domingo, 31 de dezembro de 2017
BEIRA DE ESTRADA (87)
NICANOR VENDE O EXCEDENTE DE SUA PRODUÇÃO NAS RUAS DE BAURU
Das trombadas da vida a gente vai conhecendo pessoas das mais interessantes. Isso acontece comigo a todo instante e das mais diferentes formas e maneiras. Na última sexta, fui buscar a mana Helena, ali num brechó do lado do Sebo Literário, rua Antonio Alves, entre a rua Batista de Carvalho e a avenida Rodrigues. Estaciono o carro e quando ela se aproxima observamos vindo pela calçada um jovem com uma carrinho de mão, caçamba de plástico, armação de madeira, dessas com as abas altas e abarrotada de hortaliças. Era uma espécie de carro alegórico, muito verde nas cores, na contraposição com o alaranjado do plástico do carrinho. E ele descia parando, primeiro no salão de cabeleireiros e depois, junto a minha mana, pois fez questão de comprar cheiro-verde e limão (depois fico sabendo ter sido rúcula).
Se não me engano seu nome é NICANOR (não sendo me corrijam) e em poucos minutos conta sua história. Ele mesmo é um pequeno produtor ali na região de Aymorés, assentamento já legalizado e de gente produzindo há mais de uma década, belas experiências que precisam ser relatadas e multiplicadas. Diz que, no seu pequeno pedaço de chão, planta de tudo, mas o principal são as hortaliças. Tem até estufa e entrega diariamente para dez restaurantes na cidade e como sua produção tem aumentado, coloca o excedente no seu carro, amarra o carrinho na parte superior e escolhe a cada dia um lugar diferente na cidade e sai vendendo. Tudo, segundo ele, de primeira qualidade, sem agrotóxicos. Já conquistou clientela pela cidade afora.
Falo que conheço alguns lá de Aymorés, dentre eles o Zé Maria, o homem do bambu. Ele abre um sorriso e pede para quando o encontrar, perguntar sobre quem é o Nicanor, sua luta e seu trabalho. Percebo naquela manhã e vejo nele um lutador, batalhador, desses que foi à luta e ao seu modo e jeito deu um jeito em sua vida. Conquistou um pedaço de terra, onde planta e mora, tirando dali o seu sustento. Conseguiu ir conquistando espaços, clientes fixos e indo além disto, pois expandiu sua plantão, cobriu boa parte e sai pelas ruas vendendo sua produção. Para comprovar o que me diz abre seu celular e mostra fotos de tudo o que diz. Fico maravilhado e quando o vejo, tão alegre e senhor de si, mostrando com orgulho os seus feitos, eis a prova cabal de que o povo conquistando seu direito pela terra vai dar a volta por cima e provar que o latifúndio é exploração, bem diferente de povo manuseando seus pedaço de chão.
Gente, Nicanor é a comprovação de que terras ociosas deste país precisam, mais e mais, estarem nas mãos dos pequenos produtores. Em primeiro lugar, para promoção de uma ampla reforma agrária ainda insipiente neste país, depois para ver esses todos, hoje famélicos, sem eira nem beira, tendo um lugar que lhe é devido, até pela imensa quantidade de terras ociosas, mal aproveitadas ou de propriedade duvidosa espalhadas país afora. Nicanor conquistou seu espaço e mostrou a que veio, um lutador, um que pegou a terra sem nenhum cultivo e dentro do que pode ir fazendo, aos poucos, chegou a um patamar onde pode ser considerado vitorioso. E o brasileiro precisa vencer, conquistar seu espaço dentro desta nação e todos dar a volta por cima. Não existe outra saída. Inertes e perdidos nada farão, já com algo de concreto nas mãos, a real possibilidade deste país se transformar e ser transformador.
Vendo experiências de sucesso como a dele, confirmo uma só certeza: este país precisa urgentemente ser ocupado, dividido entre os brasileiros e todos juntos, um irmanado no outro, ir galgando os obstáculos, superando os problemas e após alguns anos, poder contar sua própria experiência de sucesso, como me fez Nicanor, numa calçada no centro da cidade. Um verdadeiro ano bom e novo só será possível com essa gente toda num pedaço de chão e trabalhando em algo engrandecedor. Sonho em ver muitos Nicanores vicejando pela aí.
HPA – desejando a tudo, todas e todos dias melhores, com uma justa distribuição de renda.
sábado, 30 de dezembro de 2017
COMENDO PELAS BEIRADAS (49)
KODA, PITBULL E A ALEGRIA COLORINDO NOSSAS RUAS Rueiro assumido, não posso ver algo diferente pelas ruas e já paro o carro, estaciono em lugares impróprios, deixo a chave no contato, motor ligado e vou ao encontro do que me chamou a atenção. Hoje pela manhã, descia para o mafuá ouvindo Marina de La Riva na vitrolinha do carro (ouçam: https://www.youtube.com/watch?v=PcbJrBJ3fm8) e quase chegando no mafuá, na rua Antonio Alves, entre a Inconfidência e a Aparecida, alguém colorindo as ruas. Estaciono sei lá como e vou de encontro a ela, com um galo colorido no ombro.
Já desço com o celular pronto para tirar uma foto e lhe pergunto: "Posso tirar uma foto sua? Muito linda". Ela muito sorridente responde com a alvura dos de bem com a vida: "Claro, fique a vontade". Tiro duas e quero saber algo dela e do bicho no seu ombro, um diminuto galo (Nem sabia existirem galos no formato Bonsai, mas me dizem sim, carijós). Ela me conta: "É meu animal de estimação, ele já está em idade adulta e dorme comigo, meu companheiro de todas as horas.Não cresce mais que isso e quase não saio mais às ruas sem ele. Vai de um ombro a outro e não desce, só quando o coloco em alguma outra superfície. Não coloque a mão nele, pois é bravo, ele me defende de investidas e pode te bicar".
Mais não perguntei, nada dela, só o nome, KODA ("Com K", me diz) e dele, PITBULL (me diz ser bravio, como um bom galo emplumado deve ser). encantado fiquei e isso me transformou não só a manhã, como o final do ano e esses dois dias que ainda temos pela frente até o final do ano. Ver gente ainda alegre pelas ruas, cheias de muita cor é um encanto fora do comum. Num mundo cada vez mais opaco, sem brilho, pessoas entristecidas e empobrecidas, os ainda conseguindo dar o salto e ver alegria contagiante no ato de viver e de sair às ruas sem medo de ser feliz é algo mais do encantador.
Koda é dessas e me faz lembrar de uma historinha ocorrida comigo anteontem. Estava na fila do banco (cobrindo conta) e a senhora atrás de mim, até para passar o tempo, olhando para minhas alpargatas coloridas me pergunta: "O sr gosta de sapatos coloridos?". Rimos e lhe respondi que sim: "Adoro Alpargatas e as coloridas as melhores. Brasileiros fazem muitas, mas gostam de cores escuras nos pés, essas que uso são argentinas, marca Paez e uma mais bonita e colorida que a outra. Tenho algumas e como quase só uso isso como vestimenta para meus surrados pés, coloco cor nos meus pés". Ela, com uma alpargata brasileira (para mulheres tem de tudo quanto é jeito, para homens, poucas), de uma só cor, clara, demonstrando certo uso, como as minhas, me diz: "Vou passar a usar coloridas". Foi bom demais, pois será mais uma a vestir cor e sair pelas ruas. Eu e dona Koda, também seu galo Pitbull já fazemos isso. Chamamos a atenção, mas não estamos nem aí, o que interessa é o ser, fazer e acontecer, sem medo de ser feliz.
