sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
CARTAS (209)
MEUS CAROS (AS) DE AVIANCA - COLÔMBIA* * Escrevo cartas de próprio punho bem antes do advento computador. Tenho cadernos e cadernos com essa finalidade. Ontem mesmo li algo sobre isso num texto do amigo Lázaro Carneiro aqui na internet: “Já não se escrevem mais cartas, tanto de tanto de mil novecentos e tantos, seguia-se linhas fartas, que fim levou os missivistas? Pra onde foram telefonistas, pra onde irão um dia os internautas?”. Esse vai em homenagem a ele, outro inveterado gastador de papéis. Vou mais além, escrevinho muito e ouso publicar, como ele, exposição para avaliações outras.
"Sempre gostei muito de viajar pela AVIANCA, já o tendo feito em inúmeras oportunidades. Hoje, confesso, gosto muito mais. Explico. Tenho lido sobre as dificuldades passadas pela empresa, mais aqui no Brasil e justamente quando da passagem do seu centenário. Isso me toca profundamente, primeiro por sermos todos latinos e daí a necessidade de um olhar para o outro com o devido carinho, irmãos inclusive nas dificuldades. Solidariedade de verdadeiros e integrados irmãos. Desde o primeiro momento da divulgação das dificuldades passadas com a empresa no Brasil, li cada nova notícia com muita atenção, sempre imaginando ser possível a volta por cima, passei a torcer ainda mais, não só pela volta por cima, mas pela continuidade dos trabalhos. Nesse momento, 22/01, escrevo à mão numa página em branco na própria revista distribuída nos aviões, num voo de retorno de Nova York para Bogotá, onde de lá seguirei para São Paulo (voos AV21 e AV249), sendo que dia 31/12 fiz também com a esposa o mesmo trajeto de ida e em ambos dois fatos muito me tocaram, na ida a encorpada revista do Centenário, linda e elucidativa. Guardei um exemplar, edição histórica e na volta a edição de janeiro, essa que tenho agora em minhas mãos e nela escrevo depois de também ser tocado por um vídeo assistindo em ambos os voos, nele demonstrado de forma explícita toda a latinidade da proposta empresarial da Avianca. Os textos sobre o Uruguay e o Paraguai estão um primor, tanto no quesito abordagem, como jornalístico. Envolventes.
Estou maravilhado com a revista e com o belo vídeo. A revista, por si só, ao ressaltar de forma peculiar e abrangente em suas páginas a América Latina é por demais rica e cai nas minhas graças. Jóia rara nas mãos de todo cidadão que, verdadeiramente ama sua terra e seu povo. Não tem como não se emocionar. O vídeo falando sobre nossos povos, pois somos muitos dentro dessa América, tão desigual e tão única, emociona e ao terminar de vê-lo aqui sentado, tanto na ida como na volta, queria assistir mais vezes, repica-lo mais e mais, pois produz emoção, toca fundo. Não resisti e sem sono, escrevo sobre esse sentimento formatado assim do nada e com o intuito de relatar algo fluindo aqui comigo em relação a uma empresa necessitando de um carinho e de elogios.
Quero e irei continuar viajando muito com vocês daqui por diante e o primeiro motivo para tanto é essa latinidade entre as partes. Quero privilegiar cada vez mais quem é igual a mim, alguém cujo sentimento é parecido com o que flui em minhas veias. Cem anos não são cem dias e só por ser latino, enfrentando os grandões da aviação mundial como um Quixote e sua lança, isso para mil é fator determinante para se alinhar, estar junto, torcer e quando puder viajar em seus aviões. Senti falta da citação de meu país, Brasil, tanto na revista, como no vídeo e até entendo dos motivos. O ocorrido com a empresa no Brasil deve ter sido um baque e algo de difícil digestão. Não cito o fato como reclamação, até porque tem até um texto escrito em português, mas como mera observação de usuário e admirador fiel. Sei que muito já foi publicado sobre o Brasil e hoje com voos reduzidos apara este destino, nada como falar menos.
Escrevo até agora munido pela emoção. Aproveito para fazer um pedido tornado público: gostaria de ter todas as edições da revista no ano de 2019 e uma cópia do citado vídeo, pois tive nesse momento a ideia de produzir texto acadêmico sobre esse conteúdo regionalizado, utilizando-o para apresentação em Encontro/Congresso a ser realizado na UP – Universidade de Palermo, Buenos Aires, Argentina no final de julho 2020. Quero estabelecer relação entre o conteúdo das edições, os temas regionalizados e mostrar parte do vídeo aos colegas na sala onde estarei expondo. Tenho comigo que, falar e escrever de nossa aldeia, como já ressaltaram vários de nossos poetas é de vital importância, ainda mais dentro do atual contexto mundial globalizado. Vi essa possibilidade viajando com vocês e a quero muito colocar em prática, ou seja, no papel o mais rápido possível.
Com o sincero carinho de um admirador
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO - Bauru SP Brasil".
Eis o link do vídeo da Aviança sobre essa instigante América Latina - Avianca | 100 años conectando al mundo con la grandeza de Latinoamérica: https://www.bing.com/videos/search?q=v%C3%ADdeos%20Avianca&&view=detail&mid=55D7F5092DE54BC26DA755D7F5092DE54BC26DA7&FORM=VRDGAR&ru=%2Fvideos%2Fsearch%3Fq%3Dv%25c3%25addeos%2BAvianca%26FORM%3DHDRSC3&fbclid=IwAR0G9zB3eRDs1AaBfBo_847HacO8SMcnhCWM9hRkPQCDpXE7SI_JLB5Czlc
INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (129)
O caso COHAB continua na ordem do dia aqui por Bauru e região. Pudera, o montante sendo divulgado como desvio e por enquanto, somente o nome do ex-presidente Gasparini Jr como indiciado, eleva a um grau estratosféricos as especulações em torno dos próximos acontecimentos. Guardião, super-herói desta terra dita e vista como verdadeiramente "Sem Limites" volta a público para dar continuidade ao seu ponto de vista sobre o desenrolar dos fatos. "Ninguém em sã consciência imagina que tudo o que já foi divulgado e encontrado seja obra executada por somente uma isolada pessoa. Com a aproximação do Carnaval, nossa maior festa popular, impossível não fazer uma associação com algo que antigamente existia muito na festa, os que preparavam uma fantasia só para ele e assim desfilavam pelas ruas. Era o bloco do Eu Sozinho. Até agora, a tentativa é, já que a viola está em caco e o barraco caiu, tentar amenizar ao máximo para o grupo, com o grosso na pinimba recaindo para quem já teve seu nome escancarado aos quatro ventos. Mas essa estratégia terá como ter prosseguimento?", questiona Guardião.
Ele mesmo continua. "Vai ser difícil. Não se fala em outra coisa na cidade. Cresce o número de apostas em nomes, o que de fato foi aprendido, o que estaria contido como bomba relógio dentro dos computadores hoje em poder do GAECO, a polícia investigativa hoje tomando conta do caso e por enquanto, soltando tudo em drops, aos poucos. Dentro dessas especulações, dizem que, acertadamente tudo mantido em segredo, silêncio quase total, pois em caso de nomes serem levantados e depois descartados, muito problema, daí, tudo seria feito num mesmo pacote, de uma só vez. Lembro o caso de várias Prefeituras onde quase toda sua Câmara de Vereadores e muitos funcionários públicos ligados à Prefeitura foram afastados, muitos presos e a devassa na cidade se deu pro completa, afetando grandões, graúdos e sabichões. Em Bauru, até o momento, muitos desses até o presente momento escaparam ilesos em casos escabrosos. O maior deles ainda é o do Mensalão da AHB - Associação Hospitalar de Bauru, quando segundo dizem, mandantes escaparam pela tangente. E qual seria o grau de importância a determinar que alguém passa escapar pela tangente sem de fato ter seu nome exposto? São perguntas feitas a todo instante numa Bauru especulando muito, quando muitos estão mais do que apreensivos".
Na fala divulgada do super-herói algo dessa preocupação coletiva sempre existente na cidade, a de que todos somos iguais, mas alguns são menos iguais do que a imensa maioria. Terra de privilégios e negociatas, onde capivaras, os animais estão em vias de serem expulsas de seu habitat, porém, as "capivaras" de muitos são mantidas debaixo do tapete e com chave escondida em lugar incerto e não sabido. "Essa lista com a apuração do GAECO é inquietante, pois pode desmontar isso de alguns até então impolutos, donos da razão absoluta por essas plagas, os tais isentos de lama. Os próximos passos da investigação e em cada novo dia, muitas hipóteses e constatações, sendo a maior delas da impossibilidade de tudo ser gerido e mantido por uma só pessoa, essa mantida no cargo por décadas, sustentada por um grupo político forte, dito como "forças vivas" do lugar. Os bastidores do caso, com quem tem culpa no cartório deve ser dos mais instigantes, com movimentação na penumbra para tentar se livrar do envolvimento. Hoje, se verifica em qualquer festa de Carnaval, o Bloco do Eu Sozinho praticamente não mais existe, tudo é trabalho de grupo, equipe, conjunto e nesse caso, não fugindo à regra, com muita água ainda passando por debaixo dessa ponte, essa intensa movimentação de bastidores só terá fim quando as investigações forem concluídas e tudo levado a público. E que não seja feito desdizendo o que se prenuncia, pois Eu Sozinho já não cola mais e não tem sentido. Esse Carnaval de revelações promete...", encerra seu pronunciamento nosso intrépido e fugaz homem de capa e espada.
Em tempo: Guardião é obra da mente criativa do artista do traço Leandro Gonçalez, unido aos pitacos escrevinhativos deste mafuento HPA.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
CENA BAURUENSE (196)
DE DEZ EM DEZ, CENAS INSÓLITAS DESTA CIDADE, DITA E VISTA COMO "SEM LIMITES"
01. Diante do Teatro Municipal, num vão, espaço reduzido, alguém ali se instalou e fez do lugar sua morada. 02. Recado de final de ano do Barba, o dono do bar junto da feira do Rolo, para aqueles atravancando seu pequeno negócio e o impedindo de conseguir ir pagando suas contas, até de manter o estabelecimento de portas abertas.
