AMIGOS DO PEITO (82)

BAIANO, O DO BAR MUSEU E SUA HISTÓRIA COM O JORNAL DA LEI ÁUREA

O Bar do Baiano não tem esse nome, chama-se Barracão e fica no Geisel, podendo ser visto por quem passa pela Nações Unidas. Por ali acontece de tudo. A cada dia tem coisa nova por lá, peças que ele vai guardando como preciosidades. Já escrevi muito dele aqui no blog: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=bar+do+baiano. Hoje escrevo mais. Fonte inesgotável de histórias variadas. Não posso dar uma passadinha por lá, que ele já me vem com algo novo. Hoje aconteceu isso novamente, eu e meu pai lá estivemos almoçando. O fato havia acabado de acontecer. Ele me contou, eu fotografei e lhes conto em primeira mão.

Coisa de um ano atrás um eventual cliente, desses de fora de Bauru, pegou gosto pelo ambiente e toda vez que por aqui vinha, batia cartão no Baiano. Certa vez demonstrou interesse especial por uma peça ali exposta, uma primeira página de um jornal, o Diário Popular de São Paulo, datado de 14/05/1988, com a manchete “Lei Áurea”. Estava ali há anos, colado numa madeira, espécie de moldura, mas deteriorando-se. O tal sujeito disse que levaria a peça para restaurar e que em uma semana traria de volta. Baiana é gente boa demais da conta, deu a peça e nem o nome do tal cliente sabia. Ele desapareceu.

Um funcionário resolveu pesquisar sobre o sumiço da peça e encontrou algo na internet. A mesma estava sendo vendida num site desses de venda de antiguidades. Foi um susto geral, pois não se sabia se a peça vendida era a mesma levada do bar. Cogitou-se de colocar a polícia no encalço do desaparecimento, mas Baiano deixou isso para lá. Lá no site estava a foto de sua peça, com marcas idênticas as que ele possuía em foto e o texto: “Eu gostaria de vender um jornal que está na minha família há mais de 120 anos. É da publicação da carta da lei Áurea. Este jornal pertenceu ao meu avô e depois passou para minha mãe. Depois do falecimento dela resolvi vende-lo, pois se ficar comigo ele vai estragar e uma relíquia dessa com mais de 123 anos temos que preservar...”. O site era esse: http://pirapora.olx.com.br/jornal-com-apublicacao-da-carta-lei-aurea-do-dia-14-de-m... e a consulta foi feita no dias 22 e 27/10/2012. Lá tinha até o preço estipulado para a venda, de R$ 6 mil reais. O local supostamente indicado pela pessoa tinha a seguinte identificação: “Pirapora MG 38.99438802”.

O tempo passou e Baiano já tinha dado como perdido sua raridade. Comentar com ele sobre o assunto era vê-lo desolado. Hoje, a surpresa, quando vê diante de si ali no bar o tal ex-cliente, mais de um ano depois, devolvendo a peça e o presenteando com um algo a mais: grilhões de pescoço, pés e mãos, peças usadas por escravos. O quadro foi devolvido envernizado (segundo a pessoa com verniz importado). Não almoçou, entrou, conversou diretamente com Baiano, deixou tudo ali e se foi. Baiano estava radiante e quando cheguei me disse que fazia alguns minutos que tudo tinha acontecido. Mais não comento, pois posso incorrer em erros, mas esse é o Baiano, onde as peças vão e voltam. Eu tenho mais um monte de histórias que só acontecem por lá e vou contando-as aos drops por aqui. Qualquer dia ajudo Baiano a montar um site ou um blog para juntar aquilo tudo.