Que em 2018, um duríssimo ano, como todos sabemos, consigamos colocar mais colorido em nossas vidas, ver a multiplicidade de opções diante de nossos olhos e não nos deixarmos levar por aqueles insistindo para que saíamos às ruas seguindo um só padrão, uma só cor, uma só via de acesso. Sou um despadronizado na vida e assim sigo em frente, ainda mais num mundo como na frase lida num num muro lá nos altos da vila Falcão: "O mundo é REDONDO, mas está ficando CHATO". Chega de chatos, vamos demonstrar que as cores, múltiplas e diversas, como os fazeres da vida, as opções de ir e vir, tudo deve estar imbuido de ainda podermos escolher e desavergonhadamente expor o que sentimos e gostamos. Dona Koda, mesmo sem o saber, alegrou meu final de ano e minha vida. Eu quero sair com todos os galos no ombro (os possíveis e os impossíveis), como já o faço com minhas coloridas alpargatas e pelos poucos anos que me restam de vida.
HPA - Que a passagem de ano seja leve para tudo, todas e todos. Que branco que nada, quero cor, inclusive na vestimenta, dos pés à cabeça (inclusive na cueca).
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (130)
A pergunta feita acima eu respondo com uma historinha das ruas. Eu fui no último momento comprar um presente para Natal e com a maioria das lojas já fechadas, adentrei o Bauru Shopping. Entrei em algumas lojas e nada me caia no gosto do que gostaria de comprar para a parceira de todas as horas. Foi quando me disseram de uma loja no segundo andar, especializada em roupas indianas e quetais. Entrei, fui muito bem atendido e sai de lá com a certeza de ter escolhido algo mais que satisfatório. Só errei, como sempre faço, no tamanho. Passado o Natal, voltamos na quarta para fazer a troca e levo Ana junto. Entramos e somos atendidos por uma senhora de meia idade, vestida com as roupas da loja e um sotaque dos mais apetitosos. A loja estava abrindo e não havia quase ninguém por lá. A atenção dela nos chamou a atenção, pela dedicação, atenção e presteza.
Num certo momento, depois de estarmos ambos encantados, virei e lhe perguntei:
- A senhora não é daqui, esse sotaque, de onde é?
- Sou do Recife, pernambucana – e nos contou sua história. Vim para ajudar nesses dias na loja da filha. Estou aposentada, tempo livre e a vendo começando um negócio, quis vir dar minha contribuição. Cá estou já há alguns meses em Bauru, aluguei um pequeno apartamento por temporada aqui em frente.
A empatia foi crescendo e o que mais nos chamou a atenção foi a disposição dela em nos atender com uma dedicação de assustar. Ajudou a provar, não se mostrando em nenhum momento indiferente, aquele ar enfadonho. Ao contrário, sempre disposta a conversar e ajudar a pessoa ali diante dela. Viemos trocar uma roupa e levamos mais duas, foi o mínimo diante de tão envolvente pessoa. Num certo momento lhe dissemos ter gostado muito do atendimento e da linha de produtos da loja, dissemos morar ali em frente e que voltaríamos muitas outras vezes.
- Eu já conheço sua esposa. Eu moro no mesmo prédio que vocês e a vejo circulando nos corredores com uns lenços coloridos, vistosos e cheios de charme.
Conversamos mais algum tempo, falamos de nossas cidades, de nossas vidas, do presente, do futuro e ao sair, eu e Ana viemos conversando sobre a forma como fomos atendidos. Uma vivida nordestina, com uma experiência de vida bem consolidada e saindo de onda mora, onde estão localizados seus amigos para vir num mundo estranho, tudo para ajudar uma filha. Não comparamos com nada, nem com o atendimento do paulista dentro de seus negócios, mas de como o estar de bem consigo mesmo, o viver com a mente arejada, ajuda e muito no relacionamento com tudo à sua volta. Bateu uma simpatia imediata, algo inusitado nos tempos atuais.
Cada vez me encanto mais com o trato, a conversa, o jeito do nordestino se relacionar com tudo à sua volta. Que nome se pode dar a isso? O contato tido com essa recifense em Bauru me fez pensar por esses dias, na contemplação proveniente das festas, em como é muito diferente esse país, como o trato de um para com os demais é bem distinto de outro. Claro, a formação de cada pessoa está embutida em como se relaciona, mas isso do nordestino está latente, exposto como marca registrada, como cartão de apresentação de cada pessoa. Por fim, me encanta esse jeito nordestino de se relacionar e isso precisa ser passado adiante, ainda mais num final de ano. É o que faço neste momento de despedida de 2017. Eles nos fazem um bem danado de bom. Essa estreita convivência nos ajuda e muito a tocar o barco. Em certos momentos contribui até para uma mudança de trato com o semelhante.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
CARTAS (182)
OLHAR COLETIVO PRA LUA!
Ao ler carta do Cesar, rascunhei de bate pronto resposta. |
O professor Cesar Augusto Teixeira de Carvalho, aqui nesta Tribuna, em 26/12, explica ao seu modo e jeito como uns poucos usufruindo do bem-bom estariam em cadeia beneficiando a todos. Nada mais capitalista do que isso, mera ilusão. Eu também gosto de polvo (mesmo preferindo sardinha), mas não tento explicar nada quando escapulo pelos restaurantes da vida, pois além de não fazê-lo a contento, estaria contribuindo para confundir e não para explicar nada.
O conta não fecha e a roda engripa. Como, pago a conta e me aquieto.
Existe uma despropositada máxima propagando que só no capitalismo é possível consumir tudo de bom e no socialismo, não. Intragável isso, pois a privação persiste é aqui no seio do mundo onde o deus dinheiro impõe suas regras. A ideia de todos desfrutarem de tudo não é meramente comunista, mas bíblica.
Dividir os pães, peixes, enfim, o bolo é exemplo pouco seguido por cristãos e religiosos de todas as estirpes. Preferem justificar as diferenças a propor e praticar a equitativa divisão de tudo.
Quem disse que em regimes libertários não se come polvo ou outra qualquer iguaria? Come-se de tudo. O bacalhau de minha infância era comida de todos os trabalhadores, hoje não mais. Quem apartou e dificultou uns e outros de usufruírem de tudo um pouco não foi o socialismo, mas a crueldade de um sistema impondo a uns poucos ter tudo e a imensa maioria, quase nada.
Depois de ler o texto do professor, passei na venda aqui perto e com meros R$ 10 reais comprei duas embalagens de sardinha, alguma bebida e me juntei numa festa coletiva na periferia, onde cada um leva um pouco e na junção todos comem do mesmo espeto, retalham o mesmo assado. Coletiva comilança, algo mais estimulante para girar a tal roda, favorecer mais e mais, sem distinção um maior número de pessoas. Irmanados lá na praça, cada um ciente de que, desta forma o quinhão de cada um é melhor distribuído, viceja a coletiva alegria. A gente não vai resolver os problemas deste mundo, nem nos reunimos para justificar e explicar nada, enfim, olhamos pra lua sem nenhum assumido complexo de culpa.
