NEIZINHO, HOTEL CARIANI E A CORAGEM DO PREFEITO EM PEITAR POSICIONAMENTO RETRÓGRADO DOS VEREADORES
Em tudo o que eu escrevo gosto muito de misturar o tema com pessoas conhecidas, na maioria dos casos diletos amigos. Nesse caso em especial, o da escrevinhação de hoje envolvo o querido NEIZINHO, um ponta direita que fez história no saudoso ARCA, time do amador bauruense e hoje residente no HOTEL CARIANI, na Praça Machado de Mello. Neizinho foi um jogador estiloso, baixinho enfezado, arisco, desses que encantaram toda uma geração de aficionados pelo bom futebol amador que Bauru já teve (hoje virou um festim dos insensatos). E como queria escrever algo hoje sobre uma problemática surgida com o CODEPAC, o órgão local que cuida dos tombamentos de imóveis históricos na cidade, lembrei-me dele. Mas o que teria uma coisa a ver com outra? Tem tudo e explico.
O CODEPAC encaminhou à Câmara Municipal de Bauru um processo de isenção de impostos para os proprietários de imóveis tombados na cidade. Não entro no mérito do processo, cheio de tramites, um vai-e-vem danado até quase chegar a ser aprovado. Quando estava prestes a ocorrer sua aprovação, eis que alguns vereadores sacam do fundo do baú algo a mais, um toma lá-dá-cá para aprovar o projeto. Eles aprovariam uma coisa, mas estabeleceriam que daquela data em diante todos os projetos aprovados pelo Conselho teriam que ser submetidos, além do prefeito, como já é feito, também a eles (o Conselho é meramente consultivo). Seria a decretação da inutilidade do Conselho. Dois vereadores sempre foram os baluartes desse rearranjo, são eles Marcelo Borges PSDB e Renato Purini PMDB. Alegavam com isso, que o as aprovações estavam sendo inconsequentes e prejudiciais ao progresso da cidade. Nenhum deles demonstra em suas intervenções, mas está explícita a defesa que ambos fazem da especulação imobiliária na cidade. Ou seja, o Conselho analisa baseado em critérios técnicos e a Câmara poderia vetar, bastando fazer uma justificativa qualquer, desde que achasse que algum imóvel tombado atrapalhasse o dito “progresso” da cidade. Progresso de quem e para quem?, eis a pergunta sem resposta.
O prefeito vetou a medida. Eles, os vereadores, por votação unânime passaram por cima e reafirmaram seu posicionamento. Tudo estaria irremediavelmente perdido e o CODEPAC poderia decretar sua total inutilidade, num procedimento único no país, talvez no mundo. Uma submissão resvalando o autoritarismo esdrúxulo e a demonstrar insensibilidade. Sabe quem está prestes a resolver tudo, o sr prefeito Rodrigo Agostinho que já anunciou que irá assumir a pendenga para si e não acatará medida de cunho tão fora do juízo dos srs vereadores. Não fazendo isso, Bauru seria anunciada como um caso único onde, das cidades possuidoras de Conselhos de Patrimônio Histórico, todas as aprovações de tombamento somente seriam aprovadas após critérios outros que não somente os técnicos. Algo de muito perigoso no ar. A revogação do prefeito ainda não foi publicada e é aguardada por todos com muita ansiedade, restabelecendo a credibilidade, primeiro do Conselho e depois, mantendo-a longe de aprovações por critérios políticos.
