MEUS TEXTOS NO BOM DIA (171) e FIM DO NUPHIS
RELIGIÕES, NEGÓCIOS E INTERESSES – publicado BOM DIA BAURU, edição de 31.03.2012
As questões de preservação do patrimônio continuam na ordem do dia em Bauru. A quase extinção do NUPHIS (Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica) na USC é o tema do momento. Aquelas instalações passarão para o curso de arquitetura, hoje uma espécie de “must” no método educacional implantado nas hostes do sistema Sagrado Coração. Uma pena, primeiro por virarem às costas para Bauru. Depois, por deixarem exposto, espécie de fratura, o novo momento vivido pela universidade e tentando manter lema da religiosidade e da fraternidade. Junto tudo isso no meu liquidificador e o suprassumo extraído não é da fácil digestão. Vivemos atolados até o pescoço dentro de um mundo onde o único e indivisível deus parece ser mesmo o dinheiro. A cada dia confirmo isso. Nada é mais importante do que aperfeiçoar os sistemas arrecadatórios. Fé é uma coisa e não deve ser misturada com religião e muito menos com os negócios a envolver as igrejas. Tudo parece ter virado um grande negócio, até com a vinda de gente especializada do estrangeiro para resolver pendências, onde os nativos não possuam habilitação para tanto. Isso com quase todas. Poucas deverão ir para o reino dos céus, se formos seguir à risca os mandamentos de um senhor que passou por aqui séculos atrás. Esse negócio de pureza de sentimentos é algo cada vez mais em falta no mercado. No mundo dos negócios existe praticidade, ligeireza e estatísticas, nada mais. Bobo daquele que doa seu dízimo sem ao menos questionar a finalidade do mesmo. Enfiam na cabeça das pessoas que fazendo a sua parte é o que basta. Simples assim. Contribuir e permanecer quieto. Misturei as questões de patrimônio e religião por um único motivo. Todos dizem defender Bauru, mas o que existe mesmo é a defesa do interesse pelo negócio em que se está metido. Veja como é tratada a lei de preservação do cerrado. Querem derrubar as árvores em nome do progresso, nunca para aumentarem os lucros nos negócios. O NUPHIS já era, a Lei do Cerrado idem, mas tudo o mais anda muito bem. Graças a Deus.
REPENSANDO A RELAÇÃO – O CASO NUPHIS USC E MAIS DOIS DESDOBRAMENTOS
REPERCUTINDO 1: USC reavaliará mudanças em acervo - Alvo de críticas, transferência de materiais do Nuphis será reavaliada pela instituição, que quer manter fonte de pesquisa – matéria de Mariana Cerigatto, publicada no caderno Cultura, JC, 30.03.2012:
"A mudança do acervo do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica (Nuphis) “Gabriel Ruiz Pelegrina”, alocado na Universidade do Sagrado Coração (USC), tem sido alvo de críticas, dúvidas, indignação e lamentação dos interessados na preservação histórica e de patrimônio da cidade e região. Com acervo riquíssimo, o Núcleo é tido com campo de pesquisa científica que sempre movimentou a comunidade acadêmica. Quem já passou pela USC, sobretudo por cursos como história, geografia ou comunicação, deve lembrar o quanto o Núcleo foi importante para sua formação. Contudo, apesar do movimento de transferência dos materiais, o coordenador geral de extensão, Luiz Antonio Fernandes Fonseca, alega que a universidade quer manter a tradição de pesquisa alcançada pelo Nuphis. Para isso, vai reavaliar a retirada de alguns documentos, como o acervo de jornais. “Toda documentação que tem duplicidade vai pra Prefeitura. O que não tem duplicidade, ainda está conosco e sua saída será reavaliada, até porque ainda há uma série de considerações neste processo a serem feitas”, indicou Luiz. “O despacho de alguns materiais que, sem dúvida são muito importantes, serão negociados, como os volumes de jornais da região. Estamos negociando para que esse material fique. Temos jornais históricos, que são fontes para estudantes de história e comunicação”, informou o coordenador. Conforme o JC tem divulgado, a USC precisa de espaço para novos e complexos laboratórios de cursos. E o prédio do Nuphis, por ser térreo e espaçoso, cai como uma luva para esse propósito. Apesar disso, Luiz reforça que a intenção não é extinguir o espaço, e sim trazê-lo para dentro da universidade. “Este acervo inclui trajetória de historiadores, como a do ‘ícone’ Gabriel Pelegrina, cartas antigas e documentos que remetem ao passado que continuarão conosco. O objetivo é que todo esse material continue sendo fonte de consulta a estudantes e outros interessados.”
Pelegrina lamenta as alterações - O historiador Gabriel Ruiz Pelegrina, que tem seu nome “carregado” pelo Nuphis, demostrou aborrecimento com a notícia de transferência de materiais em entrevista ao JC. Aborrecimento que também demostra paixão pela entidade, que ajudou a montar com documentos e objetos considerados verdadeiras relíquias. Hoje, com 90 anos, o historiador recorda os primórdios do Nuphis, que tem 28 anos de existência. “Quando tudo começou, fui convidado pela irmã Elvira Milani, em 1983, para montar o Núcleo, que foi fundado no dia 23 de setembro de 1983”, lembra. “Eu tinha um enorme acervo em casa e comecei a levar para o Nuphis”, afirma. “Estou com 90 anos e vou morrer magoado com o destino do Núcleo. É uma pena, porque Bauru está abrindo mão de verdadeiras relíquias”, lamentou o pesquisador. Gabriel também lamenta que os espaços históricos da cidade estejam sendo perdidos, em sua opinião. “Bauru tem uma história muito rica, que precisa ser preservada. O que tenho visto é o fechamento de locais importantes para o município, como aconteceu com os únicos clubes da cidade – Luso, BTC, BAC. Acredito que falte mais interesse da Prefeitura em valorizar o que é patrimônio da cidade”, ressaltou o historiador. Pelegrina ainda expõe a importância de preservar a história. “O Núcleo da USC sempre teve esse caráter de formação, de pesquisa. A valorização disso tudo depende também da juventude, que hoje não dá muita importância, é muito influenciada pela mídia”, criticou.
REPERCUTINDO 2: ‘Acervo do Nuphis não se perderá’, diz Reis - Secretário municipal de Cultura garante que transferência de materiais de núcleo histórico da USC não trará prejuízos –matéria de Mariana Cerigatto, publicada no caderno Cultura JC, edição de hoje 31.03.2012
Em meio às críticas sobre o processo de mudança do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica (Nuphis) “Gabriel Ruiz Pelegrina”, o secretário municipal de Cultura, Elson Reis, quis reforçar que grande parte do acervo, que será destinado à Prefeitura, não será perdido. Conforme o JC tem divulgado, o processo de mudança do Nuphis ter sido motivo de indignação para vários historiadores e alunos que passaram pelos cursos da área de humanas da universidade, já que a entidade é tida como importante fonte de pesquisa. No entanto, 70% deste acervo vai ficar disponível para toda a população através dos museus públicos de Bauru, fato também já noticiado pelo JC. Diante disso, o secretário deixa claro que a prefeitura vai receber com todo o cuidado devido este material. “A prefeitura e a Secretaria de Cultura vão receber parte deste material justamente para evitar que nada seja perdido. Teremos todo o cuidado com o transporte destes documentos e objetos e estamos preparando os espaços que vão abrigá-los. É importante ressaltar que esse acervo agora ficará em entidades totalmente públicas e acessíveis a qualquer pessoa”, salientou Elson. O acervo que será disponibilizado ao município contempla um antigo cadastro imobiliário da Prefeitura, edições antigas e encadernadas do antigo Diário de Bauru, objetos relativos à ferrovia, fotos, discos (LPs), entre outros. O acervo histórico será dividido entre os museus de Bauru, entre eles o Museu Histórico Municipal, o Museu Ferroviário e o Museu de Imagem e Som (MIS) – que ainda será construído. Como é de conhecimento, a USC vai redimensionar o espaço do Núcleo de Documentação, pois precisa de espaço para novos e complexos laboratórios de cursos.
Rebatendo críticas - Elson Reis também rebateu críticas feitas pelo historiador Gabriel Pelegrina na edição de ontem do JC. Pelegrina lamentou o fechamento de clubes tradicionais da cidade, como Luso, BAC e BTC. “Só queria deixar claro que a Prefeitura não tem culpa desses locais terem sido vendidos. E também gostaria reforçar que a Prefeitura está recebendo parte do acervo para justamente preservar esses materiais do Núcleo. Estamos entrando como parte da solução desta mudança do Nuphis”, enfatiza o secretário. Mobilização? - A polêmica do Nuphis também repercutiu na Associação dos Amigos dos Museus de Bauru, que segue mobilizada e não descarta um ato público ou reunião para tratar do assunto. As mudanças também repercutem entre leitores do JC na seção diária de cartas.
MINHA OBSERVAÇÃO FINAL: Ela está bem clara e entre idas e vindas, louvo o papel do setor Cultural da Prefeitura em tentar abrigar tudo a contento e num curto espaço de tempo. Entendo como claudicante a atitude da direção da USC em rever tudo somente agora e após a negativa repercussão. Por que não antes? Por que somente agora? Por que antes não havia espaço e agora podem surgir alguns? Por que até agora fechou a questão e diante da repercussão abre uma porta? Seria esse um ato do mais puro espírito religioso? Diante de tantos questionamentos, algo muito claro, uma tremenda PISADA NA BOLA com a cidade, com a história ali mantida e a constatação de que, pelo menos aqui em Bauru, acervos devem permanecer em instituições públicas, vide esse caso e os da Fundato, Núcleo da ITE, ILSL, Acervo LDP, etc
OBS.: Essas fotos, todas minhas, foram já publicadas aqui nesse mesmo blog em escritos anteriores (afinal existe desde 2007) e presta uma justa homenagem a GABRIEL RUIZ PELEGRINA, 90 anos, que dá nome ao NUPHIS e assim como todos nós, indignado está.
sábado, 31 de março de 2012
sexta-feira, 30 de março de 2012
FRASES DE UM LIVRO LIDO (58) e MEUS TEXTOS NO BOM DIA (170)
SERIA BATMAN UM MELIANTE? – publicado BOM DIA BAURU em 24.03.2012
Eu sempre gostei muito de HQ. Meu filho herdou o gosto e minha coleção de tudo o que havia guardado em caixas e mais caixas. Dentre eles, Batman e aqueles malucos todos de Gotham City. Travo hoje com ele uma conversa que vai muito além da HQ e recebo em troca homéricos toques sobre os desvios de conduta do personagem roteirizado, dentre outros, por Frank Miller. “Pai, prefiro muito mais o traço alternativo do Alan Moore, abertamente de esquerda e criador entre outros do ‘V de Vingança’. Ele trava uma discussão mais do que séria com Miller, esse abertamente de direita e a enxergar no seu personagem uma viável alternativa em contrapartida ao governo local. Sua cria, o Batman é viril, poderoso e muito influente com as autoridades locais. Gordon, o Comissário de Polícia sempre libera seu acesso até o Asilo Arkhan para interrogar os internos. E o que é isso se não transgressões? Por outro lado o Alan Moore me fez entender que Batman e o Coringa são crias do mesmo material”, me diz. Viajamos nessa conversa. Confesso, depois de décadas, reli novamente Batman. Tudo para tentar manter discussões em grau de igualdade. Da última vez, foi com o citado Asilo Arkhan, me mostrando a inquietante indagação do psicólogo do lugar, Hugo Stranger para Batman: “Você já pensou na possibilidade de que a sua presença seja o elemento catalisador de todos esses malucos?”. De cara concordei com sua tese. Dias depois lhe mostro a revista “Samuel” (http://www.revistasamuel.com.br/ ), onde no HQ, “A Sociologia do Batman”, traço de Zé Dassilva, a seguinte sequência de diálogos: “Que Gothan City é uma cidade violenta todo mundo sabe. Agora pergunta para qualquer sociólogo o que ele acha disso (“Violência urbana é causada pela concentração de renda”). Quem é o cara que ali mais concentra renda? (Bruce Wayne). E quem combate a criminalidade na cidade? (Batman). Então, deixa ver se entendi. Não satisfeito em gerar milhares de excluídos, o playboy ainda sai a noite para meter porrada neles? Mas é muito cinismo!”. Falamos a mesma língua.