03. Um mero detalhe de algo rolando na praça central bauruense, a Rui Barbosa, cheia de nuances e personagens construídos na vivência do seu dia-a-dia.
04. Nelson de Souza, digno representante das ruas bauruenses e dos seus tipos populares, aqui em andanças tempos atrás, ele e sua inseparável bicicleta pela feira dominical.
05. Próximo ao palco do anfiteatro na Escola Estadual Ernesto Monte, Praça das Cerejeiras, piano necessitando de reparos e não mais utilizado. O que terá sido feito dele?
06. Crianças batendo bola debaixo do linhão elétrico da antiga CESP, no Núcleo Residencial Gasparini.
07. Estreita ciclovia na beirada do rio Bauru, para ser utilizada com o máximo de cuidados, pois num leve deslize ou esbarrão de algum veículo, o destino será ser tragado para dentro de suas águas.
08. Famoso hotel na avenida Nações Unidas, Obeid Plaza, reduto hoje de muitos aposentados de origem árabe, residindo em seus quartos, com muito mais comodidade do que manterem casa própria e suas despesas.
09. Trabalho sendo montado interior Museu Ferroviário revivendo gravuras indígenas dos primórdios destes, ressaltando sua importância para história bauruense.
10. Duval, o homem da batata itinerante, a leva para diferentes lugares nesta cidade, trailer pra lá e para cá e nesse momento ele novamente dentro do estádio Alfredo de Castilho nos dias jogos do Noroeste.
EU NO MEIO DE CINCO MIL VERMELHOS Foi na noite de ontem lá pelos lados dos altos da vila Falcão, mais exatamente na vila Pacífico, muito conhecida por ali estar cravado o estádio Alfredo de Castilho, o do time desta aldeia, o centenário Esporte Clube Noroeste, levantado pela força ferroviária que um dia foi incomensurável por essas plagas. Ele ainda move muito os corações vermelhos dos bauruenses e isto ficou mais uma vez comprovado quando mais de cinco mil pessoas ontem lá estiveram para presenciar o derby regional, agora pela série AIII do Paulistão, Noroeste x Marília. No futebol, existe uma rivalidade em curso, mantida até pelo bem do negócio futebol, que pelo que se sabe necessita desse apimentamento para ir tocando o seu barco. No capítulo de ontem deu Noroeste, 1 x 0 sobre o visitante, jogo sem grande arroubos de lado a lado, clima ameno no campo e nas arquibancadas, do jeito que devem ser as coisas no futebol. Ganhou quem mais se apresentou para o jogo e com um gol logo no começo, menos de dez minutos de jogo, no mais, um mundo de oportunidades perdidas, com bola na trave, pênalti desperdiçado e algumas outras saindo raspando os travessões. Emocionante a galera nas arquibancadas, praticamente lotadas, com o maior público dos últimos tempos. E olha que bem no comecinho do jogo armou um temporal assustando a todos, pois o sinal lá de cima é de aguaceiro sem dó, mas o ventinho se instalou e levou tudo para longe, ficando por ali só um arroubo de chuva, para felicidade geral de todos os vermelhinhos presentes. E quem comprou capas, vendidas a R$ 10 reais a unidades, a enrolou e guardou nos bolsos.
Na confusão do prenúncio da chuva, casa cheia, desses dias que o sujeito senta e não pode nem levantar, pois perde o lugar e depois tem que ficar em pé, o negócio foi se aquietar num lugar fixo, tirar poucas fotos e no máximo rever alguns conhecidos antes e no intervalo da contenda. No intervalo, prolongado pouco mais por causa de um refletor que insistiu em dar problema, muita conversa quando se constatou ter sido ontem o dia da alegria dos que ali estiveram para revender alguma coisa, pois as filas eram imensas e pouca coisa sobrou para além do segundo tempo. O senhor do amendoim enroladinho em canudos de papel, torrado ou em forma de paçoca, estava com seu carrinho lacrado antes do intervalo, pois mesmo trazendo mais estoque, tudo se foi. Foi alegria para esses e todos a presenciar a segunda vitória consecutiva, também segunda rodada. Vicente, o sorveteiro um desses, pois circulava, conversador como sempre foi e nas abordagens sua resposta era só uma: "Acabou tudo". O bando de vermelhos noroestinos ontem estiveram em alta consideração, com previsão de ferver o estádio nas próximas apresentações, pois vejo a maioria apostando fichas no trabalho do Luiz Carlos Martins, o escolado técnico, cria da terra, matreiro na arte do futebol interiorano, conseguindo montar um time desses ciente dos caminhos pela frente. Com os pés no chão, a massa vermelha vai se fortalecer e neste ano (toc toc toc), creio o acesso para a AII está despontando como luz no final do túnel. Eu, no meio da balburdia estabelecida e constituída nos dias de jogo, matuto muito sobre isso deste povo se juntar para tanta coisa, festeiro e ativo com suas preferências, quando se transforma num ser inquebrantável, quase indestrutível, mas na hora de lutar por seus direitos, fica manso, aceita tudo. Ah, se esses soubessem da força de que são possuidores! Viva o Noroeste, um vermelho ainda possível e sem contestações pelas ruas desta terra dita e vista como "sem limites"!
EU NO MEIO DE CINCO MIL VERMELHOS Foi na noite de ontem lá pelos lados dos altos da vila Falcão, mais exatamente na vila Pacífico, muito conhecida por ali estar cravado o estádio Alfredo de Castilho, o do time desta aldeia, o centenário Esporte Clube Noroeste, levantado pela força ferroviária que um dia foi incomensurável por essas plagas. Ele ainda move muito os corações vermelhos dos bauruenses e isto ficou mais uma vez comprovado quando mais de cinco mil pessoas ontem lá estiveram para presenciar o derby regional, agora pela série AIII do Paulistão, Noroeste x Marília. No futebol, existe uma rivalidade em curso, mantida até pelo bem do negócio futebol, que pelo que se sabe necessita desse apimentamento para ir tocando o seu barco. No capítulo de ontem deu Noroeste, 1 x 0 sobre o visitante, jogo sem grande arroubos de lado a lado, clima ameno no campo e nas arquibancadas, do jeito que devem ser as coisas no futebol. Ganhou quem mais se apresentou para o jogo e com um gol logo no começo, menos de dez minutos de jogo, no mais, um mundo de oportunidades perdidas, com bola na trave, pênalti desperdiçado e algumas outras saindo raspando os travessões. Emocionante a galera nas arquibancadas, praticamente lotadas, com o maior público dos últimos tempos. E olha que bem no comecinho do jogo armou um temporal assustando a todos, pois o sinal lá de cima é de aguaceiro sem dó, mas o ventinho se instalou e levou tudo para longe, ficando por ali só um arroubo de chuva, para felicidade geral de todos os vermelhinhos presentes. E quem comprou capas, vendidas a R$ 10 reais a unidades, a enrolou e guardou nos bolsos.
Eu, pres. do PT Bauru Cláudio Lago e advogado Gilberto Truijo. |
OBS.: caro Reynaldo Grillo, este texto é dedicado a ti. Ontem vc me pediu um escrito caprichado sobre o jogo do nosso time do coração e muitas fotos. O escrito eu tentei, mas nas fotos fico devendo. Choveu, molhou a câmera, desfoquei os registros, arrumei até um saco plástico para protegê-la e ao final, fui me lembrar de ter esquecido de fazer os devidos e solicitados registros fotográficos. E como trombei com muita gente conhecida, cabeça dura, tive que acabar deixando as fotos pra outro dia. Você também chegará aos 60...
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
COMENTÁRIO QUALQUER (198)
UMA NO CRAVO
DESABAFO DE TRABALHADORA DE “MODERNA” EMPRESA ATUANDO DENTRO DAS NOVAS REGRAS E LEIS TRABALHISTAS Sou um recolhedor de histórias por onde circule. Algumas muito tristes, porém bem representativas desses tempos, cada vez mais doloridos, onde o encanto se foi e o que resta é a dura realidade, uma onde com a chegada desses novos tempos, autoritários e perversos, quem mais sofre são os desvalidos, os dos andares de baixo dessa pirâmide social a ressaltar as imensas diferenças desse cruel e insano sistema onde vivemos.
Estive nessa semana, numa dessas noites em um assentamento rural numa cidade nas redondezas de Bauru, convidado para falar junto de outros sobre as relações do homem e o trabalho, esse novo formato de possíveis formas de vicejando como “modernidade”, porém escravizando mais e mais a pessoa, essa com poucas condições de reagir ou mesmo de buscar algo novo para sua sobrevivência. Falei pouco, ouvi mais e ao final, surpreso, fui rodeado por um grupo de trabalhadores de uma grande empresa numa cidade vizinha de Bauru, indústria de roupas de cama. De uma trabalhadora ouço relato a me dilacerar por dentro. Tento produzir um resgate do que ouvi, ainda emocionado pelo desabafo.
“O que quero contar pro senhor é da situação que a gente vive aqui onde trabalhamos. Ganhamos o salário mínimo, algumas vezes menos, outras mais, depende da produção. Se a gente se entrega ao trabalho sem olhar pros lados, algo incessante, quase sem descanso, chega no objetivo da empresa e o salário passa pouco do mínimo, mas quando o mês tem interrupções, não alcançamos e também somos cobrados, logo querem nos substituir. Vivem com pressão no nosso pescoço, outro dia a supervisora veio me dizer que se não tivesse mais condições de cumprir o objetivo era só dizer a ela que ela me substituiria. Abaixei a cabeça, preciso daquele dinheiro e disse que iria me esforçar muito mais e ela não teria que me chamar a atenção. Gente como eu não tem a quem recorrer, a gente trabalha e trabalha.
