sábado, 30 de junho de 2018
COMENDO PELAS BEIRADAS (57)
OS CARROS FERROVIÁRIOS QUE PODERIAM SER RESTAURADOS AQUI SÃO ENVIADOS PARA LONGE
Fui Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru na última administração de Tuga Angerami. Foi nela que o prefeito, mesmo sem grana conseguiu saldar dívidas antigas e deixar uma boa bufunfa nos cofres municipais. Salvou a administração do Rodrigo Agostinho, pois se tivesse agido como os anteriores esse teria uma caixa no vermelho no princípio, meio e fim. Tuga, como sabemos, adiou o caos administrativo desta cidade. Tenho o maior orgulho de na minha única experiência no serviço público tenha feito parte daquela equipe. A grana da Cultura sempre foi baixa, mas naquele período, 2005/2008, praticamente não existiu. Estávamos cientes de tudo, os tempos eram de restrições, recuperação de caixa e tínhamos que ser criativos.
Não fizemos muito, mas os três carros restaurados e instalados no Poupatempo foi obra de algo conquistado naquele período. Restauramos também o carro férreo de 1ª Classe, com estofamentos em todos os bancos. Tudo feito com parcerias e sem dinheiro público, nos viramos para arrumar apoiadores. Tivemos uma agenda de eventos seguidos, quando os museus tinham vida das mais ativas, todos eles. Hoje, um deles, nem mais existe. O projeto Ferrovia para Todos funcionava e o trem de passeios circulava pelos menos duas vezes ao mês, aos finais de semana. De lá para cá, entristecido constato, nenhum outro carro férreo foi restaurado e pelo que leio mais de 500 itens férreos estão espalhados pela malha bauruense, apodrecendo ao léu. Nunca mais estive em Triagem Paulista, mas lá localizadas tínhamos muitas peças importantes da história férrea de Bauru. O que terá restado daquilo tudo após pouco mais de dez anos?
O que sei é o que vejo pela TV Tem numa matéria sexta passada. Nela um imenso guindaste ergue um dos carros metálicos de passageiros ali estacionados há mais de uma década e o coloca sob uma plataforma de carga, que os levará para a capital paulista e ali será restaurado por uma Associação Férrea conhecida nacionalmente, essa funcionando a pleno vapor. Na época tínhamos certa rivalidade com eles, mas hoje reconheço, que se leve tudo, pois lá o restauro ocorre, nunca pararam e aqui não mais. Antes de se perder definitivamente o restante de acervo ali na gare central da antiga estação da NOB, que se encaminhe para quem o faça. Escrevo isso tudo, pois vejo que a Secretaria Municipal de Cultural acaba de momear o mais novo Diretor do Patrimônio Cultural de Bauru. O cargo, pelo que sabia, era ocupado por um funcionário de carreira, mas agora o foi por uma pessoa que, demitida de outro cargo na administração, foi acomodado por ali por imposição de um partido político. Nem sei se possui alguma afinidade com a causa férrea, daí nem sei se devo lhe perguntar se ainda teremos esperança de um dia ter de volta o passeio da Maria Fumaça. Quanto a restaurar novos carros férreos, rezo para que um dia isso posso voltar a ocorrer. Ouço na matéria da TV que o passeio, se um dia voltar, pode ter uma parada no Boulevard Shopping. Isso, pelo que me consta é algo mais do que antigo. Quando da construção do mesmo já discutimos isso, mas por preciosismo não foi levado adiante e torço para que agora ocorra, com pelos menos o proprietário do rico empreendimento promovendo o restauro da estação de Triagem Paulista, a parada seguinte. Seria um circuito belíssimo, de triagem, passando pelo Shopping, Estação Paulista e depois a Central, a da NOB.
Vamos conhecer em breve o plano de trabalho do novo diretor, quando talvez se possa discutir isso tudo com pessoa qualificada para tanto. Torço para que olhe com carinho e reative a paradeira imposta pelas últimas administrações na questão férrea dentro da já montada estrutura existente. Chega de pasmaceira e paradeira generalizada.
sexta-feira, 29 de junho de 2018
O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (57)
J. AUGUSTO, JORNALISTA ESPORTIVO E O MICROFONE A SERVIÇO DA CRÍTICA À ESQUERDA
J. Martins e J. Augusto, bem diferentes. |
Jesus Augusto é o radialista esportivo, J. Augusto, décadas acompanhando o Noroeste pela rádio Jovem Auri-Verde, hoje praticamente só fazendo os jogos do Noroeste pela Jovem Pan Bauru, a que veio para ocupar o dial da outra, vendida numa negociação ainda não muito bem explicada, pois concessão pública não se vende. Inegável a competência do profissional quando o assunto é o futebol e sua paixão, a pelo glorioso time da aldeia bauruense, o Esporte Clube Noroeste. Nessa semana recebeu Moção de Aplauso na Câmara Municipal de Bauru juntamente com outro radialista, também “J”, o J. Martins, esse policial civil aposentado e residente em Avaí. Acompanho o trabalho de ambos há décadas pelas rádios variadas. Augusto nunca saiu da Auri-Verde, o Martins rodou bastante e fez o dia-a-dia do Noroeste por variados microfones. Ambos são repórteres de campo, aqueles que ficam quase sempre atrás dos gols e entrando durante a transmissão para comentários, entrevistas e depois dos vestuários.