AS FRASES DE UM LIVRO DE HQ: “Batman, a Piada Mortal”, edição especial de luxo, roteiro de Alan Moore e desenhos de Brian Bolland, capa dura, prefácio de Tim Sale, Panini Comics, 2011, 82 páginas. Para quem nunca leu, a HQ até pode parecer uma distração como outra qualquer, mas vai muito além disso. Não é minha intenção contar aqui a narrativa e sim separar alguns diálogos. Reflexões nada abusrdas dessa loucura provocada pela instabilidade causada ao ser humano pelos dias atuais:
- “Você já sofreu bastante se casando comigo... sou um fracassado. (...) Eu não consigo sustentar você! O que vamos fazer? (...) Eu queria ter dinheiro para morar numa vizinhança decente. Tem garotas aí na rua que ganham mais do que eu e não precisam contar uma única piada”, Coringa, ainda casado e tentando sobreviver como humorista, antes do nascimento do filho.
- “As lembranças são traiçoeiras! Num instante você está perdido num carnaval de prazeres com o aroma da infância, os neons da puberdade. No outro eles te levam a lugares aonde você não quer ir, onde a escuridão e a sombra trazem à tona coisas que você gostaria de esquecer! As lembranças podem ser vis, repulsivas, brutais... como crianças. Ah ah ah! Mas podemos viver sem elas? A razão se sustenta nelas. Não encarar as lembranças é o mesmo que negar a razão! Mas e daí? Quem nos obriga a ser racionais? Não há cláusula de sanidade! Assim, quando você estiver dentro de um desagradável trem de recordações, seguindo pra lugares do seu passado onde o risco é insuportável... Lembre-se da loucura. Loucura é a saída de emergência, Você só precisar dar um passo pra trás e fechar a porta com todas aquelas coisas horríveis que aconteceram... presas lá dentro... pra sempre”, Coringa torturando um prisioneiro, o comissário Gordon.
- “Quando o mundo está cheio de preocupação e todas as manchetes gritam aflição, quando tudo é estupro, fome e guerra, bem... então, só há uma coisa certa a fazer e vou te ensinar pra você saber. Você deve soriiiiiiir. Se você começar a olhar as pessoas meio irado, é sinal de que está ficando inteiro pirado”, Coringa ainda ma mesma sessão de tortura.
- “Senhoras e senhores! Vocês Jô o conhecem pelas manchetes dos jornais! Agora, tremam ao ver com seus próprios olhos o mais raro e trágico dos mistérios da natureza! Apresento o Homem Comum!!! Fisicamente ridículo, por outro lado, uma deturpada visão de valores. Observem o seu repugnante senso de humanidade, a disforme consciência social e o asqueroso otimismo. É mesmo de dar náuseas, não? O mais repulsivo de tudo são suas frágeis e inúteis noções de ordem e sanidade. Se for submetido a muita pressão ele quebra!Então, como ele faz para viver? Como esse pobre e patético espécime sobrevive ao mundo cruel e irracional de hoje? A triste resposta é: Não muito bem! Frente ao inegável fato de que a existência humana é louca, casual e sem finalidade, um em cada oito deles ficaz piradinho! E quem pode culpá-los? Num mundo psicótico como este qualquer outra afirmação seria loucura!”.
- “Demonstrei que não há diferença entre mim e outro qualquer! Só é preciso um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático. É essa a distância que me separa do mundo. Apenas um dia ruim. (...) Quando vi que piada de mau gosto era esse mundo, preferi ficar louco. Eu admito! E você? (...) Tudo pelo que as pessoas lutam e dão valor não passa de uma monstruosa e insensata anedota. Então, por que você não vê lado engraçado? Por que não está rindo?”, sua fala quando Batman o caçava.
ALGO PARA ENCERRAR O DIA E NÃO ESQUECER DE NADA: Pedem que escreva algo sobre Chico Anísio e Millôr Fernandes, recentemente falecidos. Que mais poderia fazê-lo além de tudo que já foi escrito, visto e dito. Não sei mensurar qual dos dois gosto ou desgosto mais. Tenho comigo algo de muito bom de ambos e algo também de ruim. São mestres no ofício que escolheram para suas vidas. Li muito, mas muito mesmo de Millôr e gosto de suas reflexões, mas desgosto muito também de sua última passagem pela revista "veja" (sempre em minúscula), pois poderia muito bem ter passado distante de tudo o que essa revista representa de nefasto, diante de tudo o que ele, como escritor consagrado representa para uma legião de fãs. No mais, continuarei o lendo sempre, principalmente por conseguir dizer tudo em textos tão curtos, todos magistrais. Do Chico gosto muito de vários de seus personagens, outros nem tanto. Tudo normal, dentro de alguém que tenha criado mais de cem. Aprendi a conviver com muitos deles via TV e deixo o nome de um como registro de uma época, o boleiro Coalhada, que sempre me fez rir muito. Mas a melhor lembrança que guardo do Chico não é como ator, mas como letrista de sambas, principalmente reverenciando o Rio Antigo. Foi magistral nisso e cantarolo algumas dessas letras sempre com muita emoção. Escrever mais é bobagem, fico nisso.
SERIA BATMAN UM MELIANTE? – publicado BOM DIA BAURU em 24.03.2012
Eu sempre gostei muito de HQ. Meu filho herdou o gosto e minha coleção de tudo o que havia guardado em caixas e mais caixas. Dentre eles, Batman e aqueles malucos todos de Gotham City. Travo hoje com ele uma conversa que vai muito além da HQ e recebo em troca homéricos toques sobre os desvios de conduta do personagem roteirizado, dentre outros, por Frank Miller. “Pai, prefiro muito mais o traço alternativo do Alan Moore, abertamente de esquerda e criador entre outros do ‘V de Vingança’. Ele trava uma discussão mais do que séria com Miller, esse abertamente de direita e a enxergar no seu personagem uma viável alternativa em contrapartida ao governo local. Sua cria, o Batman é viril, poderoso e muito influente com as autoridades locais. Gordon, o Comissário de Polícia sempre libera seu acesso até o Asilo Arkhan para interrogar os internos. E o que é isso se não transgressões? Por outro lado o Alan Moore me fez entender que Batman e o Coringa são crias do mesmo material”, me diz. Viajamos nessa conversa. Confesso, depois de décadas, reli novamente Batman. Tudo para tentar manter discussões em grau de igualdade. Da última vez, foi com o citado Asilo Arkhan, me mostrando a inquietante indagação do psicólogo do lugar, Hugo Stranger para Batman: “Você já pensou na possibilidade de que a sua presença seja o elemento catalisador de todos esses malucos?”. De cara concordei com sua tese. Dias depois lhe mostro a revista “Samuel” (http://www.revistasamuel.com.br/ ), onde no HQ, “A Sociologia do Batman”, traço de Zé Dassilva, a seguinte sequência de diálogos: “Que Gothan City é uma cidade violenta todo mundo sabe. Agora pergunta para qualquer sociólogo o que ele acha disso (“Violência urbana é causada pela concentração de renda”). Quem é o cara que ali mais concentra renda? (Bruce Wayne). E quem combate a criminalidade na cidade? (Batman). Então, deixa ver se entendi. Não satisfeito em gerar milhares de excluídos, o playboy ainda sai a noite para meter porrada neles? Mas é muito cinismo!”. Falamos a mesma língua.
AS FRASES DE UM LIVRO DE HQ: “Batman, a Piada Mortal”, edição especial de luxo, roteiro de Alan Moore e desenhos de Brian Bolland, capa dura, prefácio de Tim Sale, Panini Comics, 2011, 82 páginas. Para quem nunca leu, a HQ até pode parecer uma distração como outra qualquer, mas vai muito além disso. Não é minha intenção contar aqui a narrativa e sim separar alguns diálogos. Reflexões nada abusrdas dessa loucura provocada pela instabilidade causada ao ser humano pelos dias atuais:
- “Você já sofreu bastante se casando comigo... sou um fracassado. (...) Eu não consigo sustentar você! O que vamos fazer? (...) Eu queria ter dinheiro para morar numa vizinhança decente. Tem garotas aí na rua que ganham mais do que eu e não precisam contar uma única piada”, Coringa, ainda casado e tentando sobreviver como humorista, antes do nascimento do filho.
- “As lembranças são traiçoeiras! Num instante você está perdido num carnaval de prazeres com o aroma da infância, os neons da puberdade. No outro eles te levam a lugares aonde você não quer ir, onde a escuridão e a sombra trazem à tona coisas que você gostaria de esquecer! As lembranças podem ser vis, repulsivas, brutais... como crianças. Ah ah ah! Mas podemos viver sem elas? A razão se sustenta nelas. Não encarar as lembranças é o mesmo que negar a razão! Mas e daí? Quem nos obriga a ser racionais? Não há cláusula de sanidade! Assim, quando você estiver dentro de um desagradável trem de recordações, seguindo pra lugares do seu passado onde o risco é insuportável... Lembre-se da loucura. Loucura é a saída de emergência, Você só precisar dar um passo pra trás e fechar a porta com todas aquelas coisas horríveis que aconteceram... presas lá dentro... pra sempre”, Coringa torturando um prisioneiro, o comissário Gordon.
- “Quando o mundo está cheio de preocupação e todas as manchetes gritam aflição, quando tudo é estupro, fome e guerra, bem... então, só há uma coisa certa a fazer e vou te ensinar pra você saber. Você deve soriiiiiiir. Se você começar a olhar as pessoas meio irado, é sinal de que está ficando inteiro pirado”, Coringa ainda ma mesma sessão de tortura.
- “Senhoras e senhores! Vocês Jô o conhecem pelas manchetes dos jornais! Agora, tremam ao ver com seus próprios olhos o mais raro e trágico dos mistérios da natureza! Apresento o Homem Comum!!! Fisicamente ridículo, por outro lado, uma deturpada visão de valores. Observem o seu repugnante senso de humanidade, a disforme consciência social e o asqueroso otimismo. É mesmo de dar náuseas, não? O mais repulsivo de tudo são suas frágeis e inúteis noções de ordem e sanidade. Se for submetido a muita pressão ele quebra!Então, como ele faz para viver? Como esse pobre e patético espécime sobrevive ao mundo cruel e irracional de hoje? A triste resposta é: Não muito bem! Frente ao inegável fato de que a existência humana é louca, casual e sem finalidade, um em cada oito deles ficaz piradinho! E quem pode culpá-los? Num mundo psicótico como este qualquer outra afirmação seria loucura!”.