Outro dia fui comunicado que um fiscal iria visitar a empresa e não poderia ir trabalhar naquele dia, pois estou há mais de um ano lá com eles, nunca me disseram de registrar e não posso falar nada, pois se disser caio em desgraça, fico mal vista. Espero eles reconhecerem o que faço e proporem o meu registro. Num dia definido me disseram pra ficar em casa, pois o fiscal passaria por lá e não poderia me encontrar. Quando lá estamos, somos levados para lugar isolado, escondido, onde o fiscal não passa. Eles sabem o dia que o fiscal vai passar na firma e nos avisam para ficar em casa. Fiquei, não fui, mas a meta para mim estabelecida de produção continuou a mesma e quando fui perguntar como faria, me informaram que teria que vir no sábado ou mesmo no domingo, pois se não cumprisse teria problemas. Uma outra funcionária, ela já foi demitida, aproveitou a vinda do fiscal e reclamou pra ele da situação dela, conseguiu ir no dia quando ele estava lá e falou da situação de todos. Sabe o que aconteceu? Reclamou, o cara foi embora, ela foi chamada na gerência, demitida e ainda disseram pra ela que o fiscal contou pros donos da empresa ter ele percebido que ela estava querendo mostrar algo que não acontecia, que estava mentindo. O fiscal denunciou ela pros donos. Não temos a quem recorrer. O fiscal tem ligação com eles e não defendem a gente, nós não temos quem nos defenda.
Essa a nossa situação. Ninguém consegue trabalhar dentro de um ambiente desses com alegria, o fazemos todos e todas por obrigação, por pura necessidade. Aqui não existe outra alternativa. Vou trabalhar em que aqui na cidade? Não existe mais emprego no campo e na cidade, só nos dão empregos sem registro em carteira, pagando cada vez menos. A gente antes era registrado, recolhia pra aposentadoria, hoje não conseguimos mais. Lá onde trabalho, metade tem registro e a outra metade não tem. Vivemos sob pressão o tempo todo. Muito medo de ser chamado na gerência e ser comunicado deles estarem sem pedidos no momento, daí não mais vão precisar do serviço da gente, nos comunicam que a partir do dia tal não precisa mais ir e ficamos aguardando um novo chamado, que pode ou não acontecer. E tendo qualquer tipo de reclamação, nunca mais nos chamam. Que futuro a gente tem? O que o senhor imagina que possamos fazer para ao menos voltar a ter o que tínhamos tempos atrás? Eu não conheço o senhor, mas gostei do que falou, dá esperança, mas isso é pouco, pois amanhã ao acordar eu vou lá pro trabalho e vou ralar muito pra conseguir atingir a cota estabelecida e manter esse emprego sem registro, ganhando pouco, mas o que sustenta minha casa”.
Eis a MODERNIDADE hoje tomando conta do país, com empresários cada vez mais insensíveis, desdizendo da Justiça do Trabalho, pois de certo tempo para cá estão tendo toda a cobertura para implantar uma nova modalidade de trabalho, o quase escravo. Um retorno ao passado com o que de pior temos. Eu ali ouvindo isso, rodeado por quatro a cinco pessoas, estremeci todo e tentei balbuciar algo, como denunciar para alguém que possa fazer alguma coisa séria por eles, mas a resposta a mim dada foi lacônica: “Faça isso não, pois se vier um fiscal que resolva e que nos ouça, não teremos nem mais esse emprego. Eu só queria desabafar”.
OBS: Fiz o máximo para dificultar qualquer tentativa de identificação do lugar onde estive, das pessoas e da empresa em referência, para evitar maiores problemas do que esses trabalhadores já possuem. As fotos são meramente ilustrativas e foram gileteadas via internet.
OUTRA NA FERRADURA
'GOLPE DO ENCONTRE O X' EM BAURU E ALGO REPRISADO MUNDO AFORA - SERIAM ATORES OU O QUE? Deu ontem no único jornal impresso bauruense, o Jornal da Cidade matéria sobre blitz policial realizada na Feira do Rolo no último domingo, quando policiais militares cercaram o local por todas os lados e prenderam os que praticavam o tal jogo de azar, também chamado como "Golpe do Encontre o X". Eis o link da matéria do jornal: https://www.jcnet.com.br/…/712083-policia-flagra--golpe-do-…. Eis algo mais da matéria: "...eles vinham com frequência para a cidade e aplicavam o chamado "golpe do X" ou "golpe do papeiro". Trata-se de uma modalidade parecida com o "golpe da tampinha", em que a pessoa é enganada enquanto o jogador movimenta as peças com uma marcação ou bolinha embaixo. (...) Sobre uma mesa, ele manipulava três peças em madeira e enganava visualmente as pessoas que apostavam, conseguindo esconder a peça marcada com um "X", que, se encontrada, renderia premiação em dinheiro. "No lugar do exemplar premiado, ele colocava outra peça sem nenhuma marcação, que escondia nas próprias mãos em movimentos rápidos. O que impedia que os apostadores ganhassem", detalha o delegado".
A notícia me chama a atenção. Explico. Primeiro isso que faço me lembra algo que lia com a devida atenção, artigos memoráveis escritos pelo Moacyr Scliar, creio que em coluna na Folha de SP, quando destrinchava notícias publicadas no jornal, principalmente na Policial, transformando-as em belas e memoráveis crônicas. Ou seja, tudo pode se transformar em registros lúdicos, quando se busca enxergar outras possíveis visões sobre o ocorrido. Tento aqui ao meu modo e jeito fazer o mesmo, com muito menos capacidade e criatividade. Os vejo na feira com frequência e não sabia serem de fora. Não creio que ninguém nessas plagas já não tenha adquirido now roll suficiente para ter que vir alguém de longe praticar o "engana trouxa" na cidade. Sim, considero o joguinho de azar, algo onde só entram gaiatos, aqueles que vislumbram vantagens inauditas com o presenciado. Das duas uma, ou o cara mora em outro planeta e nunca ouviu nem falar no truque de mágica ali mostrado ou quer tirar uma vantagem, entendendo estar diante de algo onde possa ter um lucro. Até as pedras do reino mineral conhecem a coisa e quando presenciam o tal jogo, sabem o que está embutido. Não tem como ninguém ser enganado. Quem joga qualquer jogo de cartas a dinheiro sem conhecer um mínimo do negócio pede para levar uma limpa. Nesse treco a mesma coisa.
Na Feira do Rolo toda vez que tem algo assim eu paro e fico a observar, mais de longe. Qualquer sensato saca o que está em curso. Eu curto ver como são artistas, nada feito sozinho, verdadeiros atores. Um manipula os dadinhos, mistura debaixo da cumbuca e chega um, aposta, ganha e perde, faz cara de feliz, enfia o dinheiro no bolso e sai cantando de galo. Nisso chegam os crendo ser possível seguir o mesmo caminho. Se juntam a outros do grupo e acabam depenados. Difícil não entender que o fizeram de caso pensado. Eu nunca troquei sequer diálogo com esses caras, pois mais ou menos imagino o grau do envolvimento após a demonstração de interesse. Olho de longe, tirei muitas fotos deles, mas as guardo sem mostrá-las, pois sei que o jogo é tratado como crime no Brasil. No caso de serem presos, creio, deveriam levar junto os perdedores, pois seria de bom alvitre tomar conhecimento dos motivos que os levaram a tentar a sorte em algo onde é mais do que sabido, todos perdem. Bem que, para quem os saca fazendo a manipulação, queria ver alguém adentrando o jogo ciente e entrando na pista para um enfrentamento ciente das regras ocultas. Daria uma boa refrega, essa por mim ainda não presenciada.
Lembro de antiga ocorrência aqui mesmo em Bauru, quando um amigo me disse da prisão de grupo, esses todos levados para a delegacia e lá, a primeira coisa que o delegado fez foi colocá-los todos em sua frente e até num tom irônico pedir para que explicassem a ele como se desenvolvia a contenda. Pelo pouco que sei, se recusaram até certo momento, mas para aliviar o flagrante, abriram o jogo. Em 2012 estava em Barcelona - Espanha, na famosa Las Hamblas, local de encontro de gente do mundo todo e por lá tirei algumas fotos, hoje aqui publicadas de um grupo praticando o jogo não numa mesa, mas na calçada, ao lado de onde circulavam tudo e todos. Assuntei, cheirei, fiquei só observando, fotografei e das conversações com populares, eram conhecidos de todos, homens oriundos da antiga Iugoslávia, vivendo desse expediente nas ruas na cidade. Tudo muito igual com o que sempre vi aqui na feira dominical de Bauru e por outras partes do planeta. Não sei se o trato para com esses deve ser a cana dura, pois jogos de azar é o que mais temos, desde bingos, carteados, sinuca e até mesmo esses jogos de roleta viciadas, sorteios com bolinhas numeradas, quando algumas são mais pesadas que outras. Enganar o outro, tirar vantagem, eis o que mais vejo rolando pela aí e assim sendo, por que alguns são permitidos outros não? Enfim, GOLPE mesmo eu entendo como outra coisa, bem mais letal e pernicioso.
terça-feira, 28 de janeiro de 2020
DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (139)
QUANDO TUDO PRECISA SER REGULAMENTADO, EIS O PERIGO À VISTA – CARNAVAL (E MANIFESTAÇÃO) LIVRE PELAS RUAS CADA DIA MAIS VIGIADO
Carnaval, a maior festa popular deste país se aproximando e um algo mais que saiu na imprensa local, via Jornal da Cidade eu repercuto por aqui, com comparações de algo visto pessoalmente em New York USA. Eis o link do JC, matéria publicada em 23/01, “Cultura regulamenta blocos no município – Haverá chamamento de interessados, diz secretário Rick Ferreira em reunião”: https://www.jcnet.com.br/…/711724-prefeitura-realiza-reunia…. No texto saliento esse trecho: “Na ocasião, o Secretário anunciou a regulamentação dos blocos de rua: “é necessário garantir segurança e estrutura básica, mas a Prefeitura tem pouco controle sobres os blocos de rua que são organizados pela internet e mobilizam milhares de pessoas. Por isso, é preciso um regulamento, que está na Secretaria De Negócios Jurídicos para a elaboração de um decreto, que será publicado nos próximos dias, para abertura do chamamento dos interessados em organizar os bloquinhos de rua”.