J. Martins é mais contido, já J. Augusto é mais boquirroto. Explico. O Martins prefere não misturar as bolas e comenta futebol e Noroeste. Quando o assunto é política, prefere se calar. Não foge do pau, mas entende que o seu microfone não está a serviço de sua ideia política, mas se ali está, espaço duramente conquistado, respeita o ouvinte, ciente de que do outro lado todos serão noroestinos, mas nem sempre possuirão a mesma concepção política que a sua. Não mistura as bolas. Um profissional na acepção da palavra. O Augusto não esconde possuir um lado e em todas as brechas e oportunidades desfere estocadas contra sua concepção política. Detesta o PT e, consequentemente, Lula e a esquerda, socialismo, comunismo, movimentos sociais e afins. Nutre ódio por esses e não esconde, se utilizando do microfone para reproduzir e destilar o que lhe vem à cabeça. Detestável posicionamento. Não existe uma só transmissão esportiva sem que o procedimento ocorra desta forma e jeito.
Os dois Jotas recebendo homenagem na Câmara. |
Pode odiar quem quiser e amar quem quiser, isso vai de cada um. Tim Maio possui uma linda definição para pessoas iguais a ele. “Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita...”. Sim, muitos pobres brasileiros são de direita, J. Augusto um deles. Para completar o ciclo, elogia com a mesma intenção todos os poderosos de Bauru, os tucanos governando São Paulo e agora, também faz apologia à Bolsonaro. Explicado. Sem mais comentários. Não privo de sua amizade, pois está num campo de ação totalmente oposta à minha. Nessa semana quando posto uma foto de uma seção que mantenho no facebook, a “Quero LULA LIVRE e o país liberto dos golpistas”, ele posta algo: “Política aqui?”. Respondo: “Todo dia, toda hora, aliás, todo minuto”. Um amigo dele provoca com: “P;Q;P;;; DEFENDENDO LULA, E ZE DIRCEU AQUI ....CARAMBA.......ESTRAGOU O MEU DIA...UM ABRAÇO, JESUS AUGUSTO....SOU DA MESMA OPINIÃO SUA...”. Respondi: “Sim, aqui se defende Lula, o presidente de uma época onde o país era altaneiro, hoje só desgraça e gente como tu ainda tem o disparate de vir aqui dizer que Lula, depois de tudo de bom que fez ao povo é ruim e o bom é hoje? Vá caçar coquinho”. Um amigo entra no diálogo (sic): “Bons são os tucanos que são blindados por Moro, Gilmar & Cia, vendem nossas riquezas a preços de bananas, dão isenções tributárias de bilhões a empresas estrangeiras e juntos com Temer formam a maior quadrilha que lesma este país”.
O imbróglio estava só começando. J. Augusto retruca: ”Uma página tão legal pra se comentar principalmente nosso glorioso Noroeste, vir falar de coisas tão ruins como pt e Lula ,aí é demais”. Não me seguro: “Demais é sua postura, sempre não tendo a dignidade de reconhecer nada de bom em Lula e no PT, mas fazendo questão de estar sempre ao lado dos piores, os que cravam a estaca nos interesses do povo. Triste ver uma pessoa como tu, tão explorado como todos nós, fazendo o jogo sujo e defendendo os interesses que não são os seus e sim o dos patrões, o dos que impiedosamente estão contra nós. Ações como a tua diante do microfone não contribuem em nada para tornar e transformar esse país, pois está sempre ao lado dos piores”. Minha amiga REose Barrenha vem em meu auxílio: “Você não aprende mesmo né. Não existe ingenuidade. Existe gente do populacho que tudo que deseja é ser igual os coxas de classe média que vão a Miami. Que odeiam se ver no espelho e reconhecer a classe que pertencem. Que não entendem nada de nada. Larga mão. Bloqueia e pronto. Não vale a pena. Boi preto só anda com boi preto de agora em diante. Serão estes que irão te denunciar quando o DoiCodi for reaberto. Sai fora”. Um amigo dele reage: “Realmente muitos simpatizantes do LULA, E DA DILMA, e dos PETRALHAS, aqui da BAURULANDIA,, devem ser internados no PERLATTI DE JAU-SP,...deve ter fumado o cigarrinho do capeta, ou aquele pósinho branco....”. O furdunço segue e respondo: “Deu para perceber que os caras são golpistas até a medula, pois são lambe-botas dos poderosos. Nem os considero como fascistas, mas como puxa-sacos de gente com dinheiro. São eternos bajuladores, esses que detestam a posição onde se encontram, rejeitam a luta popular, mas nunca terão nenhum oportunidade de estar onde querem e continuarão fazendo o serviço sujo, sendo pobres de direita, algo execrável e nojento. Essa coxinhada, das duas uma, ou são néscios mesmo ou se fazem de bobo, defendem os piores, os que mais nos apunhalam e ainda tem os disparate de defender em público a tucanalha que mais sacaneia com o país.
Será que nem sendo didático compreendem e conseguem enxergar o país que tínhamos, soberano e justo com LULA e a bagunça corruptiva de hoje. Não pode ser verdade vê-los apoiando os de hoje como melhor que Lula. De onde vem esse ódio que cega, que os impede inclusive de enxergar o óbvio?”. A contenda se desenrolou ainda por um bom tempo, mas fico aqui com algo postado por outra amiga e para encerrar a discussão, Maria Cristina Zanin Sant’Anna: “Como bem descreveu Jessé Souza: a tolice da inteligência brasileira, ou como o país se deixa manipular pela elite. Tamanha violência simbólica só é possível pelo sequestro da inteligência em prol desse 1% mais rico, que passa a monopolizar os bens e recursos escassos, sejam materiais ou ideais, São servis ao poder. A corrupção não vem do Estado. Vem do mercado, pior que é visto com virtudes... Falsas contradições... Os poucos que hoje controlam tudo precisam desse "exército de cangaceiros, homens de bem. Quem sabe um dia o brasileiro comece a entender tudo isso e as reais contradições”.
