fizeram ao mesmo tempo e como meus avós maternos moravam em Bauru já há uns 20 anos viemos para cá”, continua sua descrição.
Todos aportam em Bauru e o choque foi imediato. Recebidos por Álvaro Rodrigues de Azevedo e Alda Abrantes da Fonseca Azevedo, os avós, saíram da África para o interior paulista. “Meu avô comandava o Hotel Português, na rua Alfredo Ruiz, ao lado de um posto de combustível e a seguir também o Hotel Estoril no começo da Rodrigues. Com dois dias meu pai me pediu para escrever uma carta em inglês pedindo para voltar. ‘Que cidade é essa?’, era nossa pergunta. Achávamos tudo uma velharia por aqui, as ruas de pedra, que não conhecíamos, esburacadas, casas mal pintadas. Tanto em Moçambique, como na África do Sul existia um zelo e aqui o oposto. Com um mês mudamos de idéia e quando chegou a resposta da aceitação para que voltássemos, já não queríamos mais”, conta.
Seu pai, Joaquim Pereira Moutinho (a mãe Maria Helena Moutinho) começou a vida num bar defronte a antiga estação ferroviária e rodoviária, na praça Machado de Mello e depois, por anos comandou o Bar Rio Tinto, na rua Gerson França esquina com a Batista de Carvalho. Ali ganhou fama, sendo muito conhecido os petiscos portugueses do seu Joaquim. Os dois conseguiram receber respectivas aposentadoria pelos serviços prestados à Portugal e as filhas foram se abrasileirando cada vez mais. Nenhum nunca mais pisou os pés em nenhum país africano e Paula, primeiro acentua algo mais sobre o choque cultural, depois ameniza aquela primeira impressão que todos tiveram de Bauru: “Vivi na África outro tipo de pobreza, onde não existia a necessidade de consumismo, havia mais alegria. Sentia que o pobre daqui tinha uma necessidade de ter coisas, muita vaidade, preocupação com roupas. Diferentes dos de lá, se preocupavam muito com a aparência e muito pouco com o enriquecimento cultural. Pouca preocupação com a linguagem, onde com uma limitação de no máximo a cem palavras diziam tudo. O português era mais rebuscado. Porém havia algo no povo brasileiro diferente de tudo o que havíamos visto até então. Nunca mais falamos de ir embora, algo irresistível. O relaxo mesmo, isso te deixa a vontade, traz consequências negativas e por outro lado um baixar a guarda, algo a permitir a pessoa ser mais ela. Você fica a vontade, mais calor humano. Vidas caóticas, provocadas pela falta de cultura, mas muito de viver com o coração aberto”.
Paula perdeu o sotaque logo no primeiro mês de Bauru e com alguns meses na cidade, aos 16 anos, já ministrava aulas de inglês em cursos locais. Casou, teve dois filhos, um morando aqui e outro em Londrina. Inesquecível o relacionamento com o músico Xitão, falecido anos atrás. Lembranças muitas, quando pertenceu à banda Contrabando e a convivência diária no Bar 3 x 4, ao lado da igreja Santa Terezinha. Longe de Bauru por mais de dez anos, voltou e hoje ministra aulas de inglês, tentando também reencontrar uma Bauru que muitos dizem já não mais existir. Olha para seu passado e faz essas reflexões todas sem pedantismo e sem buscar culpados e inocentes no vivido: “Sou fruto de uma época. Estive no meio desse turbilhão e não tenho como fugir disso. Revejo isso naturalmente”.
OBS.: Esse texto não tem a pretensão de julgar ninguém, mas de prestar um serviço. Um relato a contribuir para que a história seja contada nos seus mínimos detalhes, abordando uma das possíveis interpretações de um acontecimento histórico. Algumas nos satisfazem, outros nos desgostam. É dessa forma, confrontando tudo, que a verdadeira história é escrita. Paula viveu a sua dentro de um desses lados e seu relato é dignificante. Essa história mereceria ser contada com uma riqueza muito maior de detalhes. Esse aqui poderia ser somente um pontapé inicial.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
INTERVENÇÕES SUPER-HERÓI BAURUENSE (31)
“EU AVISEI”, FALAS COMO ESSA NÃO RESOLVEM SITUAÇÃO DA ESTAÇÃO DA NOROESTE
A estação na Noroeste do Brasil, localizada na praça Machado de Mello, uma que um dia Ignácio de Loyola Brandão a denominou de a mais bonita do interior do Brasil padeceu abandonada por décadas. Tudo devido ao nefasto período das privatizações tucanas, as que entregaram tudo e fizeram uma festa com o dinheiro público brasileiro. Tudo está devidamente revelado no livro “A Privataria Tucana” (a punição ainda não veio). A estação foi lacrada, fizeram uma limpa de tudo o que havia de servível no seu interior e o centro da cidade de Bauru feneceu junto. A outrora pujante estação virou o epicentro de algo nebuloso a denegrir Bauru. E assim ela ficou até que foi vendida para a Prefeitura Municipal e milhares de ferroviários puderam receber o referente a uma dívida do Governo Federal de então, o FHC. Isso é história e Bauru tenta recuperar uma área vital dando uma cara nova para aquela edificação. Num outro momento, uma briga interna de órgãos da Prefeitura, num loteamento do que seria feito do interior da Estação, atraso na apresentação de plantas, projetos e até uma rejeição política de uso pela Câmara Municipal. Tudo demorou mais do que devia, onde uns jogaram contra e outros a favor.
Hoje o fato é outro e Guardião, o Super-Herói bauruense observa que tem gente tentando extrair dividendos políticos com o fato da Prefeitura ter adquirido o prédio. O mesmo vereador, Marcelo Borges – PSDB, que um dia disse que talvez nem disputasse mais a reeleição, pois precisaria cuidar melhor dos seus negócios (Quais mesmo, vereador? Explique para nós), volta à carga com algo bem ao seu estilo: “EU AVISEI. SEMPRE FUI CONTRA ESSA COMPRA. TUDO VAI FICAR MUITO MAIS CARO”. Caro, o quê, ô cara pálida? Como vereador deveria saber que uma Prefeitura não deve visar somente lucro financeiro (especulativo, diria) nos seus negócios e sim, no bem estar da população e na solução definitiva de alguns de seus crônicos problemas. A Prefeitura deve ser parabenizada pela CORAGEM em adquirir o imóvel e dar uma destinação plausível a ele, um passo decisivo na revitalização do esquecido centro da cidade. Guardião, esse mafuento escrevinhador e Gonçález, o idealizador do personagem preferiríamos ver por lá o retorno dos trens, mas na impossibilidade, algo de bom e vital para cidade será uma boa solução. E por que esse e outros vereadores jogam contra isso?
