terça-feira, 13 de janeiro de 2015

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (113)


ANDREZA JÁ TEVE SEU FILHO E NÃO FOI NA RUA, MAS NÃO FICOU COM ELE

Hoje cedo quem me liga logo cedo foi o Reginaldo Campanholli da Silva, o amigo que vende doces nos sinais da cidade. Numa ligação a cobrar fico sabendo de duas coisas ao mesmo tempo. Primeiro, que a Andreza, a grávida que dorme aqui na beiradas dos trilhos teve seu filho e até já saiu da maternidade. Disse tê-la visto hoje bem cedo dormindo junto a outros lá debaixo do viaduto JK. “Henrique, essa teve filho, mas já não está mais com ela. E te conto mais, tem mais duas grávidas na rua na mesma situação dela”, conta. Queria que fosse lá conversar com ela. Não teve jeito, outras obrigações me impediram de ver a situação da mais nova mamãe de Bauru. Da última vez que a vi aqui no portão de casa, disse que o médico havia lhe dito que demoraria mais umas três semanas para ter a criança. Eu e um amigo fotógrafo estávamos armando fazer um acompanhamento dos seus últimos dias da gravidez nas ruas, mas não deu tempo. Eis o motivo do sumiço, ela deve ter sentido contrações na rua e foi internada.

Reginaldo me encontra no final da tarde defronte o Poupatempo e quer novamente que vá com ele procurá-la e me diz que junto dele não terei problemas de ir lá embaixo do viaduto. Prefiro não ir e ele me conta detalhes da vida dos que lá vivem. Algo pelo qual imaginamos assim de soslaio, mas a realidade, pelo visto é bem mais cruel e insana do que podemos imaginar. Queria sim poder fotografar a nova mãe, mas lá na maternidade e fazê-la compreender de que talvez não seja possível ela ficar com o bebê, pelas condições de vida que leva. Aos 36 anos, com dois filhos já criados por outros, está na hora de dar aquele estalo e tentar mudar de vida. Escrevo isso, mas sei que quando reencontrá-la a coisa mais difícil é dizer isso a ela.

E vou no final da tarde para meu mafuá, escrevinhar meus atrasados textos. Quando menos esperava ouço uma voz vinda lá do portão: “Tio!”. Era Andreza e cheia de papéis nas mãos. A filha que havia me dito na verdade é um filho, o THOMAS. “Lindo demais, tio, precisa ver. É a minha carinha, mas a assistente social ficou com ele. Quando sai para ir no Fórum resolver, quando voltei eles já o haviam levado. Eu queria que ele ficasse na casa de minha mãe, mas não houve jeito”, diz. Está vestindo roupas novas, rosto pintado, bolsa nova e diz que tudo foi dado a ela por uma Casa de Apoio que atua lá na maternidade. “Eles tratam muito bem a gente, disso não tenho do que reclamar”, conclui. Pergunto sobre a notícia que vinha dando aqui para o pessoal que mora por aqui e que se interessava pelo seu destino. “Foi uma loucura. Comecei a sentir umas contrações e eu mesma liguei para o SAMU, eles vieram me buscar e tive parto normal, nem corte fizeram em mim”. Foi isso, a história teve o fim que todos aqui da região imaginavam, a menos trágica possível. Nasceu bem, ficou aos cuidados da "Assistente Social" e ela segue nas ruas, prometendo ouvir mais a conversatória de todos, a de que é chegado o momento de buscar uma vida diferente da que leva. Seu aspecto de hoje no meu portão, limpa, roupas claras, talvez seja um bom prenúncio. Tomara. A torcida aqui dos vizinhos e dos moradores da beirada do rio Bauru e dos trilhos da ferrovia é toda nesse sentido.

4 comentários:

