A IMPORTÂNCIA DE UM PAÍS NASCER DESIMPORTANTE *
*Esse texto sai também publicado no portal virtual de informações PARTICIPI.
Isso não é uma teoria, mas até que poderia ser. Ela pode ser desenvolvida longamente. Quero me estender pouco. Tudo nasceu de um papo com meu filho, HA, 20 anos. Seu atual sonho de vida passa pela Islândia e o vejo movendo as peças do seu tabuleiro para concretizá-lo. Dou força conforme posso, ou seja, quase nenhuma. Só conversas. Falamos muito disso. Num desses papos, falávamos sobre dos motivos desse pequeno país, encravado lá no Mar do Norte, entre a Groelândia e a Grã Bretanha, um dos locais mais gélidos do planeta, cheio de gêiseres e com população de aproximadamente 300 mil habitantes viver uma situação pouco usual. O que mais se fala de lá ultimamente é sobre a pequena ilha ter conseguido certa independência do neoliberalismo predatório, o que toma conta de toda Europa. Lá os banqueiros foram enquadrados e o capitalismo está meio que contido pela força popular. E o país cresceu muito dentro dessa nova perspectiva, dependência quase mínima. Daí meu filho solta a frase fatídica: “Essa, meu pai, é a grande importância de um país nascer desimportante”.
Vibrei e a conversa fluiu mais e mais depois da frase. Viajamos para outras paragens. Nada como um país não ser objeto de cobiça, daí fica um tanto esquecido e pode navegar meio tranquilo. Ele me conta da história da Dinamarca. “Esse país é um grande vale. Nunca ninguém deu muita coisa por aquele pedaço de chão. Hoje, 100% de sua energia é eólica e vivem uma situação também sui generis dentro do capitalismo. O distanciamento e interesses externos favoreçam isso”, me diz. Sim, poderíamos entrar em muitos outros detalhamentos, mas ficamos nesses. Ouço mais. “Nosso mal aqui onde moramos é que a América Latina toda já nasceu importante. Sempre fomos alvo de predadores diversos e variados. Desde a madeira, ouro, cana, borracha e tudo o mais. A Montanha de Potosí é um exemplo clássico desse interesse. Hoje, os interesses são outros, mas os predadores os mesmos. E hoje, grande como somos e na busca por certa independência, sendo também importante centro consumidor, sempre seremos alvo. Eles não querem nos perder por nada”, conclui. Já se perder, uma maavilhamento sem igual.
Falamos também da África tão ultraja no passado por colonizadores que a sugaram ao máximo. Fizeram e desfizeram da África inteira, a dilapidaram ao bel prazer dos interesses de cada país colonizador e depois ao notarem as transformações pelas independências, não sem uma luta, abandonaram tudo, mas num estado de terra arrasada. A importância de um país é quando descobrem algo, que talvez os próprios habitantes desconhecessem, alguma riqueza ainda oculta. O Iraque e a Líbia hoje padecem pelo fato de terem essa praga moderna nos seus subsolos, o dito ouro negro, o petróleo. O que foi feito nesses países, a destruição patrocinada pelos EUA, tudo para que o petróleo estivesse sob seu domínio é um dos momentos mais trágicos desses últimos tempos.
Por fim, chegamos à Grécia dos dias de hoje. A conversa foi sexta, dia 23/01, poucas horas antes do pleito onde o partido de esquerda, o Syriza, ganharia a eleição. “Mas com a Grécia é diferente pai. Ela tem pouca coisa que interesse as aves de rapina internacional, mas diferente da insignificante Islândia, trata-se de um país maior, berço de algo importante para a civilização moderna. Isso pouco representa e o que vale é fato dela poder vir a se tornar o péssimo exemplo de que fora do capitalismo existe uma viável saída, que nem tudo pode e deve seguir à risca a linha do pensamento único. Nem Alemanha, nem Inglaterra querem que isso ocorra, daí além de apostar contra a Grécia vão todos unidos jogar sujo contra ela. A experiência grega de esquerda tem que dar errado, percebe?”, foi o que me disse. Sim, percebo e o Syriza, do agora primeiro ministro Alexis Tsipras, nem está empossado e já o querem vê-lo atado os interesses do capital. Justamente contra tudo o que prega sua linha de conduta e ação. É um país desimportante importante, entenderam? Sacaram até onde vai a sordidez da embromação onde estamos metidos?
Concluo com algo sobre minha pessoa. Pelo meu grau reduzido de importância, insignificância dentro do contexto do capital, eis aí o exato motivo para me encontrar apartado de decisões, salamaleques, convites sórdidos ou até mesmo de estar envolvido em alguma indelicada situação. Viver à margem tem suas vantagens, nem convites para maracutais voce recebe. Usufruo das desvantagens e assim queria continuar até findar minha passagem por esse mundo. Já meu filho, indo mesmo para a Islândia, deve seguir o mesmo caminho, o que para a sua qualidade de vida terá uma importância muito grande. E para mim também.