Henrique Perazzi de Aquino - jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com)
Eis o texto publicado na Tribuna do Leitor, edição de hoje do Jornal da Cidade: https://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=250881
Eis o texto do professor Cesar Augusto Teixeira de Carvalho, publicado na mesma Tribuna, 26/12, "Olhando pra Lua!": https://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=250863
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (108)
PARAÍSOS QUESTIONADOS – GUARDIÃO REVOLTADO O bicho pega mundo afora. A mais nova novidade deixando com a “pulga atrás da orelha” todos os com a prática de investir granas de origem duvidosa em paraísos fiscais é que a EU – União Europeia está prestes a divulgar uma provável lista negra de paraísos fiscais. A discussão do momento é a discussão de bastidores para ver quem serão os nomes a serem divulgados. Alguns, pelo visto, estão conseguindo se livrar de terem seus nomes escancarados como fraudadores de fiscos de variados e múltiplos países. Mas como conseguem isto? Guardião, o super-herói bauruense, nosso capa e espada, sempre pronto a escancarar algo dos poderosos da aldeia bauruense, faz uma comparação com outras listas a serem divulgados, mas na hora H sempre adiadas:
- Aqui em Bauru acontece algo muito parecido com o que vejo em curso na UE. Uma insana luta de bastidores, de poderoso pra poderoso, onde se faz de tudo, se jogam todas as cartas para não terem seus nomes divulgados. Alguém dos senhores até hoje conhece algum nome da lista dos tais maiores devedores do DAE – Departamento de Água e Esgoto de Bauru? Poderoso sempre consegue, não só adiar a divulgação dos seus nomes, como fazer tudo correr em segredo de Justiça. Pobre nunca consegue fazer algo desta natureza e se fez algo de errado, seu nome estará escancarado e a cidade fica sabendo. Por que até hoje não foram divulgados os nomes dos servidores municipais da SEPLAN – Secretaria de Planejamento, envolvidos em algo supostamente irregular nas liberações de alvarás da Preefeitura? Dizem que isso envolve cifras de alto valor e quando isso ocorre, claro, não são somente os funcionários do baixo escalão os envolvidos, mas muitos de fora e de dentro de staffs elevados. Daí, tudo em segredo de Justiça. Sempre assim. Tanto lá como cá, defensores, lobistas e políticos, gente graúda daqui e de todos lugar conseguem se safar e não terem seus nomes divulgados. Ter o nome suspenso, ou seja, não jogado às feras, colocado na boca do leão é algo que não custa barato.
Lá no caso europeu um dos políticos envolvidos fez questão de declarar: “Os que praticam atos escusos são um pouco como os vampiros. Eles têm medo da luz”. Guardião aproveita a deixa e cutuca um pouco mais, os que se mantêm anônimos do conhecimento público: “Não somos e nunca seremos todos iguais dentro deste sistema onde vivemos. Uns são bem mais diferenciados que os demais. O grande e único diferencial é o poder exercido por quem possui grana para comprar, vender, negociar, regatear, trapacear e ir protelando. Os Paradise Papers é a profissionalização da sacanagem mundial, a dinheirama espalhada em lugares onde são acobertadas granas ilícitas de gente do mundo todo. Longe do fisco, essa grana ali frutifica e se expande, até uns chatos como eu ameaçar divulgar seus nomes. Guardadas as devidas proporções, além dos fatos citados, temos também os grandes sonegadores bauruenses, os grandões que lesam desde a Previdência privada, como a Justiça do Trabalho. Criticam descaradamente o Governo, os altos impostos, mas por debaixo do pano, fazem e acontecem bem longe do que reza as leis do país. Gente assim, fica indignado por ter que pagar impostos e enfrentar ações legais. Muitos deles apoiaram em gênero, número e grau tudo o que o ilegítimo governo do golpista Michel Temer fez de maldades com o trabalhador brasileiro. Apoiam, em primeiro lugar por terem sido beneficiados. Muitos deles estão aqui e são de fácil identificação. Até quando seremos obrigados a conviver com esses sonegadores e gente sendo encoberta pelo manto de benesses que não lhes revelam os nomes?”.
OBS.: Guardião é criação da verve do artista Leandro Gonçalez, com pitacois escrevinhativos do mafuento HPA.
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (49)
O GIGANTE ADORMECIDO ACORDOU - BLOCO NA RUA O bloco farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesco BAURU SEM TOMATE É MIXTO está reiniciando as atividades e conclamando todos os interessados a se pronunciarem sobre nossa participação no Carnaval 2018. Como primeira atividade consultamos os presepeiros de plantão para o auxílio com dicas de temas para a Marchinha que descerá o calçadão da Batista desmoronando alicerceres. Diante de tantas ocorrências e fatos nada auspiciosos neste 2017, temas é o que não nos faltará. Dicas...
JÁ ESCOLHEMOS O ILUSTRADOR DA ARTE DA CAMISETA... GREIFO já fez e aconteceu nesta cidade, desenhou-a de cabo a rabo, de cima embaixo, dos lados e laterais e agora, quando está desenhando caricaturas para sobreviver, o bloco burlesco, farsesco e algumas vezes carnavalesco, o BAURU SEM TOMATE É MIXTO o resgata e será a obra de sua criatividade a estampar a camiseta do 6º desfile pelo calçadão da Batista. No primeiro ano do furdunço na rua, 2013,quem desenhou foi o Gonçalez Leandro, 2º em 2014 foi Fausto Bergocce, no 3º em 2015 quem ilustrou foi o Antonio Junião Junior, já no 4º ano em 2016 o Maringoni Gilberto nos presenteou com sua verve criativa e este ano, no 5º desfile a arte foi do Fernandão Dias. E agora, no 6º desfile quem vem lá será o GREIFO, com muita pompa e estilo.
Continuamos aguardando indicações para temas que irão compor a letra da marchinha deste ano e amanhã, mais uma surpresa, quem será o compositor da letra (polêmica como sempre) que irá levantar o Calçadão.
Quem estiver a fim de tirar um belo de um sarro nas cagadas todas ocorridas aqui pela Bauru, dita também como "Sem Limites" (pra que mesmo, hem?), venha conosco e crie infindáveis problemas, muito além dos que já possui. Enfim, um bom tomateiro não vive sem ter problemas para dar e vender. Vamos?
OLHA SÓ QUEM VAI FAZER A MARCHINHA 2018 DOS TOMATEIROS
Mauro Santos, ou Maurinho ou mesmo Maurão é figura mais que conhecida do mundo do samba em Bauru, tendo já escrito letras sempre lembradas de sambas enredos para várias escolas da cidade. Sua verve criativa vai além da descrição do tema, sabendo muito bem dosar a picardia necessária para dar aquele toque a mais, tão necessário e fazer chegar a todos uma crítica social relevante e contundente. No ano que Silvio Selva pede licença do bloco, a letra da marchinha foi entregue para esse nato sambista da periferia bauruense e como sempre fez, algo de grande valor estará sendo divulgado nos próximos dias. Morou muito tempo na vila Dutra e hoje está lá no Jaraguá, com seu jeito malemolente e cheio de charme.
Já temos o ilustrador da camiseta, o GREIFO, hoje foi decidido o tema da marchinha e junto dele estamos divulgando o nome do sambista que irá compor a letra e a música da marchinha, MAURO SANTOS. Para quem não conhece o Mauro, eis aqui algo gravado hoje, quando lhe apresentávamos sugestões dos temas para serem incluídos no que fluirá de sua fértil imaginação. Roque Ferreira, que com ele já esteve em antigos carnavais faz uma breve apresentação e pede para ele reviver algo produzido por ele em 1992, o samba criadoi para a Império da Vila Nova esperança, o "171". Vejam ele cantando à capela e constatem se não acertamos na mosca. De algo o bloco farsesco, burlesco e lagumas vezes carnavalesco BAURU SEM TOMATE É MIXTO tem a mais absoluta certeza, o bichop vai pegar no Calçadão da Batista em 2018.
Cliquem para ver o vídeo: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/1944889522207714/
HPA e tomateiros fora do plantão (Fotos de Mauro no desfile do bloco de 2015).
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
PALANQUE - USE SEU MAGEFONE (107)
TRÊS TEXTOS NATALINOS GILETEADOS DAS REDES SOCIAIS
1.) Gisele Sifroni ESCREVEU UM PRIMOROSO TEXTO SOBRE O ANIVERSARIANTE DO DIA DE HOJE, DESSES QUE FAÇO QUESTÃO DE REPRODUZIR, COMPARTILHAR, PASSAR ADIANTE* * E como hoje, não estou com disposição para escrevinhar nada, o dela preenche esse espaço de forma marvailhosa, com todas as reflexões que dizem se fazem necessárias no dia de hoje.