- “Demonstrei que não há diferença entre mim e outro qualquer! Só é preciso um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático. É essa a distância que me separa do mundo. Apenas um dia ruim. (...) Quando vi que piada de mau gosto era esse mundo, preferi ficar louco. Eu admito! E você? (...) Tudo pelo que as pessoas lutam e dão valor não passa de uma monstruosa e insensata anedota. Então, por que você não vê lado engraçado? Por que não está rindo?”, sua fala quando Batman o caçava.
ALGO PARA ENCERRAR O DIA E NÃO ESQUECER DE NADA: Pedem que escreva algo sobre Chico Anísio e Millôr Fernandes, recentemente falecidos. Que mais poderia fazê-lo além de tudo que já foi escrito, visto e dito. Não sei mensurar qual dos dois gosto ou desgosto mais. Tenho comigo algo de muito bom de ambos e algo também de ruim. São mestres no ofício que escolheram para suas vidas. Li muito, mas muito mesmo de Millôr e gosto de suas reflexões, mas desgosto muito também de sua última passagem pela revista "veja" (sempre em minúscula), pois poderia muito bem ter passado distante de tudo o que essa revista representa de nefasto, diante de tudo o que ele, como escritor consagrado representa para uma legião de fãs. No mais, continuarei o lendo sempre, principalmente por conseguir dizer tudo em textos tão curtos, todos magistrais. Do Chico gosto muito de vários de seus personagens, outros nem tanto. Tudo normal, dentro de alguém que tenha criado mais de cem. Aprendi a conviver com muitos deles via TV e deixo o nome de um como registro de uma época, o boleiro Coalhada, que sempre me fez rir muito. Mas a melhor lembrança que guardo do Chico não é como ator, mas como letrista de sambas, principalmente reverenciando o Rio Antigo. Foi magistral nisso e cantarolo algumas dessas letras sempre com muita emoção. Escrever mais é bobagem, fico nisso.
quinta-feira, 29 de março de 2012
DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (35)
O FIM DO NUPHIS E A TRANSFERÊNCIA DOS ACERVOS - ATITUDE E AÇÃO
MATÉRIA 1: "História de mudança - Núcleo de documentação da USC inicia transferência para prédio menor e devolve parte do acervo", texto de João Pedro Feza, publicado no JC edição de ontem, 28.03:
"Iniciada em 1983, a história do Nuphis está com capítulos em aberto. E com certa dose de suspense: afinal, o Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica “Gabriel Ruiz Pelegrina” vai fechar? A resposta da USC (Universidade do Sagrado Coração), guardiã do acervo, é... “Não, não vai. O núcleo mantém o mesmo nome, inclusive. O que ocorre é um processo de mudança de um galpão maior, em área externa, à frente da universidade, para prédio menor que fica dentro da USC, mais seguro e arejado”, justifica o coordenador geral de extensão, Luiz Antonio Fernandes Fonseca. E a devolução de parte do acervo aos donos originais: é verdade? Sim. “De fato, estamos chamando algumas pessoas e instituições para acertar essa situação”. A mudança para antiga ala interna que abrigava a Edusc já começou nesta semana. É tida como inevitável porque a USC precisa de espaço para novos e complexos laboratórios de cursos. E o prédio do Nuphis, por ser térreo e espaçoso, cai como uma luva para isso.
Separam, embalam... - “Precisa ficar claro que ninguém vai colocar nada na calçada”, ressalta Luiz Fonseca. Mas que o Nuphis não será mais o mesmo, é fato. Além de ir para prédio menor, vai priorizar manutenção de acervo que conta a história dos 49 anos da USC, desde os tempos de Fafil (Faculdade de Filosofia). E qual a situação de momento? “O Nuphis tem três funcionários. Separam material, embalam... A mudança, em sua primeira fase, deve estar concluída até a primeira quinzena de abril.” - O que permanece, o que sai: Fotos, troféus, mapas, medalhas, livros, discos e documentos antigos sem qualquer relação com a trajetória da USC na comunidade deverão sair. Cartas de época, estantes e equipamentos obtidos ao longo dos anos, inclusive com apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), continuam a serviço do Nuphis, segundo Luiz Fonseca. (JPF)
Câmara: ‘Vai ficar tudo encaixotado’ - O presidente da Câmara, Roberval Sakai, disse ontem que o acervo da Câmara que está no Nuphis voltará, sim, para o Legislativo. Mas, por enquanto, vai ficar tudo encaixotado. “Teremos uma sala para isso, conforme decidiu a mesa diretora. Só que ainda estamos comprando alguns arquivos, no processo de cotação de preços, para acomodar o material”. (JPF)
Associação mantém crítica à alteração - O presidente da Associação dos Amigos dos Museus de Bauru (AAMB), Henrique Perazzi de Aquino, alertava em carta ao JC, publicada em 17 de março, sobre “preocupações e apreensões” sobre as mudanças no Nuphis. “O mais importante agora é que a Prefeitura consiga acondicionar o material em local condizente à importância que tem”, disse ontem. Para ele, o fato de a municipalidade reassumir parte do material deve facilitar futuras cobranças de preservação, o que é dificultado no caso de uma entidade privada, como a USC, de acordo com Aquino. Conforme o JC já divulgou, cerca de 70% do material do Nuphis deverá voltar para municipalidade. Prefeitura: ‘Equipes fazem transferência’ - Segundo o secretário municipal de Cultura, Elson Reis, parte do acervo alocado no Jardim Brasil, onde fica a USC, vai começar a ser transferido até o final desta semana. São: cadastro imobiliário da prefeitura, objetos relativos à ferrovia, fotos, discos (LPs), etc. “As equipes da USC e da Secretaria da Cultura, envolvendo o Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural, estarão envolvidas. Vai haver conferência do material em sua saída e sua chegada”, informou o secretário. O acervo histórico será dividido entre os museus de Bauru, entre eles o Museu Histórico Municipal, o Museu Ferroviário e o Museu de Imagem e Som (MIS) – que ainda será construído ".
MATÉRIA 2: “Farmácia de Cabrália Paulista também deve deixar o Nuphis” – matéria do JC, caderno Cultura, edição de hoje, 29.03
"Um aparato completo de uma antiga farmácia, com mobiliário clássico de época, também integra acervo do Nuphis (Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica “Gabriel Ruiz Pelegrina”) da USC (Universidade do Sagrado Coração). E, assim como o acervo da Prefeitura e Câmara de Bauru, deve deixar a instituição. A diferença é que a farmácia foi doada por uma família de Cabrália Paulista, cujo contato já foi feito para que aceite a devolução. As devoluções, conforme o JC noticiou ontem, geram polêmica. Para preocupação da Associação dos Amigos dos Museus de Bauru, o Nuphis vai deixar o atual prédio, em frente à universidade, e passar para ala menor, dentro da universidade. A medida ocorre porque a USC precisa de mais espaço para seus novos laboratórios. Resultado: não cabe tudo na nova ala e parte do acervo volta, portanto, aos donos originais. “O problema é que vai ficar uma parte do acervo para um lado, outra parte para outro, e nunca mais teremos essa unificação física”, diz o presidente da associação, Henrique Perazzi de Aquino.
Volumes menores - O coordenador geral de extensão da USC, Luiz Antonio Fernandes Fonseca, garante que não se trata do fim do Nuphis, apenas uma adequação necessária. O processo de mudança já começou com pequenos volumes transferidos para prédio menor, no Jardim Brasil. Prefeitura e Câmara também se preparam para receber de volta documentos e objetos que, a partir de 1983, começaram a compor a parte “municipal” do Nuphis. A Polícia Militar também deverá ser chamada para tratar de recuperação de acervo de seu interesse.
MINHA OBSERVAÇÃO FINAL: Continuo tendo a certeza do irracionalismo na devolução do acervo para seus doadores, mais de dez anos após a doação. Sensatez, praticidade e agilidade, tudo junto, é disso que precisamos. A Prefeitura, por intermédio de Rodrigo Agostinho, Elson Reis, Neli Viotto, Orlando Alves e outros precisa ser rápida, audaciosa e impetuosa. Tem que arrebatar tudo para o acervo público e enfrentar todos os dragões com todas as armas disponíveis. Todos os interessados nessa questão precisam estar unidos e lutar pela unificação de todo esse acervo num mesmo lugar. Não existe outra solução e qualquer outra, além de paliativa é desastrosa. Urgentíssimo é a reunião com todos os atuais ocupantes das instalações anexas ao Museu Ferroviário (SESEF, Inventariança Rede e Clube Engenheiros Aposentados) e cada um ceder uma parte da área que ocupam, possibilitando o abrigo imediato, num local condizente com a importância do acervo. Se preciso for, precisamos criar um coletivo e ir um a um, nesses doadores que estão recebendo de volta seus acervos, num ato de conscientização de que tudo estará melhor guardado em instalações museológicas. Pois, que então façamos isso. O final de semana dos ligados à questão deve ser movido por isso. Já do ocorrido no Nuphis, prefiro ver primeiro tudo resolvido, depois vamos esclarecer tudinho.
O FIM DO NUPHIS E A TRANSFERÊNCIA DOS ACERVOS - ATITUDE E AÇÃO
MATÉRIA 1: "História de mudança - Núcleo de documentação da USC inicia transferência para prédio menor e devolve parte do acervo", texto de João Pedro Feza, publicado no JC edição de ontem, 28.03:
"Iniciada em 1983, a história do Nuphis está com capítulos em aberto. E com certa dose de suspense: afinal, o Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica “Gabriel Ruiz Pelegrina” vai fechar? A resposta da USC (Universidade do Sagrado Coração), guardiã do acervo, é... “Não, não vai. O núcleo mantém o mesmo nome, inclusive. O que ocorre é um processo de mudança de um galpão maior, em área externa, à frente da universidade, para prédio menor que fica dentro da USC, mais seguro e arejado”, justifica o coordenador geral de extensão, Luiz Antonio Fernandes Fonseca. E a devolução de parte do acervo aos donos originais: é verdade? Sim. “De fato, estamos chamando algumas pessoas e instituições para acertar essa situação”. A mudança para antiga ala interna que abrigava a Edusc já começou nesta semana. É tida como inevitável porque a USC precisa de espaço para novos e complexos laboratórios de cursos. E o prédio do Nuphis, por ser térreo e espaçoso, cai como uma luva para isso.