“Esse vereador nunca se posicionou contrário à expansão de área imobiliária junto ao cerrado, favorecendo a criação de novos empreendimentos bilionários no setor, mas torce contra o centro da cidade ter sua vida recuperada. Não move uma palha para reverter a situação junto aos órgãos estaduais, as tais autorizações para uso do prédio. Fica na torcida do contra, do quanto pior melhor. Essa sua política, esse seu jeito de enviar avisos. Está mais preocupado com os dividendos políticos de uma eleição praticamente perdida pela frente e dessa forma, atira ao bel prazer, não se importando que a cidade tenha lá seus prejuízos”, alerta Guardião, pronto para fazer a defesa da utilização da Estação pelo poder público municipal.
Vereadores como Marcelo só enxergam diante de seus olhos nesse momento a eleição para prefeito. Nada mais e diante disso, criticar tudo é papel natural em suas atitudes. A luta nesse momento deveria ser outra, a para agilizar a utilização do prédio, facilitar seu uso, resolver as pendências de realocação de espaços dentro da edificação e contribuir para que o centro da cidade ganhe nova vida. Política rasteira, vade retro. Rep, o desenhista de uma tira diária no Página 12 argentino publica na edição de hoje algo com a cara desse "EU AVISEI". É o que o Cristo da tira diz pregado na cruz: "Eles sabem o que fazem".
“EU AVISEI”, FALAS COMO ESSA NÃO RESOLVEM SITUAÇÃO DA ESTAÇÃO DA NOROESTE
A estação na Noroeste do Brasil, localizada na praça Machado de Mello, uma que um dia Ignácio de Loyola Brandão a denominou de a mais bonita do interior do Brasil padeceu abandonada por décadas. Tudo devido ao nefasto período das privatizações tucanas, as que entregaram tudo e fizeram uma festa com o dinheiro público brasileiro. Tudo está devidamente revelado no livro “A Privataria Tucana” (a punição ainda não veio). A estação foi lacrada, fizeram uma limpa de tudo o que havia de servível no seu interior e o centro da cidade de Bauru feneceu junto. A outrora pujante estação virou o epicentro de algo nebuloso a denegrir Bauru. E assim ela ficou até que foi vendida para a Prefeitura Municipal e milhares de ferroviários puderam receber o referente a uma dívida do Governo Federal de então, o FHC. Isso é história e Bauru tenta recuperar uma área vital dando uma cara nova para aquela edificação. Num outro momento, uma briga interna de órgãos da Prefeitura, num loteamento do que seria feito do interior da Estação, atraso na apresentação de plantas, projetos e até uma rejeição política de uso pela Câmara Municipal. Tudo demorou mais do que devia, onde uns jogaram contra e outros a favor.
Hoje o fato é outro e Guardião, o Super-Herói bauruense observa que tem gente tentando extrair dividendos políticos com o fato da Prefeitura ter adquirido o prédio. O mesmo vereador, Marcelo Borges – PSDB, que um dia disse que talvez nem disputasse mais a reeleição, pois precisaria cuidar melhor dos seus negócios (Quais mesmo, vereador? Explique para nós), volta à carga com algo bem ao seu estilo: “EU AVISEI. SEMPRE FUI CONTRA ESSA COMPRA. TUDO VAI FICAR MUITO MAIS CARO”. Caro, o quê, ô cara pálida? Como vereador deveria saber que uma Prefeitura não deve visar somente lucro financeiro (especulativo, diria) nos seus negócios e sim, no bem estar da população e na solução definitiva de alguns de seus crônicos problemas. A Prefeitura deve ser parabenizada pela CORAGEM em adquirir o imóvel e dar uma destinação plausível a ele, um passo decisivo na revitalização do esquecido centro da cidade. Guardião, esse mafuento escrevinhador e Gonçález, o idealizador do personagem preferiríamos ver por lá o retorno dos trens, mas na impossibilidade, algo de bom e vital para cidade será uma boa solução. E por que esse e outros vereadores jogam contra isso?
“Esse vereador nunca se posicionou contrário à expansão de área imobiliária junto ao cerrado, favorecendo a criação de novos empreendimentos bilionários no setor, mas torce contra o centro da cidade ter sua vida recuperada. Não move uma palha para reverter a situação junto aos órgãos estaduais, as tais autorizações para uso do prédio. Fica na torcida do contra, do quanto pior melhor. Essa sua política, esse seu jeito de enviar avisos. Está mais preocupado com os dividendos políticos de uma eleição praticamente perdida pela frente e dessa forma, atira ao bel prazer, não se importando que a cidade tenha lá seus prejuízos”, alerta Guardião, pronto para fazer a defesa da utilização da Estação pelo poder público municipal.
Vereadores como Marcelo só enxergam diante de seus olhos nesse momento a eleição para prefeito. Nada mais e diante disso, criticar tudo é papel natural em suas atitudes. A luta nesse momento deveria ser outra, a para agilizar a utilização do prédio, facilitar seu uso, resolver as pendências de realocação de espaços dentro da edificação e contribuir para que o centro da cidade ganhe nova vida. Política rasteira, vade retro. Rep, o desenhista de uma tira diária no Página 12 argentino publica na edição de hoje algo com a cara desse "EU AVISEI". É o que o Cristo da tira diz pregado na cruz: "Eles sabem o que fazem".
domingo, 26 de fevereiro de 2012
FRASES DE UM LIVRO LIDO (57)
ANIVERSÁRIO DA ANA BIA, NEGA QUERÔ, AMOR NOROESTINO E FRASES DO BRA'Z'IL
CASO 1: Dia 24 foi o aniversário de minha partner (ou seria o contrário, eu partner dela?) ANA BIA. Em Bauru há dois anos e pouco, virou minha alma gêmea. Somos unha e carne. Para comemorar mais uma passagem de ano, algo muito simples, uma singela reunião de amigos mais próximos, num dia onde a chuva caiu a cântaros e num acanhado lugar, o Espetu’s Bar e a acomodação dos que vieram de forma amontoada. Sobrou calor humano e todos saíram literalmente respingados. Fomos até agraciados com uma música ao vivo pelos donos do estabelecimento, porém eles cantavam tudo o que não fazia parte do que gostávamos. Gentilmente pedimos algo mais palatável e perceber que tentavam foi algo agradável. Buscaram lá no fundo de suas lembranças recordações de Rauls, Ramalhos e alguns sambas.