"Prezado Yehoshua,
permita-me chamá-lo pelo teu nome em aramaico, não tenho apreço pela versão greco-romana a qual foi apelidado (Jesus Cristo). Aliás, pouco ou nada me agrada aquilo que Roma, anteriormente Paulo e posteriormente o protestantismo te transformaram. Hoje dizem celebrar teu aniversário. Que ironia, não? Você, um palestino nascido e educado entre os pobres, morto pelos ricos e poderosos, agora é o motivo da ceia das grandes igrejas cujo teto é de ouro e prata, cujos padres, bispos, pastores acumulam tesouro na terra onde a traça e a ferrugem os consomem. Ah, Yehoshua, e se ali está o tesouro deles, também estão os vossos corações (Mateus.6-19-21). Mas e tu, onde estaria agora? Entre a bancada evangélica, que “em nome do Senhor”, aprova leis contra os pobres, rouba o pão de cada dia dos órfãos e das viúvas e justificam o roubo em teu nome? O que você diria a eles? Entre políticos, que como romanos, defendem também a tortura e morte dos oprimidos? O que diria, tu a eles, Hamashia? Porventura, já tenhas ditos “nunca vos conheci: apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”(Lucas 13-27). Se pensas mesmo em um dia regressar, volte armado. Teus trajes, teus gestos e tuas companhias que inclui prostitutas, miseráveis, e todos os que não pertencem ao seleto grupo de “cidadãos do bem”, levarão com que os mercadores do templo, os sepulcros caiados, digamos os novos fariseus que o cristianismo produziu, o crucifiquem novamente. Eles o chamarão de falso profeta. E não se engane, desta vez eles bem saberão o que fazem. Se for possível, afasta de ti esse cálice. Feliz aniversário, caro Yehoshua".
Agora, senta que lá vem historia...
Gosto de pensar o Natal como um ato de subversão…
– Um menino pobre;
– Uma mãe “solteira”;
– Um pai “adotivo”;
– Quem assiste seu nascimento é a ralé da sociedade (pastores);
– É presenteado por gente “de outras religiões” (magos, astrólogos);
– A “família” tem que fugir e viram refugiados políticos;
– Depois volta e vai viver na periferia;
O resto, a gente celebra na Páscoa… mas com a mesma subversão…
Sim! A revolução virá dos pobres! Só deles pode vir a salvação!
Feliz Natal!
Feliz subversão!”.
Autor Desconhecido.
O resto, a gente celebra na Páscoa… mas com a mesma subversão…
Sim! A revolução virá dos pobres! Só deles pode vir a salvação!
Feliz Natal!
Feliz subversão!”.
Autor Desconhecido.
Eu não me canso de repetir e mais uma vez a comprovação: o paraíso na face da Terra é Cuba e agora, incluo mais um lugar, a Islândia (futura campeã da Copa da Rússia). Esse lugar, uma ilha lá do lado gelado, na curva depois da Inglaterra, com pouco mais de 300 mil habitantes tem uma das democracias mais perfeitas (quase) do planeta. Tudo funciona a contento e o povo sabe como conduzir a coisa, sem se deixar ser enganado, nem por políticos, muito menos por religiosos inescrupulosos. Vivem numa harmonia de causar inveja. Sábios nas decisões deram um jeito de controlar o seu sistema bancário, que atua sem explorações e o político, controlado a mão de ferro pelas decisões coletivas e populares.
O Natal de aproxima e o site do espanhol El País, edição em português faz uma matéria explicitando como se dá a vida dos islandeses durante esse período de Natal e passagem de ano. São comedidos e não entram nessa de esbanjar nada. Comem e bebem como o fazem o ano todo, mas enquanto o mundo todo enche a pança (os que podem, né!), eles rem,am sabiamente contra a maré. Ler o texto é ter a certeza de estarmos, nós os denominados sabichões do mundo, todos mais que errados. Eles passam as festas lendo, ampliando conhecimentos e aproveitando essas horas de ócio para agregar coisas boas. Não é a toa que o povo islandês é um dos que mais lê no planeta.
Clique no link abaixo e leia até o final e depois tente sentar na mesa de guloseimas e encher a pança, sem nem olhar para um livro neste dia. Eu já estou com complexo de culpa antes de começar a comer. Viva a Islândia e é claro, viva também Cuba, os dois países onde se vive melhor hoje no planeta Terra. São exemplos para serem seguidos por tudo, todas e todos.
EIS O LINK: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/23/cultura/1482488978_468182.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM
O Natal de aproxima e o site do espanhol El País, edição em português faz uma matéria explicitando como se dá a vida dos islandeses durante esse período de Natal e passagem de ano. São comedidos e não entram nessa de esbanjar nada. Comem e bebem como o fazem o ano todo, mas enquanto o mundo todo enche a pança (os que podem, né!), eles rem,am sabiamente contra a maré. Ler o texto é ter a certeza de estarmos, nós os denominados sabichões do mundo, todos mais que errados. Eles passam as festas lendo, ampliando conhecimentos e aproveitando essas horas de ócio para agregar coisas boas. Não é a toa que o povo islandês é um dos que mais lê no planeta.
Clique no link abaixo e leia até o final e depois tente sentar na mesa de guloseimas e encher a pança, sem nem olhar para um livro neste dia. Eu já estou com complexo de culpa antes de começar a comer. Viva a Islândia e é claro, viva também Cuba, os dois países onde se vive melhor hoje no planeta Terra. São exemplos para serem seguidos por tudo, todas e todos.
EIS O LINK: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/23/cultura/1482488978_468182.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM
OBS.: Quem me deu a dica desse link? Meu filho, Henrique Aquino, um que passará a noite de Natal entre livros. Vai ser difícil levá-lo para alguma comilança nesta noite.
domingo, 24 de dezembro de 2017
O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (96)
NATAL E A RUA - TRIVIALIDADES
1.) COISAS DO NATAL E DA FEIRA
Moisés Luceli Bastos é o maior vendedor de ovos que conheço, amigo pra todas as horas e feirante em algumas das mais movimentadas de Bauru. Hoje fantasiou um parceiro de trabalho com as cores vermelhas e fez a festa para os que se achegavam em sua banca. Fez questão de tirar fotos com tudo e todos, indistintamente. Fui um deles e aqui reproduzo algumas das fotos. Comprei uns ovinhos, uma dúzia encomendados por Ana Bia e no meio deles dois ovos gigantes, presente dele para nós, com a devida explicação dos motivos deles sairem desproporcionais aos demais, com tudo em duplicidade e dentro de uma só casca: "As galinhas são muito gulosas e quando exageram, naquela ânsia, produzem algo além de suas possibilidades". Trago dois duplos e com eles farei um omelete especial, pensando nas amizades construidas na feira.
2.) ALECRIM Este pé de alecrim num vaso eu trouxe da feira. Tinha uma encomenda de Ana Bia Vasculhei algumas bancas de verdura e nada. Numa delas me indicaram o cara que vende mudas de plantas. Chergando perto dou de cara com o amigo Orlando Alves, ele e a esposa. Falo de minha aflição e ele me mostra um saquinho com alecrim seco, algo que compra regularmente pra fazer chá. Chegou a dizer de suas utilidades, mas não me lembro agora. Ficamos ali conversando, quando me fez ver que, deveria mesmo além de levar uns galhinhos para servir de enfeite e para dar gosto na comida de hoje a noite, deveria levar logo um vaso e cuidar do mesmo, para que espalhe o cheiro gostoso por tudo quanto é lugar. Foi o que fiz. Por R$ 10 reais, vim com o vaso pra casa e percebo que agora, Ana está com dó de desfolhar o pequeno arbusto que trouxe para casa. Já o vejo na varanda do apartamento, regado e sob os olhares atentos de alguém tantando criar em cativeiro, ou seja, na varanda, restrito lugar, algo cheio de verde. Já tínhamos boldo e muitas outras coisas, agora chega o alecrim. O Orlando vai me dizer quandso o reencontrar das qualidades do dito cujo, pois como ando cheio de dores, ando precisando muito de chás e outras cositas mais. A gente só ganha em ir parando na feira e conversando, revendo pessoas e trazendo de tudo para dentro de casa.
sábado, 23 de dezembro de 2017
MÚSICA (155)
BOAS FESTAS PARA TUDO, TODAS E TODOS...