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    Helena Aquino Puxaaaa..... nem teve tempo de ficar com a criança ....
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    Rosangela Maria Barrenha Pra levar onde?
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    Cristina Bianconcini Deus abençoe a Andreza!!
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    Helena Aquino Eu ñ quis dizer tempo pra ficar com o bebê pra sempre Rosangela Maria Barrenha .... disse um tempo mais com o bebê ..... vc é mãe deve saber o que é isso .... ñ é pqé da rua q ñ poderia ficar um pouco mais com o bebê ... E além do mais , ela tem mãe .... família que mora ali pertinho de meu pai .....
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    Daniel Pestana Mota Verdade, Helena, um mínimo tempo já seria algo considerável. Claro que isso certamente está muito além do que a lógica pode explicar!
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    Rosangela Maria Barrenha Não conheço a história. Não questionei, apenas perguntei. Entendi que mora na rua e ninguém toma filho de ninguém
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    Rosangela Maria Barrenha A criança deve estar abrigada até alguém da familia aparecer.
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    Rosangela Maria Barrenha Ela é dependente química?
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    Rosangela Maria Barrenha E, considerando que ela não pode ou não tem condição de ficar com o bebê, quanto maior o vinculo, pior é.
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    Maria Cristina Zanin Sant'Anna Discordo totalmente, essa mãe tem o direito de ficar com o filho, pelo menos tentar, se o municipio oferecesse uma política pública adequada para essa situação,uma casa abrigo de mulheres, bem como não é assim que se faz, me preocupa muito como fazem aqui em Bauru, retirar dessa forma a criança não está certo.
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    Helena Aquino Entendo de lei tb Rosangela Maria Barrenha .... mas ela tem família .... é dependente química sim, muitos são e estão soltos por aí fazendo e dizendo o que bem entendem .....então pq ñ poderia ficar um pouquinho mais com o filho ou então a mãe dela poder tb questionar a guarda ....Pq é pobre é questionada assim .... Aí Maria Cristina Zanin Sant'Anna ....... vc disse o que estou tentando argumentar ....... obrigada minha linda
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    Maria Cristina Zanin Sant'Anna vi outras situações semelhantes ocorrerem aqui da mesma forma, as crianças são enviadas para abrigos com modelo de atendimento em desacordo com o ECA
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    Maria Cristina Zanin Sant'Anna situações em Bauru.
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    Maria Cristina Zanin Sant'Anna eu concordo com vc Helena.
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    Helena Aquino obrigada querida Maria Cristina Zanin Sant'Anna ....admiro vc
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    Tatiana Calmon Infelizmente não temos politica que busque inverter essa realidade. Essa moça e outras deveriam ser recolhidas e acolhiidas com seus filhos. Deixar nas ruas e tomar os filhos me parece muito fácil para o Estado. Sei, por ouvir dizerm que muitas destas crianças sequer chegam em abrigos, sao "adotadas" por debaixo do pano.
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    Maria Cristina Zanin Sant'Anna Ouvi umas histórias cabeludas aqui em Bauru, estou preocupada
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    Helena Aquino Exatamente Tatiana Calmon ..... penso que essas pessoas deveriam ter oportunidades e não somente serem deixadas de lado como se ñ tivessem sentimentos ...
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    Tatiana Calmon a Claudia, uma menina que mora nas ruas, e que ano passado dançou e brincou com a gente no bloco, ja teve seis fihos, todos retirados dela logo depois do parto. Sabe alguns nomes que queria dar a eles. Não sei se neste caso a laqueadura seria a solução. Sei que essas mulheres sofrem e muito.
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    Maria Cristina Zanin Sant'Anna Mães abandonadas.
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    Tatiana Calmon pessoas abandonadas, descartadas e roubadas naquilo que lhe é mais caro
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    Helena Aquino E não é pq é dependente química e pobre , q o filho pode ser retirado dela assim e outras na mesma situação de probl., mas com uma situação financeira diferente , nada acontece ..... Ela tem direito sim .....
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    Maria America Ferreira · 84 amigos em comum
    Li todos os comentários e concordo com alguns, discordo de outros, mas a realidade é bem cruel., por isso, sou a favor da laqueadura. Infelizmente essas mulheres não serão socorridas pelo Estado falido. Então porque deixar que elas tenham filhos muitas vezes cada um de um pai e que também não terão futuro? Aliás, sou a favor do controle de natalidade. Mas nem isso o Estado é capaz de fazer e depois não consegue dar conta de acolher não só essas mães, mas todos que precisam de apoio. A cada dia mais e mais jovens estão nas ruas sendo engolidos pelas drogas, muitos deixando as famílias, outros já sem nenhuma estrutura familiar. Não há como tapar o sol com a peneira...