Por tudo isso e mais um pouco, dentre os dois Jotas, prefiro muito mais o Martins, muito mais sensato, ponderado e sem ódio nas ventas. Segue o jogo.
quinta-feira, 28 de junho de 2018
PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (128)
A TRAVESTI QUE FOI DAR SEU JEITO EM BUCARESTE, ROMÊNIA – O BATER ASAS DO BRASIL
Interessam-me as histórias. Encanto-me por elas. Essa uma delas. Não fui autorizado a citar o nome da personagem, mas o faço com sua história, para mim um relato de algo dos nossos tempos. As travestis brasileiras saírem mundo afora em busca de darem um jeito em suas vidas, amealhar melhores condições, juntar o suficiente para quando do retorno poderem levar uma vida mais tranquila, isso não é novidade para ninguém. O fazem desde que me conheço por gente. Já nos anos 80, quando comecei a ler os primeiros relatos dessas aventuras mundo afora, algo de tantas conseguindo belas soluções de vida distantes do solo brasileiro. Em cada novo relato uma história de vida. Nem todas belas, mas a maioria comovente. Isso é o que me interessa, essa disposição de ser, fazer e acontecer. Não esperar sentado, ir à luta e tentar a todo custo dar um jeito em sua vida. Conto um história de uma delas. Para muitos pode ser algo trivial, mas vejo nela algo de uma desbravadora.
Vivenciando as dificuldades por essas plagas, foi-se para a Europa. Como? Não me perguntem. O fazem e conseguem. Assim como clandestino faz de tudo para ingressar, por exemplo, nos EUA, as travestis inventam jeitos e chegam aos seus destinos. Já foi muito mais difícil e complicado que hoje. Sei de relatos de viagens como praticamente clandestinas em embarcações suspeitas. Hoje não se faz mais necessário tanto risco. As fronteiras ainda permanecem abertas e elas se atiram mundo afora. Todos que já estiveram pela Europa já se depararam com elas pelas ruas e noticiários. Ocupam não só a Europa, América, mas o mundo. Após o acabrunhamento do desenrolar da crise por aqui, eis que me cai nas mãos algo de uma delas. Saiu de Jales, interior de SP, primeiro foi conhecer o Brasil, corpo bonito, escultural, viajou pelas capitais e principais cidades num conhecido esquema de rodízio. Chegam como novidades, levantam uma boa grana e quando essa começa a rarear vão para outras plagas. Foi para a Europa, a grandes capitais e hoje ousou um pouco mais.
Rodou, como o fez no Brasil, pelas capitais e o que lá encontrou? Uma grande concentração de outras nas mesmas condições. Oferta em abundância, todas com o mesmo objetivo. Qual a saída? Buscar novos nichos de mercado. E desta forma foi dar com os costados na capital da Romênia, num quadrilátero ainda pouco frequentado pelas brasileiras. Alguns lhe alertaram dos perigos dessa parte da Europa, dominada por máfias que sequestram pessoas envolvidas com prostituição, mas mesmo assim, criou coragem e lá esteve. Atendem pouco hoje nas ruas e mais nos sites de relacionamento. Está no circuito Atenas e outras capitais, esse novo mercado na Europa Oriental. Até o que sei foi bem sucedida. Daí, venho para minhas parcas observações. Gosto dos arrojados. Ela, uma delas. Age diferente de muitos que vejo hoje país afora escapulindo do país, tendo apoiado o golpe e a queda de Dilma, mas quando diante de um país intolerante, cruel e insano, fingem não terem tido culpa nos acontecimentos e batem em retirada. Para esses, a inclemente pecha de serem uns merdas. Para gente como a travesti citada, algo novo e logo mais o retorno, ou quando muito, a definitiva permanência por lá, quando se deparam com um auspicioso relacionamento.
Ainda ontem falava com um amigo sobre os jogadores de futebol e ele me passou uma cifra desconhecida até então por mim. Mais de mil jogadores de futebol se lançam ao mercado mundial da bola por ano e estão espalhados vendendo sua força de trabalho. Tem para todo tipo de situação. Desde a dos craques milionários, até aos que se escravizam em troca de migalhas. Esses me interessam. Na rede de prostituição se dá a mesma coisa. Quantas não saem mundo afora por ano? Milhares. Algumas poucas muito bem sucedidas e até podendo ir para lugares pouco antes frequentados, mas a maioria penando o “pão que o diabo amassou”. A história aqui relatada serve como exemplo de um estudo posterior, dos motivos dessa evasão, dessa conquista de terras desconhecidas, enfrentando os eminentes riscos, tudo para amealhar uma vida diferente da que teriam seguindo a mesmice. Eu viajo junto com os personagens dessas histórias. Elas me arrebatam e quando diante delas, despertam meu interesse pelos detalhes. Outra instigante é a do Luciano Bebê, um jogador de bola que já atuou pelo Noroeste de Bauru, rodou o país e agora, perto dos 40 anos se foi para a Europa. Sabem onde se encontra? Na ilha de Chipre, mar Mediterrâneo, perto da Grécia e as últimas notícias é a de que não tem intenção de voltar tão cedo. Parece ter encontrado seu paraíso, para ele e sua família, morando num reduto com muito mar, sol e algum para gastar. Enfim, todos querem isso, ao menos encontrar a felicidade, algo cada vez mais de difícil acesso nos tempos atuais. Já que aqui pelo Brasil tudo anda cada vez mais complicado, histórias como as deles sugestionam essa debandada ampla, geral e irrestrita.