E aí entra o NEIZINHO e o HOTEL CARIANI. O hotel é tombado, já sacramentado, situado numa região onde vários outros imóveis o são. Ali, um exemplo vivo e concreto de como um imóvel tombado pode perfeitamente ser utilizado comercialmente, auferir dividendos para seu proprietário. Ao lado dele, alguns outros, abandonados por seus proprietários, fenecem por vários motivos. Para os proprietário que, buscam informações, promovem o restauro dentro dos padrões estabelecidos, existe uma possibilidade até de usufruto de benefícios que outros não possuem, exatamente pelo fato de ser tombado. o menos recomendável é permanecerem sentados, aguardando que tudo caia do céu. O Cariani é um hotel muito simples, porém imponete, represen'tativo de um passado histórico, mas sobrevive ao tempo e demonstra que o outro lado é viável. Neizinho, mora lá, talvez não saiba de nada disso, mas é personagem desse contexto e um e outro estão mais do que ligados. Disso tudo, um efusivo parabéns ao sr prefeito, pois do contrário, demonstrando fraqueza junto ao Legislativo, estaríamos agora sendo motivo de chacota nacional. Viva o Cariani e viva para o Nei, que fez história no passado com a bola nos pés e hoje, continua fazendo por morar num prédio verdadeiramente histórico.
Obs.: O Amigo do Peito é o Neizinho, Sidnei Cruz Tarantella, 64 anos e como me disse hoje cheio de contentamento: "sou um ex-alcóolatra". Foi meu cicerone nas dependências do Hotel Cariani, tombado pelo processo nº 18.021/96 e um que vive diariamente lotado. A Câmara Municipal será renovada com nova eleição a ocorrer em 07/10/2012.
Conheci o seu Alberto e a dona Aurora pais do Neizinho todo domingo eu ia chamar ele para atuar no time do Arca...
ResponderExcluirVc vem se constituindo num guardião da memória bauruense nós vamos nos unir e dar continuidade ao grande trabalho de nossos historiadores e memorialistas, grande abraço...
José Eduardo Ávila
"De fatoo Nei jogava muito ,tinha tambem Paraguassu no gol , Paulo no meio de campo. Tempos de Ordem e Progresso, Indenpendente,São Francisco, Meia Lua e muito mais. Hoje o amador nem e sombra daqueles tempos."
ResponderExcluirEdilson Barduchi, o Mirim
Belo artigo, Henrique. Abordou o tema com muita sabedoria e conhecimento do assunto. Não há dúvida de que a exploração comercial dos imóveis, pode conviver harmonicamente com o tombamento. Sobre o Neizinho, então, nem se fale: você sempre aborda os feitos dele e, com muita propriedade! Como já lhe disse, também conheço bem o Neizinho e fui amigo dele nos tempos do Ginásio Bela Vista (de há muito tempo Moraes Pacheco), onde cursamos juntos a 1ª e 2ª série ginasial. Um grande abraço e continue na sua caminhada, sempre com sua crítica construtiva e elucidativa. Até mais!
ResponderExcluir"Meu primo (II)"
ResponderExcluirLuiz Vitor Martinello
HENRIQUE,
ResponderExcluirestava no CODEPAC quando tombamos o Hotel Cariani.
Abs.
Muricy Domingues
Henrique
ResponderExcluirMe diga uma coisa só, para mim entender como foi essa votação lá na Câmara dos Vereadores: essa votação que queria impor que todos os processos de tombamento passassem pelo crivo dos vereadores ocorreu de forma unânime? Todos votaram favoráveis a ela? Todos mesmo?
Você tem essa informação.
Quando voce fala em autoritarismo, queria entender melhor analisando se alguém discordou desse posicionamento encabeçados pelos dois veradores citados. Aguardo resposta.