Concluo com algo sobre minha pessoa. Pelo meu grau reduzido de importância, insignificância dentro do contexto do capital, eis aí o exato motivo para me encontrar apartado de decisões, salamaleques, convites sórdidos ou até mesmo de estar envolvido em alguma indelicada situação. Viver à margem tem suas vantagens, nem convites para maracutais voce recebe. Usufruo das desvantagens e assim queria continuar até findar minha passagem por esse mundo. Já meu filho, indo mesmo para a Islândia, deve seguir o mesmo caminho, o que para a sua qualidade de vida terá uma importância muito grande. E para mim também.
Henrique, vou entrar nessa também, acho que a troca de experiências, a vivência que vai se acumulando ao longo da vida, é importante para um enriquecer de ideias.
ResponderExcluirSão basicamente dois pontos que quero tocar, mas primeiro essa "desimportância" da Islãndia e Dinamarca que foram os países citados.
Sempre temos que entender a ordem econômica para não passarmos por cima de fatores essenciais para compreensão das relações no mundo.
Os dois países são membros da OTAN, a Dinamarca possui defesa militar com os EUA, há soldados nas ocupações do Afeganistão, Kosovo, Líbia e Iraque. A Islândia não possui força militar considerável, já fez tratado de defesa com os EUA e hoje a OTAN é a responsável pela defesa em caso de alguma invasão e conflito com este país.
Ambos fazem parte de tratados de Livre Comércio, FMI e Banco Mundial, estão dentro dentro do contexto do capitalismo e portanto não espere ver um conflito com os EUA e investidores desaparecendo, porque estão inseridos nestas leis de mercado.
Porém, é importante mostrar a soberania que estes países, como os da Escandinávia demonstram muito bem, onde o estado tem duas vezes mais presença que o nosso estado colonial, a austeridade se não é plena, mas é dinâmica na condução destes estados, força uma política de bem-estar social onde serviços públicos como educação, saúde, lazer e cultura retornam para a população, onde são serviços estatais, mesclando uma lógica socialista num estado de livre mercado, mas que, o estado regulamenta o mercado e o sistema financeiro, lá você não aprovar essas fusões absurdas de empresas que acabam gerando um monopólio como aqui, onde os serviços são péssimos e caros. E por que empresas, indústrias, bancos não correm de lá?? Simples, porque eles tem lucro, mas dentro da soberania do país e não como aqui que se permite uma multinacional lucrar 200% e um banco dar financiamentos totalmente desiguais aos grandes países.
Veja que poderíamos ter feito isso, algo como o Equador está rumando nete caminho, mas com um governo traidor, militância de pelegos, e babacas defendendo tudo isso aí com clichês absurdos, claro que ficamos pra trás e colonizados como sempre.
Esses países tem cada um sua identidade, formadas através de várias outra ao longo de seus processos históricos e de altíssimo nível cultural, e estes países passaram por grandes processos de luta por independência, como a Islândia mesmo, nós não tivemos isso.
É bom lembrar também no caso da Dinamarca que muito da sua riqueza foi construída quando esta dominava vários territórios, vc como historiador é fácil buscar a época dos vikings e perceber alguns pontos interessantes.
Sobre a crise, é bom tomar sempre cuidado com as coisas que pululam na internet sobre a solução da Islândia, o que ocorreu com a crise financeira e a saída, precisamos pegar para destrinchar esse ponto e só lembrar que uma das resoluções foi solicitar a entrada na Comunidade Européia e que está em processo ainda, é sempre bom estar atento à esses detalhes.
Só mais um dado sobre a Dinamarca, ela é pioneira na energia eólica, mas não é cem por cento de sua energia, esse tipo chega por volta de 30%, a maior parte ainda é do carvão. E eu não entro nessa piração de que tudo tem que ser esse tipo de energia, tudo tem que ser feito dentro das possibilidades, o que encaixar melhor em cada região de cada país dentro de um planejamento.
Quanto a Grécia, acompanhando atentamente, espero que agora seja governado com inteligência, coragem, competência e nos passos certos, porque qualquer insanidade agora pode por tudo a perder, inclusive a credibilidade.
Pra fechar, algo da última citação deste artigo, gostaria muito mesmo que o pai seguisse cem por cento os passos do Junior.
Camarada Insurgente Marcos
Marcos, meu dileto amigo longe do facebook por vontade própria é uma das pessoas mais instigantes que conheço. Daí é também uma das que mais considero, mesmo estando mais distantes que pertos
ResponderExcluirHenrique - direto do mafuá
Precisou uma nova constituição escrita pelo povo... Unica saida para mudar realmente os "jogos"
ResponderExcluirEric Schmitt