Vamos aos fatos. Em Bauru existem três blocos de rua saindo fora do recinto do Sambódromo, extrapolando a vigilância e legislação existente para os predispostos a ali desfilar. Antigamente existia um bloco, o das Solteironas, que mesmo enquadrado, era uma espécie de “vai quem quer e como quer”, hoje tudo dentro das normas. Não critico isso, meu texto irá por outra vertente. Sou parte integrante de um desses três blocos, o burlesco, farsesco e algumas vezes carnavalesco Bauru Sem Tomate é MiXto, primando pela irreverência, criatividade e desdizendo dos acontecimentos surreais desta cidade. Sai aos sábados de Carnaval, oitavo ano consecutivo, 12h, concentração praça Rui Barbosa e descida do Calçadão da Batista até a praça Machado de Mello. Precisaria de autorização e regulamentação para fazê-lo? Pelo sim, pelo não, todo ano encaminhamos ofício para a SMC – Secretaria Municipal de Cultura comunicando a saída do bloco e deixando claro não precisar de nenhum dispositivo público, como som, pessoal, etc. Pedimos sim, sempre se possível a presença da corte carnavalesca, seus reis e rainhas no furdunço. Creio não ser necessário nada além disto. O alvo da dita regulamentação tem nome e sobrenome, não se trata do bloco que sai do BB Batatas com destino à Getúlio Vargas, lado nobre da cidade e sim o outro, o dito “Bloquinho”, esse arregimentando a maior concentração de gente nas ruas de Bauru no período. Esse já desce seguindo orientação e preceitos ditados pela Prefeitura, pois são muitas ruas, muita gente e uma muvuca intensa e carnavalesca se instalando nas ruas. O grande perigo é que, regulamentando e ditadas regras mais restritivas, se ele continuará saindo? Hoje o faz normalmente, ainda arejos e lampejos ditos democráticos, mas talvez não mais ocorra se formos tomados por onda conservadora. Muito cuidado, é o que se pede, na formatação dessa regulamentação, para não abrir brechas para algo apunhalando a festa no futuro.
Faço comparações com algo presenciado por este mafuento em New York no meio deste mês, quando participei de “Marcha das Mulheres”, pelas ruas daquela cidade. O intuito eram vários, desde o protesto das mulheres, o fato de seus participantes serem contrários ao presidente Trump e a entrada dos EUA em mais um guerra. Foi tudo ótimo, porém, tudo dentro dos limites e me informo por lá, nada mais ocorre sem essa intervenção pública. Vamos aos fatos. Toda e qualquer manifestação nas ruas é comunicada previamente e todo o aparato legal é disponibilizado. Chegando ao local vi tudo gradeado, cercas no entorno das ruas e aparato policial praticando isolando quarteirões. Em cada quadra o povo ia chegando e ali no cercado, com seus cartazes exercitavam o que ali o trouxeram para as ruas. Nada fora disto. Certo isso? Em partes. Lá tudo é muito bem compactado. Cada quarteirão só foi liberado para se juntar ao outro num sinal policial, quando a marcha começou, com começo, meio e fim bem definido. Impossível tentar sair pelas laterais, vicinais ou seja lá outras possibilidades. Gritamos, protestamos, tudo dentro da ordem e dos bons costumes, depois cada um foi para suas casas, com incidentes fora do permitido e cada vez mais impossibilitados.
Fiquei a pensar em como fazer, por exemplo, REVOLUÇÃO, pedindo permissão para o poder público e contando com força policial de proteção quando das manifestações. Uma cidade deve mesmo ter suas regras, mas tudo também deve ter um limite. Está cada vez mais difícil “mijar fora do penico”, seja lá ou aqui. O perigo é essa condição sine qua non de tudo passar pelo crivo da ordem estabelecida e até mesmo quando a proposta é algo contra ela, ter que se a ela se dirigir para obter autorização e acompanhamento. Levando isso para o Carnaval e outros atos já ocorrendo em Bauru sob essa ótica, em algumas concordância, noutras nem tanto. A liberdade de um bloco sair pelas ruas em estado de festa e de forma libertária não pode ser reduzida a artigos regulamentados somente pela ordem estabelecida, pois cerceado perde, no mínimo, o sentido. Que essa dita “regulamentação” ocorrendo em Bauru não seja restritiva, punitiva, cerceando a liberdade de ir e vir, restringindo o juris esperniendi, algo já em discussão de sua continuidade num país cada vez mais obscuro. Não creio que, o secretário de Cultura e seu staff pensem a festa de forma a fechar porteiras. Os vejo propondo a festa, esbravejando contra muitos dragões para realiza-la e que também nesse quesito, que deixem fluir a espontaneidade, a verve rueira que essa festa sempre teve e nunca poderá vê-la perdida, pois se assim ocorrer, ela ocorrerá triste, contida, macambuzia e sem sentido. Seu fim.
O bloco do Tomate é constituído de seres desregulamentados, tenha lá isso o sentido que possa ser dado, então, carecemos de muita vigilância e controle. Já basta o que estamos submetidos no dia a dia. Temos por lema, “a gente faz festa mas tá puto da vida”, daí esse negócio de corda no nosso entorno é o mesmo que nos enforcar. Vigiado sempre fomos, agora que não passe disso. A gente até comunica ao poder público do nosso encontro anual, mas estamos observando que, num futuro bem próximo, talvez exijam algo mais, como já acontece no Rio de Janeiro, governo evangélico neopentescotal, quando muitos blocos para sair, terão que ter a presença de médicos por público em metro quadrado, inviabilizando a ida às ruas. Regulamentação não pode ser o prenúncio de controle absoluto sobre essas manifestações de rua, pois do contrário o modelo norte-americano será o predominante. O Tomate esperneia e diz a que veio.
Em tempo: As fotos são da manifestação novaiorquina, essa contida e limitada ao permitido e vigiado.
A VELHA KLAN E A BANDEIRA DO "CONTA RODRIGO" - E POR QUE ELES MESMO NÃO FALAM? Ouço a rádio Jovem Pan Bauru, ops, digo, Velha Klan ontem e na manhã de hoje, quando insistem, Alexandre Pittoli e Koffani apregoam em alto e bom som que o ex-prefeito Rodrigo Agostinho deveria dizer quem foi que o pressionou para quando assumiu seus mandatos manter no cargo o presidente da Cohab, Gasparini Junior. Dizem mais, querendo se mostrar importantões, um alega ter presenciado a ligação telefônica de um dos lados do diálogo travado com esse importantão da cidade e o prefeito, quando este impôs ao prefeito a continuidade do presidente no cargo e o outro disse estar do outro lado da questão. Um com o prefeito, outro com o pressionador. Ou seja, ambos foram testemunhas oculares da História, se omitem de dizer o nome do cara e apertam o ex-prefeito para que esse o faça junto às autoridades de plantão.
Desde aqui do meu canto mafuento, lanço um balão de ensaio para ver os dois sabichões do microfone abrindo o bico, dizendo o que sabem, para o bem desta cidade, que ouço dizer defendem tanto. Não o fazendo, os coloco no rol dos piores, muito mais de tudo o que denunciam. Jornalismo que sabe dos fatos e esconde o jogo vale nada, ou pior, serve a interesses. Lanço a campanha, CONTA PITTOLI E KOFFANI!
segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
UM LUGAR POR AÍ (132)
MÁGICA E ENCANTADORA TARDE EM TIBIRIÇÁ
O distrito de Tibiriçá é um lugar mágico. Não existe vez que pra lá me dirijo em busca de algo e acabo encontrando outros, muitos algos a mais, todos envolventes, torando a estada no distrito distante 15 km de Bauru algo mais do que aprazível. Desta feita, tarde de domingo, eu e Ana Bia saímos de casa por volta das 16h e pra lá rumamos com destino a casa dos Baté, residência da matriarca Irene. A quadra estava fechada, cavaletes diziam que ali o samba iria tomar o quarteirão. Bom prenúncio. Nos achegamos e além do furdunço já instalado, barraca de bebida já funcionando, sopa já no fogo lá nos fundos, foram logo me informando que a Dulce, subprefeita do distrito estava junto do pessoal da SMC - Secretaria Municipal de Cultural, lá pelos lados da estação férrea e lá teria movimentação e agitos culturais.
A estação estava diferente e o prédio, que por muito tempo permaneceu num estado de abandono estava todo recuperado e com suas portas recolocadas, jardim todo repaginado, até com parquinho de exercícios físicos já ali disponibilizado pra população. Um visual de encher os olhos e junto deles o pessoal da Cultura em plena gestação de algo maravilhoso. Presenciei de forma teatralizada algo da história dessas plagas, desde seus primórdios com os índios, a ferrovia, o café, sob o enfoque o auge e do declínio. Um casal de atores encantadores e encantantes. Vou naquela região desde décadas e, confesso, nunca tinha reparado num casarão antigo ali localizado, fachada da mesma data da estação. Assunto com Dulce e ela me conta ali ter sido o local do primeiro cartório do local (hoje não existe mais nenhum por lá). Depois assunto com Sergio Losnak e descobrimos juntos ter ali ocorrido muitas décadas atrás o famoso incêndio de cartório. Um que legalizou terras de fazendeiros e tornou o lugar latifúndio de uns poucos. O incêndio esquentou de duas formas o lugarejo.
Na esquina de chegada da estação, no lugar de uma antiga venda, comércio fechado desde décadas, tudo recuperado e ali cedido para o bloco carnavalesco Estrela do Samba. Tudo até então era guardado num pequeno barracão nos fundos da casa da Dulce e agora tem um lugar pra chamar de seu. Com pintura colorida e um artefato/arranjo cultural montado em tijolos na calçada, a cara do lugar é outra e na porta de entrada da praça, tudo em novo formato, preservando o encanto existe na região. Do evento, a maior concentração de gente da Cultura, todos ali esparramados no gramado e além do trabalho, desfrutando do lugar. Foi uma tarde onde a conjunção entre o ofício se juntou ao deleite e tudo se deu de forma intensa, maravilhosa e perfeita. Ao final da apresentação teatral, o pessoal do bloco chegou e a bateria comandada pelo Markinhos Pires se fez presente, encantou a todos. Destaco um jovem na percussão, surdo e totalmente integrado no ritmo, sem deixar o tom cair. Tocam por osmose. Divinal presenciar o samba naquele espaço.