Dentre tudo o que rolou naquele espaço, ressalto algo, um inusitado presente. Mariza Basso e Kyn Jr, os bonequeiros da cidade, moradores quase parede meia com o bar a presenteiam com algo singular. Ele no microfone anuncia que Mariza abriu seu baú de peças raras e irá fazer uma apresentação. Explica: “Diz a lenda que todo bonequeiro deve construir um boneco que o acompanhará por toda vida, uma espécie de mascote. Assim fez o Mestre Manoel Kobachuk que tem o seu boneco "Chico Lua" e o Beto Hinça que construiu o seu "Felizberto". Não diferente Mariza Basso quis seguir a tradição e pensou como seria seu personagem boneco que a acompanharia por toda vida. Era uma decisão difícil, uma espécie de casamento a moda antiga: até que a morte os separe. Mariza, em uma homenagem ao povo brasileiro e a raça negra decidiu construir uma mulata sambista, mas a mulata ainda não tinha nome, quando seu irmão Paulo ao vê-la perguntou: Quem é essa negra querosene? Foi batizada a mascote: Nega Querosene... Nega Querô para os íntimos”. Um trecho da apresentação está aqui gravado e noutra foto ela tenta nos explicar, até fazendo uso de biquinho, dos muitos motivos de ter-nos presenteado com uma ilustração do casal gordo de Botero:
CASO 2: Esse negócio de torcer para um time interiorano, o de sua aldeia é algo difícil de explicar, pois com a tamanha transformação no futebol nos tempos atuais, esse motivador de te fazer sair de casa, ir para o estádio, juntar-se a outros na mesma situação é de um prazer inenarrável. Estou sempre do lado do mais fraco. Escrevinhamos horrores contra os desmandos todos do futebol atual, os males de um nefasto Ricardo Teixeira para o futebol, negócios perniciosos grassando como peste e no começo da festa, o pessoal da diretoria do time aporta no estádio de helicóptero, direto para a Tribuna de Honra. Esses os donos do time e nós, os torcedores a fazerem festa, meio que sem notar o inustitado da cena. Minha indiferença (e não aceitação) tem uma explicação. Sou daqui, meu avô jogou num dos primeiros elencos do Esporte Clube Noroeste, anos 10, aprendi com ele a torcer e gostar de futebol, vibrar com a cor vermelha do meu time, tenho lembranças mil de escretes que fizeram história a vestir essa camisa e hoje, mesmo absorvendo esse momento atual, como Brizola o fez numa eleição presidencial, a que denominou de "obrigação em engolir o sapo barbudo", continuo do lado de cá (e só do lado de cá). Engulo o que fizeram do nosso futebol a fórceps, mas como não sei mais abandonar esse vício, continuo nele, tentando extrair o que restou do néctar. Permaneço junto os que conheço, os que sei torcerem por amor, os que vibram com a camisa vermelha, os que vem para o estádio, para terem a felicidade de se reencontarem, baterem papo, xingarem o juiz e é claro, gritarem felizes da vida os gols que dão a vitória do seu time. Volto por causa disso.
Ontem, 25/02, o Noroeste empatou com o Rio Claro por 1x1 e poderia ter facilmente ganho o jogo. Isso um detalhe, o inebriante desse negócio da bola. O que nos faz ir e voltar aos estádios. Esse amor, tenham certeza, não será Damiões ou outro qualquer que o dimunuirá. Voltarei, pois sei que tudo isso, assim como a vida, sempre terão suas voltas, idas e vindas. No Brasil de hoje, não existe um time puro, onde não impere esse negócio esportivo de uns lucrando sobre os demais, tirando proveito, mas volto não só por causa do amor conquistado, mas para rever pessoas. Como me é grato abraçar os amigos a cada curva. O Mirtão, que mora quase ao lado estádio não perde um jogo e vibra como criança. Eu trouxe ontem pela primeira vez um garotão, que o chamo de Corintiano, meu vizinho, que nunca tinha vindo a um estádio e sua cara era de pura alegria, por ver como todos tratavam o espetáculo. No meio da Sangue Rubro, Pavanello sempre atento aos excessos da rapaziada e nas costas de um torcedor uma marca recém feita, a de uma tatuagem com o escudo do time. "Sofreu bastante, acabou nessa semana, mas mesmo com a dor, diz que valeu a pena", me diz Pavanello. Venho com Aldo Wellicham e vou trombando com gente conhecida, como a mais remota lembrança que tenho de gente a comercializar produtos dentro do estádio, o do vendedor de paçocas. O mesmo de décadas atrás, que passa o negócio para seu filho. O velho fica no carrinho e o filho a percorrer as arquibancadas.
O time perde gols, bola na trave, outras raspando o travessão, ataques desperdiçados e num único ataque, sofremos um empate com um gol de falta. Vi belas jogadas, toques sutis, que bonito ver tabelas bem feitas para entrar na zaga adversária. Em alguns momentos, fiquei, como a maioria, cheio de esperanças. Não deu, mas foi vibrante estar ao lado de outro jovem torcedor, não mais que uns vinte e cinco anos, desses que tentam demonstrar com sua energia como o time deve se conduzir. Não parou de falar um só minuto (e de xingar), mas foi vibrante vê-lo, falante e a demonstrar um amor pouco visto em outras atividades vida afora. Vendo que não ganharíamos de jeito nenhum propôes uma tática de game, mas ela não foi escutada pelos do lado dentro. No fim da contenda, paro para um papo com Tigrão, um velho e conhecido torcedor, cuja lembrança dele vindo ao estádio com uma bateria e uma sonora buzina, virando marca registrada de uma época. Volta todo jogo, como eu e esses aqui presentes. Reclama, grita, estravaza, mas não deixa de marcar presença. Eu, assim como Tigrão, estamos muito preocupados com os bastidores, mas na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, estaremos sempre por aqui. Qual é o próximo jogo mesmo?