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    Eugenio Martins Para esta moça já foi oferecido todo e qualquer suporte em relação dep quimica mais ela não não aceita ela tem irmã que também mora na rua outro irmão que esta preso .
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    Rosangela Maria Barrenha Nunca disse que a criança tenha que ser tirada, apenas que seria totalmente irresponsável entregar una criança indefesa para uma pessoa totalmente irresponsável.
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    Rosangela Maria Barrenha Apenas compreendo como as coisas funcionam...21 anos de dura realidade em um pronto socorro....
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    Helena Aquino Ela ñ tem condições de criar essa criança , é claro , conheço a realidade dela, agora, acho um pouco rude d+ tirar a criança assim , um pouco mais de tempo , um pouco mais de paciênciaaaa..... como diz o querido Lenine .... É um ser humano , o Henrique Perazzi de Aquino conversa bem com ela .... eu ñ tenho a frieza de alguns comentários , ainda acho que existe cura e resultado pra tudo , pois acredito muito em Deus e em seu poder .....
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    Henrique Perazzi de Aquino Andreza já possui outras duas crianças, criadas, segundo ela pelo pai. Tem a casa da mãe, mas nem ela quer permanecer por lá, preferindo todas as intempéries da rua. Evidente não possuir nenhuma condição de criar a filha. Desconheço a situação da casa da mãe, mas vejo que em casos dessa natureza, o procedimento habitual foi o ocorrido. Ela permaneceu por três dias na maternidade e no dia em que saiu, ainda toda aprumada pelo bom tratamento lá recebido, voltou quase imediatamente para debaixo do viaduto. Se falta um lugar adequado para essas crianças, não sei, a Sebes poderia nos explicar a contento. O meu motivador a escrever dela foi o fato da mobilização e cuidados que os moradores da região tinham pela situação, prevendo que a criança pudesse nascer na rua e a qualquer instante. Descrevi isso em alguns momentos e ontem o desfecho. Esse só um dos muitos cadinhos da vida real passada ao vivo e a cores nas ruas e vielas dessa cidade. A vida como ela é.
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    Magda Prestes A questão é que existe o lado humano e o lado de quem trabalha e vivencia diariamente a realidade humana....complicado para ser entendido e explicado...
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    Rosangela Maria Barrenha A vida como ela é.
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    Helena Aquino Tudo bem ....vcs têm uma visão crítica e eu uma visão humanista , tbém trabalho com o povo e com os probls emocionais de cd um e pelo meu lado mãe, não consigo entender tirar um filho assim, garanto que se fosse de vcs ñ iriam permitir ... A vida como ela é , pra mim , é mto diferente .... ainda acredito no sobrenatural e que o amor divino é maior que tudo ...
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    Sonia Mauricio · 63 amigos em comum
    Concordo com a Helena, a moça poderia mudar a partir do momento que o bebe nasceu, essa mae tem o direito de ficar com o filho amamentar e cuidar , num abrigo,se passado os 4 meses assegurados as maes que trabalham, ela nao tivesse condiçoes de ficar com a criança, ai sim, outro destino se daria ao pequeno bebe!!!foi abrupto , imoral e contra os principios!!!
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    Angela Caputo Também acho muito cruel essa maneira como tiraram o bebê da mãe.... Quem sabe se ficassem mais tempo juntos poderiam criar vínculos. Mas é evidente que inexiste apoio para essa situação aqui na cidade.
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    Maria Cristina Zanin Sant'Anna Henrique entendemos a intenção da sua postagem e é excelente, melhor ainda são os comentários das minhas amigas, porque esse debate é importante. No aspecto jurídico e humano, está errado o procedimento, inclusive porque existem outras mulheres na cidade nessa situação.Trabalhei mais de 10 anos nessa área como coordenadora da Febem, antes e depois do ECA, na época quando ainda existiam os berçarios etc. geralmente não se trabalha as mães na entrega de seus filhos, (no caso não é uma entrega é uma imposição e ponto) Tive a oportunidade de debater vários temas com uma grande profissional (terapeuta) que mergulhou nessa área e aprendi muito. Me aproximei mais das mães biológicas que "entregam" seus filhos, alcancei uma compreensão e tive que desfazer de modelos preestabelecidos e buscar outros que estimulavam novas formas de abordagem que realmente atendiam a todos os envolvidos no processo adotivo e a sociedade em geral. Será que se essa mãe tivesse oportunidade de ser mãe, aprendesse a amar o filho com a ajuda de uma equipe capacitada e treinada , quais as dores emocionais que envolvem esse abandono, frustração etc. E vendo ainda o lado da criança piorou. Deparamo-nos com uma situação complexa que exige sinceramente uma capacitação de profissionais bem treinados e preparados sem deixar se influenciar com muita frequencia por atitudes punitivas ou sentimentos em relação à mãe que errou etc.
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