quarta-feira, 27 de junho de 2018
UM LUGAR POR AÍ (109)
ESCRITO SOBRE AS AMIZADES NAS/DAS RUAS – DIRCEU BORBOLETA GASTA SOLA DE SAPATO CIDADE AFORA
Noite de terça, Bar do Brecha, a melhor panceta de Bauru, ali atrás do posto defronte o Cemitério da Saudade. Eu havia conseguido entregar no Repositório da Unesp meu texto final de mestrado, pego Ana Bia na saída de uma banca na Unesp e digo a ela: “Vamos comemorar, escolha um lugar, a cerveja será por minha conta”. Com alguma fome, ela escolhe o Brecha. Ligamos para dois casais de amigos, ambos declinaram, inventando desculpas pelo adiantado da hora, mais de 21h.
Chegamos, a Skol foi servida numa temperatura de arrepiar, estupidamente gelada, o que já é um baita cartão de apresentação. Pedimos meia porção de panceta e enquanto aguardamos, copos suados, goela em franco aquecimento, eis que numa mesa, canto escondido do bar uma voz conhecida nos reconhece. Era a de Dirceu Ferreira da Silva, que carinhosamente se autodenomina como DIRCEU BORBOLETA. Nada a ver com o personagem da novela Bem Amado, mas tudo a ver com uma belíssima característica sua, a de bater asas pela cidade inteira, um andarilho, desses a gastar sola de sapato e ir conferir in loco tudo e andando.
Ele inicia uma conversa de sua mesa onde toma uma Antarctica com a nossa, onde degustávamos uma Skol. Gosto do Dirceu assim de graça, pois é um dos conversadores dessa cidade. Ele não é um sujeito chato, só um que gosta de conversar e o faz maravilhosamente, pois a todo instante nos dizia, “se estiver sendo chato me diga, que bato em retirada”. Ele vive só, num pequeno quitinete ali pelos lados da Cruzeiro do Sul, perto do Detran e de lá, aposentado que é e segundo nos diz, de baixa renda, sai diariamente do seu quartel-general e anda, circula, gira, perambula e faz diários reconhecimentos bauruenses. Falávamos do show do SESC sábado à noite com nada menos que o gaitista Renato Borghetti, no qual foi e acaba nos convidando para outro, na próxima sexta, com o Trio Virgulino, arrasta pé dos bons. Ela sabe onde vai, por onde bate perna.
Estava ali sentado e tomando uma sozinho no bar do seu irmão, o Brecha. Contou belas histórias de sua família, toda ali de pertinho, Santa Cruz do Rio Pardo, mais precisamente Espírito Santo do Turvo e de como saíram de lá, uma mão na frente outra atrás, vieram para Bauru, aqui se instalaram e venceram na vida, cada um ao seu modo e jeito. Diz do fato de ter sido jogador de bola no BAC, seu mano também e até o filho do Brecha, um que fica no caixa à noite, goleiro do Matsubara no Paraná. Ressaltava do esforço do Brecha em fazer os filhos terem o estudo a ele impossibilitado e finaliza tudo com uma frase lapidar: “Filho gasta enquanto está estudando, mas gasta muito mais quando o estudo termina e quer montar seus locais de trabalho, tudo financiado pelos pais”. Dirceu abre seu coração e fala, relembra diante de nós algo encantador, se predispõe a revelar detalhes de sua vida e dos seus, tudo na maior simplicidade e mútua confiança.
Ele faz questão de a cada reencontro confirmar gostar muito de mim, pelo simples fato de tempos atrás tê-lo parado na rua e pedido se podia contar sua história. Assim o fiz num dos Personagens sem Carimbo – O Lado B de Bauru. Algo que ele nunca mais esquece, o fato de ter-lhe dito que só faço perfis de pessoas simples, os tipos das ruas e pelo fato de o ter escolhido para um. Guarda o seu com devido carinho. Esse o melhor reconhecimento que poderia receber de alguém, o feito dessa forma e jeito. Relembra também o nosso último encontro, ali mesmo no Brecha quando reencontramos velho conhecido de ambos, o dentista Belluzzo, oriundo de Bariri e agora morando em Bauru, primo do famoso economista que foi presidente do Palmeiras. Foi uma noite de altos papos e por fim, Belluzzo lhe fez a mesma pergunta que fiz a ele ontem: “E como vai embora?”. Sua resposta é salutar: “Sempre a pé, como sempre fiz. Esqueceu? Eu ando, sou uma borboleta, a cidade não me mete medo, nem receios, se quero ir num lugar, vou e na maioria dos lugares a pé, sempre assim”.