Dulce Cosmo fez uso do microfone na qualidade de administradora do lugar e Fábio Valério o fez como representante da Prefeitura. Falas integradas e coesas, felizes por estarem ali no momento onde a estação estava renascendo, vicejando novamente, linda e imponente, como dificilmente alguns acreditavam ser possível. Dulce em especial, pois o sonho do irmão, Zé Roberto, sub-prefeito do distrito até seu falecimento, antes de ver tudo concretizado estava ali materializado. Comento algo sobre as portas da estação, pois merecedoras de destaque. A estação foi objeto de emendas parlamentares para seu restauro, sendo a primeira delas do deputado federal Vicentinho PT, mais de dez anos atrás, ainda administração de Tuga Angerami. Os anos se passaram e na entrega ocorrida, a nítida percepção de tudo ter sido possível graças aos recursos e abnegação da equipe comandada pelo Orlando Alves. Imaginei dos recursos juntados para a recuperação das portas e fico sabendo tudo ter sido feito na oficina de marcenaria e afins montada na Estação da NOB, com reeducandos e outros profissionais, com sobra de madeira utilizada como assoalhos em outras instalações. Na Cultura, eu sempre soube, existe um pessoal abnegado, fazendo coisas que a gente duvida poderia ser feito nas circunstâncias propiciadas.
Junto tudo o que vi, presenciei e pude ir conversando, assuntando pessoalmente, junto de outros amigos ali presentes e percebo o quanto é salutar botar o bloco na rua, ir ver in loco essas transformações possíveis e impossíveis em curso em determinados lugares dentro da administração pública municipal. Eu nunca vivi só de críticas, mesmo a exercitando com afinco, também nunca me esquivando quando se faz necessário o justo elogio. Para culminar com o teatro, o samba, a estação e a praça, enfim, o momento transpirando bons fluidos, eis que na curva da esquina surge um trem, um desses de trabalho nas linhas, passa pelo local, puxa seu apito, devolve e envolve tudo e todos com aquele outro velho sonho, o de ter até ali levado o passeio férreo do projeto Ferrovia para Todos com a imponente Maria Fumaça. Todos ali presentes saíram do local em estaço de graça, pois a tarde ali propiciada foi algo único dentre tudo o que acontecia em Bauru no dia de domingo. Tibiriçá não é só lúdica, mas tem uma luz mais que própria das mais intensas. Eu me recarrego frequentando o lugar.
A REALIDADE DA VIDA NOS TEMPOS BOLSONARIANOS
A REALIDADE DA VIDA NOS TEMPOS BOLSONARIANOS
"NO SEU TEMPO O TRABALHADOR ERA REGISTRADO, NÉ!", ME DISSE O JOVEM VIZINHO EM ESTADO DE QUASE DESILUSÃO
Um dos vizinhos lá do Mafuá, cercanias das barrancas do rio Bauru, entre a Disbauto e o CIPS é um jovem oriundo de Bariri e dividindo uma modesta residência de fundos, cada qual arcando com metade do aluguel. Esse vio recentemente para Bauru em busca da realização do seu sonho, o de viver de música. Tem uma pick-up furgão da Fiat, toda adesivada com sua foto junto do violão e seus fones de contato bem expostos. Conseguiu algum trabalho na cidade tocando o que sabe e gosta, sertanejo universitário. Cava apresentações pelos quatro cantos da cidade, desde canjas para se tornar mais conhecido, como as manjadas por couvert, onde ganha somente sobre as pessoas que comparecem ao local.
Dias atrás estava desolado, buscando forças para conseguir na lida. Ouvi seu desabafo e tentei lhe dizer algo de como éramos e no que este país se transformou. Triste ouvir ter cantado em casas por couvert, valor de R$ 4 reais, para público de doze pessoas. Foi o que ganhou naquela noite e em outras, me diz, a paga pelo show nos bares gira para ele, desconhecido e em busca de reconhecimento, algo em torno de R$ 100 a R$ 150 por noite. E elas não são tantas, talvez quatro, cinco no máximo na semana, tendo também os deslocamentos quando essas ocorrem em cidades da região. Ganha para pagar o aluguel e comer, nada mais, seu lamento.
Diante do momento nada auspicioso, tentou ir em busca de empregos. Sem qualificação definida, segundo grau concluído, tentou se colocar como vendedor em dois segmentos, consórcio e produtos de beleza. Em ambos, preencheu ficha, foi entrevistado, cumpriu todos os requisitos pedidos e quando chegou a hora de ir a campo, eis a surpresa, em nenhum mais existia o registro em carteira. Ele só ganharia comissão sobre as vendas realizadas, ou seja, poderia sair por aí, gastar o que não tem, investir em algo pelo qual o retorno, até por desconhecer ambas atividades, seria muito incerto. Não quis lhe desanimar, mas disse que o momento é difícil e, para alguém comprar um consórcio, precisa estar mesmo muito dele necessitando, ou seja, tempos nada fáceis. Conclui comparando as relações trabalhistas do atual momento, quando a Justiça do Trabalho está numa triste encruzilhada, com trabalhador perdendo a maioria dos seus direitos, o que não ocorria tempos atrás.
"Essa forma de tratar o trabalhador, não lhe dando garantia nenhuma é algo inerente aos novos tempos, escrachado neoliberalismo nos costados do pobre, chamado por seus próceres de modernidade. Nem os que trabalham com Uber, nem esses com caixas nos costados, cortando a cidade possuem nenhum vínculo trabalhista com seu empregador. Entende isso como modernidade?", disse. Esse vizinho, desde já está sentindo na pele o que vem a ser a tal modernidade pros lados de quem busca colocação no mercado de trabalho. Ele encerra a conversa com uma obervação comparativa das mais cruéis dentro do atual momento, quando o fundo do poço se aproxima a largos passos: "No seu tempo o trabalhador era registrado, né!". É...
OBS: Texto ilustrado por charges dos amigos, o carioca Carlos Latuff e o lençoense Décio de Souza.
Um dos vizinhos lá do Mafuá, cercanias das barrancas do rio Bauru, entre a Disbauto e o CIPS é um jovem oriundo de Bariri e dividindo uma modesta residência de fundos, cada qual arcando com metade do aluguel. Esse vio recentemente para Bauru em busca da realização do seu sonho, o de viver de música. Tem uma pick-up furgão da Fiat, toda adesivada com sua foto junto do violão e seus fones de contato bem expostos. Conseguiu algum trabalho na cidade tocando o que sabe e gosta, sertanejo universitário. Cava apresentações pelos quatro cantos da cidade, desde canjas para se tornar mais conhecido, como as manjadas por couvert, onde ganha somente sobre as pessoas que comparecem ao local.
Dias atrás estava desolado, buscando forças para conseguir na lida. Ouvi seu desabafo e tentei lhe dizer algo de como éramos e no que este país se transformou. Triste ouvir ter cantado em casas por couvert, valor de R$ 4 reais, para público de doze pessoas. Foi o que ganhou naquela noite e em outras, me diz, a paga pelo show nos bares gira para ele, desconhecido e em busca de reconhecimento, algo em torno de R$ 100 a R$ 150 por noite. E elas não são tantas, talvez quatro, cinco no máximo na semana, tendo também os deslocamentos quando essas ocorrem em cidades da região. Ganha para pagar o aluguel e comer, nada mais, seu lamento.
Diante do momento nada auspicioso, tentou ir em busca de empregos. Sem qualificação definida, segundo grau concluído, tentou se colocar como vendedor em dois segmentos, consórcio e produtos de beleza. Em ambos, preencheu ficha, foi entrevistado, cumpriu todos os requisitos pedidos e quando chegou a hora de ir a campo, eis a surpresa, em nenhum mais existia o registro em carteira. Ele só ganharia comissão sobre as vendas realizadas, ou seja, poderia sair por aí, gastar o que não tem, investir em algo pelo qual o retorno, até por desconhecer ambas atividades, seria muito incerto. Não quis lhe desanimar, mas disse que o momento é difícil e, para alguém comprar um consórcio, precisa estar mesmo muito dele necessitando, ou seja, tempos nada fáceis. Conclui comparando as relações trabalhistas do atual momento, quando a Justiça do Trabalho está numa triste encruzilhada, com trabalhador perdendo a maioria dos seus direitos, o que não ocorria tempos atrás.
"Essa forma de tratar o trabalhador, não lhe dando garantia nenhuma é algo inerente aos novos tempos, escrachado neoliberalismo nos costados do pobre, chamado por seus próceres de modernidade. Nem os que trabalham com Uber, nem esses com caixas nos costados, cortando a cidade possuem nenhum vínculo trabalhista com seu empregador. Entende isso como modernidade?", disse. Esse vizinho, desde já está sentindo na pele o que vem a ser a tal modernidade pros lados de quem busca colocação no mercado de trabalho. Ele encerra a conversa com uma obervação comparativa das mais cruéis dentro do atual momento, quando o fundo do poço se aproxima a largos passos: "No seu tempo o trabalhador era registrado, né!". É...