Alvarenga
Alvarenga
ResponderExcluirPara ser sincero não sei como foi a votação. Posso até verificar, mas nãosei se foi por unanimidade, consenso ou se houveram alguns a discordar. De tudo, o que percebo no ar é que não foi polêmica, dessas a provocar discussões homéricas, com divisões de opiniões. Passou sem grandes problemas. Vejo nessa aprovação um claro indício de autoritarismo, explícito e declarado, uma clara demonstração de que nada mais poderá ser feito daqui há alguns anos sem o consentimento e anuência da Câmara. Pode-se discutir o que quiserem, mas a decisão fina lquem irádar serão eles. Felizmente, o prefeito recolocou tudo no seu devido lugar, pelo menos por enquanto. Louvo isso, pois brecou algo bestial. Os detalhes estão aí publicados no Diário Oficial do município e podem ser consultados por qualquer cidadão. Vejo poucos com a disposição de denunciar essas pequenas coisas e isso demonstra também o quanto não se liga hoje em dia para mais nada. É um vai da valsa fantástico, entristecedor. Fazem o que querem com a gente e não reagimos mais. Era só. Um abracito do Henrique - direto do mafuá
caro Henrique,
ResponderExcluirSinto em decepcioná-lo, mas a informação correta é que nenhum, mas nenhum mesmo dentre os vereadores votou contrário a que todos os processos aprovados pelo Codepac fossem submetidos ao crivo da Câmara de Vereadores, o useja, a eles mesmos. O prefeito foi mesmo ponta firme, pois estará a partir de agora não aceitando que isso se torne lei e por um simples motivo, ele é inconstitucional, como no caso das sacolinhas plásticas. Os vereadores se colocam acima do bem e do mal. Aqui um caso explícito de quererem descaradamente ficarem ao lado da especulação imobiliária. Será que nem os mais democráticos perceberam a armação? Ficou feito para esses.
Alvarenga
Henrique,também valorizo muito o patrimônio histórico de Bauru e acredito que deveria ser muito mais bem preservado e difundido do que é hoje.Sempre fico fascinada com o centro antigo e em especial nunca deixei de olhar com triste pesar para o antigo Hotel Milanezi.Tenho poucas informações a respeito de sua situação burocrática, mas sei que também é tombado e em todas as vezes que fiquei admirando-o me perguntei por que não fora restaurado ainda.Me senti ainda mais preocupada quando percebi recentemente a presença de pessoas morando naquele prédio,não sei se são os proprietários ou se há algum projeto de restauração,gostaria de saber e imagino que você tenha algum conhecimento a respeito.Não gostaria que o prédio fosse depredado ou de alguma forma danificado.Eu tenho um sonho,sendo ali um lugar de grande circulação e fácil acesso (praticamente todas as linhas do transporte coletivo passam por lá)poderia ser transformado em um centro cultural ou uma extensão da biblioteca municipal.Valorizo muito o seu trabalho aqui no blog e espero contar com algum esclarecimento ou ponto de vista.Grata.
ResponderExcluirCARA ANÔNIMA.
ResponderExcluirACREDITO QUE TENHA ESQUECIDO DE ESCREVER SEU NOME EMBAIXO DO SEU COMENTÁRIO.
Nada sei sobre isso a ocorrer no Milanezi. Vou procurar saber. Acho aquele imóvel dos mais interessantes, para ser transformado em algo a contribuir para o rejuvenecimento do centro velho de Bauru. Sua proposta é realmente instigante, já foi pensada, mas falta o capital para tanto. Imagine voce se os seus proprietários não a tivessem fechado e estivesse aberto como o Cariani? Estaria vivendo outro momento. Vamos prolongar essa conversa, vejo o que está acontecendo por lá e me diga seu nome, para o papo fluir e mais pessoas participarem.
Henrique - direto do mafuá
Me desculpe, realmente esqueci.Não sei se você se lembra de mim,sou a Vivian e estive envolvida nos atos do Protesto Jovem junto com o Tales, ano passado.Conversamos algumas vezes e já frequento seu blog há um tempo.Realmente, é algo que deve partir (pelo menos inicialmente) da gestão pública, pois a área é muito desvalorizada comercialmente ainda,talvez por esse motivo e os gastos extras por ser um patrimônio tombado, tenham dificultado o interesse privado.Seria muito mais gratificante se pudesse ser transformado para alguma ação social,mas de qualquer outra forma aquele prédio deveria ser restaurado,antes que seja tarde demais...
ResponderExcluirvivian
ResponderExcluirtambém acho.
aguarde um post em breve aqui sobre o milanezi.
vou escrever sobre isso e sobre algto que os alunos da unesp fizeram num passado não tão distante, um belo projeto de revitalização do lugar, que está anexado ao processo de tombamento.
ideias, ideias, ams que precisam passar pelo crivo do dono do imóvel.
vamos lutar juntos por essa causa
henrique - direto do mafuá