Por fim, algo sobre seu fardamento, o de uma camiseta da seleção, verde-amarela e com a marca do Bar do Brecha no peito e nos costados algo mais significativo, um nº 70 bem grandão, dando a entender ser a Copa dos sonhos do Brecha. Fez questão de dizer algo a respeito da sua camiseta: “Não pense que a ganhei do Brecha. Eu comprei e o fiz após presenciar aqui mesmo um diálogo dele com um cliente, um importantão da cidade, cujo Brecha estava fazendo uma cortesia e foi por esse chamado a atenção com um “parente e amigo é que tem que pagar”, daí eu sempre pago, inclusive as cervas que tomo”. Como não puxar a cadeira e querer estender a conversa com um sujeito desses? Aos 64 anos, esse andarilho me seduz, muito mais pelo seu jeito simples, cabelos esbranquiçados na carapinha, jeito malemolente de quem toca sua vida de um jeito saboroso, cheio de vitalidade, sapiência e requebros. Sabe andar nas quebradas, conhece tudo dos lugares mais altaneiros (o Lado B, claro) dessas plagas e sabe levar uma conversa na medida exata, sem sem chato, desses que chegam e querem falar sem deixar ao outro nenhuma possibilidade de diálogo. Dirceu fez eu e Ana ganharmos a noite com sua laboriosa companhia. Gente assim são cheias de encantos mil.
HPA – Dia de jogo do Brasil na Copa e com essa homenagem, vou assistir a contenda mais alegre. Rodar pelos cantos da cidade sempre vale muito a pena.
A HISTÓRIA DO MENINO QUE SEM GRANA PARA COMPRAR O ÁLBUM DA
COPA O DESENHOU INTEIRO E ASSIM VIROU NOTÍCIA
Assistam o que foi feito pela TV TEM: https://www.facebook.com/quebrandootabu/videos/1974896695900041/
Meu comentário: Eu vivo de histórias assim, isso me move.
Percebo algo além do que foi feito, conto aqui. A mídia massiva se alimenta
dessas histórias e acerta quando assim procede. Ela saca algo dentre os
simples, algo que foge do trivial e vai chamar a atenção dos seus, vai
lá e a amplia, faz o estardalhaço. Eu conto algo assim do meu jeito, ela
tem uma ampliação pequena através do blog e do facebook, mas quando algo que
foi visto num lugar como o meu e depois alcança uma projeção maior, salutar
projeção. Por mais nociva hoje que a imprensa massiva seja, ela também se
alimenta de histórias como essas e sabe sacar, quando lhe convém, a riqueza
existente nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, nessa rica movimentação de
fazer algo movido pelo coração. Seria ótimo vê-la mais e mais atuando dessa
forma do que mentindo para o povo.
terça-feira, 26 de junho de 2018
DIÁRIO DE CUBA (98)
MAIS UM AMIGO EM DIFICULDADE – QUANTOS NA MESMA SITUAÇÃO*
* Em Cuba não tem disso não.
Jornais estampam que o país volta aos poucos à normalidade. A TV não mostra o caos instalado junto ao povão, mas ressalta sempre o “esforço” dos atuais governantes em dar a volta por cima na crise. No rádio a mesma ladainha, mostrando um país que não condiz com a realidade das ruas. Isso tudo rolando recebo uma ligação de dileto amigo de uma cidade de médio porte também no interior paulista, quase do mesmo tamanho que Bauru, algo como um pedido de socorro. Está vendo sua situação por lá cada vez mais complicada e me pede abrigo para passar uns dias no mafuá, quando sondaria as possibilidades de aqui se instalar. Não vê mais condições de continuar dando murro em ponta de faca onde reside e quer tentar outros ares. O que dizer para ele? Como não o incentivar a continuar tentando, mesmo diante de todas as adversidades, as possíveis, as impossíveis e as inimagináveis?
Ele chega e permanecerá por uma semana nos aposentos do mafuá. Dói o relato de como se dava suas relações de trabalho, seus ganhos num passado não tão remoto e as portas todas irem se fechando, uma a uma, com uma hoje estagnação quase absoluta. Literalmente tira leite de pedra, mas não está mais sabendo como fazê-lo daqui por diante. Juntou uns poucos caraminguás e veio ver se em Bauru poderá encontrar algo novo. Desde sua chegada o vejo estudando todas as possibilidades que se apresentam e em cada novo contato, não posso desencorajá-lo de insistir, pois não encontrando uma saída, restará a pior, voltar para sua cidadezinha natal e morar com a mãe, que lhe dará o pouso até o momento de uma provável reabilitação.
No domingo o vejo logo cedo com o Jornal da Cidade nas mãos e em busca dos Classificados. “Mas os Classificados de Empregos são só esses?”, me pergunta. Digo a ele, que assim como ele ganhava muito mais no passado, o jornal anos atrás tinha um caderno bem gordinho com Empregos, mas hoje é isso que está diante dos seus olhos, uma mera página. Explico que, o mesmo jornal antes tinham centenas de funcionários na sua redação e na empresa, mas hoje estão trabalhando com um quadro dos mais resumidos, já tendo suprimido a edição de segunda e muitos cadernos continuam circulando agrupados. A mesma dificuldade sentida por ele, com tudo se fechando diante dos seus olhos, ocorre com o jornal daqui e tudo o mais. Essa a realidade, sem tirar nem por.
Ele ouve tudo e sabe que não pode desistir, nem desanimar, pois se o fizer estará num “mato sem cachorro”. O vejo efetuando gastos muito contidos. Pede indicações de restaurantes com preços bem baratos e ontem, quando foi numa entrevista na vila Falcão, o fez a pé, ida e volta. Contém os gastos em tudo. Sofro junto dele, pois ao vê-lo nessa busca por uma saída, penso no meu negócio, no que faço para obter renda e saldar meus compromissos. Como eram mais fáceis tempos atrás e como foram reduzidos nos tempos atuais. Sou obrigado a me desdobrar, descobrir atividades variadas para tentar continuar conseguindo algum. O faço, mas não são nem sombra da renda que tinha no mínimo uns cinco anos atrás. Com ele se dá a mesma coisa.