OBS: Texto ilustrado por charges dos amigos, o carioca Carlos Latuff e o lençoense Décio de Souza.
domingo, 26 de janeiro de 2020
FRASES DE LIVRO LIDO (148)
SNOWDEN, LIVRO ME CAINDO NAS MÃOS POUCOS DIAS ANTES DE EMBARCAR PARA OS STATES – ESCREVO DELE SÓ DEPOIS DO RETORNO
Alguns livros me caem nas mãos por formas muito inusitadas. Este, “SNOWDEN – UM HERÓI DO NOSSO TEMPO” (MARTINS Fontes Editora SP, 2015, 224 págs), do cartunista norte-americano Ted Rall me chegou quando abri a geladeira de livros gratuitos da igreja do padre Beto, a Humanidade Livre. Já pesquei muita coisa mais que boa por lá, esse um achado. Trouxe na hora para meu acervo. Estava a poucos dias de conhecer os EUA, coisa de uns 20 dias e com a leitura aquele algo mais faltando para concluir de vez sobre o que fato é e encontraria no país visitado. Li quase numa sentada e acabei relendo por puro deleite. Um amigo próximo, ciente de como se deu a minha entrevista para a visto de entrada, pede para não fazer nenhuma citação dele nos meus escritos antes da viagem, para evitar problemas. Não sei se isso já é demasiada mania de perseguição, mas segui seu conselho, ainda mais porque o conteúdo diz muito disso de nos informar sobre o que de fato se passa nas entranhas deste país que se diz o lugar das liberdades, mas na verdade aplaca suas mais simples manifestações. Trata-se da primeira biografia gráfica de Edward Snowden, um quase herói do nosso tempo. O cartunista norte-americano Ted Rall conta a história do ex-técnico da Agência de Segurança dos Estados Unidos (NSA), que revelou ao mundo métodos ilegais de escuta e vigilância de americanos e de cidadãos de todo o mundo. Snowden é um thriller, também um perfil de coragem e civismo e ainda uma meditação sobre o equilíbrio sutil entre privacidade e segurança que domina a esfera pública na Era da Informação. Quem quer de fato conhecer algo mais das entranhas do Grande Irmão do Norte precisa conhecer a fundo a história de gente a resistir lá dentro, ou mesmo dos que ousaram denunciar o que fato lá ocorre. No final, na curta biografia do autor um exemplo do que escrevo, quando informam o fato de Ted estar sob vigilância por parte do Departamento de Polícia de Nova York e pelo fato de publicações e revelações do livro. Nas frases recolhidas com a leitura esse algo mais:
- “Graças a um jovem chamado Edward Snowden sabemos que o governo dos EUA gastou centenas de bilhões de dólares dos impostos dos americanos para construir a rede de vigilância mais sofisticada, abrangente e invasiva já concebida... para nos vigiar”.
- “o que é mais importante: os americanos descobriram que “seu” governo estava tratando como súditos de um estado policial autoritário, não como cidadãos de uma sociedade livre. Os documentos descrevem um governo que intercepta e armazena nossas comunicações e invadem arquivos do computador de todos – porque ele não distingue entre cidadãos e potenciais inimigos do Estado”.
- “Em 1984 de Orwell, a Teletela nunca podia ser desligada. A NSA tornou real aquela distopia. A agência pode usar seu smartphone para rastrear seus movimentos e escutar suas conversas em casa, mesmo que seu celular esteja desligado. Nome do programa: Captivated Audience. (...) A engenhosidade da NSA não tem limites. Os aparelhos Smart TV, a nova geração de televisores conectados à internet para permitir streaming e navegação na web, dispõem de câmeras que a NSA pode usar para transformá-los numa Teletela também vigiando e gravando todos os seus movimentos”.
- “Se eu quiser ver seus e-mails ou os registros telefônicos da sua muçher, só preciso de sistemas de interceptação. Vou pegar seus e-mails, suas senhas, registros telefônicos, cartões de crédito. Não quero viver numa sociedade que faz esse tipo de coisa”.
- “Um incidente em 2008 fez com que ele reavaliasse pronfundamente a CIA e o papel dos Estados Unidos no mundo. Agentes baseados em Genebra chategearam um banqueiro suíço incentivando-o a beber e depois dirigir embriagado até sua casa, fazendo então com que a polícia local o prendesse. É claro que a CIA o livrou de problemas com a Justiça, mas a um preço: dados financeiros secretos que ela procurava obter. (...) Grande parte do que vi em Genebra realmente me desiludiu quanto ao modo como meu governo funciona e qual o impacto no mundo. Percebi que fazia parte de algo que era muito mais nocivo do que benéfico”.
- “Cada momento que tinha sem ninguém olhando, Snowden copiava arquivos. Ele enchia um pen drive atrás do outro. Mais tarde ele foi visto viajando com quatro lap tops – mas esses eram para administrar comunicações seguras. Era provável que os documentos da NSA estivessem armazenados nos pen drives. Levou quatro semanas para baixar os arquivos. Quando terminou, entrou com um pedido de licença médica”. - “Os indivíduos tem deveres internacionais que transcendem as obrigações nacionais de obediência. Fiz o que acreditava ser certo e comecei uma campanha para corrigir esses males. Não agi para enriquecer. Em vez disso, levei o que sabia ao conhecimento público, para que o que afeta a nós todos possa ser debatido por todos às claras, e pedi justiça ao mundo”.
- “Existe também o problema do controle do Estado. Como é possível alguém se sentir seguro sabendo que o Governo – qualquer Governo, até mesmo um Governo relativamente benévolo (por ora) – sabe tudo a seu respeito? A História demonstra que, mais cedo ou mais tarde, autoridades e instituições que sabem tudo sobre seus cidadãos usam esse conhecimento para controla-los”.
- “O posicionamento de uma pessoa quanto a Snowden costuma estar associado ao seu nível de confiança no governo. Se você encara o governo dos EUA como uma instituição com falhas, que emprega patriotas que tentam dar o melhor de si para manter o país forte e a salvo, é provável que acredite nos políticos quando eles dizem que não abusam do poder, que os alvos de sua vigilância são todos terroristas. Se, por outro lado, você considera os EUA um império militaresco, decidido a conquistar a maior parte do mundo e a dominar o resto, definido por uma longa história de genocídio, racismo sistêmico e uma implacável repressão a vozes discordantes, nesse caso é provável que você ache que não se pode confiar no governo”.
- “Precisamos mais de leis que limitem os poderes dos nossos líderes do que de leis que limitem nossos direitos”.
Hoje, Snowden continua sendo o cibercrimonso (sic) mais procurado do mundo, ou seja, os EUA não perdoam os que delatam seus atos, mesmo sendo esses invasivos e criminosos. Prefiro afirmar ser ele, algo como um herói, mesmo não gostando da titulação como empregada hoje em dia. Prefiro ficar com a observação de um famoso personagem da vida norte-americana, Noam Chomsky e assim encerro meu relato sobre algo permeando nossas vidas: “O livro é um relato dramático, evocativo, sensível e muito acessível de uma das mais importantes histórias do século”.
GENTE DE MINHA ALDEIA
1.) SEU JUSTINO E O MARAVILHAMENTO DOS REENCONTROS DOMINICAIS NA FEIRA DA GUSTAVO
Seu Justino fez de tudo nessa vida, desde ser o piloto de uma lambreta pelas ruas bauruenses, algo do qual guarda imensa recordação, mas com a idade só avançando a filha lhe proibiu de continuar se arriscando por aí, daí hoje conseguiu matar saudade da feira, quando lhe trazem até as beiradas da mesma, ali na Gustavo Maciel e daí ele deslancha para o lado de dentro, só reencontrando pessoas e lugares por ele frequentados uma vida inteira. Me disse que o violino ele não abandonou e não o fará enquanto existir forças. Rindo disse que o podem para "tocar até hoje festas, como aniversários e até em velórios, quando o o defunto está lá sem poder se manifestar e eu prestando uma homenagem para ele". Foi também um nato consertador a domicílio de objetos domésticos, quando acionava sua lambreta, fixava a ela sua bolsa de trecos indispensáveis e ia na residência das pessoas, levando a solução para o problema, como trazendo consigo a simpatia de ter o reparo feito a preços módicos, como ter o papo prolongado até quando o dono da casa o avisava que já tinha passado da hora. Outra recordação dele e escrevi disso num velho texto no Mafuá foi sobre seu celular (hoje ele não usa mais esses aparelhos e se localiza pelo que conhece a cidade), todo decorado por ele, cheio de rococós, verdadeira peça de museu. Ou seja, seu Justino é um eterno personagem das ruas bauruenses e vê-lo inteiro, na ponta dos cascos, conversador e tinindo de saúde é mesmo de um prazer mais que inenarrável. Eu sou um trombador por natureza e hoje na feira podia ter parado pelo menos uns dez, mas na correria escolhi um e com ele presto homenagem a esses que, mesmo com a passagem do tempo, fazem de tudo e mais um pouco para continuarem em exposição, sendo, fazendo e acontecendo. As nossas ruas só são ricas, cheias de vitalidade por causa dessas valorosas pessoas, todas convergindo para um dos espaços democráticos destas plagas. Com esse reencontro fica decretado meu retorno oficial para as ruas bauruenses após quase um mês de ausência.
Eis o link do que já escrevi sobre esse Justino, inquebrantável personagem desta aldeia bauruense: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=Justino.
2.) DANADO DO LULINHA AINDA NO HOSPITAL, MAS LOGO MAIS RECUPERADO
Escapuli mais cedo hoje da feira dominical na Gustavo, o espaço mais democrático desta aldeia, mas o motivo era mais do que justificável. Eu me juntei a outro tomateiro e fomos visitar o amigo Agnaldo Lulinha Silva, internado no Hospital de Base, o grandalhão mais velho em funcionamento na cidade, ali na Duque com Monsenhor. Lulinha, como já é sabido sofreu um acidente no sábado retrasado quando um veículo atravessou a preferencial e o ejetou ao alto, ele caindo sobre o mesmo e batendo a cabeça no chão, quando seu capacete voou longe. O danado não tem um hematoma no corpo todo, mas bateu a cabeça e isso é fatal para motociclistas. Foram três dias no corredor do PS, quando conseguiu vaga após intervenção da Justiça, depois UTI por mais três dias e agora no quarto, no restabelecimento do corpo, esse maravilhamento da regeneração possível com o passar do tempo. Ele está bem, quadro estável, lá deitadão e recebendo visitas do dia todo. Olhou para mim e Oscar e perguntou que dia o bloco do Tomate desce o Calçadão e quando lhe disse ser dia 24/2, sábado de Carnaval, contou nos dedos e disse que até lá estará bom e afinado, perfilado para o furdunço. Ele é um touro, franca recuperação e desses amigos que a gente faz questão de permanecer junto pro resto da vida. Ele é meu sindicalista de plantão, assim como meu consultor para assuntos umbandistas e sobre temática de clube de motociclistas, sendo esses três o objeto da movimentação de sua vida. Eu e Oscar Fernandes da Cunha voltamos de lá contentes, pois o danado escapou e em breve estará nas ruas e lutas fazendo o que gosta e o move. Ele não quis tirar uma foto em trajes de cueca no quarto, preferindo fazê-lo outro dia, quando mais apresentável. Um gentleman.