Separam, embalam... - “Precisa ficar claro que ninguém vai colocar nada na calçada”, ressalta Luiz Fonseca. Mas que o Nuphis não será mais o mesmo, é fato. Além de ir para prédio menor, vai priorizar manutenção de acervo que conta a história dos 49 anos da USC, desde os tempos de Fafil (Faculdade de Filosofia). E qual a situação de momento? “O Nuphis tem três funcionários. Separam material, embalam... A mudança, em sua primeira fase, deve estar concluída até a primeira quinzena de abril.” - O que permanece, o que sai: Fotos, troféus, mapas, medalhas, livros, discos e documentos antigos sem qualquer relação com a trajetória da USC na comunidade deverão sair. Cartas de época, estantes e equipamentos obtidos ao longo dos anos, inclusive com apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), continuam a serviço do Nuphis, segundo Luiz Fonseca. (JPF)
Câmara: ‘Vai ficar tudo encaixotado’ - O presidente da Câmara, Roberval Sakai, disse ontem que o acervo da Câmara que está no Nuphis voltará, sim, para o Legislativo. Mas, por enquanto, vai ficar tudo encaixotado. “Teremos uma sala para isso, conforme decidiu a mesa diretora. Só que ainda estamos comprando alguns arquivos, no processo de cotação de preços, para acomodar o material”. (JPF)
Associação mantém crítica à alteração - O presidente da Associação dos Amigos dos Museus de Bauru (AAMB), Henrique Perazzi de Aquino, alertava em carta ao JC, publicada em 17 de março, sobre “preocupações e apreensões” sobre as mudanças no Nuphis. “O mais importante agora é que a Prefeitura consiga acondicionar o material em local condizente à importância que tem”, disse ontem. Para ele, o fato de a municipalidade reassumir parte do material deve facilitar futuras cobranças de preservação, o que é dificultado no caso de uma entidade privada, como a USC, de acordo com Aquino. Conforme o JC já divulgou, cerca de 70% do material do Nuphis deverá voltar para municipalidade. Prefeitura: ‘Equipes fazem transferência’ - Segundo o secretário municipal de Cultura, Elson Reis, parte do acervo alocado no Jardim Brasil, onde fica a USC, vai começar a ser transferido até o final desta semana. São: cadastro imobiliário da prefeitura, objetos relativos à ferrovia, fotos, discos (LPs), etc. “As equipes da USC e da Secretaria da Cultura, envolvendo o Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural, estarão envolvidas. Vai haver conferência do material em sua saída e sua chegada”, informou o secretário. O acervo histórico será dividido entre os museus de Bauru, entre eles o Museu Histórico Municipal, o Museu Ferroviário e o Museu de Imagem e Som (MIS) – que ainda será construído ".
MATÉRIA 2: “Farmácia de Cabrália Paulista também deve deixar o Nuphis” – matéria do JC, caderno Cultura, edição de hoje, 29.03
"Um aparato completo de uma antiga farmácia, com mobiliário clássico de época, também integra acervo do Nuphis (Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica “Gabriel Ruiz Pelegrina”) da USC (Universidade do Sagrado Coração). E, assim como o acervo da Prefeitura e Câmara de Bauru, deve deixar a instituição. A diferença é que a farmácia foi doada por uma família de Cabrália Paulista, cujo contato já foi feito para que aceite a devolução. As devoluções, conforme o JC noticiou ontem, geram polêmica. Para preocupação da Associação dos Amigos dos Museus de Bauru, o Nuphis vai deixar o atual prédio, em frente à universidade, e passar para ala menor, dentro da universidade. A medida ocorre porque a USC precisa de mais espaço para seus novos laboratórios. Resultado: não cabe tudo na nova ala e parte do acervo volta, portanto, aos donos originais. “O problema é que vai ficar uma parte do acervo para um lado, outra parte para outro, e nunca mais teremos essa unificação física”, diz o presidente da associação, Henrique Perazzi de Aquino.
Volumes menores - O coordenador geral de extensão da USC, Luiz Antonio Fernandes Fonseca, garante que não se trata do fim do Nuphis, apenas uma adequação necessária. O processo de mudança já começou com pequenos volumes transferidos para prédio menor, no Jardim Brasil. Prefeitura e Câmara também se preparam para receber de volta documentos e objetos que, a partir de 1983, começaram a compor a parte “municipal” do Nuphis. A Polícia Militar também deverá ser chamada para tratar de recuperação de acervo de seu interesse.
MINHA OBSERVAÇÃO FINAL: Continuo tendo a certeza do irracionalismo na devolução do acervo para seus doadores, mais de dez anos após a doação. Sensatez, praticidade e agilidade, tudo junto, é disso que precisamos. A Prefeitura, por intermédio de Rodrigo Agostinho, Elson Reis, Neli Viotto, Orlando Alves e outros precisa ser rápida, audaciosa e impetuosa. Tem que arrebatar tudo para o acervo público e enfrentar todos os dragões com todas as armas disponíveis. Todos os interessados nessa questão precisam estar unidos e lutar pela unificação de todo esse acervo num mesmo lugar. Não existe outra solução e qualquer outra, além de paliativa é desastrosa. Urgentíssimo é a reunião com todos os atuais ocupantes das instalações anexas ao Museu Ferroviário (SESEF, Inventariança Rede e Clube Engenheiros Aposentados) e cada um ceder uma parte da área que ocupam, possibilitando o abrigo imediato, num local condizente com a importância do acervo. Se preciso for, precisamos criar um coletivo e ir um a um, nesses doadores que estão recebendo de volta seus acervos, num ato de conscientização de que tudo estará melhor guardado em instalações museológicas. Pois, que então façamos isso. O final de semana dos ligados à questão deve ser movido por isso. Já do ocorrido no Nuphis, prefiro ver primeiro tudo resolvido, depois vamos esclarecer tudinho.
quarta-feira, 28 de março de 2012
PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (46)
ARGENTINA MOBILIZADA EM REPÚDIO AO GOLPE, NO BRASIL QUASE NADA E AINDA DISTORCEMOS FATOS HISTÓRICOS
Leio no Jornal da Cidade (http://www.jcnet.com.br/), numa coluna sobre o time bauruense de basquete, o Itabom, que participou de um torneio em Buenos Aires no último final de semana, algo povo nas ruas. O JC enviou um correspondente acompanhando o time, Neto Del Royo (que não conheço) e este além dos relatos dos jogos, repassa algo interessante sobre outro tema:
“As ruas da região central de Buenos Aires estiveram mais coloridas, movimentadas e barulhentas do que o de costume. Milhares de pessoas foram às ruas em marcha pelo Golpe Militar que ocorreu 36 anos atrás. Foram sete anos de regime ditador. Vários grupos se dividiram nas principais ruas da cidade e se reuniram no Obelisco para marcha até a praça mais famosa da Argentina, a “Plaza de Mayo”. “É uma ação com duas finalidades: para que não se esqueça e para que nunca se repita”, explicou Jorge Augusto, dono de uma banca de revistas em uma das esquinas próximas à praça, na Avenida Cevallo. Já o jornalista Fabian Binaghi, que possui um site dedicado ao basquete argentino (http://www.webasquetball.co/) e acompanha os jogos do Interligas, reflete sobre o tema e diz ser contra o movimento. “Existem duas verdades. O que acontece é que muita gente não quer escutar a verdade. Temos que escutar não apenas com o ouvido da esquerda, mas com o da direita também. E por isso que temos dois ouvidos e a mente entre eles. Para ouvir os dois lados e pensar antes de tudo”, comenta, se referindo a iniciativa do movimento esquerdista em organizar a passeata. Questionado sobre qual seria então a outra verdade, o jornalista argentino – que se diz fã do Brasil e do “Timón”, o Corinthians – explica de um jeito fácil para o brasileiro compreender: “Qual é a verdade? Pense como o Brasil. Sofreram com governo ditador de Castello Branco. E agora se dizem um país democrático com José Sarney. No jogo de ontem, antes do início da segunda partida, entre Itabom e Obras, foi respeitado um minuto de silêncio “em memória a todos que lutaram por nossa liberdade”, nas palavras do serviço de som. Diferente do que muitas vezes acontece, o minuto foi realmente respeitado” (publicado na Coluna Diário de Bordo, do Royo, domingo, 24.03).
E agora minhas considerações em duas etapas. Na primeira a constatação do quanto o argentino repudia verdadeiramente tudo o que aconteceu por lá (na verdade, em vários países latinos). Ele se manifesta muito mais que o brasileiro, pois vai para a rua e bate suas latas maravilhosamente. Nós, nada fazemos e nem capacidade de organização temos mais. Bato palmas efusivas para eles e os admiro cada vez mais. Participo ativamente da luta deles pela reconquista das ilhas Malvinas (veja minha camiseta numa foto tirada em Curitiba pelo amigo Kizahy Baracat Neto, em sua casa, 26.03). O brasileiro, infelizmente, não luta pela garantia de conquistas recebidas, quanto mais lutará por algo tão distante, como a devolução pela Inglaterra das ilhas (cinco prêmios Nobel da Paz manifestaram-se ontem favoráveis pela devolução à Argentina). Isso uma coisa, que Royo constatou. Estragou um pouco a descoberta, ao dar voz a um dissidente, o tal do cara do site sobre basquete, que renega seu passado e, talvez, por possuir benesses pessoais, joga contra as conquistas populares e mostra-se saudoso dos atos dos golpistas. A voz do povo nas ruas é muito mais forte do que a de uma minoria. Para o Royo e para quem deseja conhecer um pouco da Argentina de fato e de direito, diria que deveriam ler cada vez menos algo como o “Clarin” e cada vez mais algo como o “Pagina 12” (http://www.pagina12.com.ar/).
Escrevo tudo isso porque estamos com mais um aniversário do Golpe Militar de 64 batendo à nossa porta. Alguns dizem que a data é em 31 de março, mas prefiro o dia seguinte, 01 de abril, o Dia da mentira, pois foi de fato o que ocorreu, uma grande mentira. Os efeitos nefastos do golpe ainda pairam sobre o país e deveríamos bater latas todo ano nas ruas em forma de repúdio, luto eterno, pelo papel execrável dos militares, que fizeram o serviço sujo a mando da elite brasileira, cruel e insana. Os mesmos que hoje instigam os velhinhos de uma agremiação militar na reserva, o Clube Militar a pregarem bobagens e tentarem enviar recados mal educados à presidenta Dilma. Deveriam entender o país com outros olhos e assumirem seus erros do passado. Uma nova leva de militares pensa assim, renegando o passado, mas alguns saudosistas insistem em reafirmar o erro como acerto. Uma pena, pois poderiam superar isso tudo e caminharmos todos juntos, sempre para frente.
Encontro na internet somente uma única manifestação de repúdio ao Golpe e aos golpistas, comprovando o quanto somos desmobilizados em relação aos irmãos argentinos. É o “Ato Contra a Comemoração do Golpe de 64”, convocado pelo cineasta Silvio Tendler (http://www.caliban.com.br/ - foto abaixo), dia 29/03/2012, quinta-feira, 14:00h, em frente ao Clube Militar (local de reunião dos generais de pijama), na Cinelândia, Av. Rio Branco, 251 (Esquina Rua Sta. Luzia), centro, cidade do Rio de Janeiro. A fala de Tendler, lúcida e marcante pode ser vista no http://www.youtube.com/watch?v=1_Io8tz9WLM
Por outro lado, as “vivandeiras de plantão” continuam difundindo inverdades históricas, de forma descarada e uma delas foi detectada pelo professor universitário Antonio Francisco Magnoni, da UNESP Bauru, que as envia aos amigos com um aviso: “É impressionante que mais de 20 anos depois da redemocratização do País, ainda sobrevivam tantas viúvas da ditadura militar, que ainda persistam tantos conspiradores de porões!!! Tão com saudade dos milicos???? Então vão dormir de coturno, ô bando de vivandeiras de quartel!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”. Para tomar conhecimento da bestialidade leiam primeiro o que estão a difundir e depois cliquem a seguir e assistam (se estomago tiverem): “Meus caros e caras, estou enviando este documento histórico do youtube para que vocês conheçam a verdade verdadeira (desculpem o pleonasmo, necessário) sobre a revolução de 64. Essa juventude de hoje e todos aqueles que não tiveram oportunidade de viver e sentir o período da revolução, precisam saber em mãos de quem hoje nos encontramos: guerrilheiros treinados por comunistas, simples assim. Apesar de um pouco longo (14 minutos), vale a pena ver o documentário e repassá-lo a todos os que ainda se preocupam com o futuro do nosso país, nas mãos de quem o está corroendo escancaradamente, deliciando-se com as benesses do ganho fácil e da acumulação leviana e ilícita de fortunas às custas do trabalho da sociedade. BRASIL, GUERRILHA E TERROR - A Verdade Escondida: http://www.youtube.com/watch?v=-ow8bwE3fhw “.