CASO 3: Sou um inveterado contador de histórias (e muitas estórias). Gosto de quem as bem escrevem. Coleciono escritos assim. Um deles, pouco conhecido entre os bauruenses é MARCOS VASCONCELLOS, arquiteto carioca já falecido, fino observador da vida cotidiana, dono de uma despojada prosa, quase seca, envolvente e sagaz. Quero repassar um pouco dela a quem aqui me lê, com a reprodução de umas poucas frases de um livrinho da Editora Nova Fronteira, o "BRAZIL - A MARCA DA ZORRA" (edição de 1984), só para tornar esse quente domingo mais palatável: "Conversavam Sebastião Nery e o então governador de Minas e dono do banco Nacional, dr Magalhães Pinto. Pergunta-lhe o Nery: Como o sr conseguiu ficar tão rico, governador?. Guardando, meu filho, guardando, foi a resposta. Nery não resistiu: De quem, governador?" / "É sabido o amor que os magistrados dedicam a palavras engalanadas, de penacho, plumas e egretes". / "Aderiu as regras comunistas por entendê-las humanitárias, até mesmo evangélicas - lato sensu, lato sensu. Era um comunista aplicado, fervoroso, consciente, convicto e convincente". / A mãe do psiquiatra Artur Moreira Lima telefonou para a farmácia: Os senhores aplicam injeção a domicílio?. Aplicava. Precavida, perguntou: Quem aplica é homem ou mulher?. Homem, minha senhora - responderam -, mas com todo o respeito". / Mussum entando no botequim Bracarense, no Leblon, e só vendo crioulo: Vocês proibiram entrada de branco? Deixa só o Afonso Arinos saber disso!". / Roda de papo no Antonio's, alguém pergunta para o ex-ministro e publicitário Mauro Salles: Quem é seu advogado?. Varia - responde ele. - Depende do crime". / No enterro do Vinicius, aqui no Rio, estava presente uma multidão de amigos, parentes, admiradores, jornalistas e a pequena e querida multidão de ex-mulheres. Um dos amigos, o inesquecível boêmio e intelectual Roniquito, já chegou de porre. Quando passou pela capela vizinha à do poeta, viu um mortinho solitário, acompanhado por dois velhos senhores. Roniquito, como era de costume atacou: 'Esse teu morto não tem nenhum prestígio! Defundo de merda!'. Não fossem os separadores, ele próprio teria virado outro defunto, tal a disposição dos ofendidos. Sérgio Cabral, o verdadeiro, presente ao velório do poetinha, fez a proposta: 'Deviam abrir um bar nesta josta! Bar pra valer, de birita, de Brahma, para gente poder homenagear legal nossos defuntos'. E sugeriu o nome do bar: Saideira". Essa minha leitura dominical.
ANIVERSÁRIO DA ANA BIA, NEGA QUERÔ, AMOR NOROESTINO E FRASES DO BRA'Z'IL
CASO 1: Dia 24 foi o aniversário de minha partner (ou seria o contrário, eu partner dela?) ANA BIA. Em Bauru há dois anos e pouco, virou minha alma gêmea. Somos unha e carne. Para comemorar mais uma passagem de ano, algo muito simples, uma singela reunião de amigos mais próximos, num dia onde a chuva caiu a cântaros e num acanhado lugar, o Espetu’s Bar e a acomodação dos que vieram de forma amontoada. Sobrou calor humano e todos saíram literalmente respingados. Fomos até agraciados com uma música ao vivo pelos donos do estabelecimento, porém eles cantavam tudo o que não fazia parte do que gostávamos. Gentilmente pedimos algo mais palatável e perceber que tentavam foi algo agradável. Buscaram lá no fundo de suas lembranças recordações de Rauls, Ramalhos e alguns sambas.
Dentre tudo o que rolou naquele espaço, ressalto algo, um inusitado presente. Mariza Basso e Kyn Jr, os bonequeiros da cidade, moradores quase parede meia com o bar a presenteiam com algo singular. Ele no microfone anuncia que Mariza abriu seu baú de peças raras e irá fazer uma apresentação. Explica: “Diz a lenda que todo bonequeiro deve construir um boneco que o acompanhará por toda vida, uma espécie de mascote. Assim fez o Mestre Manoel Kobachuk que tem o seu boneco "Chico Lua" e o Beto Hinça que construiu o seu "Felizberto". Não diferente Mariza Basso quis seguir a tradição e pensou como seria seu personagem boneco que a acompanharia por toda vida. Era uma decisão difícil, uma espécie de casamento a moda antiga: até que a morte os separe. Mariza, em uma homenagem ao povo brasileiro e a raça negra decidiu construir uma mulata sambista, mas a mulata ainda não tinha nome, quando seu irmão Paulo ao vê-la perguntou: Quem é essa negra querosene? Foi batizada a mascote: Nega Querosene... Nega Querô para os íntimos”. Um trecho da apresentação está aqui gravado e noutra foto ela tenta nos explicar, até fazendo uso de biquinho, dos muitos motivos de ter-nos presenteado com uma ilustração do casal gordo de Botero:
CASO 2: Esse negócio de torcer para um time interiorano, o de sua aldeia é algo difícil de explicar, pois com a tamanha transformação no futebol nos tempos atuais, esse motivador de te fazer sair de casa, ir para o estádio, juntar-se a outros na mesma situação é de um prazer inenarrável. Estou sempre do lado do mais fraco. Escrevinhamos horrores contra os desmandos todos do futebol atual, os males de um nefasto Ricardo Teixeira para o futebol, negócios perniciosos grassando como peste e no começo da festa, o pessoal da diretoria do time aporta no estádio de helicóptero, direto para a Tribuna de Honra. Esses os donos do time e nós, os torcedores a fazerem festa, meio que sem notar o inustitado da cena. Minha indiferença (e não aceitação) tem uma explicação. Sou daqui, meu avô jogou num dos primeiros elencos do Esporte Clube Noroeste, anos 10, aprendi com ele a torcer e gostar de futebol, vibrar com a cor vermelha do meu time, tenho lembranças mil de escretes que fizeram história a vestir essa camisa e hoje, mesmo absorvendo esse momento atual, como Brizola o fez numa eleição presidencial, a que denominou de "obrigação em engolir o sapo barbudo", continuo do lado de cá (e só do lado de cá). Engulo o que fizeram do nosso futebol a fórceps, mas como não sei mais abandonar esse vício, continuo nele, tentando extrair o que restou do néctar. Permaneço junto os que conheço, os que sei torcerem por amor, os que vibram com a camisa vermelha, os que vem para o estádio, para terem a felicidade de se reencontarem, baterem papo, xingarem o juiz e é claro, gritarem felizes da vida os gols que dão a vitória do seu time. Volto por causa disso.