Com essas fotos tiradas hoje na feira dominical desejo a todos à minha volta, que passem essesdias tentanto, como eu tento, navegar em águas não tão revoltosas. A gente vai continuar se vendo e labutando, de formas diferentes, mas na lida, como sempre estivemos. Vamos em frente.
Tomava um chopp hoje na feira junto de meu vizinho, Luciano, quando num rompante o dono do Bar da Feira, o Estevão, já trajando uma camisa vermelha, barba toda branca, sai com seu chapéu pela rua e começa a cumprimentar todos, indo de barraca em barraca e quando o vi, pensei é isso, eis o algo mais que queria para representar o que acontece por esses dias com todos nós.
Se existe um Papai Noel que eu admiro são os vicejando no seio do povão. Na feira dominical, Estevão, do Bar do Barba, esquina divisória entre a Feira do Rolo e a Tradicional, ele e sua sua sanfona representam a alegria na resistência das ruas. Eu gravando, Manoel Fernandes na evolução com a sombrinha e a bailarina Marcia Nuriah na trejeito que só... Antes das fotos, eis o link para verem o Papai Noel Estevão, popular Barba, do bar encravado no meio da Feira, barrancas da do Rolo, espaço inimagináveis desta insólita Bauru: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/1940686585961341/
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (106)
O ESPÍRITO NATALINO PASSOU POR AQUI, MAS NÃO PAROU, SEGUIU ADIANTE
Eu bem que tento ser feliz e fazer com que esse espírito natalino me arrebate, mas não tem mesmo jeito. Certa feita, décadas atrás, filho ainda pequeno, morava lá no Gasparini. Eu e os meus numa esquina e do outro lado da rua uma família numa situação calamitosa. Tudo cortado por lá, desde água, luz, ou seja, viviam precariamente. Chegando essa mesma época, queriam que eu colocasse luzes diferentes na casa. Como fazê-lo e vendo a cena diante de meus olhos? Não deu. Passamos sem nada além do que já tínhamos. Juntei o que tinha e levei a eles. Não deve ter resolvido pra muita coisa, pois não foi com isso que religaram luz e água. Junto com outros vizinhos fazíamos algo mais, algo que não vem ao caso. Tempos depois, alguns dos seus conseguiram novos empregos e tudo foi melhorando, gradativamente, lentamente, sem alarde, sem grandes transformações. Toda vez que volto lá no bairro, ao ver aquela esquina, olho para a casa, hoje com outro visual, melhorado, me pergunto: E eles? Como estarão aqueles todos?
Batuco algo no computador, ouço uma música na vitrolinha, tiro a siesta nessa véspera natalina e no meio da tarde, ruídos estranhos do lado de fora do portão. Vou verificar e lá um vizinho com seu meio de locomoção em frangalhos, dois pneus arriados, com os arames de fora. Ele vai movimentar o carro assim mesmo, pois me diz ter conseguido algum, de uma pessoa muito querida e vai até o borracheiro. Quero ir junto e me proponho a comprar dois pneus usados para voltar a rodar com alguma dignidade. Ele recusa, não aceita nada além do que já possui, mesmo sendo pouco, muito pouco. Vê-lo saindo com o carro tendo duas rodas no chão, fazendo aquele barulhão nas ruas é de doer a alma. Ele vira a esquina, ele e o barulho chamando a atenção de todos e com ele se vai um pouquinho mais pra longe a vontade de me integrar naquilo que dizem estar invadindo tudo e todas, o espírito natalino.
Nem bem ele se vai, a mendiga passa no meu portão. Era lindinha até uns anos atrás, engravidou na rua e só não teve o filho na calçada, pois num clique de última hora, sentindo as contrações, sentou ao lado do orelhão e ligou para o 190. Vieram busca-la e hoje me chama pelo nome no portão (alguém lhe disse meu nome, agora não sou mais o “tio”). Quer uns trocados e sempre lhe dou. Como não dar. Dou e nem sei o que consegue com tão pouco. O Natal se aproxima, ela ali, suja, fedendo e agora sem os dois dentes da frente. Comento com ela sobre ter se desentendido com outro vizinho e ter espalhado seu lixo pela calçada. Ela, como sempre, refuga e me diz: “Eu?”. Sim, ela, sai batendo os pés e me diz ter jogado tudo para o ar quando o viu de cuecas no quintal. Não entendi e prefiro assim. Ela se vai, permaneço olhando seus passos até dobrar a esquina e com ela, segue junto o tal espírito natalino.
Ergo o som da música, escolho uma caprichada, voz que gosto de ouvir (Carlinhos Vergueiro, lembram dele?)e tento cantar com ele. Decido andar um pouco, falar sozinho pelas ruas e ao fazê-lo passo em frente a uma festa, algo de final de ano, numa oficina mecânica. Eles todos sujos de graxa, comendo carne assada ali mesmo e bebendo cerveja. Parecem felizes ou fingem como a maioria faz hoje. Somos todos atores, diante de uma cena dramatúrgica triste, cenário piorado pela ação horrorosa de um desgoverno nos apunhalando pelas costas a cada ato. Como ser feliz diante do que vejo sendo feito para a turba, ainda inerte e em estado de ababolhamento coletivo? Que motivos tenho eu para comemorar? Volto pra casa, tomo um banho, ligo pra Ana, penso em encher a cara, mas sei não devo fazê-lo. O filho quer me levar pro cinema, acho que vou aceitar. E na noite do Natal onde estarei? E na do Ano Novo? Ainda bem tenho muitos livros espalhados pela casa, sozinho não passarei. De festa ando fugindo...
HPA
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
DIÁRIO DE CUBA (92)
Miami deve ser algo horroroso. Escrevo isso sem presencial conhecimento de causa, pois nunca me atreveria a pisar num lugar desses. Tivesse disponibilidade financeira, esses tais paraísos terrestres, lugar onde os endinheirados costumam passar, entre os seus, momentos distantes dos seus lugares de origem, se juntando a outros iguais e ali desfrutando nababescamente as sacanagens proferidas contra seus semelhantes, não veria a cor do meu suado dinheiro. O que pode existir de saudável num lugar desses? Nada. Cada país possui lugares onde todas as bestialidades consumistas são juntadas, reverenciadas, lugares prontos para receber os tais ditos grã-finos.
Cito Miami e o faço logo após ver publicado a charge da sempre atenta Laerte. Nos mandam pra Cuba e na sequência, esses vão pra Miami. Incomparáveis Cuba e Miami. Cito alguns outros paraísos, Mar del Plata na Argentina, Punta del Este no Uruguai e para não fazer papel de bobo incluo Varadero, esse em Cuba. A pobre Cuba mantém um lugar para os turistas estrangeiros gastar seu dinheiro, que será usado de forma comunitária pelos governantes da ilha. São todos tristes lugares, pérfidos e onde reina a sacanagem, pairando no ar e, principalmente, nas atitudes de seus frequentadores.
Escrevo essas pérfidas linhas e lembro-me de diálogo anteontem travado com o filho. Ele quer ir comigo ao cinema assistir o novo Star Wars, que me diz ser dos melhores já realizados. Cita algo do filme, gravado por mim imediatamente na memória e é exatamente sobre o que escrevo. Lá no filme, idealizado num futuro distante, uma Miami, paraíso dos ricos, dos exploradores das galáxias. Com o desvendamento durante a trama da estrutura escravista que sustenta a cidade cassino de Canto Bight (uma Punta de Este de moeda intergaláctica), tudo igual aos paraísos existentes neste insano planeta. Os grandes sacanas que lesam planetas se reúnem em lugares só seus, onde descansam das sacanagens, trocam ideias e planejam ações em conjunto para aumentar o enriquecimento da gangue. Impossível não fazer uma alusão a todos os paraísos existentes hoje no planeta Terra e com a mesma finalidade.