Nas questões de mobilização deixo um questionamento: Estamos ou não, anos luz atrás do que o argentino produz... Uma constatação: Perdemos a capacidade de mobilização e mais, a de manifestação. Pior ainda: Nem todos entendem o mal causado pela ação dos golpistas. Mistura-se ainda alhos com bugalhos.
ARGENTINA MOBILIZADA EM REPÚDIO AO GOLPE, NO BRASIL QUASE NADA E AINDA DISTORCEMOS FATOS HISTÓRICOS
Leio no Jornal da Cidade (http://www.jcnet.com.br/), numa coluna sobre o time bauruense de basquete, o Itabom, que participou de um torneio em Buenos Aires no último final de semana, algo povo nas ruas. O JC enviou um correspondente acompanhando o time, Neto Del Royo (que não conheço) e este além dos relatos dos jogos, repassa algo interessante sobre outro tema:
“As ruas da região central de Buenos Aires estiveram mais coloridas, movimentadas e barulhentas do que o de costume. Milhares de pessoas foram às ruas em marcha pelo Golpe Militar que ocorreu 36 anos atrás. Foram sete anos de regime ditador. Vários grupos se dividiram nas principais ruas da cidade e se reuniram no Obelisco para marcha até a praça mais famosa da Argentina, a “Plaza de Mayo”. “É uma ação com duas finalidades: para que não se esqueça e para que nunca se repita”, explicou Jorge Augusto, dono de uma banca de revistas em uma das esquinas próximas à praça, na Avenida Cevallo. Já o jornalista Fabian Binaghi, que possui um site dedicado ao basquete argentino (http://www.webasquetball.co/) e acompanha os jogos do Interligas, reflete sobre o tema e diz ser contra o movimento. “Existem duas verdades. O que acontece é que muita gente não quer escutar a verdade. Temos que escutar não apenas com o ouvido da esquerda, mas com o da direita também. E por isso que temos dois ouvidos e a mente entre eles. Para ouvir os dois lados e pensar antes de tudo”, comenta, se referindo a iniciativa do movimento esquerdista em organizar a passeata. Questionado sobre qual seria então a outra verdade, o jornalista argentino – que se diz fã do Brasil e do “Timón”, o Corinthians – explica de um jeito fácil para o brasileiro compreender: “Qual é a verdade? Pense como o Brasil. Sofreram com governo ditador de Castello Branco. E agora se dizem um país democrático com José Sarney. No jogo de ontem, antes do início da segunda partida, entre Itabom e Obras, foi respeitado um minuto de silêncio “em memória a todos que lutaram por nossa liberdade”, nas palavras do serviço de som. Diferente do que muitas vezes acontece, o minuto foi realmente respeitado” (publicado na Coluna Diário de Bordo, do Royo, domingo, 24.03).
E agora minhas considerações em duas etapas. Na primeira a constatação do quanto o argentino repudia verdadeiramente tudo o que aconteceu por lá (na verdade, em vários países latinos). Ele se manifesta muito mais que o brasileiro, pois vai para a rua e bate suas latas maravilhosamente. Nós, nada fazemos e nem capacidade de organização temos mais. Bato palmas efusivas para eles e os admiro cada vez mais. Participo ativamente da luta deles pela reconquista das ilhas Malvinas (veja minha camiseta numa foto tirada em Curitiba pelo amigo Kizahy Baracat Neto, em sua casa, 26.03). O brasileiro, infelizmente, não luta pela garantia de conquistas recebidas, quanto mais lutará por algo tão distante, como a devolução pela Inglaterra das ilhas (cinco prêmios Nobel da Paz manifestaram-se ontem favoráveis pela devolução à Argentina). Isso uma coisa, que Royo constatou. Estragou um pouco a descoberta, ao dar voz a um dissidente, o tal do cara do site sobre basquete, que renega seu passado e, talvez, por possuir benesses pessoais, joga contra as conquistas populares e mostra-se saudoso dos atos dos golpistas. A voz do povo nas ruas é muito mais forte do que a de uma minoria. Para o Royo e para quem deseja conhecer um pouco da Argentina de fato e de direito, diria que deveriam ler cada vez menos algo como o “Clarin” e cada vez mais algo como o “Pagina 12” (http://www.pagina12.com.ar/).
Escrevo tudo isso porque estamos com mais um aniversário do Golpe Militar de 64 batendo à nossa porta. Alguns dizem que a data é em 31 de março, mas prefiro o dia seguinte, 01 de abril, o Dia da mentira, pois foi de fato o que ocorreu, uma grande mentira. Os efeitos nefastos do golpe ainda pairam sobre o país e deveríamos bater latas todo ano nas ruas em forma de repúdio, luto eterno, pelo papel execrável dos militares, que fizeram o serviço sujo a mando da elite brasileira, cruel e insana. Os mesmos que hoje instigam os velhinhos de uma agremiação militar na reserva, o Clube Militar a pregarem bobagens e tentarem enviar recados mal educados à presidenta Dilma. Deveriam entender o país com outros olhos e assumirem seus erros do passado. Uma nova leva de militares pensa assim, renegando o passado, mas alguns saudosistas insistem em reafirmar o erro como acerto. Uma pena, pois poderiam superar isso tudo e caminharmos todos juntos, sempre para frente.
Encontro na internet somente uma única manifestação de repúdio ao Golpe e aos golpistas, comprovando o quanto somos desmobilizados em relação aos irmãos argentinos. É o “Ato Contra a Comemoração do Golpe de 64”, convocado pelo cineasta Silvio Tendler (http://www.caliban.com.br/ - foto abaixo), dia 29/03/2012, quinta-feira, 14:00h, em frente ao Clube Militar (local de reunião dos generais de pijama), na Cinelândia, Av. Rio Branco, 251 (Esquina Rua Sta. Luzia), centro, cidade do Rio de Janeiro. A fala de Tendler, lúcida e marcante pode ser vista no http://www.youtube.com/watch?v=1_Io8tz9WLM
Por outro lado, as “vivandeiras de plantão” continuam difundindo inverdades históricas, de forma descarada e uma delas foi detectada pelo professor universitário Antonio Francisco Magnoni, da UNESP Bauru, que as envia aos amigos com um aviso: “É impressionante que mais de 20 anos depois da redemocratização do País, ainda sobrevivam tantas viúvas da ditadura militar, que ainda persistam tantos conspiradores de porões!!! Tão com saudade dos milicos???? Então vão dormir de coturno, ô bando de vivandeiras de quartel!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”. Para tomar conhecimento da bestialidade leiam primeiro o que estão a difundir e depois cliquem a seguir e assistam (se estomago tiverem): “Meus caros e caras, estou enviando este documento histórico do youtube para que vocês conheçam a verdade verdadeira (desculpem o pleonasmo, necessário) sobre a revolução de 64. Essa juventude de hoje e todos aqueles que não tiveram oportunidade de viver e sentir o período da revolução, precisam saber em mãos de quem hoje nos encontramos: guerrilheiros treinados por comunistas, simples assim. Apesar de um pouco longo (14 minutos), vale a pena ver o documentário e repassá-lo a todos os que ainda se preocupam com o futuro do nosso país, nas mãos de quem o está corroendo escancaradamente, deliciando-se com as benesses do ganho fácil e da acumulação leviana e ilícita de fortunas às custas do trabalho da sociedade. BRASIL, GUERRILHA E TERROR - A Verdade Escondida: http://www.youtube.com/watch?v=-ow8bwE3fhw “.
Nas questões de mobilização deixo um questionamento: Estamos ou não, anos luz atrás do que o argentino produz... Uma constatação: Perdemos a capacidade de mobilização e mais, a de manifestação. Pior ainda: Nem todos entendem o mal causado pela ação dos golpistas. Mistura-se ainda alhos com bugalhos.
terça-feira, 27 de março de 2012
RETRATOS DE BAURU (120)
GEORGE VIDAL, UM MAESTRO ALÉM FRONTEIRAS
Bauru está muito bem servido de bons músicos e dentre eles todos, alguns acabam tendo um destaque decibéis acima do padrão da normalidade. George Vidal um desses, pois vivencia a excelência musical durante as 24h do dia. Vive para, com e da música, algo raro hoje em dia. Além do privilégio, Bauru precisa se conscientizar de estar diante de um músico na acepção da palavra. Versátil e eclético, desses que sabem tudo e mais um pouco de música, ciente dos seus limites e até por causa disso não abrindo mão da trilha escolhida no seu caminhar. Nunca o verão ouvindo ou participando de algo onde o gosto seja duvidoso. Esse é George, mestre na escola de música, que toca (não consigo escrever Administra) junto com a esposa, Célia Vidal, a Clave de Sol, um reduto do bom gosto encravado dentro dos limites de Bauru, mas extrapolando seu raio de ação mundo afora. Sua fama ultrapassa fronteiras, sendo ele o maestro do Conjunto Nacional, a banda do Veríssimo, Chico e Paulo Caruso, nas incursões país afora. Sua família é toda musical, tendo o irmão, Secretário do Meio Ambiente de Piracicaba um cantante de mão cheia e a mana, já famosa pelo afinado timbre de voz, Voluzi Vidal (nas fotos com ele e comigo), uma dádiva a enfeitiçar ouvidos aguçados por onde passe. Até Célia, a esposa canta e encanta (em breve apresentação dela só com clássicos de Noel Rosa, lá na Clave). Imaginem a junção disso tudo, mas com os pés mais do que no chão, esse é o George, jóia rara no quesito musical e produto de exportação dessa cidade, desses que a gente empresta para tocar nos mais distantes rincões, mas exige a devolução, pois não conseguimos mais viver sem ouví-lo de vez em sempre.