Seu Justino fez de tudo nessa vida, desde ser o piloto de uma lambreta pelas ruas bauruenses, algo do qual guarda imensa recordação, mas com a idade só avançando a filha lhe proibiu de continuar se arriscando por aí, daí hoje conseguiu matar saudade da feira, quando lhe trazem até as beiradas da mesma, ali na Gustavo Maciel e daí ele deslancha para o lado de dentro, só reencontrando pessoas e lugares por ele frequentados uma vida inteira. Me disse que o violino ele não abandonou e não o fará enquanto existir forças. Rindo disse que o podem para "tocar até hoje festas, como aniversários e até em velórios, quando o o defunto está lá sem poder se manifestar e eu prestando uma homenagem para ele". Foi também um nato consertador a domicílio de objetos domésticos, quando acionava sua lambreta, fixava a ela sua bolsa de trecos indispensáveis e ia na residência das pessoas, levando a solução para o problema, como trazendo consigo a simpatia de ter o reparo feito a preços módicos, como ter o papo prolongado até quando o dono da casa o avisava que já tinha passado da hora. Outra recordação dele e escrevi disso num velho texto no Mafuá foi sobre seu celular (hoje ele não usa mais esses aparelhos e se localiza pelo que conhece a cidade), todo decorado por ele, cheio de rococós, verdadeira peça de museu. Ou seja, seu Justino é um eterno personagem das ruas bauruenses e vê-lo inteiro, na ponta dos cascos, conversador e tinindo de saúde é mesmo de um prazer mais que inenarrável. Eu sou um trombador por natureza e hoje na feira podia ter parado pelo menos uns dez, mas na correria escolhi um e com ele presto homenagem a esses que, mesmo com a passagem do tempo, fazem de tudo e mais um pouco para continuarem em exposição, sendo, fazendo e acontecendo. As nossas ruas só são ricas, cheias de vitalidade por causa dessas valorosas pessoas, todas convergindo para um dos espaços democráticos destas plagas. Com esse reencontro fica decretado meu retorno oficial para as ruas bauruenses após quase um mês de ausência.
Eis o link do que já escrevi sobre esse Justino, inquebrantável personagem desta aldeia bauruense: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=Justino.
2.) DANADO DO LULINHA AINDA NO HOSPITAL, MAS LOGO MAIS RECUPERADO
Escapuli mais cedo hoje da feira dominical na Gustavo, o espaço mais democrático desta aldeia, mas o motivo era mais do que justificável. Eu me juntei a outro tomateiro e fomos visitar o amigo Agnaldo Lulinha Silva, internado no Hospital de Base, o grandalhão mais velho em funcionamento na cidade, ali na Duque com Monsenhor. Lulinha, como já é sabido sofreu um acidente no sábado retrasado quando um veículo atravessou a preferencial e o ejetou ao alto, ele caindo sobre o mesmo e batendo a cabeça no chão, quando seu capacete voou longe. O danado não tem um hematoma no corpo todo, mas bateu a cabeça e isso é fatal para motociclistas. Foram três dias no corredor do PS, quando conseguiu vaga após intervenção da Justiça, depois UTI por mais três dias e agora no quarto, no restabelecimento do corpo, esse maravilhamento da regeneração possível com o passar do tempo. Ele está bem, quadro estável, lá deitadão e recebendo visitas do dia todo. Olhou para mim e Oscar e perguntou que dia o bloco do Tomate desce o Calçadão e quando lhe disse ser dia 24/2, sábado de Carnaval, contou nos dedos e disse que até lá estará bom e afinado, perfilado para o furdunço. Ele é um touro, franca recuperação e desses amigos que a gente faz questão de permanecer junto pro resto da vida. Ele é meu sindicalista de plantão, assim como meu consultor para assuntos umbandistas e sobre temática de clube de motociclistas, sendo esses três o objeto da movimentação de sua vida. Eu e Oscar Fernandes da Cunha voltamos de lá contentes, pois o danado escapou e em breve estará nas ruas e lutas fazendo o que gosta e o move. Ele não quis tirar uma foto em trajes de cueca no quarto, preferindo fazê-lo outro dia, quando mais apresentável. Um gentleman.
VIVA LULINHA!
sábado, 25 de janeiro de 2020
O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (121)
MARINGONI NO BAR DO GENARO, CACHAÇA COM POLÍTICA - REPERCUSSÕES
- “Evento do balaco em Bauru - Meus camaradas Antonio Pedroso Junior e Fabricio Genaro criaram o "Cachaça com política", série de conversas ao ar livre sobre temas variados. O teatro da batalha é o Bar do Genaro, simpático estabelecimento de bairro que Fabrício - ex-líder dos trabalhadores ambulantes e ex-assessor parlamentar - pilota há um ano. Nesta sexta (24) fui falar sobre os rumos do país para mais de 50 amigos velhos e novos. Noite agradabilíssima na minha cidade do coração, como diziam os locutores de antigamente. Meu agradecimento aos que lá compareceram é infinito”, Gilberto Maringoni.
- “O Bar do Genaro realizou nesta sexta-feira (24) o ‘’Cachaça com Política’’, evento que nasceu da necessidade de se discutir política com a seriedade que ela exige, mas, com a descontração que um bar oferece e a estreia não podia ser melhor, contou com a presença do professor de relações internacionais, Gilberto Maringoni a quem agradeço imensamente por aceitar nosso convite. Em breve estaremos realizando uma nova edição. Fiquem ligados”, Fabrício Genaro.
- “O professor Gilberto Maringoni inaugurou o primeiro “Cachaça com Política”, promovido pelo Bar do Genaro. Muita gente nova e das antigas acompanharama a brilhante anáise da conjuntura política brasileira e algumas ações para contrapor o desmonte do Estado e outros estragos que o governo bozo vem promovendo, foram discutidas depois para este ano, Pedro Romualdo.
- "Que República é essa? O jornalista bauruense e professor da UFABC Gilberto Maringoni esteve ontem no Bar do Genaro para a primeira edição do "Cachaça com Política". Ele fez uma análise do governo Bolsonaro e conduziu um debate sobre as alternativas para a esquerda brasileira. O repórter Lucas Mendes do Jornal Dois acompanhou a conversa e semana que vem vamos publicar o vídeo completo. Em tempos de avanço da extrema direita, é preciso incentivar momentos como esse, de encontros para aprendizado e organização política”, Jornal Dois.
- "Se existe a tal da Frente Ampla contra tudo o que está em curso, ela se materializou na noite de ontem em Bauru diante da vinda de Gilberto Maringoni ao Bar do Genaro. Se ela foi possível, por instantes, como ressaltou o palestrante para destituir o nazista na Cultura, unindo de tudo um pouco, o mesmo ocorreu na noite de sexta em Bauru, quando ali reunidos, representantes de variados segmentos da esquerda bauruense, alguns antagônicos no atacado, mas como se viu não no varejo, enfim, muitas causas se juntam e podem ser o ponto de união a fortalecer um agrupamento começando a fazer frente à bestialidade vigente. Seria o Bar do Genaro o embrião de tão acalentada união? Toc toc toc, na torcida", Henrique Perazzi de Aquino.
Eis o link da gravação feita por esse mafuento HPA, trecho da fala: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3199847880045199/
CANECA COMPRADA E JÁ DEVIDAMENTE SURRUPIADA*
* Dedicado para Leandro Siqueira, da Esquerda Marxista O evento foi na noite de ontem, o 1º Cachaça com Política, pontapé inicial de bates papos literários e libertários no Bar do Genaro (do amigo Fabricio Genaro), com a presença ao microfone do professor bauruense Gilberto Maringoni. Um primor e mais de 50 pessoas na calçada, ouvidos atentos à fala, aos burburinhos entre os presentes e o barulho das ruas. Antes da fala do convidado, Antonio Pedroso Junior, mestre de cerimônias do evento, faz uso da palavra, troca a palavra "cachaça" por "café", leva um puxão de orelha e anuncia a venda no local de canecas VERMELHAS, confeccionadas pelo pessoal da Esquerda Marxista, ao preço de R$ 5 reais a unidade. Dentre os presentes, alguns ditos e vistos como assumidos vermelhos, outros nem tanto, coloração mais cor de rosa, mas muitos interessados na tal preciosidade com a sugestiva inscrição "Proletários de todos os países, uni-vos!", tendo na parte superior imagem do Marx e na inferior a foice e o martelo. Comprei uma e a mantive sob meus domínio até o final do evento, levando-a para lugar seguro em minha residência.
Acordo na manhã de hoje com meu filho chegando em casa oriundo de Araraquara e vindo me abraçar após os dias em que estive viajando nos States. Foi um café da manhã e tanto, altos papos e o dia começando de forma alvissareira ao lado do libertário filho, esse que poderá sofrer muito diante desses novos tempos, pelo simples fato de carregar consigo o mesmo nome do pai, esse incorrigível e devasso cidadão. Cai na besteira de lhe mostrar a caneca, meu último objeto anexado ao acervo de raridades mafuentas. O filho gostou da danada logo de cara, se engraçou com a cor, os escritos e antes de surrupiar na mão grande a peça, me deu aula sobre propriedade privada:
- Pai, não me leve a mal, mas sei ser defensor de que na verdade nada nos pertence, tudo é coletivo e assim sendo, a levo para outros cantos. Nem tente interceder, fazer defesa dela ter melhor uso em seus domínios, pois não me convencerá.