Não existe como acreditar em algumas manchetes apregoando a reação dos empregos no momento atual. Uma grande falácia para nos enganar. A dor que sinto em vendo tudo o que as ruas me mostram de crueldade sendo praticadas por um insano desGoverno Federal, com a conivência da mídia massiva, do Judiciário, do mundo político e das instituições, cresce o desalento. Abrigo o amigo que, se não em desespero, perto disso e querendo investir o pouco que lhe resta num negócio novo, numa cidade diferente, ares renovados. Sentados ontem na cozinha do mafuá ele me dizia do que já viu. Ouço e quero ajuda-lo, essa minha intenção. Não posso deixa-lo investir o que lhe resta em algo que não dará certo. Mas o que vai dar certo ou errado? Olho para sua expressão e juntos, nessa troca de olhares, ambos estamos cientes do Brasil que tivemos um dia e do que temos hoje, deixamos escapar nos dedos. Até quando vai perdurar o padecer de tudo, todas e todos? Que posso fazer além disso?
Ele se vai nos próximos dias e irá tomar decisões importantes em sua vida. Não posso fazer nada além do que faço e esse LAMENTO aqui descrito é feito para que não nos enganemos sobre os algozes de hoje e suas maldades para conosco. Não nos esqueçamos estarem esses destruindo um outrora soberano país. Destruindo o país, seu povo vai na mesma trilha. O exemplo vivenciado nesse texto se repete por todo lugar.
Ele chega e permanecerá por uma semana nos aposentos do mafuá. Dói o relato de como se dava suas relações de trabalho, seus ganhos num passado não tão remoto e as portas todas irem se fechando, uma a uma, com uma hoje estagnação quase absoluta. Literalmente tira leite de pedra, mas não está mais sabendo como fazê-lo daqui por diante. Juntou uns poucos caraminguás e veio ver se em Bauru poderá encontrar algo novo. Desde sua chegada o vejo estudando todas as possibilidades que se apresentam e em cada novo contato, não posso desencorajá-lo de insistir, pois não encontrando uma saída, restará a pior, voltar para sua cidadezinha natal e morar com a mãe, que lhe dará o pouso até o momento de uma provável reabilitação.
No domingo o vejo logo cedo com o Jornal da Cidade nas mãos e em busca dos Classificados. “Mas os Classificados de Empregos são só esses?”, me pergunta. Digo a ele, que assim como ele ganhava muito mais no passado, o jornal anos atrás tinha um caderno bem gordinho com Empregos, mas hoje é isso que está diante dos seus olhos, uma mera página. Explico que, o mesmo jornal antes tinham centenas de funcionários na sua redação e na empresa, mas hoje estão trabalhando com um quadro dos mais resumidos, já tendo suprimido a edição de segunda e muitos cadernos continuam circulando agrupados. A mesma dificuldade sentida por ele, com tudo se fechando diante dos seus olhos, ocorre com o jornal daqui e tudo o mais. Essa a realidade, sem tirar nem por.
Ele ouve tudo e sabe que não pode desistir, nem desanimar, pois se o fizer estará num “mato sem cachorro”. O vejo efetuando gastos muito contidos. Pede indicações de restaurantes com preços bem baratos e ontem, quando foi numa entrevista na vila Falcão, o fez a pé, ida e volta. Contém os gastos em tudo. Sofro junto dele, pois ao vê-lo nessa busca por uma saída, penso no meu negócio, no que faço para obter renda e saldar meus compromissos. Como eram mais fáceis tempos atrás e como foram reduzidos nos tempos atuais. Sou obrigado a me desdobrar, descobrir atividades variadas para tentar continuar conseguindo algum. O faço, mas não são nem sombra da renda que tinha no mínimo uns cinco anos atrás. Com ele se dá a mesma coisa.
Não existe como acreditar em algumas manchetes apregoando a reação dos empregos no momento atual. Uma grande falácia para nos enganar. A dor que sinto em vendo tudo o que as ruas me mostram de crueldade sendo praticadas por um insano desGoverno Federal, com a conivência da mídia massiva, do Judiciário, do mundo político e das instituições, cresce o desalento. Abrigo o amigo que, se não em desespero, perto disso e querendo investir o pouco que lhe resta num negócio novo, numa cidade diferente, ares renovados. Sentados ontem na cozinha do mafuá ele me dizia do que já viu. Ouço e quero ajuda-lo, essa minha intenção. Não posso deixa-lo investir o que lhe resta em algo que não dará certo. Mas o que vai dar certo ou errado? Olho para sua expressão e juntos, nessa troca de olhares, ambos estamos cientes do Brasil que tivemos um dia e do que temos hoje, deixamos escapar nos dedos. Até quando vai perdurar o padecer de tudo, todas e todos? Que posso fazer além disso?