Este é Canto Bight, paraíso para ricos da ficção Star Wars |
Lugares como esse existem por todos os lugares. Não pensem que Bauru está fora deste macabro roteiro. Até as pedras do reino mineral sabem onde é o paraíso destes em Bauru. Na região ocorreram variadas e múltiplas passeatas de verde-amarelos, gritando contra a corrupção do PT, mas hoje diante de algo infinitamente pior, se calam e repetem como papagaios de pirata que o país tende (sic) a melhorar. Claro que não vai melhorar. O país, propalam, está a se recuperar, quando de fato está em plena demolição. Pois bem, descubro só ontem (não consigo me lembrar onde, se no rádio ou lendo algo pela aí) que neste paraíso bauruense, lugar onde reina acima do bem e do mal, a avenida Getúlio Vargas, não circula ônibus circular. Naquele tapete não é permitido passar os coletivos para transporte dos funcionários atuando nas imediações. Passam pelas laterais e paralelas, não pela via principal. Inimaginável a patuleia circular ali, pontos espalhados ao longo da avenida onde sacolejam panças bem nutridas.
Essa é a mesma exclusão vista em Miami, Punta del Este, Mar del Plata, Varadero, Las Vegas, Jardins e demonstrada de maneira bem clara, límpida, explícita, transparente na Canto Bight de Star Wars. Assistam o filme e vejam se não existe uma clara alusão a esses lugares na ficção do cinema. Será que os frequentadores dos paraísos terrestres vão sacar a explícita intenção do filme, quando faz menção dessa abominação universal, diria, intergaláctica?
Personagens de Canto Bight são idênticos aos de Miami e afins. |
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
PRECONCEITO AO SAPO BARBUDOI (122)
Já era esperada essa reação por parte da parcela significativa (infelizmente) da população bauruense, num reflexo do que acontece em âmbito nacional, para iniciativa da única livraria de um dos shoppings da cidade, o Boulevard Center. Uma livraria tem que abarcar público distinto, enfim, cada um com seus gostos e preferências. Obras de cunho acadêmico, histórico e com abordagens de temas de forma mais profunda fazem parte do cabedal do livreiro, vendendo de tudo um pouco. Isso o mais normal de ocorrer em ambientes normais. Porém, como sabemos o Brasil de hoje já ultrapassou todos os limites da normalidade. Disso não existe a menor dúvida. Estamos vivendo tempos irracionais e se nada for feito, a treva se aproxima de forma galopante. O exemplo mais vivo disso ocorreu dias atrás na livraria desse shopping e foi retratada de forma sensata por Roque Ferreira em seu facebook. Eis seu relato:
"INTOLERÂNCIA - Raramente vou a shopping. Hoje abri um precedente para minha filha. Passamos pelo Empório Cultural, e foi muito legal o papo com a galera que trabalha por lá. Papo vai papo vem, me disseram que organizaram um estande com livros sobre a Revolução Russa, que completou 100 anos. Várias pessoas que entravam na livraria questionavam os atendentes sobre o tema , com uma pergunta comum: "vocês são comunistas"? Santa ignorância e intolerância".
Hoje fui no shopping junto de meu filho e fiz questão de passar com ele na livraria. A exposição já havia sido desmontada, mas alguns continuavam expostos e com títulos normais em qualquer país civilizado deste planeta. Fotografei o que vi numa das prateleiras e não vejo nada demais, enfim, temas que me atraem até para ampliar o conhecimento histórico e poder debater, continuar fazendo pelo qual não consigo me abster, a leitura de temas ampliados. Não perguntei nada para ninguém da loja, pois sei que nos tempos atuais, identificando alguém é bem capaz de trogloditas se apresentarem e denunciarem a pessoa. Fiquei no papo com meu filho e ele me confessa que nos poucos dias que está em Bauru, sempre se encontra com amigos no espaço da livraria e ali, todos juntos, fazem rodada de discussões, temais variados e uma das dicussões foi exatamente esta: o dos livros sobre a temática soviética. Ele me diz que alguns estavam expostos na vitrine e foram alvo de pessoas fazendo questão de adentrar o local e questionar se os donos ou a livrareia era comunista. Tudo idêntico ao já relatado pelo amigo Roque.
O que dizer disto. Tenho pouco a acrescentar e sim, muito a lamentar. Se chegamos neste grau de emburrecimento, vislumbro estarmos a um passo para perseguições e listas do que se é permitido expor numa mera vitrine de loja. O ocorrido serve para exemplicar de forma límpida como anda a cabeça de parcela significativa do povo brasileiro, não sabendo mais separar o joio do trigo. Muitos insuflam isso, ações desta natureza e são facilmente identificáveis no facebbok. Propagam fake news escandalosos, mentiras deslavadas e tudo com o intuito de tornar o país o paraíso da bestialidade. E vamos deixar isso acontecer? Daí, só ando pelas ruas com minhas camisetas guevaristas e com o adesivo no vidro do carro: "Yes, nós somos bananas!".
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (110)
VEREADORES NÃO PERMITEM CONSELHOS DELIBERATIVOS – DECISÕES NAS MÃOS DO POVO, NEM PENSAR Essa é de Bauru, a terra “sem limites”. Percebam que algo assim nasce sempre insuflado pelos segmentos mais conservadores dentro das Câmaras Municipais de Vereadores. No caso da bauruense, alguns notaram a existência de um Conselho ainda deliberando algo, ou seja, passando por cima das decisões ditadas e teleguiadas pelos tais edis, os que com o voto popular foram eleitos como representantes do povo, para eu seu nome os representarem e legislarem. Fazem mais que isto. Não satisfeito com legislar sobre o que lhes é proposto e fazer a fiscalização (sic) do Poder Executivo, sentem-se incomodados quando notam algo ocorrendo à revelia do que fazem. Castrar isso se faz necessário para o bom funcionamento da coisa pública. E assim foi feito esta semana em Bauru com uma votação das mais emocionantes, na última sessão legislativa do ano de 2017.
Conto a história com poucos detalhes, para não encher mais o saco de todos nós, já pela hora da morte nos estertores de mais um ano, esse mais duro de roer que tantos outros. Pois bem, o caso se deu por essas plagas quando vereadores se mostraram preocupados ao descobrirem um Conselho Municipal, justamente um com conotação popular e na contramão dos demais, ou seja, este não era meramente decorativo, digo, consultivo, mas o indecoroso era DELIBERATIVO. Ele tinha o poder de deliberar e sobre questões onde a população está enfronhada, algo do seu dia a dia. Bateu aquele sentimento de perda de controle entre alguns incomodados vereadores. Pessoas da comunidade ali eleitas no tal Conselho poderiam tomar decisões que ferissem algo votado por eles, daí, nada como cortar o mal pela raiz. Foi o que foi feito e com a galhardia que é peculiar aos nobres edis quando o querem ser cruéis até a medula. Com a pífia justificativa de que, a forma de eleição do Conselho não estava atendendo aos preceitos legais, estavam ocorrem de forma desvirtuada e sem contemplar uma amplitude maior de possibilidades dentre os membros da comunidade bauruense, deram por bem podar de vez ao invés de consertar o remediado.
“O alvo foi o Conselho do Município, pois para os especuladores imobiliários, isso é estratégico na discussão do novo planejamento urbano, com a lei do zoneamento. Isso se chama luta de classes, que também se expressa no parlamento. Já havia quando da aprovação do Conselho a vontade política que fosse deliberativo. Tive que trabalhar muito para que fosse a voto como deliberativo”, explica Roque Ferreira, ex-vereador sobre como foi a batalha, durante seu mandato, para conseguir manter como deliberativo esse conselho municipal. O que fica bem claro é a forma de atuação da atual Câmara de vereadores de Bauru, onde não existe nenhuma voz dissonante do que é ditado pelas forças conservadoras da cidade. Todos o são. Quando o tema é o retrocesso, tudo avança que é uma maravilha. Já até votaram algo numa sessão relâmpago e depois fugiram do recinto com medo da reação popular, imagina que não estariam, ao lado do que dita a especulação imobiliária na cidade. Estão todos lá para defender os interesses do povo, mas uma vez lá, tudo muda de figura. Alguma dúvida?