GEORGE VIDAL, UM MAESTRO ALÉM FRONTEIRAS
Bauru está muito bem servido de bons músicos e dentre eles todos, alguns acabam tendo um destaque decibéis acima do padrão da normalidade. George Vidal um desses, pois vivencia a excelência musical durante as 24h do dia. Vive para, com e da música, algo raro hoje em dia. Além do privilégio, Bauru precisa se conscientizar de estar diante de um músico na acepção da palavra. Versátil e eclético, desses que sabem tudo e mais um pouco de música, ciente dos seus limites e até por causa disso não abrindo mão da trilha escolhida no seu caminhar. Nunca o verão ouvindo ou participando de algo onde o gosto seja duvidoso. Esse é George, mestre na escola de música, que toca (não consigo escrever Administra) junto com a esposa, Célia Vidal, a Clave de Sol, um reduto do bom gosto encravado dentro dos limites de Bauru, mas extrapolando seu raio de ação mundo afora. Sua fama ultrapassa fronteiras, sendo ele o maestro do Conjunto Nacional, a banda do Veríssimo, Chico e Paulo Caruso, nas incursões país afora. Sua família é toda musical, tendo o irmão, Secretário do Meio Ambiente de Piracicaba um cantante de mão cheia e a mana, já famosa pelo afinado timbre de voz, Voluzi Vidal (nas fotos com ele e comigo), uma dádiva a enfeitiçar ouvidos aguçados por onde passe. Até Célia, a esposa canta e encanta (em breve apresentação dela só com clássicos de Noel Rosa, lá na Clave). Imaginem a junção disso tudo, mas com os pés mais do que no chão, esse é o George, jóia rara no quesito musical e produto de exportação dessa cidade, desses que a gente empresta para tocar nos mais distantes rincões, mas exige a devolução, pois não conseguimos mais viver sem ouví-lo de vez em sempre.
segunda-feira, 26 de março de 2012
INTERVENÇÃO SUPER-HERÓI BAURUENSE (33)
GUARDIÃO INFORMA: DEVERIA SAIR “GEISEL” E ENTRAR EM SEU LUGAR “ARCÔNCIO” * Ao estilo das substituições nos campos esportivos, anunciadas pelo microfone dos estádios.
Guardião, o super-herói bauruense é mordaz no que faz. Além do cutucão preciso, quase cirúrgico, vai na veia (não na véia, viu!). Antenado com manifestações variadas e múltiplas pipocando por várias cidades brasileiras, clamando pela retirada de homenagens feitas a algozes do povo com esses nomes em logradouros públicos, está a propor algo semelhante aqui em Bauru. Anos atrás a cidade de São Carlos, por iniciativa corajosa de um vereador cancelou a homenagem de rua da cidade com o nome de Sérgio Paranhos Fleury, um reconhecido torturador. Outros vieram a seguir. Em Bauru, uma ou outra voz contrária ao nome dado ao Núcleo Residencial Geisel, homenagem ao penúltimo ditador do período generalesco, de tão nefasta memória.
“Por enquanto nenhum vereador levantou a bandeira de concretizar nenhuma mudança em Bauru. Tenho lido sobre a reprodução de textos de ocorrências em outros lugare, intervenções facebookianas e só. Mas nada na propositura de uma concreta mudança?”, pergunta Guardião, já com uma placa na mão, pronta para efetivar uma primeira sugestão de mudança. Alguns nomes estão sendo observados com mais atenção na cidade e muitos deles não estão só em placas de ruas, mas em praças, denominações de edificações, etc. Semana passada um servidor do Instituto Lauro de Souza Lima afirmou aqui nesse blog, que o médico Salles Gomes, que no passado já deu nome para hospital no Bela Vista, clinicava de arma em punho e tratava mal o paciente de hanseníase. Está a merecer um estudo, casos como o de Machado de Mello, famoso pela sua truculência e mal tratos com trabalhadores quando da implantação da ferrovia e seu nome acabou na praça junto à Estação da NOB. Quem seria de fato esse senhor? O que fez para merecer tamanha honraria? “Vasculhar a história da cidade, sem revanchismo, mas com o intuito de restabelecer a verdade na história da cidade, pois muita coisa continua muito mal contada”, essa a proposta de Guardião (criação do desenhista Gonçalez – http://www.desenhogoncalez.blogspot.com/ e com pitacos desse mafuento escrevinhador).
“Em Bauru uma justa homenagem a Gasparini, uma pessoa que esteve sempre ao lado do povo trabalhador da cidade e lá no bairro que leva seu nome, todas as ruas são de profissões populares. A minha proposta, que peço tenha uma atenção especial de algum vereador da cidade é para que retiremos a homenagem ao GEISEL e no lugar, uma homenagem ao mais velho comunista de Bauru, falecido semana passada, Arcôncio Pereira da Silva. Seria uma justa troca e popularmente, o bairro eminentemente popular, periférico e reduto de trabalhadores passaria a receber a denominação de ARCÔNCIO. Eu já tenho a placa pronta, falta só encamparem a ideia e colocaremos o bloco na rua. Depois, com certeza, outras mudanças serão propostas”, eis a sugestiva proposta de nosso super-herói.
OBS FINAL: Essa foto a finalizar o texto é minha, do HPA, ano de 2008, quando Lygia Minhoto Cintra, então estudante de jornalismo da UNESP Bauru o entrevistava nas dependências da estação da Cia Paulista, para seu trabalho de TCC. Essa acreana hoje é ombusdmam da revista Super Interessante e também comunga da idéia de que Arcôncio é merecedor de ter seu nome eternizado em algo mais a dignificar o trabalhador bauruense.
GUARDIÃO INFORMA: DEVERIA SAIR “GEISEL” E ENTRAR EM SEU LUGAR “ARCÔNCIO” * Ao estilo das substituições nos campos esportivos, anunciadas pelo microfone dos estádios.
Guardião, o super-herói bauruense é mordaz no que faz. Além do cutucão preciso, quase cirúrgico, vai na veia (não na véia, viu!). Antenado com manifestações variadas e múltiplas pipocando por várias cidades brasileiras, clamando pela retirada de homenagens feitas a algozes do povo com esses nomes em logradouros públicos, está a propor algo semelhante aqui em Bauru. Anos atrás a cidade de São Carlos, por iniciativa corajosa de um vereador cancelou a homenagem de rua da cidade com o nome de Sérgio Paranhos Fleury, um reconhecido torturador. Outros vieram a seguir. Em Bauru, uma ou outra voz contrária ao nome dado ao Núcleo Residencial Geisel, homenagem ao penúltimo ditador do período generalesco, de tão nefasta memória.
“Por enquanto nenhum vereador levantou a bandeira de concretizar nenhuma mudança em Bauru. Tenho lido sobre a reprodução de textos de ocorrências em outros lugare, intervenções facebookianas e só. Mas nada na propositura de uma concreta mudança?”, pergunta Guardião, já com uma placa na mão, pronta para efetivar uma primeira sugestão de mudança. Alguns nomes estão sendo observados com mais atenção na cidade e muitos deles não estão só em placas de ruas, mas em praças, denominações de edificações, etc. Semana passada um servidor do Instituto Lauro de Souza Lima afirmou aqui nesse blog, que o médico Salles Gomes, que no passado já deu nome para hospital no Bela Vista, clinicava de arma em punho e tratava mal o paciente de hanseníase. Está a merecer um estudo, casos como o de Machado de Mello, famoso pela sua truculência e mal tratos com trabalhadores quando da implantação da ferrovia e seu nome acabou na praça junto à Estação da NOB. Quem seria de fato esse senhor? O que fez para merecer tamanha honraria? “Vasculhar a história da cidade, sem revanchismo, mas com o intuito de restabelecer a verdade na história da cidade, pois muita coisa continua muito mal contada”, essa a proposta de Guardião (criação do desenhista Gonçalez – http://www.desenhogoncalez.blogspot.com/ e com pitacos desse mafuento escrevinhador).
“Em Bauru uma justa homenagem a Gasparini, uma pessoa que esteve sempre ao lado do povo trabalhador da cidade e lá no bairro que leva seu nome, todas as ruas são de profissões populares. A minha proposta, que peço tenha uma atenção especial de algum vereador da cidade é para que retiremos a homenagem ao GEISEL e no lugar, uma homenagem ao mais velho comunista de Bauru, falecido semana passada, Arcôncio Pereira da Silva. Seria uma justa troca e popularmente, o bairro eminentemente popular, periférico e reduto de trabalhadores passaria a receber a denominação de ARCÔNCIO. Eu já tenho a placa pronta, falta só encamparem a ideia e colocaremos o bloco na rua. Depois, com certeza, outras mudanças serão propostas”, eis a sugestiva proposta de nosso super-herói.
OBS FINAL: Essa foto a finalizar o texto é minha, do HPA, ano de 2008, quando Lygia Minhoto Cintra, então estudante de jornalismo da UNESP Bauru o entrevistava nas dependências da estação da Cia Paulista, para seu trabalho de TCC. Essa acreana hoje é ombusdmam da revista Super Interessante e também comunga da idéia de que Arcôncio é merecedor de ter seu nome eternizado em algo mais a dignificar o trabalhador bauruense.
domingo, 25 de março de 2012
MEMÓRIA ORAL (118)*
* Esse texto sai publicado na edição 690, 28/03/2012, da revista semanal CARTA CAPITAL, seção “Brasiliana”, nas bancas nessa semana. Por falta de espaço alguns trechos originais foram suprimidos e constam dessa publicação, com destaque em vermelho.
O ÚLTIMO COMUNISTA DE BAURU – No enterro de Arcôncio Silva uma breve trégua entre as correntes de esquerda.
Morrer faz parte da vida, ainda mais quando se tem no costado 96 anos. “Uma eternidade, mas a gente queria que isso pudesse se prolongar por mais um tempinho”, resume Zuleide Júlia de Souza da Silva, esposa do militante comunista Arcôncio Pereira da Silva, falecido em Bauru, interior paulista, na terça-feira 20, após padecer entre idas e vindas hospitalares, reflexo dessa feita de um implacável AVC.
Comunistas morrem todos os dias (embora não restem muitos por aí), de resto como qualquer ser humano. Mas surpreendeu o desfile de declarados esquerdistas diante do esquife. Vieram de todos os lados e eram de todos os matizes e cores, dos mais alvos, alguns desbotados, pouquíssimos em plena atividade e, pasmem, nenhum outro puro-sangue a igualar-se ao falecido. Arcôncio Silva conseguiu juntar diante de si o inimaginável em uma reunião de fundo partidário nos dias atuais. Sua vida foi toda assim. Impoluto cidadão, o nome de maior longevidade e resistência de uma ideologia dispersa, com fidelidade partidária mais do que claudicante.
“Igual a ele mais ninguém. E agora?”, era a mais comum das perguntas durante o velório. Na primeira página dos jornais locais expostos sob as cadeiras um momento raro: sua foto em ambos acompanhada de legendas elogiosas. Sinais evidentes do fim de mais um ciclo. “Restam quantos comunistas de verdade na cidade e região (poderia acrescentar no mundo)?”, perguntava Nilson Costa, dirigente sindical cassado em 64, jornalista e ex-prefeito da cidade, tentando quantificar o inquantificável.
Esse a unir tão disformes esquerdistas nasceu em Viçosa, no agreste de Alagoas e chegou ao Sul Maravilha, como tantos outros, em busca de um sonho. Vida acidentada, cresceu politicamente à base das bordoadas, resultado das escolhas na vida, a principal delas: permanecer ao lado dos menos favorecidos. Quando decidiu aderir ao comunismo, a coisa ficou pior e a dureza foi amplificada em incalculáveis decibéis, pois o lado doloroso sempre acabou sobrando para os dessa ideologia. Na greve da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, em 1949, foi demitido pela primeira vez. Ficou preso por semanas, acusado de agitação e conscientizar seus pares. Em uma das passagens pela cadeia, o militante viu uma senhora da sociedade passar poucas horas no xilindró, mesmo tendo sido acusada de assassinato. Ele, ao contrário, permanecia nas grades por simplesmente organizar os trabalhadores e sem chance de poder discutir o assunto com delegados de plantão. Essa a sina de sua vida.
