sexta-feira, 6 de março de 2020

MEMÓRIA ORAL (252)


história 1

HISTÓRIA DE PERSISTÊNCIA E FORÇA DE VONTADE - E ELE FAZ MESTRADO EM BAURU
Cursei disciplinas junto dele três anos atrás quando estava no mestrado e ele tentando, insistindo, fazendo de tudo para ser aceito pelos professores. Mostrava seu projeto, detalhava e nada. Cursou duas disciplinas, ia e voltava 400 km na semana, com uma pernoite, gastos para ele muito além do permitido, mas tudo dentro do seu sonho, o que o fazia se desdobrar além do imaginado. Na sua cidade, essa bem longe daqui, ganhava a vida como publicitário, ou seja, algo seu, vendendo anúncios para traseiros de onibus e alguns outdoors na cidade. Montava tudo em seu pequeno lar, um quarto nos fundos de uma residência distante do centro, num computador com parcos recursos. Tentou também montar um sebo interativo e outras iniciativas. Sempre foi o suficiente para viver, pois espartano, solteiro, não lhe saia da cabeça o desejo de, um dia cursar o mestrado e a partir daí, sonho seu, as portas abertas, novas possibilidades.

Se passaram quase três anos, vez ou outra ele por aqui em novos contatos com professores da universidade pública. Nunca deixou de estar mais do que atento aos prazos, pois o sonho o acalentava. Sua vida sempre foi a rotina de sempre, mas enfurnado no seu canto, pesquisando e buscando complementar sua área de pesquisa. Suas reservas financeiras ora aumentavam bocadinho, ora quase secavam, mas não podia desistir, nem mudar de rota, pois cursar mestrado era a mola mestra de sua vida. Final do ano passado aqui aportou, cara boa, cheio de esperança e veio convicto: "Dessa vez vai dar certo. Encontrei finalmente uma orientadora a me escutar. Ele entendeu o meu trabalho e boto fé, vai dar certo". Deu, tanto que foi aprovado e nesse início de março está em Bauru de mala e cuia. Lotou seu Fiat 147, viajou bem devagarinho os 400 km, chegou por aqui, encontrou um canto dentro do que pode pagar e já cursa duas disciplinas. Está totalmente envolvido no que faz e em apenas dois dias de aulas, pesquisando como um doido, cheio de planos e já se enfurnando de todos os detalhes à sua volta e no ambiente universitário.


Superou o grande problema da idade, algo um tanto intransponível hoje na universidade, quando muitos orientadores preferem dar vazão para alunos com cursos recém concluídos. O dele, já há mais de dez anos, teve que ser batalhado, mas isso nunca foi um empecilho para quem tinha por meta chegar lá. Chegou e hoje, encerrando sua primeira semana na cidade, faz as contas e ciente do aperto, segura as pontas como pode. Suas reservas estão controladas, mas sabe, terá que fazer bicos para recompô-las e num breve espaço de tempo. Nos primeiros dias comeu em restaurantes baratos, preços em torno de R$ 10 reais o prato, mas já descobriu o Bom Prato, programa do Governo estadual, com almoço por R$ 1 real e café da manhã por R$ 0,50 centavos. Já por dois dias, 7h30 da manhã está na fila, toma copo de café com leite, manteiga, pequeno iogurte e uma fruta (maçã, banana) e no almoço, sempre sai chupando uma laranja. Computa tudo e isso representa economia considerável em seu orçamento.

O vejo indo e voltando para o estudo, convicção inquebrantável, propositivo, discutindo sua tese com quem possa lhe dar ideias, incentivos e sugestões. Está totalmente envolvido com o seu propósito de vida, ou seja, mesmo diante de todas as dificuldades, toca o barco com um baita sorriso estampado na face. Veio ainda pensando em conseguir alguma bolsa de estudo, mas ao ir constatando a dura realidade de hoje dentro da universidade, já mudou de planos, pois sabe, dessa fonte não mais escorrerá água. Sua cabeça fervilha, tanto pelos estudos, muitos papéis já espalhados na mesa diante de seu aparelho de computador, sua mais rica mobília, como pelo que pode conseguir a fazer para amealhar algum rendimento. Pensou até em alugar um veículo e trabalhar de UBER, mas já disseram das dificuldades diante de não estar disponível para o trabalho por aproximadamente doze horas diárias, ou seja, o necessário para pagar a diária de quem lhe emprestar o veículo e só depois, algum lucro. O seu veículo, o FIAT 147, esse permanecerá estacionado na garagem da casa alugada, pois já decidiu, só sairá com ele em caso de extrema urgência, tudo para não aumentar suas despesas.