Ele se vai nos próximos dias e irá tomar decisões importantes em sua vida. Não posso fazer nada além do que faço e esse LAMENTO aqui descrito é feito para que não nos enganemos sobre os algozes de hoje e suas maldades para conosco. Não nos esqueçamos estarem esses destruindo um outrora soberano país. Destruindo o país, seu povo vai na mesma trilha. O exemplo vivenciado nesse texto se repete por todo lugar.
segunda-feira, 25 de junho de 2018
PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (136)
A CRUELDADE NEOLIBERAL NÃO ESTÁ NEM AÍ PARA AS CONDIÇÕES IMPOSTAS AO POVO https://www.pagina12.com.ar/124040-el-nino-que-murio-por-un-corte-de-luz
A crueldade está exposta numa das manchetes do jornal diário argentino, Página 12, edição de hoje (o melhor de toda América Latina), quando o país vizinho foi se afundando mais e mais com a chegada do neoliberal Maurício Macri ao poder. A primeira providência desses ao chegar ao poder é auxiliar os grandões, os barões do mercado, privatizar os serviços públicos e com isso os preços explodem. Como o país quebrou, a taxa de desemprego está elevadíssima, as pessoas escolhem o que pagar. Ou comem ou pagam contas. Lá os serviços básicos em poucos meses dispararam e estão num patamar impagável.
O resultado são catástrofes como a vista com a matéria aqui reproduzida. O mesmo ocorre aqui no Brasil com o Governo do ilegítimo, o golpista Michel Temer. Estão vendendo todas nossas riquezas e quando os serviços básicos nas mãos de insensíveis corporações, que nada mais enxergam além do lucro, o desespero bate na porta de todos. A insensibilidade neoliberal demite e fecha possibilidades da continuidade de empregos com um mero sopro. E como pagar as contas? Com um pequeno atraso, os cortes e o povo vivendo nas trevas. Aqui e lá, ou onde imperar o regime neoliberal, isso é a rotina. Não existe saída para um regime excludente como o sendo imposto a fórceps na América Latina.
Estão dilapidando tudo, entregando nas mãos de empresas transnacionais e essas fazem o serviço sujo sem dó e piedade. Sem uma reação popular, com uma virada de mesa, essa situação chegará em breve a um limite onde o vale tudo estará estabelecido e isso já vemos como se dá a solução por parte dos que nos governam, pela violência. Eles fazem tudo de mal para o povo e ainda jogam para conter a reação as forças policiais. O povo é mais, pode mais, porém, talvez só consiga reagir quando lhe expropriarem mais e mais. Por enquanto a crueldade prossegue.
E para completar o Baú de Maldades, o Jornal de Cidade, o único jornal diário da imprensa massiva em Bauru coloca como manchete de sua edição da última sexta, 22/6, algo que não consigo entender de onde tiraram: "Bauru já repõe mais de 1\3 dos empregos perdidos em 3 anos". Querem enganar a quem com isso? Em que condições estão surgindo esses empregos. Se for já dentro das novíssimas e insanas normas da legislação trabalhista aprovada pelos doentes a nos governar, não vejo nenhum avanço, mas retrocessos de imensa dor para o trabalhador brasileiro.
A verdade é bem outra e pode ser constatada com uma simples caminhada pelas ruas, principalmente pela periferia da cidade. Vejo uma manchete como essa, deslavada mentira, algo sendo urdido para enganar a todos, enquanto as maldades continuam ocorrendo e apunhalando dia após dia os costados do povo. Crer em quem nesses dias?
domingo, 24 de junho de 2018
PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (113)
NO RIO, EM BAURU E PAÍS AFORA - POR QUE ESSA VIOLÊNCIA CONTRA O POVO POBRE (E NA MAIORIA DOS CASOS, NEGRO)? Dois relatos que precisam ser levados na mais alta consideração:
RELATO 1 - “Ontem parecia um sábado normal com eventos e colocar conversa em dia com amigos. Ontem aconteceu um evento no Vitória Régia e após esse evento maravilhoso alguns jovens estavam lá ouvindo música não estavam atrapalhando ninguém tanto que os donos de bares ao lado não estavam incomodados. Para a juventude da periferia, preta não tem opção de rolê em Bauru a não ser praça. Estava tudo bem até a PM chegar, só ouvi um rapaz gritando eles vão jogar bomba eu e meus amigos não ligaram pois pensamos que isso seria absurdo do nada vem a fumaça em nossa direção, várias pessoas correndo e bombas de gás que não parava de vir em nossa direção. Pra que isso ? Eu estava lá e não vi nada de mais. Eu e meus amigos entramos em um bar e o dono mesmo ligando o ventilador e estávamos longe não estávamos aguentando com o gás. O mais engraçado quando o dono do estabelecimento foi questionar a polícia e perguntar o motivo desse absurdo e simplesmente disseram que eles chegaram lá para fazer ronda e o pessoal que estava no vitória régia jogaram garrafas neles . Seu policial você mente mal demais. PM mata depois vai ver em quem atirou. Não vejo entrarem em condomínios de luxos com festas cheias de drogas tacando bombas. Agora preto sentado na escadaria, alguns bebendo outros conversando incomoda muita gente”, Tetê Oliveira.
RELATO 2 - "NÃO ACABOU, TEM QUE ACABAR, EU QUERO O FIM DA POLÍCIA MILITAR! - Hoje, logo após o término do 2° Arraiá de Xangô no Vitória Régia, enquanto alguns trabalhadores ainda faziam o desmonte das barracas, a Polícia Militar - mais uma vez - agiu de forma extremamente abusiva, atirando bombas de gás em jovens que estavam no local. Não é a primeira vez que presencio algo parecido em Bauru. Desde a aprovação da Lei das Festas Clandestinas proposta pelo nosso ainda vereador Marquinhos da Diversidade, a polícia militar tem implodido qualquer rolê da juventude pobre nas áreas ditas "nobres". Cada vez menos existe o acesso ao lazer na cidade sem precisar encher os bolsos dos empresários donos de casas noturnas e tomar bomba da PM. Quando questionados por um comerciante da região sobre tal ação, ainda tive que ouvir de alguns policiais que o ataque só ocorreu devido a garrafas terem sido arremessadas contra as viaturas, sendo que eu estava lá e vi um total de 0 garrafas mas pelo menos umas 5 bombas, em jovens que não possuíam qualquer equiparação de forças. Chega de repressão à juventude que só quer espaços para se divertir e dar um rolê no final de semana, porque na Getúlio ou em estabelecimentos onde cola uma galera que tem grana isso nunca acontece?", Vinícius Pereira da Silva.