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
FRASES (163)
PARA CONTINUAR CHORANDO – FIM DO CICLO DE “CAROS AMIGOS”
Uma semana recheada de muitas dores. Mal chego em Bauru, ainda tentando se recompor de dores familiares irreparáveis, aporto pela manhã na banca da Ilda e lá escuto seu doído lamento sobre as dificuldades pela banca fechada e o acumulo de contas de uma sob a outra, praticamente in viabilizando qualquer tipo de festa de final de ano. Olho para a estante e lá algo que a primeira vista não acreditava ser possível. Na capa da edição de dezembro da revista mensal, a “Caros Amigos”, uma manchete estarrecedora: “VALEU! O fim do ciclo e as mudanças no mercado da informação”. Como ilustração uma montagem com muitas das capas da revista. Ao folhear a revista, o editorial da página 3 não deixava dúvidas: “Fim de Caros Amigos”. Virando mais duas folhas, ocupando duas páginas e com um imenso título, “AVANTE!”, escrito pelo diretor geral da editora que publica a revista, Wagner Nabuco. Não havia mais dúvidas, este é a última edição da revista saindo nas bancas. Estou cansado de chorar nesta semana e sento ali num banquinho no meio da banca, espero o vento bater na face e falo para Ilda: “A revista Brasileiros fechou meses atrás, a Carta Capital se segura com unhas e dentes, a Revista de História da Biblioteca Nacional não resistiu e agora, mais essa, a Caros Amigos não tem mais como seguir adiante”. Juntamos nossas dores e tentamos ser altivos conosco mesmo, enfim, resistir é preciso.
Saio lendo a revista enquanto paro nos sinais. Lia em voz alta, sozinho, num doloroso lamento, sentido, triste demais da conta. Passo na banca do Cláudio, ali junto do Supermercado Paulistão da Nações e compro mais um exemplar. Um quero emoldurar, com a capa e charge do Claudius, com um ratão levantando um cartaz e dizeres de escracho para os bestiais que favoreceram este país estar hoje na situação onde se meteu. O outro vou guardar como rara preciosidade. Gosto demais dessas duas bancas, sou amigos dos jornaleiros e divido tudo o que leio entre ambos. Ambos passam pelas mesmíssimas dificuldades de todas as publicações de resistência. Penam e padecem diante de tantas repetidas barbaridades. Folheio a revista e leio algo do lamento do Wagner Nabuco: “A revista deixa de circular em um momento em que a produção, distribuição e consumo de informação passam por profundas mudanças, ataques de fake news, sites maliciosos, youtubers e blogueiros duvidosos. Neste momento em que, mais do que nunca, o bom jornalismo faz a diferença. Apesar da despedida, sabemos, como todos os lutadores por um mundo mais justo, que é hora de se unir, recompor as forças e as estratégias e seguir adiante em busca de horizontes para dias melhores. A luta vale a pena”.
Noutro texto, com a chancela da redação, o “Marcas da História: Ontem e Hoje”, algo marcante: “Somos herdeiros dessa mídia que existe desde o Império, e que na ditadura teve um papel muito importante. É uma tradição de gentes que se unem e abraçam um projeto de produzir um bom jornalismo contra-hegemônico”. Leio isso e a memória viaja com o tempo. Comprei a primeira edição da revista nas bancas e já no número dois tem uma carta minha lá publicada, ou seja, a acompanho desde os cueiros. Vivenciei todos os seus momentos e o momento de hoje é para chorar, igual o que chorei tempos atrás quando o Pasqui, depois o Pasquim 21 e a Bunda fecharem. O mesmo sentimento quando não mais encontrei o Coojornal nas bancas, quando o Folhetim deixou de ser encartado com a Folha SP, quando a Revista de Domingo do Jornal do Brasil feneceu e logo a seguir o jornal impresso por inteiro. Olho para todas as capinhas ali na capa desta última edição e em cada uma delas, um entrevistado e uma conversa dessas de entornar o caldo. Chego ao mafuá, descarrego a mala da viagem feita para Sampa e antes de qualquer outras coisa, faço a festa com o cachorro a me receber no portão, coloco tudo num canto e vou ler a Caros Amigos. Não tentem me animar, hoje mais um dia perdido. Mas como li na própria revista: vamos nos unir e seguir na luta e nas ruas, pois do contrário, entregando as armas, não existirá mais razão para viver. A tristeza continua.
A cada uma do campo democrático que se vai, sem peças de reposição novas em sua substituição, algo de muito triste no horizonte.
Não me separo de minha coleção, agora mais e mais junto de mim. Eu e minhas raridades.
domingo, 17 de dezembro de 2017
FRASES DE UM LIVRO LIDO (122)
‘PAI SOLTEIRO E OUTRAS HISTÓRIAS’, CRÔNICAS DE TARSO DE CASTRO Na última sexta, antes do desenlace de minha sogra, passei a tarde inteira na sala de espera do hospital aguardando notícias de um procedimento médico. Não consigo esperar nada sem ter em mãos algo para ler. Me inquieta a espera e como não quero nesses momentos ficar batucando redes sociais no celular, termino naquele instante a leitura do primeiro livro de crônicas do jornalista gaúcho, um dos mais porretas que conheci até hoje, Tarso de Castro (editora Laser Press, 1990, 212 páginas). Comprei num sebo paulistano na avenida São João, dias atrás, pela bagatela de R$ 5 reias. Em poucas frases que consigo aqui transcrever neste momento, um pouco da linha de pensamento desse vibrante e empolgante jornalista:
- “Na verdade, o que menos importou na música Garota de Ipanema foi a moça que passou, a Helô, ainda que bela. O fato é que a verdadeira garota era todo aquele nosso bairro, hoje quase morto”;
- “O Brasil é de cabeça para baixo. O crime é ter sucesso é acabou o assunto. Ninguém fala mal dos grandes ladrões. Toda a culpa é dos artistas”.
- “No interior, aliás, acontece de tudo, especialmente quando o prefeito ou o rico resolve fazer uma festa para o artista da capital. Aí é fogo. Como todos levam o cuidado de não levar o violão ou algo parecido, acontece sempre o pior: Então conta uma piada carioca”.
- “Sabemos muito sobre a ditadura, mas sempre me surpreende que ela tenha conseguido matar, também, a poesia das ruas, a velha província que um dia se chamou Brasil”.
- “Houve um momento em que os mineiros decidiram que toda e qualquer inteligência emanava de Minas Gerais”.
- “O golpe se consolidava no poder e a perseguição era total. Os chefes de redação, os diretores de jornal, todos esses que hoje se arrogam liberais, se escondiam sob o manto da covardia”.
- “... nada melhor do que ser leitor anônimo e quieto, coisa que pouca gente entende”.
- “A distância é o inferno da alma”.
- “...a última crítica útil no Brasil é a de ouvido, ou seja, a palavra do amigo que já viu o espetáculo e dá sua opinião. O resto, de uma maneira geral, é demonstração de falsa cultura”.
- “...os mais otimistas dariam a vida para viver em qualquer outro país. Os pessimistas morrem à míngua”.
- “...a postura de esquerda sempre foi uma alegria. Nunca uma questão de emprego. Nunca precisamos, os malditos bêbados, os malditos vagabundos, lamber os pés sujos de uma poesia mal escrita de Sarney, nunca nos ajoelhamos aos pés divinos de Roberto Marinho”.