Sua rota diária já está traçada, já se informou e faz uso dos onibus circulares, quando não a pé. Está ainda buscando entender os horários, tudo para não permanecer muito tempo nos pontos. O mais complicado para ele é quando a aula de um dos dias, essa terminando por volta das 23h, desce no ponto perto de onde mora, tendo que caminhar em locais escuros, coisa de sete quadras e com o leptop na mochila. Está aprendendo caminhos mais movimentados e como todos na mesma situação, conta com a sorte. Valoriza muito ter conseguido logo de cara um lugar para ficar, preço dentro do que pode pagar, já desbravou onde se alimentar, traça as rotas de ida/volta na universidade e por fim, o que mais importa no momento, está conseguindo realizar o maior sonho de sua vida, o cursar o mestrado dentro da universidade pública e na cidade de Bauru.

Nesse começo de 2020, o uso como exemplo de cidadão focado, totalmente envolvido com a realização do que almejou na vida. Sabe melhor que ninguém todas as dificuldades, principalmente as financeiras que terá pela frente, mas crê dará um jeito, pois se assim o fez até agora na vida, não será agora, diante da felicidade de estar no curso de sua vida, deixar de superar os obstáculos. Para mim, ele um dos grandes exemplos de abnegação deste começo de ano e mais feliz estou por estar no seu caminho. Ele é um desses tantos que posso chamar de amigo, os tais que não podemos e nem devemos soltar as mãos. Seguir juntos, coesos, eis a solução para tudo. Sua história muito me comove, igual ou até menos dolorosa que a de muitos, mas exemplo de baita abnegação de força de vontade.

história 2

O VEREADOR ATENDENDO OS PEDIDOS COMO SE PREFEITURA FOSSE - MAIS RÁPIDO QUE O VENTO
Quem circula pela rua ouve histórias e mais histórias. Hoje algo me chamou a atenção na área central da cidade, histórias diferentes, mas tendo como solução o mesmo viés, ou seja, um vereador muito conhecido na cidade de Bauru. Conto as histórias sem contar o santo. Creio eu, sua identificação será das mais fáceis após a leitura dos relatos.

Três relatos de trabalhadores das ruas de Bauru, três ambulantes, autônomos e atuando na área central. No primeiro, a luz não chegava na sua rua, recentemente asfaltada. Cansou de pedir na Prefeitura, indo até vários setores e nada. Brigou, esperneou, ligou para amigos lá trabalhando, tentou de tudo, a parte legal e nada. Não estava no cronograma, a usual resposta. Foi quando lhe falaram do vereador "X". Procurou pelo mesmo, foi encaminhado ao assessor e o atendimento ocorreu em tempo record, para seu espanto. Depois ficou sabendo, sua rua não estava na relação dos postes de iluminação, mas o vereador deu o seu jeito e a luz foi também levada até seu quarteirão.

Na segunda história quase a repetição da primeira. Dessa vez um bueiro entupido. O cidadão fez tudo o que lhe pediram para poder ser atendido, o tempo passou, ia e voltava nos balcões e até nos gabinetes. Deixou de trabalhar por um dia, circulou pelos corredores, ouviu de tudo, assinou papéis, preencheu formulários e nada do bueiro ser desentupido. O mal cheiro só aumentando, até encontrar com o assesor do vereador "X", ele anotar e em coisa de dois dias no máximo, o bueiro estava limpo. No terceiro, algo corriqueiro e já do conhecimento de muitos municípes. A mãe do cidadão está com a saúde bem debilitada e de cama depende de medicamentos caros. Quando faltam nos balcões e pelas vias normais, ele repete sempre outro procedimento. Aprendeu que, quando lhe dizem não ter, recorre ao vereador "X" e ele prontamente dá o seu jeito, que ele não sabe qual é, mas o remédio chega às suas mãos num tempo rápido.

De um deles ouvi que sabe não ser o procedimento correto, mas recorreu ao vereador "X", pois lhe disseram que ele resolve, conhece os trâmites e não deixa ninguém sem resposta e atendimento. De outra, ouço isso: "Eu não voto nele, pois meu título não é daqui, mas meus vizinhos e meus parentes irtão votar". Do terceiro, que ainda não foi procurado para algo com relação a eleição, quando lhe pergunto, responde de bate pronto: "Só ele resolveu meu problema. Quer que vote em quem?". O cenário é este, sem tirar nem por e dos relatos aqui apresentados, nenhuma novidade. Procedimento mais do que conhecido, difundido, corriqueiro e usual dentro de uma profíqua relação entre o vereador "X" e pessoas atuando dentro da estrutura funcional da Prefeitura. Tirem todos suas próprias conclusões. Seria esse o papel do vereador? Por que o atendimento pelas vias normais se mostra tão ineficinete e pela via vereador ocorre tão rapidamente? Como combater e resolver isso? Ou melhor, isso tem jeito dentro dos moldes atuais? 


Fatos são fatos.

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