Ontem, 25/02, o Noroeste empatou com o Rio Claro por 1x1 e poderia ter facilmente ganho o jogo. Isso um detalhe, o inebriante desse negócio da bola. O que nos faz ir e voltar aos estádios. Esse amor, tenham certeza, não será Damiões ou outro qualquer que o dimunuirá. Voltarei, pois sei que tudo isso, assim como a vida, sempre terão suas voltas, idas e vindas. No Brasil de hoje, não existe um time puro, onde não impere esse negócio esportivo de uns lucrando sobre os demais, tirando proveito, mas volto não só por causa do amor conquistado, mas para rever pessoas. Como me é grato abraçar os amigos a cada curva. O Mirtão, que mora quase ao lado estádio não perde um jogo e vibra como criança. Eu trouxe ontem pela primeira vez um garotão, que o chamo de Corintiano, meu vizinho, que nunca tinha vindo a um estádio e sua cara era de pura alegria, por ver como todos tratavam o espetáculo. No meio da Sangue Rubro, Pavanello sempre atento aos excessos da rapaziada e nas costas de um torcedor uma marca recém feita, a de uma tatuagem com o escudo do time. "Sofreu bastante, acabou nessa semana, mas mesmo com a dor, diz que valeu a pena", me diz Pavanello. Venho com Aldo Wellicham e vou trombando com gente conhecida, como a mais remota lembrança que tenho de gente a comercializar produtos dentro do estádio, o do vendedor de paçocas. O mesmo de décadas atrás, que passa o negócio para seu filho. O velho fica no carrinho e o filho a percorrer as arquibancadas.
O time perde gols, bola na trave, outras raspando o travessão, ataques desperdiçados e num único ataque, sofremos um empate com um gol de falta. Vi belas jogadas, toques sutis, que bonito ver tabelas bem feitas para entrar na zaga adversária. Em alguns momentos, fiquei, como a maioria, cheio de esperanças. Não deu, mas foi vibrante estar ao lado de outro jovem torcedor, não mais que uns vinte e cinco anos, desses que tentam demonstrar com sua energia como o time deve se conduzir. Não parou de falar um só minuto (e de xingar), mas foi vibrante vê-lo, falante e a demonstrar um amor pouco visto em outras atividades vida afora. Vendo que não ganharíamos de jeito nenhum propôes uma tática de game, mas ela não foi escutada pelos do lado dentro. No fim da contenda, paro para um papo com Tigrão, um velho e conhecido torcedor, cuja lembrança dele vindo ao estádio com uma bateria e uma sonora buzina, virando marca registrada de uma época. Volta todo jogo, como eu e esses aqui presentes. Reclama, grita, estravaza, mas não deixa de marcar presença. Eu, assim como Tigrão, estamos muito preocupados com os bastidores, mas na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, estaremos sempre por aqui. Qual é o próximo jogo mesmo?
CASO 3: Sou um inveterado contador de histórias (e muitas estórias). Gosto de quem as bem escrevem. Coleciono escritos assim. Um deles, pouco conhecido entre os bauruenses é MARCOS VASCONCELLOS, arquiteto carioca já falecido, fino observador da vida cotidiana, dono de uma despojada prosa, quase seca, envolvente e sagaz. Quero repassar um pouco dela a quem aqui me lê, com a reprodução de umas poucas frases de um livrinho da Editora Nova Fronteira, o "BRAZIL - A MARCA DA ZORRA" (edição de 1984), só para tornar esse quente domingo mais palatável: "Conversavam Sebastião Nery e o então governador de Minas e dono do banco Nacional, dr Magalhães Pinto. Pergunta-lhe o Nery: Como o sr conseguiu ficar tão rico, governador?. Guardando, meu filho, guardando, foi a resposta. Nery não resistiu: De quem, governador?" / "É sabido o amor que os magistrados dedicam a palavras engalanadas, de penacho, plumas e egretes". / "Aderiu as regras comunistas por entendê-las humanitárias, até mesmo evangélicas - lato sensu, lato sensu. Era um comunista aplicado, fervoroso, consciente, convicto e convincente". / A mãe do psiquiatra Artur Moreira Lima telefonou para a farmácia: Os senhores aplicam injeção a domicílio?. Aplicava. Precavida, perguntou: Quem aplica é homem ou mulher?. Homem, minha senhora - responderam -, mas com todo o respeito". / Mussum entando no botequim Bracarense, no Leblon, e só vendo crioulo: Vocês proibiram entrada de branco? Deixa só o Afonso Arinos saber disso!". / Roda de papo no Antonio's, alguém pergunta para o ex-ministro e publicitário Mauro Salles: Quem é seu advogado?. Varia - responde ele. - Depende do crime". / No enterro do Vinicius, aqui no Rio, estava presente uma multidão de amigos, parentes, admiradores, jornalistas e a pequena e querida multidão de ex-mulheres. Um dos amigos, o inesquecível boêmio e intelectual Roniquito, já chegou de porre. Quando passou pela capela vizinha à do poeta, viu um mortinho solitário, acompanhado por dois velhos senhores. Roniquito, como era de costume atacou: 'Esse teu morto não tem nenhum prestígio! Defundo de merda!'. Não fossem os separadores, ele próprio teria virado outro defunto, tal a disposição dos ofendidos. Sérgio Cabral, o verdadeiro, presente ao velório do poetinha, fez a proposta: 'Deviam abrir um bar nesta josta! Bar pra valer, de birita, de Brahma, para gente poder homenagear legal nossos defuntos'. E sugeriu o nome do bar: Saideira". Essa minha leitura dominical.
OBS FINAL: Não me convidem para assistir a retro transmissão do OSCAR de hoje a noite, mas ontem fui assistir um filme no cinema e se acredito existir um favorito ao prêmio de Melhor Filme (mesmo sem ter assistido a nenhum outro) é esse, A INVENÇÃO DE HUGO CABRET, do mestre MARTIN SCORCESE. Desde "Cinema Paradiso" não havia visto uma tão bela homenagem ao cinema. Indico de olhos fechados, um CLÁSSICO.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
BAURU POR AÍ (64)
QUATRO BAURUENSES DIVAS GAYS DO SEXO, DESCONHECIDAS POR AQUI E SUCESSO NA EUROPA
Começo desse mês ocorre no caixa de um supermercado na área central de Bauru um caso de intolerância contra um homossexual, gerando agressão verbal e física. Pelo pouco caso do supermercado em elucidar o caso, o fato gera hoje o que foi denominado de “Beijaço Gay”, uma concentração marcada para ter início às 16h na Praça Rui Barbosa e de lá caminhar até a frente do estabelecimento comercial, onde ocorrerá o propalado beijaço, uma forma de demonstrar o desagravo e de marcar posição para que fatos idênticos, muito comuns, não mais se repitam. Isso uma coisa, outra o velado preconceito existente não só aqui, mas espalhado país afora. A convivência entre os desiguais e o respeito a todas as minorias, ainda um belo passo a ser dado.