Fiquei chupando o dedo e já recorro, através deste texto, ao ilustre Leandro Siqueira, digníssimo representante da Esquerda Marxista na cidade para ver se consigo novo exemplar e se o conseguir, já com ideia de fixá-lo com prego ou parafuso em minha estante, dificultando ações de lesa propriedade.
AINDA NOVA YORK - USA
"DE QUE PLANETA VOCÊS SÃO?", SOMOS QUESTIONADOS AO PROCURAR LOJA DE DISCOS EM NOVA YORK Ana Bia Andrade ia revendo endereços por ela visitados no passado e em alguns ótimas recordações, quando sentávamos e ia relembrando causos ali passados. O frio ia embora diante da boa conversa. Conto aqui uma história não tão bem sucedida. Saímos do hotel, pegamos o metrô, fizemos troca de linha e aportamos na região do Lincoln Center, muito agitada, cheia de teatros, casas de espetáculo e ali, ela bem se lembrava havia uma famosa loja de discos, a TOWER RECORDS. Ela fazia questão, diante de minha procura por lugares musicais, dizia ser esse um dos melhores. O endereço que tínhamos não batia de jeito nenhum. Perguntamos para um músico na rua e incrédulos notamos, ele nada sabia. Mas como, se ela tinha absoluta certeza, a loja era por ali. Sentamos dentro do hall de entrada do American Folk Art Museum, fizemos uso do wi-fi para conferir se estava certo. Sim, estava, mas lá uma observação dela estar fechada. Só podia ser erro de informação.
Na busca via Google algo da loja: "Tower Records era uma cadeia de lojas americana que operava no varejo / retalho ou vendendo DVDs, CDs, vídeos, videojogos e livros, com sede em Sacramento, Califórnia. Existe atualmente apenas como uma franquia internacional e uma loja de música online. De 1960 a 2006, a Tower Records também controlou lojas de varejo, que foram fechadas quando a empresa declarou a sua falência e liquidação". Ainda incrédulos, Ana resolve perguntar para um senhor de uns 60 anos de idade, segurança no museu e após conseguir se fazer entender sobre o que buscávamos, sua resposta foi uma ducha de água fria em nossos propósitos musicais:
- Desculpe perguntar, mas quanto tempo não vem por aqui? De que planeta vocês são? Eu também gosto muito de música e ia muito nessa loja, mas ela não mais existe faz muito anos. Não existe mais loja de discos em Nova York, ou melhor, ninguém mais compra discos por aqui. Se sobraram duas na região do Soho são muitas, vivem dos saudosistas. Essa faliu quando o negócio de discos decaiu, todas as demais também se foram".
Prostrados, perdidos no tempo e no espaço, o chão parecia ter sumido e antes de dar aquela respirada funda para continuar garimpando lugares exóticos na Grande Nova York, o segurança, numa última tentativa de nos ajudar diz:
- Não desistam. Em algumas grandes livrarias, magazines e lojas de departamentos ainda existem algumas prateleiras exclusivas com CDs e com a reedição dos LPs. Vasculhem que irão encontrar alguma coisa.
Nos despedimos e voltamos para um final de tarde que, após a desilusão ou o tapa na cara, o retorno para a dura realidade de sermos praticamente obrigados a consumir música dentro desse novo padrão cibernético, sem poder folhear os encartes, ler as letras das canções. Saio pensando no que irei fazer com a coleção lá nas dependências do Mafuá, localizada nas barrancas do rio Bauru e assim com a cabeça nas nuvens, quase sou atropelado na esquina ao atravessar o sinal fechado. Ana me dá um beliscão e me devolve para a normalidade. Fui tomar uma.
OBS.: As duas primeiras fotos são ilustrativas e foram buscadas no altaneiro passado da Tower Records, quando o negócio música era dos mais lucrativos. A última é da fachada de nosso refúgio, onde tivemos as informações definitivas sobre o que tanto procurávamos.
* Dedicado para Leandro Siqueira, da Esquerda Marxista O evento foi na noite de ontem, o 1º Cachaça com Política, pontapé inicial de bates papos literários e libertários no Bar do Genaro (do amigo Fabricio Genaro), com a presença ao microfone do professor bauruense Gilberto Maringoni. Um primor e mais de 50 pessoas na calçada, ouvidos atentos à fala, aos burburinhos entre os presentes e o barulho das ruas. Antes da fala do convidado, Antonio Pedroso Junior, mestre de cerimônias do evento, faz uso da palavra, troca a palavra "cachaça" por "café", leva um puxão de orelha e anuncia a venda no local de canecas VERMELHAS, confeccionadas pelo pessoal da Esquerda Marxista, ao preço de R$ 5 reais a unidade. Dentre os presentes, alguns ditos e vistos como assumidos vermelhos, outros nem tanto, coloração mais cor de rosa, mas muitos interessados na tal preciosidade com a sugestiva inscrição "Proletários de todos os países, uni-vos!", tendo na parte superior imagem do Marx e na inferior a foice e o martelo. Comprei uma e a mantive sob meus domínio até o final do evento, levando-a para lugar seguro em minha residência.
Acordo na manhã de hoje com meu filho chegando em casa oriundo de Araraquara e vindo me abraçar após os dias em que estive viajando nos States. Foi um café da manhã e tanto, altos papos e o dia começando de forma alvissareira ao lado do libertário filho, esse que poderá sofrer muito diante desses novos tempos, pelo simples fato de carregar consigo o mesmo nome do pai, esse incorrigível e devasso cidadão. Cai na besteira de lhe mostrar a caneca, meu último objeto anexado ao acervo de raridades mafuentas. O filho gostou da danada logo de cara, se engraçou com a cor, os escritos e antes de surrupiar na mão grande a peça, me deu aula sobre propriedade privada:
- Pai, não me leve a mal, mas sei ser defensor de que na verdade nada nos pertence, tudo é coletivo e assim sendo, a levo para outros cantos. Nem tente interceder, fazer defesa dela ter melhor uso em seus domínios, pois não me convencerá.
Fiquei chupando o dedo e já recorro, através deste texto, ao ilustre Leandro Siqueira, digníssimo representante da Esquerda Marxista na cidade para ver se consigo novo exemplar e se o conseguir, já com ideia de fixá-lo com prego ou parafuso em minha estante, dificultando ações de lesa propriedade.
AINDA NOVA YORK - USA
"DE QUE PLANETA VOCÊS SÃO?", SOMOS QUESTIONADOS AO PROCURAR LOJA DE DISCOS EM NOVA YORK Ana Bia Andrade ia revendo endereços por ela visitados no passado e em alguns ótimas recordações, quando sentávamos e ia relembrando causos ali passados. O frio ia embora diante da boa conversa. Conto aqui uma história não tão bem sucedida. Saímos do hotel, pegamos o metrô, fizemos troca de linha e aportamos na região do Lincoln Center, muito agitada, cheia de teatros, casas de espetáculo e ali, ela bem se lembrava havia uma famosa loja de discos, a TOWER RECORDS. Ela fazia questão, diante de minha procura por lugares musicais, dizia ser esse um dos melhores. O endereço que tínhamos não batia de jeito nenhum. Perguntamos para um músico na rua e incrédulos notamos, ele nada sabia. Mas como, se ela tinha absoluta certeza, a loja era por ali. Sentamos dentro do hall de entrada do American Folk Art Museum, fizemos uso do wi-fi para conferir se estava certo. Sim, estava, mas lá uma observação dela estar fechada. Só podia ser erro de informação.
Na busca via Google algo da loja: "Tower Records era uma cadeia de lojas americana que operava no varejo / retalho ou vendendo DVDs, CDs, vídeos, videojogos e livros, com sede em Sacramento, Califórnia. Existe atualmente apenas como uma franquia internacional e uma loja de música online. De 1960 a 2006, a Tower Records também controlou lojas de varejo, que foram fechadas quando a empresa declarou a sua falência e liquidação". Ainda incrédulos, Ana resolve perguntar para um senhor de uns 60 anos de idade, segurança no museu e após conseguir se fazer entender sobre o que buscávamos, sua resposta foi uma ducha de água fria em nossos propósitos musicais:
- Desculpe perguntar, mas quanto tempo não vem por aqui? De que planeta vocês são? Eu também gosto muito de música e ia muito nessa loja, mas ela não mais existe faz muito anos. Não existe mais loja de discos em Nova York, ou melhor, ninguém mais compra discos por aqui. Se sobraram duas na região do Soho são muitas, vivem dos saudosistas. Essa faliu quando o negócio de discos decaiu, todas as demais também se foram".
Prostrados, perdidos no tempo e no espaço, o chão parecia ter sumido e antes de dar aquela respirada funda para continuar garimpando lugares exóticos na Grande Nova York, o segurança, numa última tentativa de nos ajudar diz:
- Não desistam. Em algumas grandes livrarias, magazines e lojas de departamentos ainda existem algumas prateleiras exclusivas com CDs e com a reedição dos LPs. Vasculhem que irão encontrar alguma coisa.
Nos despedimos e voltamos para um final de tarde que, após a desilusão ou o tapa na cara, o retorno para a dura realidade de sermos praticamente obrigados a consumir música dentro desse novo padrão cibernético, sem poder folhear os encartes, ler as letras das canções. Saio pensando no que irei fazer com a coleção lá nas dependências do Mafuá, localizada nas barrancas do rio Bauru e assim com a cabeça nas nuvens, quase sou atropelado na esquina ao atravessar o sinal fechado. Ana me dá um beliscão e me devolve para a normalidade. Fui tomar uma.
OBS.: As duas primeiras fotos são ilustrativas e foram buscadas no altaneiro passado da Tower Records, quando o negócio música era dos mais lucrativos. A última é da fachada de nosso refúgio, onde tivemos as informações definitivas sobre o que tanto procurávamos.