- “A coisa mais lindo do mundo eram os joelhos da Nara leão”.
- “No caso do golpe de estado existiu em cada jovem o choque na contramão. A gente ia no sentido da liberdade e bateu no poste da escuridão. Não é triste, me entendam. É apenas fatal”.
- “Depois dos quarenta anos a gente começa a ter notícia da morte de amigo todo dia”.
- “Há um momento em que você pode tudo na vida. Tudo é simplesmente interminável, o vigor, a resistência da máquina do corpo, aquelas coisas. É da natureza humana ser levada a pensar assim. E isso, naturalmente, exige um brinde. Nada como o álcool para comemorar tais fatos. É uma das grandes invenções do homem”.
- “...só os verdadeiramente homens levam verdadeiramente a sério a traição”.
- “Eu era um desses que lutavam para começar uma brilhante carreira naquilo que sonhávamos ser a maravilhosa profissão de jornalista”.
- “Aos olhos de uma menina, nós, pobres escravos da máquina de escrever, somos algo estranho”.
- “Éramos muito jovens. Mas metidos, como a atual geração deveria ser. O ardor estava nas ruas. A gente queria as coisas decentes para um mínimo de vida, coisa que não se conquistou até hoje”.
- “Eu faria qualquer coisa para me livrar do longo tempo que a missa envolvia. Não que eu tivesse qualquer coisa contra Deus. Nada – acho que nunca tivemos queixa um do outro, embora a dúvida sobre a existência mútua nos tem há corroído durante tanto tempo”.
- “A proibição de passear de bicicleta no meio da praça era o quer mais nos alegrava: era ali mesmo que iríamos rodar”.
- “Hoje, anos depois, poucas coisas tão insuportáveis ao ver que, cada vez mais, tanta alegtria começa a ser apenas uma vaga recordação da infância”.
- “...eu começava a descobrir que parece haver uma tragédia por detrás de cada feriado”.
- “Da infância ao início da adolescência estivemos juntos lado a lado, nas festas e nas brigas. O tempo nos separou até outro dia, passados quinze anos, nos encontramos. Meu amigo correu para abraçar-me. Fizemos uma festa enorme. E dois minutos depois, vendo que nada tínhamos a dizer descobrimos que o tempo se encarregara de matar a amizade. E o passado”.
DICAS (167)
MORTE
Amigos e Amigas facebokuanos
Desligado de tudo por 24h. Falecimento da sogra Darcy Soliva da Costa, 81 anos, me faz dar um breve tempo em tudo. Volto assim que puder.
Essa sempre sorridente maravilhosa figura humana, minha sogra querida, mãe de Ana Bia Andrade, faleceu aos 81 anos, nesta madrugada aqui na capital paulista e será velada até 19h no cemitério da Quarta Parada e a cerimônia de cremação, segundo seu desejo, ocorrerá às 20h na Vila Alpina. Tantas vezes aquio já escrevi dela, citações que nunca mais me sairão da cabeça. Hoje ela se foi, deixando um vácuo enorme em quem a conhecia.
HPA e ABPA
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (127)
SALA DE ESPERA DE HOSPITAIS
Sala de espera é lugar apropriado para ouvir conversas alheias, conhecer gente nova e também expor ideias. Convivo com uma aqui na estada paulistana. Infelizmente, num lugar onde se reúnem pessoas no entorno de seus entes queridos, todos aguardando melhoras desses numa UTI de hospital. O horário de visita se dá duas vezes ao dia, perto do almoço e depois do jantar. Dia após dia as mesmas pessoas, algumas sendo renovadas e outras sumindo. Quando alguém some, um ponto de interrogação para todos: ou o parente teve alta ou nos deixou. Tanto pode ser motivo para alegria ou tristeza. E assim caminhamos. Aos poucos você vai percebendo as afinidades e quando as constata, uma alegria, alguém mais para desabafar sem aquele receio de ser mal interpretado ou até mesmo agredido. Conheci duas semanas atrás um senhor cuja esposa segue há 90 dias de hospital (minha sogra completou 60 dias), magro, retinto, grisalho, aposentado da Receita Federal, todo dia ali nos dois horários, sempre pronto a renovar palavras de encorajamento. Dias atrás o descobri de esquerda, assim como eu. Dei a ele de presente um dos bottons que faço, com o lema “Fora Golpistas!” e o vomitaço do Fradim, personagem do Henfil. Ele sorriu e emendamos mais uma conversa, sempre anterior à visita, servindo até para espairecer e amenizar o que virá pela frente. Na pauta daquele dia, política e religião, essa perdição onde o país está atolado até o pescoço, beco quase sem saída. Puxei a conversa. Eis o bate bola:
- Permaneci por algumas semanas com minha sogra no hospital como acompanhante, ela com 82 anos, religião Batista e eu ateu, depois de ter um dia sido católico. Ela me leu a bíblia, as tais frases de Salomão e íamos discutindo sobre esses vendilhões de hoje, todos mais preocupados com o dinheiro do que com a fé.
- Sim, eu também sou descrente, pois não dá para acreditar em alguém professando a religião, diz ter estudado a bíblia e defendendo o dinheiro acima de todas as coisas. Ou o cara não leu ou é muito mal intencionado, pois lá existe algo bem fundamentado exatamente contra quem faz uso desmedido da usura e da ganância.
- Vimos na TV, numa manhã de domingo, o cara vendendo pentes e copos de água abençoados por R$ 100 reais. Eu perguntava a ela, como pode alguém cair nessa e que nunca me veria em algo assim. Ela disse sempre ter estado num segmento bem centrado, muito longe disso tudo e brincava comigo, me dizendo ser cristão, sem o saber.
- Imagina se ela tivesse visto essa última do Edir Macedo lá da Universal e das crianças surrupiadas das famílias, um crime que passa incólume pela Justiça brasileira, todos fingindo nada saber, mas com tudo escancarado.
- Ela certa vez foi a Bauru e foi ouvir a fala de um pastor de lá, mas saiu horrorizada, pois viu ser ele criacionista. Fez uma fala menosprezando totalmente a ciência. Preferiu continuar ouvindo os cultos da sua igreja pela internet, pastor carioca, boa cabeça, longe de entrar nessa de cair de pau em Newton. Ela cita sempre o papa atual como exemplo, declaradamente dizendo certas passagens da bíblia serem metáforas e nem tudo deve ser levado ao pé da letra.
- Conversar com pessoas assim é uma raridade hoje em dia. O papa hoje, pelo que percebo, está anos luz à frente, inclusive do seu rebanho brasileiro. Mas me diga, você me disse ter ela te chamado de cristão.
- Sim, me chamou e retruquei. Falava de gente como eu, descontente com as injustiças deste mundo, as desigualdades, pregando a justa distribuição de renda, direitos iguais para todos, defendendo os menos favorecidos, os trabalhadores e dizia ser isso exatamente o papel de Cristo na Terra. Daí, concluía afirmando que todos os comunistas professavam a mesma luta que os verdadeiros cristãos. E me dizia ser um quase cristão. Ríamos e lhe dizia para pensar ao contrário, sendo ela uma quase socialista.
- Lindo isso, não? Quantos pensam igual a ela? Na verdade, essa semelhança é bem nítida, está na cara, mas hoje desvirtuam tudo, as pessoas são desaproximadas, quando temos tudo para estamos todos no mesmo barco, mesma luta.
- Então, essa é minha sogra, uma que estarei sempre ao seu lado, para o que der e vier.
Nisso somos chamados e adentro para mais uma visita, a mais socialista das cristãs lá naqueles leitos. Ele me pisca os olhos, em sinal de aprovação e de que, amanhã, no horário de visita, mesma sala de espera, a possibilidade de continuidade da conversa ora iniciada.
OBS.: As ilustrações foram gileteadas do belo traço de Teresa Ruivo, do link a seguir: https://teresaruivo.blogspot.com.br/2015/02/