Fazendo uma breve analogia com tudo isso, apresento aqui algo que poucos conhecem. Bauru não exporta somente atores, jogadores de bola, cantores, astronautas e personagens outros a fazerem sucesso mundo afora. Tomei conhecimento nessa semana de quatro (são muitos mais, mas fico nesses) bauruenses, todos Travestis, que saindo daqui, fizeram sucesso na Grande Sampa e na Europa. Dentro de uma escala de graduação dentro do setor onde atuam podem ser considerados pessoas de ponta, por terem atingido um grau de sucesso, buscado por muitos dos seus. Foram em busca do sucesso, venderam seus corpos nos mais diferentes lugares na mais antiga profissão do mundo (e ainda não entendida por parcela significativa da população) e aparecem em variados filmes, que podem ser vistos gratuitamente via internet, bastando o clicar de seus nomes nos sites de busca. Não discuto (e nem devo) os meios para chegarem onde chegaram, mas os coloco num patamar desses que foram à luta, enfrentaram batalhas mil e hoje, dentro do seu segmento merecem o respeito dos demais. A cidade não os reconhece e não os colocará nunca no mesmo patamar de outros segmentos a atingir a fama, mas que estão lá, isso estão, pois pelo que pude presenciar, boa parte do segmento gay da cidade conhecem e reverenciam a todos. E assim sendo, os cito aqui para que mais pessoas os conheçam.
DANIELLE DE BIAGGIO morou na Nova Esperança e Independência, teve fotos publicadas numa revista masculina e passou pouco tempo em Sampa. Deu um salto rápido e é das poucas a se instalar na Alemanha, de onde fez de tudo um pouco. Também denominada de "Feiticeira", nas entrevistas, cita sempre Bauru, mas não volta mais para cá, pois seus pais moram hoje no litoral paulista. Filmes, difíceis, mas uma das mais conhecidas.
ALEXIA NOGUEIRA circulou pela região toda e morou com os pais até sua mãe falecer, perto da Hípica e no Bauru XVI, ao lado da Vila São Paulo. Daí, por não se entender com o pai deu o salto para Sampa, acompanhada do namorado e de lá, partiram para a Europa, sempre juntos. Fez filmes por vários lugares, fixou-se na Suécia e outros países e não pensa em voltar. Seus filmes são facilmente encontrados na internet.
FERNANDA BARROS é do tipo mignon e morou com a família no Jardim Bela Vista. Carinha de criança foi cedo para Sampa e lutou muito para conseguir o intento de ir para a Europa. Da Itália, onde muitos de seus filmes foram rodados, fez fama e mesmo com a crise não pretende sair tão já. Vai e vem para Sampa rodando filmes pornôs.
BARBARA VASCONCELOS sempre morou com a família entre as imediações do Redentor e do Geisel e teve um salto meteórico de Sampa para a Europa. Seus filmes podem ser vistos facilmente pela internet e dentre todas é uma que retorna frequentemente para Bauru, para permanecer períodos ao lado dos pais. Seus filmes, todos pornôs estão espalhados pela rede.
Podem dizer que me esqueci de tantas outras. A citação dessas quatro tem por intuito demonstrar que o sucesso é relativo, ocorre tanto aqui, como acolá e tem um grau de intensidade para uns de um jeito e para outros, doutro. Conviver com tudo isso, nessa miscelânea que é nosso mundo atual é algo mais do que normal (deveria ser, né?). Assim como deveria ser o fato de cruzar com alguém diferente do estereótipo interiorano paulista no caixa de um supermercado e o relacionamento ocorrer dentro da mais absoluta normalidade.
QUATRO BAURUENSES DIVAS GAYS DO SEXO, DESCONHECIDAS POR AQUI E SUCESSO NA EUROPA
Começo desse mês ocorre no caixa de um supermercado na área central de Bauru um caso de intolerância contra um homossexual, gerando agressão verbal e física. Pelo pouco caso do supermercado em elucidar o caso, o fato gera hoje o que foi denominado de “Beijaço Gay”, uma concentração marcada para ter início às 16h na Praça Rui Barbosa e de lá caminhar até a frente do estabelecimento comercial, onde ocorrerá o propalado beijaço, uma forma de demonstrar o desagravo e de marcar posição para que fatos idênticos, muito comuns, não mais se repitam. Isso uma coisa, outra o velado preconceito existente não só aqui, mas espalhado país afora. A convivência entre os desiguais e o respeito a todas as minorias, ainda um belo passo a ser dado.
Fazendo uma breve analogia com tudo isso, apresento aqui algo que poucos conhecem. Bauru não exporta somente atores, jogadores de bola, cantores, astronautas e personagens outros a fazerem sucesso mundo afora. Tomei conhecimento nessa semana de quatro (são muitos mais, mas fico nesses) bauruenses, todos Travestis, que saindo daqui, fizeram sucesso na Grande Sampa e na Europa. Dentro de uma escala de graduação dentro do setor onde atuam podem ser considerados pessoas de ponta, por terem atingido um grau de sucesso, buscado por muitos dos seus. Foram em busca do sucesso, venderam seus corpos nos mais diferentes lugares na mais antiga profissão do mundo (e ainda não entendida por parcela significativa da população) e aparecem em variados filmes, que podem ser vistos gratuitamente via internet, bastando o clicar de seus nomes nos sites de busca. Não discuto (e nem devo) os meios para chegarem onde chegaram, mas os coloco num patamar desses que foram à luta, enfrentaram batalhas mil e hoje, dentro do seu segmento merecem o respeito dos demais. A cidade não os reconhece e não os colocará nunca no mesmo patamar de outros segmentos a atingir a fama, mas que estão lá, isso estão, pois pelo que pude presenciar, boa parte do segmento gay da cidade conhecem e reverenciam a todos. E assim sendo, os cito aqui para que mais pessoas os conheçam.