Cassado após do Golpe de 64, quando atuava na Companhia Sorocabana, penou para colocar comida na mesa da família. Fez bicos variados até virar um famoso jornaleiro em Bauru. Resistiu bravamente, motivo do reconhecimento geral. Com o fim da ditadura e a anistia, recuperou o velho emprego (o salário perdido) na ferrovia. “A primeira coisa que fez foi juntar um dinheirinho e rever os parentes no sertão. Beirando os noventa anos e tantas décadas depois da partida, parecia uma criança no reencontro com os que restaram dos seus”, relembra a mulher.
A firmeza de princípios fez dele uma unanimidade. “Recebi ligação de desafeto declarado me avisando de sua morte. Fiquei sem voz, mas entendi tudo. Arcôncio foi maior que todos nós, talvez até juntos”, diz o blogueiro Luis Freitas. “Não se segurava quando via alguma irregularidade. Foi assim a vida inteira. Quantos não foram repreendidos por causa de vacilos e pisadas na bola. Quando isso acontecia, ninguém nem piava. Engoliam em seco”, relembra a merendeira aposentada e comunista em posição de descanso, Elisa Carulo Santos, a observar como alguns declarados desafetos cumprimentavam-se de forma acanhada no velório.
Uma imagem de Nossa Senhora Aparecida decorava a parte frontal do caixão. Os presentes buscavam uma bandeira do partido para cobri-la. “Eu tenho uma, mas está tão desgastada... Será que pegará bem?”, disse a ex-vereadora e dirigente do PC do B local Majô Jandreice. “Essa é a melhor, surrada e usada, como a dos batalhadores. Uma nova destoaria de sua trajetória”, emendou o professor aposentado Isaías Daibem.
No momento do fechamento do caixão não houve jeito: após exaltados pronunciamentos de louvor ao morto, uma pregação e oração. A filha e uma sobrinha do falecido comunista são pastoras evangélicas. Professores, operários, profissionais liberais, políticos, engravatados, botinas sujas, gente suada e outras sem cheiro nenhum, todas num fervente e constante burburinho se espremiam no recinto. Vozes a lembrar com saudade de um alguém diferenciado da babilônia ali instalada. Poucos ao lado do corpo e lotação esgotada nas rodas do lado de fora. “Mas o assunto era um só, ele”, ressaltou Majô.
Nadir Ferreira Valente, perito-criminal aposentado, veio de Jaú, distante 60 quilômetros, só para rever o quase irmão: “Eu vinha de lá até aqui para jogar tranca com ele. Muita gente gostava dele, mas poucos o procuravam de fato. Ouvi tudo o que podia ter contado a alguém em vida. Ele queimou a vela até o pavio, até a última gota de cera”. A destoar, o desabafo da filha mais velha e compreensível na ação de devotados militantes: “Se foi sempre ótimo para com os amigos, em casa deixava a desejar. Teve sempre pouco tempo para ficar com a família”. Ninguém é perfeito, muito menos Arcôncio.
Alguns eternos companheiros tentaram resumir a importância do velho comunista. “Somos orgulhosamente herdeiros dele e uma responsabilidade muito grande para continuar sua luta. O militante não morre”, disse Daibem, procurando buscar um entendimento esvaindo-se como areia ao vento. O professor universitário Clodoaldo Meneghello Cardoso, promotor da II Jornada de Direitos Humanos de Bauru a realizar-se em abril, repetia para quem lhe cruzasse a frente, tentou conclamar a união: “Queria muito que o evento pudesse ser um momento de convivência da esquerda”. Cardoso não conseguiu. Para a maioria dos presentes, até possível, mas na saída, Arcôncio já enterrado, a ligeira trégua acabou. Na saída, um exaltado dirige-se a uma roda e desfere o claro prenúncio do que voltaria a ser o relacionamento entre alguns dos presentes: “Apesar das aves de mau agouro presentes, verdadeiras cassandras do negativismo, sobrevivemos”. Cada um foi para seu lado. E Arcôncio finalmente descansou. Bauru, de agora em diante não terá mais a presença do até então “segurador de pontas” e o desejo de Zuleide, a do prolongamento de sua vida fica confirmado como sendo mesmo a melhor solução para a continuidade da trégua, encerrada com a dispersão dos presentes.
E FINALIZANDO TUDO: Esse texto não tem a pretensão de dividir, mais do que já está, a dita esquerda bauruense (e brasileira). Arcôncio, uma das pessoas que mais respeito dentro de tudo o que vivenciei nos meus 51 anos de vida, representa algo que, quer queiramos ou não, está mais do que esfacelado. Vivemos num "balaio de gatos" e até "as pedras do reino mineral" (parafraseando Mino Carta) sabem que, mais do que inseridos dentro da crueldade capitalista, uma verdadeira raridade a pureza de sentimentos e de ações. Críticas, aceito todas, mas somente as que vierem com uma boa carga de "mea culpa", pois dificilmente existirão aqueles totalmente isentos. Esse um ótimo momento para reflexões variadas, inclusive as minhas (estou mais do que inserido no contexto bauruense da esquerda) e uma retomada de ação tentando se desvencilhar das amarras impostas pelo sistema onde vivemos. Não sou pior, nem melhor que nínguém, só enxergo tudo dessa forma e com bastante nítidez. Tapar o sol com peneira é algo que não me cairia bem com o passar dos anos.
* Esse texto sai publicado na edição 690, 28/03/2012, da revista semanal CARTA CAPITAL, seção “Brasiliana”, nas bancas nessa semana. Por falta de espaço alguns trechos originais foram suprimidos e constam dessa publicação, com destaque em vermelho.
O ÚLTIMO COMUNISTA DE BAURU – No enterro de Arcôncio Silva uma breve trégua entre as correntes de esquerda.
Morrer faz parte da vida, ainda mais quando se tem no costado 96 anos. “Uma eternidade, mas a gente queria que isso pudesse se prolongar por mais um tempinho”, resume Zuleide Júlia de Souza da Silva, esposa do militante comunista Arcôncio Pereira da Silva, falecido em Bauru, interior paulista, na terça-feira 20, após padecer entre idas e vindas hospitalares, reflexo dessa feita de um implacável AVC.
Comunistas morrem todos os dias (embora não restem muitos por aí), de resto como qualquer ser humano. Mas surpreendeu o desfile de declarados esquerdistas diante do esquife. Vieram de todos os lados e eram de todos os matizes e cores, dos mais alvos, alguns desbotados, pouquíssimos em plena atividade e, pasmem, nenhum outro puro-sangue a igualar-se ao falecido. Arcôncio Silva conseguiu juntar diante de si o inimaginável em uma reunião de fundo partidário nos dias atuais. Sua vida foi toda assim. Impoluto cidadão, o nome de maior longevidade e resistência de uma ideologia dispersa, com fidelidade partidária mais do que claudicante.
“Igual a ele mais ninguém. E agora?”, era a mais comum das perguntas durante o velório. Na primeira página dos jornais locais expostos sob as cadeiras um momento raro: sua foto em ambos acompanhada de legendas elogiosas. Sinais evidentes do fim de mais um ciclo. “Restam quantos comunistas de verdade na cidade e região (poderia acrescentar no mundo)?”, perguntava Nilson Costa, dirigente sindical cassado em 64, jornalista e ex-prefeito da cidade, tentando quantificar o inquantificável.
Esse a unir tão disformes esquerdistas nasceu em Viçosa, no agreste de Alagoas e chegou ao Sul Maravilha, como tantos outros, em busca de um sonho. Vida acidentada, cresceu politicamente à base das bordoadas, resultado das escolhas na vida, a principal delas: permanecer ao lado dos menos favorecidos. Quando decidiu aderir ao comunismo, a coisa ficou pior e a dureza foi amplificada em incalculáveis decibéis, pois o lado doloroso sempre acabou sobrando para os dessa ideologia. Na greve da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, em 1949, foi demitido pela primeira vez. Ficou preso por semanas, acusado de agitação e conscientizar seus pares. Em uma das passagens pela cadeia, o militante viu uma senhora da sociedade passar poucas horas no xilindró, mesmo tendo sido acusada de assassinato. Ele, ao contrário, permanecia nas grades por simplesmente organizar os trabalhadores e sem chance de poder discutir o assunto com delegados de plantão. Essa a sina de sua vida.
Cassado após do Golpe de 64, quando atuava na Companhia Sorocabana, penou para colocar comida na mesa da família. Fez bicos variados até virar um famoso jornaleiro em Bauru. Resistiu bravamente, motivo do reconhecimento geral. Com o fim da ditadura e a anistia, recuperou o velho emprego (o salário perdido) na ferrovia. “A primeira coisa que fez foi juntar um dinheirinho e rever os parentes no sertão. Beirando os noventa anos e tantas décadas depois da partida, parecia uma criança no reencontro com os que restaram dos seus”, relembra a mulher.
A firmeza de princípios fez dele uma unanimidade. “Recebi ligação de desafeto declarado me avisando de sua morte. Fiquei sem voz, mas entendi tudo. Arcôncio foi maior que todos nós, talvez até juntos”, diz o blogueiro Luis Freitas. “Não se segurava quando via alguma irregularidade. Foi assim a vida inteira. Quantos não foram repreendidos por causa de vacilos e pisadas na bola. Quando isso acontecia, ninguém nem piava. Engoliam em seco”, relembra a merendeira aposentada e comunista em posição de descanso, Elisa Carulo Santos, a observar como alguns declarados desafetos cumprimentavam-se de forma acanhada no velório.
Uma imagem de Nossa Senhora Aparecida decorava a parte frontal do caixão. Os presentes buscavam uma bandeira do partido para cobri-la. “Eu tenho uma, mas está tão desgastada... Será que pegará bem?”, disse a ex-vereadora e dirigente do PC do B local Majô Jandreice. “Essa é a melhor, surrada e usada, como a dos batalhadores. Uma nova destoaria de sua trajetória”, emendou o professor aposentado Isaías Daibem.
No momento do fechamento do caixão não houve jeito: após exaltados pronunciamentos de louvor ao morto, uma pregação e oração. A filha e uma sobrinha do falecido comunista são pastoras evangélicas. Professores, operários, profissionais liberais, políticos, engravatados, botinas sujas, gente suada e outras sem cheiro nenhum, todas num fervente e constante burburinho se espremiam no recinto. Vozes a lembrar com saudade de um alguém diferenciado da babilônia ali instalada. Poucos ao lado do corpo e lotação esgotada nas rodas do lado de fora. “Mas o assunto era um só, ele”, ressaltou Majô.
Nadir Ferreira Valente, perito-criminal aposentado, veio de Jaú, distante 60 quilômetros, só para rever o quase irmão: “Eu vinha de lá até aqui para jogar tranca com ele. Muita gente gostava dele, mas poucos o procuravam de fato. Ouvi tudo o que podia ter contado a alguém em vida. Ele queimou a vela até o pavio, até a última gota de cera”. A destoar, o desabafo da filha mais velha e compreensível na ação de devotados militantes: “Se foi sempre ótimo para com os amigos, em casa deixava a desejar. Teve sempre pouco tempo para ficar com a família”. Ninguém é perfeito, muito menos Arcôncio.