DANIELLE DE BIAGGIO morou na Nova Esperança e Independência, teve fotos publicadas numa revista masculina e passou pouco tempo em Sampa. Deu um salto rápido e é das poucas a se instalar na Alemanha, de onde fez de tudo um pouco. Também denominada de "Feiticeira", nas entrevistas, cita sempre Bauru, mas não volta mais para cá, pois seus pais moram hoje no litoral paulista. Filmes, difíceis, mas uma das mais conhecidas.
ALEXIA NOGUEIRA circulou pela região toda e morou com os pais até sua mãe falecer, perto da Hípica e no Bauru XVI, ao lado da Vila São Paulo. Daí, por não se entender com o pai deu o salto para Sampa, acompanhada do namorado e de lá, partiram para a Europa, sempre juntos. Fez filmes por vários lugares, fixou-se na Suécia e outros países e não pensa em voltar. Seus filmes são facilmente encontrados na internet.
FERNANDA BARROS é do tipo mignon e morou com a família no Jardim Bela Vista. Carinha de criança foi cedo para Sampa e lutou muito para conseguir o intento de ir para a Europa. Da Itália, onde muitos de seus filmes foram rodados, fez fama e mesmo com a crise não pretende sair tão já. Vai e vem para Sampa rodando filmes pornôs.
BARBARA VASCONCELOS sempre morou com a família entre as imediações do Redentor e do Geisel e teve um salto meteórico de Sampa para a Europa. Seus filmes podem ser vistos facilmente pela internet e dentre todas é uma que retorna frequentemente para Bauru, para permanecer períodos ao lado dos pais. Seus filmes, todos pornôs estão espalhados pela rede.
Podem dizer que me esqueci de tantas outras. A citação dessas quatro tem por intuito demonstrar que o sucesso é relativo, ocorre tanto aqui, como acolá e tem um grau de intensidade para uns de um jeito e para outros, doutro. Conviver com tudo isso, nessa miscelânea que é nosso mundo atual é algo mais do que normal (deveria ser, né?). Assim como deveria ser o fato de cruzar com alguém diferente do estereótipo interiorano paulista no caixa de um supermercado e o relacionamento ocorrer dentro da mais absoluta normalidade.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
UM LUGAR POR AÍ (23)
NÚCLEO DOCUMENTAÇÃO DA USC – VISITE ANTES QUE ACABE. E O DESTINO DO RICO ACERVO?
Um tema dos mais preocupantes está passando um tanto despercebido pela maioria dos interessados no tema Defesa do Patrimônio na cidade, o de que o NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO GABRIEL RUIZ PELLEGRINA, criado e mantido pela USC – Universidade do Sagrado Coração está prestes a encerrar atividades, numa decisão interna da Direção da Universidade e todo o acervo está a dançar ao sabor do vento. Tudo ainda parece estar no campo das divagações, mas como a USC tem nos pregado boas peças nos últimos anos, a notícia certamente é verdadeira e assusta. Boa parte da história da cidade de Bauru está lá guardada e sem rumo. Só para terem conhecimento quase todos os arquivos históricos da Câmara Municipal de Bauru e jornais antológicos como o Diário de Bauru estão todos lá. Só como ilustração, o próprio memorialista Gabriel (foto grande), que dá nome ao Núcleo e doou parte de seu acervo, não queria fazê-lo com o restante, ainda em sua casa, pois premeditava o que estava por acontecer.
Uma das hipóteses levantadas é que parte de todo o acervo possa ir parar na vizinha cidade de Lençóis Paulista, que nos últimos anos, criou um espaço dos mais modernos, bancado por aquela Prefeitura Municipal e seguindo à risca orientação do Sistema de Arquivos Públicos do Governo do Estado de SP. Lá já existe um dos únicos locais na região realmente adequados para acomodar documentação histórica, mas isso não pode ser o fator preponderante para que tudo seja para lá enviado, principalmente documentos valiosos da história de Bauru.
A importância do Núcleo e o nome dado em homenagem ao nosso maior memorialista, facilitou o recebimento de inúmeros documentos, isso ao longo das últimas décadas. A USC mudou de rumo, está em outra rota desde a passagem meteórica do ex-reitor, o chileno Rocha e, por que não dizer catastrófica do ponto de vista institucional (parece ter-se acertado financeiramente, mas renega cada vez mais algo feito e produzido aos moldes antigos). Esquece um pouco o seu lado bauruense, mas isso é outra coisa. O fato é que lá existem preciosidades históricas e é sobre o destino delas que escrevo. Estudei lá (sou formado em História), conheci o que foi e representava quando ainda Fafil, depois o início da USC, o apogeu, os problemas todos e, culminando com o acordo que possibilitou a saída da irmã Jacinta de sua direção e a vinda do Rocha. Ele veio efetuar uma predeterminada tarefa. Executou e deixou tudo encaminhado para ir tendo solução de continuidade, sempre aos seus moldes. O modelo de universidade chilena (muito questionado hoje com tudo o que vemos da crise educacional por lá) sob o comando dos irmãos Rocha sendo implantado aqui. O fim do Núcleo é só mais uma etapa, sem tirar nem por.
Quem está da direção do Núcleo não tem como opinar sobre o destino de nada. Decisão tomada, falta definir como tudo será distribuído. Observo alguns que doaram documentos pessoais importantes os pedindo de volta. Preocupação mais do que instalada. Querendo ser prático acredito que a Prefeitura Municipal de Bauru precisa ser rápida e parece já o ter sido, pois tem reunião agendada para o próximo dia 28/02 (segundo informação do JC, “Secretaria de Cultura pede doação do acervo da USC”, edição de 18/02 – leia aqui: http://www.jcnet.com.br/Cultura/2012/02/secretaria-de-cultura-pede-doacao-do-acervo-da-usc.html ). A ida para Lençóis é uma hipótese, mas a mais viável será tudo ficar aqui mesmo em Bauru, desde que sejam criadas condições de adequação de espaços. Existe uma hipótese que revelo aqui nos próximos dias de um amplo local a abrigar isso tudo, mas o problema vai além do local. Bauru ainda não possui nada aos moldes do que Lençóis possui. Seria esse o momento e o motivo é mais do que justo. O Governo do Estado facilita todo município que quer criar o seu Arquivo Público e o próprio site deles ensina o caminho das pedras.