Alguns eternos companheiros tentaram resumir a importância do velho comunista. “Somos orgulhosamente herdeiros dele e uma responsabilidade muito grande para continuar sua luta. O militante não morre”, disse Daibem, procurando buscar um entendimento esvaindo-se como areia ao vento. O professor universitário Clodoaldo Meneghello Cardoso, promotor da II Jornada de Direitos Humanos de Bauru a realizar-se em abril, repetia para quem lhe cruzasse a frente, tentou conclamar a união: “Queria muito que o evento pudesse ser um momento de convivência da esquerda”. Cardoso não conseguiu. Para a maioria dos presentes, até possível, mas na saída, Arcôncio já enterrado, a ligeira trégua acabou. Na saída, um exaltado dirige-se a uma roda e desfere o claro prenúncio do que voltaria a ser o relacionamento entre alguns dos presentes: “Apesar das aves de mau agouro presentes, verdadeiras cassandras do negativismo, sobrevivemos”. Cada um foi para seu lado. E Arcôncio finalmente descansou. Bauru, de agora em diante não terá mais a presença do até então “segurador de pontas” e o desejo de Zuleide, a do prolongamento de sua vida fica confirmado como sendo mesmo a melhor solução para a continuidade da trégua, encerrada com a dispersão dos presentes.
E FINALIZANDO TUDO: Esse texto não tem a pretensão de dividir, mais do que já está, a dita esquerda bauruense (e brasileira). Arcôncio, uma das pessoas que mais respeito dentro de tudo o que vivenciei nos meus 51 anos de vida, representa algo que, quer queiramos ou não, está mais do que esfacelado. Vivemos num "balaio de gatos" e até "as pedras do reino mineral" (parafraseando Mino Carta) sabem que, mais do que inseridos dentro da crueldade capitalista, uma verdadeira raridade a pureza de sentimentos e de ações. Críticas, aceito todas, mas somente as que vierem com uma boa carga de "mea culpa", pois dificilmente existirão aqueles totalmente isentos. Esse um ótimo momento para reflexões variadas, inclusive as minhas (estou mais do que inserido no contexto bauruense da esquerda) e uma retomada de ação tentando se desvencilhar das amarras impostas pelo sistema onde vivemos. Não sou pior, nem melhor que nínguém, só enxergo tudo dessa forma e com bastante nítidez. Tapar o sol com peneira é algo que não me cairia bem com o passar dos anos.
sábado, 24 de março de 2012
O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (11)
RESISTIR PROCURANDO ONDE RESIDE A BOA MÚSICA: KANANGA NA QUINTA E O PRETO BÁSICO AMANHÃ, DOMINGO
Bauru possui muitas opções musicais. Basta abrir nossos dois jornais e constar isso. Na maioria dos casos, uma programação passando ao largo do meu gosto e preferência. Existem as exceções e nelas mergulho com afinco e dedicação. Semana passada, na Banca do Carioca, compro um CD de “Altemar Dutra e Convidados”, que embala o que ouço no carro durante a semana. Podem me chamar de antiquadro, mas ouvir o falecido cantante ao lado de gente como Cauby, Miltinho, Joanna, Fagner, Nelson Gonçalves e outros muito me agrada. Cheguei a rivalizar numa das esquinas da cidade com um garotão a escutar sua preferida no mais agudo possível. Elevei o tom do que ouvia e assim como achei o som que saia do seu carro de péssimo gosto, ele, com certeza achou o mesmo do meu. Agora mesmo, manhã de sábado, após ouvir os noticiários pelas FMs, sempre escuto o Wellington Leite pela Veritas, mas resolvi procurar tangos pela internet e os encontro numa rádio de Buenos Aires, a http://www.radioam750.com.ar/ , clicando na linha superior à direita “Tanghetto em Nadar de Noche”.
Sou um assumido milongueiro. Conto outra, essa na noite da última quinta, 22/03, quando recebo um recado de Cleusa Madruga via e-mail como se fosse uma garrafa jogada ao mar em busca do encontro do destino (ou abrigo) seguro: “Venha ver o Kananga do Alemão hoje no Espetu’s Bar, rua Marcondes, entre a Antonio Alves e a Araújo Leite, 19h30 em diante. O Alemão quer te ver na plateia”. Cleusa é a esposa do Alemão, o capô do Kananga. Formam um belo e alegre casal e junto deles arrastam uma quantidade incrível de adeptos e adoradores da boa música. O Espetu’s é um lugar simples, acanhado, mas muito receptivo e encantador por acolher um grupo musical dos mais originais, autênticos e dos poucos hoje com um repertório onde é possível cantar (e dançar) tudo o que produzem. De milongueiro a seresteiro, num pulo.
Chovia a cântaros em Bauru no começo daquela noite, mas na primeira trégua para lá me dirijo e não me decepciono. A parte descoberta do bar estava interditada e na coberta um aglomerado de pessoas a presenciar uma espécie de presente oferecido ao público por Alemão e mais dois integrantes do grupo. Extasiante na acepção da palavra. Cantei e presenciei gente que não via há tempos. Uma delas, uma senhora, com setenta anos e lá vai fumaça, a mais altaneira da noite, com seu longo vestido, levantado por causa da chuva e a dançar sozinha no meio do bar flanando sob todos os presentes. “Negra”, seu apelido e assim todos a chamavam. Hipnotizado pelos passos certeiros e a animação de uma senhora que insiste em não permitir que a idade lhe assente a poeira. O som emanado pelo Kananga é propiciador disso tudo. Na quinta que vem tem mais e só não estarei se o motivo for de força maior. Deixo aqui uma amostra do que vi por lá:
Amanhã cedo, dia 25/03, 10h30, depois da passada obrigatória pela feira e Banca do Carioca, um show no palco armado na área quase externa da Oficina Cultural Glauco Pinto de Moraes, lá pelos lados da rua Amazonas, acima da Rondon. O grupo convidado é PRETO BÁSICO, que com esse nome ninguém ainda os conhecem, mas se disserem que é o ex-MONTE DE BOSSA, do vocalista JOÃO PAULO BIANO, o vozeirão do soul local, não há quem não os admire. Mudaram de nome, pois dizem, segundo texto de Luly Zonta no Bom Dia de hoje: "Mudamos o nome por causa do mercado. Muitos iam achando que iriam encontrar só bossa. Era um rolo só, até explicar piorava". Repertório dos mais afinados. Hoje estarão no Armazém Bar no Tributo a Raul Seixas e emendam amnhã, sem direito ao reparador sono, com o da Oficina, o de apresentação da nova nomenclatura, simplesmente "Preto Básico". Só não bato cartão nos dois, porque diferente deles, já não aguento mais ficar sem dormir tanto tempo assim.OBS FINAL: Amanhã aqui no mafuá o texto de minha lavra publicado na edição nas bancas da revista Carta Capital, sobre Arcôncio Silva, 96 anos, o falecimento do mais velho comunista de Bauru e algo do seu velório e enterro. Polêmicas à parte, o que foi visto ali é um fiel retrato do que acontece país afora, sem tirar nem por.
RESISTIR PROCURANDO ONDE RESIDE A BOA MÚSICA: KANANGA NA QUINTA E O PRETO BÁSICO AMANHÃ, DOMINGO
Bauru possui muitas opções musicais. Basta abrir nossos dois jornais e constar isso. Na maioria dos casos, uma programação passando ao largo do meu gosto e preferência. Existem as exceções e nelas mergulho com afinco e dedicação. Semana passada, na Banca do Carioca, compro um CD de “Altemar Dutra e Convidados”, que embala o que ouço no carro durante a semana. Podem me chamar de antiquadro, mas ouvir o falecido cantante ao lado de gente como Cauby, Miltinho, Joanna, Fagner, Nelson Gonçalves e outros muito me agrada. Cheguei a rivalizar numa das esquinas da cidade com um garotão a escutar sua preferida no mais agudo possível. Elevei o tom do que ouvia e assim como achei o som que saia do seu carro de péssimo gosto, ele, com certeza achou o mesmo do meu. Agora mesmo, manhã de sábado, após ouvir os noticiários pelas FMs, sempre escuto o Wellington Leite pela Veritas, mas resolvi procurar tangos pela internet e os encontro numa rádio de Buenos Aires, a http://www.radioam750.com.ar/ , clicando na linha superior à direita “Tanghetto em Nadar de Noche”.
Sou um assumido milongueiro. Conto outra, essa na noite da última quinta, 22/03, quando recebo um recado de Cleusa Madruga via e-mail como se fosse uma garrafa jogada ao mar em busca do encontro do destino (ou abrigo) seguro: “Venha ver o Kananga do Alemão hoje no Espetu’s Bar, rua Marcondes, entre a Antonio Alves e a Araújo Leite, 19h30 em diante. O Alemão quer te ver na plateia”. Cleusa é a esposa do Alemão, o capô do Kananga. Formam um belo e alegre casal e junto deles arrastam uma quantidade incrível de adeptos e adoradores da boa música. O Espetu’s é um lugar simples, acanhado, mas muito receptivo e encantador por acolher um grupo musical dos mais originais, autênticos e dos poucos hoje com um repertório onde é possível cantar (e dançar) tudo o que produzem. De milongueiro a seresteiro, num pulo.
Chovia a cântaros em Bauru no começo daquela noite, mas na primeira trégua para lá me dirijo e não me decepciono. A parte descoberta do bar estava interditada e na coberta um aglomerado de pessoas a presenciar uma espécie de presente oferecido ao público por Alemão e mais dois integrantes do grupo. Extasiante na acepção da palavra. Cantei e presenciei gente que não via há tempos. Uma delas, uma senhora, com setenta anos e lá vai fumaça, a mais altaneira da noite, com seu longo vestido, levantado por causa da chuva e a dançar sozinha no meio do bar flanando sob todos os presentes. “Negra”, seu apelido e assim todos a chamavam. Hipnotizado pelos passos certeiros e a animação de uma senhora que insiste em não permitir que a idade lhe assente a poeira. O som emanado pelo Kananga é propiciador disso tudo. Na quinta que vem tem mais e só não estarei se o motivo for de força maior. Deixo aqui uma amostra do que vi por lá:
Amanhã cedo, dia 25/03, 10h30, depois da passada obrigatória pela feira e Banca do Carioca, um show no palco armado na área quase externa da Oficina Cultural Glauco Pinto de Moraes, lá pelos lados da rua Amazonas, acima da Rondon. O grupo convidado é PRETO BÁSICO, que com esse nome ninguém ainda os conhecem, mas se disserem que é o ex-MONTE DE BOSSA, do vocalista JOÃO PAULO BIANO, o vozeirão do soul local, não há quem não os admire. Mudaram de nome, pois dizem, segundo texto de Luly Zonta no Bom Dia de hoje: "Mudamos o nome por causa do mercado. Muitos iam achando que iriam encontrar só bossa. Era um rolo só, até explicar piorava". Repertório dos mais afinados. Hoje estarão no Armazém Bar no Tributo a Raul Seixas e emendam amnhã, sem direito ao reparador sono, com o da Oficina, o de apresentação da nova nomenclatura, simplesmente "Preto Básico". Só não bato cartão nos dois, porque diferente deles, já não aguento mais ficar sem dormir tanto tempo assim.OBS FINAL: Amanhã aqui no mafuá o texto de minha lavra publicado na edição nas bancas da revista Carta Capital, sobre Arcôncio Silva, 96 anos, o falecimento do mais velho comunista de Bauru e algo do seu velório e enterro. Polêmicas à parte, o que foi visto ali é um fiel retrato do que acontece país afora, sem tirar nem por.