Para os que querem entender um pouco da riqueza existente nesse quase extinto Núcleo de Documentação, basta uma simples consulta a algumas pessoas, cujos nomes cito a seguir: Gabriel Ruiz Pellegrina, Terezinha Zanlocchi, Márcia Nava, Muricy Domingues, Fábio Paride Pallotta, João Francisco Tidei de Lima, entre outros. Toda a cidade sabe o estado atual dos arquivos sob os cuidados de Luciano Dias Pires (criador e mantenedor do Bauru Ilustrado), que por décadas juntou documentos e por fim, isolou-os num sítio de sua propriedade sob precárias condições. A solução para aquele acervo parece será dada pelo JC, com a criação de um Núcleo sob os cuidados do jornal. Do contrário, tudo estaria correndo sérios riscos.
Confio no pessoal responsável pela Cultura Municipal, principalmente no secretário Elson Reis, Neli Viotto e Orlando Alves. Eles sabem que podem também contar com ajuda externa e sabem também onde buscá-la. O fato é que as ações precisam ser rápidas, pois nunca me sairá da memória como foi feita a transição de acervo da Fundato, quando essa resolveu de uma hora para outra dar fim a tudo o que estava sob sua guarda. Foi um deus nos acuda.
OBS.: Todas as fotos do Núcleo foram por mim tiradas em 2008, quando de uma visita ao local.
NÚCLEO DOCUMENTAÇÃO DA USC – VISITE ANTES QUE ACABE. E O DESTINO DO RICO ACERVO?
Um tema dos mais preocupantes está passando um tanto despercebido pela maioria dos interessados no tema Defesa do Patrimônio na cidade, o de que o NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO GABRIEL RUIZ PELLEGRINA, criado e mantido pela USC – Universidade do Sagrado Coração está prestes a encerrar atividades, numa decisão interna da Direção da Universidade e todo o acervo está a dançar ao sabor do vento. Tudo ainda parece estar no campo das divagações, mas como a USC tem nos pregado boas peças nos últimos anos, a notícia certamente é verdadeira e assusta. Boa parte da história da cidade de Bauru está lá guardada e sem rumo. Só para terem conhecimento quase todos os arquivos históricos da Câmara Municipal de Bauru e jornais antológicos como o Diário de Bauru estão todos lá. Só como ilustração, o próprio memorialista Gabriel (foto grande), que dá nome ao Núcleo e doou parte de seu acervo, não queria fazê-lo com o restante, ainda em sua casa, pois premeditava o que estava por acontecer.
Uma das hipóteses levantadas é que parte de todo o acervo possa ir parar na vizinha cidade de Lençóis Paulista, que nos últimos anos, criou um espaço dos mais modernos, bancado por aquela Prefeitura Municipal e seguindo à risca orientação do Sistema de Arquivos Públicos do Governo do Estado de SP. Lá já existe um dos únicos locais na região realmente adequados para acomodar documentação histórica, mas isso não pode ser o fator preponderante para que tudo seja para lá enviado, principalmente documentos valiosos da história de Bauru.
A importância do Núcleo e o nome dado em homenagem ao nosso maior memorialista, facilitou o recebimento de inúmeros documentos, isso ao longo das últimas décadas. A USC mudou de rumo, está em outra rota desde a passagem meteórica do ex-reitor, o chileno Rocha e, por que não dizer catastrófica do ponto de vista institucional (parece ter-se acertado financeiramente, mas renega cada vez mais algo feito e produzido aos moldes antigos). Esquece um pouco o seu lado bauruense, mas isso é outra coisa. O fato é que lá existem preciosidades históricas e é sobre o destino delas que escrevo. Estudei lá (sou formado em História), conheci o que foi e representava quando ainda Fafil, depois o início da USC, o apogeu, os problemas todos e, culminando com o acordo que possibilitou a saída da irmã Jacinta de sua direção e a vinda do Rocha. Ele veio efetuar uma predeterminada tarefa. Executou e deixou tudo encaminhado para ir tendo solução de continuidade, sempre aos seus moldes. O modelo de universidade chilena (muito questionado hoje com tudo o que vemos da crise educacional por lá) sob o comando dos irmãos Rocha sendo implantado aqui. O fim do Núcleo é só mais uma etapa, sem tirar nem por.
Quem está da direção do Núcleo não tem como opinar sobre o destino de nada. Decisão tomada, falta definir como tudo será distribuído. Observo alguns que doaram documentos pessoais importantes os pedindo de volta. Preocupação mais do que instalada. Querendo ser prático acredito que a Prefeitura Municipal de Bauru precisa ser rápida e parece já o ter sido, pois tem reunião agendada para o próximo dia 28/02 (segundo informação do JC, “Secretaria de Cultura pede doação do acervo da USC”, edição de 18/02 – leia aqui: http://www.jcnet.com.br/Cultura/2012/02/secretaria-de-cultura-pede-doacao-do-acervo-da-usc.html ). A ida para Lençóis é uma hipótese, mas a mais viável será tudo ficar aqui mesmo em Bauru, desde que sejam criadas condições de adequação de espaços. Existe uma hipótese que revelo aqui nos próximos dias de um amplo local a abrigar isso tudo, mas o problema vai além do local. Bauru ainda não possui nada aos moldes do que Lençóis possui. Seria esse o momento e o motivo é mais do que justo. O Governo do Estado facilita todo município que quer criar o seu Arquivo Público e o próprio site deles ensina o caminho das pedras.
Para os que querem entender um pouco da riqueza existente nesse quase extinto Núcleo de Documentação, basta uma simples consulta a algumas pessoas, cujos nomes cito a seguir: Gabriel Ruiz Pellegrina, Terezinha Zanlocchi, Márcia Nava, Muricy Domingues, Fábio Paride Pallotta, João Francisco Tidei de Lima, entre outros. Toda a cidade sabe o estado atual dos arquivos sob os cuidados de Luciano Dias Pires (criador e mantenedor do Bauru Ilustrado), que por décadas juntou documentos e por fim, isolou-os num sítio de sua propriedade sob precárias condições. A solução para aquele acervo parece será dada pelo JC, com a criação de um Núcleo sob os cuidados do jornal. Do contrário, tudo estaria correndo sérios riscos.
Confio no pessoal responsável pela Cultura Municipal, principalmente no secretário Elson Reis, Neli Viotto e Orlando Alves. Eles sabem que podem também contar com ajuda externa e sabem também onde buscá-la. O fato é que as ações precisam ser rápidas, pois nunca me sairá da memória como foi feita a transição de acervo da Fundato, quando essa resolveu de uma hora para outra dar fim a tudo o que estava sob sua guarda. Foi um deus nos acuda.
OBS.: Todas as fotos do Núcleo foram por mim tiradas em 2008, quando de uma visita ao local.