Cadê as "convincentes" explicações?
sábado, 23 de junho de 2018
MÚSICA (161)
ENVELHECI, MAS CONTINUO EM EXPOSIÇÃO - 58 BATENDO NA MINHA PORTA
Entristecido comunico a tudo, todas e todos, dia 23 de junho consigo completar mais um ano de existência e entre chuvas, trovoadas, processos, rasteiras, catracadas, apertos e aos trancos e barrancos, chego aos 58, com corpinho de 70. Peguem leve com esse mafuento, pois meus oráculos não possuem boa previsão para essa cansada carcaça, velha de guerra. A gente faz o que pode, pois o não posso, nem adianta insistir, não faço mesmo. Abracitos cordiais para os que me desejarem algo, de bom ou de ruim. Sento aqui na varanda no mafuá e cantarolo uma música do meu compositor preferido, Aldir Blanc (essa com Maurício Tapajós), "Entre o torresmo e a moela" (eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=MbJCbBDLebE), que de certa forma é um breve resumo de minha existência:
"Envelheci, mas continuo em exposição
A ex-mulher me chama de Sardinha de Balcão
Eu digo sempre que melhor que apodrecer ao lado dela
É ir mofando entre o torresmo e a moela
Porque lá em casa a barra era violenta
Eu padecia entre a mostarda e a pimenta
Agora vivo entre o cavaco e o violão
Lá em casa era entre o cutelo e o facão
Quem acordava entre a meleca e a remela
Prefere a vida entre o torresmo e a moela
De barco entre a tempestade e a piração do leme
Levava beiço do Ecad e bico da Capemi
Falavam mal de mim a sogra e a vizinha
Ai, eu penava entre o modess e a calcinha
Quem se amarrou entre cabresto, rédea e sela
Quer descansar entre o torresmo e a moela
Entrei para a política e votei no Leonel
Acabei entre o Agnaldo e a mãe, via Embratel
Pedi desculpa a um general que me deu na costela
O vice disse outra tolice, não lhe dei mais trela:
Entre o sambódromo e o bicheiro, rei da passarela
Quero é sambar entre o torresmo e a moela".
Qualquer dia desses tomamos umas brejas juntos. Apressemos a coisa, pois pode não dar tempo. Nem queiram passar pelo que passo, pois até uns anos atrás ainda me considerava o "rei da batata quenta", com tudo no lugar, pedra-noventa, mas agora, dói tudo, não funciona mais nada e o banco me cobra algo que nem sei como poderei saldar sem ser enjaulado. Com a ajuda de todos, pequena contribuição depositada em minha conta, me salvarei e irei novamente dar com os costados em Cuba, antes de bate com a dez. Posso contar com os que ainda acreditam um bocadinho em minha honesta proposta de tentar viver mais uns anos por essas plagas? Só vocês podem me tirar dessa enrascada...
sexta-feira, 22 de junho de 2018
ALFINETADA (166)
ROSE TRABALHA ENQUANTO O BRASIL JOGA NA COPA E DIZ NÃO GOSTAR DE FUTEBOL
O segundo jogo do Brasil na Copa do Mundo da Rússia estava prestes a começar e como tudo previamente combinado, o país parou e os avisos espalhados por todos os lugares anunciavam: “Em função do jogo abriremos na sexta somente às 12h”. Pouca coisa funciona no país do futebol no período da duração de um jogo de Copa. Alguns não têm como parar seus ofícios e trabalham. Um amigo dono de restaurante me disse ontem que foi difícil escolher quem poderia preparar o almoço da sexta, algo que tem que ser feito impreterivelmente no horário da contenta com a Costa Rica, marcado para 9h, com término por volta das 11h. Findo o jogo, batendo a fome, a comida terá que estar pronta à espera desses todos. Conto a história de uma senhora, moradora do Geisel e me dizendo um dia antes: “Irei trabalhar como sempre o faço às 8h. Não gosto de jogo e meus compromissos não me permitem o luxo de parar nesse dia”. Conto abaixo algo dessa pessoa, uma dentre tantas fazendo vista grossa para a Copa e ralando todo dia.
ROSE é diarista, faz faxinas e antes possuía agenda cheia, de segunda a sábado e também em alguns domingos. A renda advinda do trabalho é primordial para manter os gastos de sua casa. Hoje sua rotina se alterou, pois não consegue mais ter os dias preenchidos. Quem fazia faxina toda semana, com o que ocorre ao país atualmente, esse intervalo foi dilatado. Daí, profissionais como ROSALINA DA SILVA, 46 anos, uma trabalhadora braçal como tantas outras, buscam hoje ampliar o número de clientes, para no mínimo, não deixar sua renda cair mais do que ocorreu de uns anos para cá. Mora no bairro Geisel, quase ao lado da Perdigão, numa modesta casa, ao lado do marido e de três filhas, uma maior de idade. Num dia como hoje, o marido conseguiu só iniciar seu trabalho após as 12h, mas ela não. A “patroa” que a receberia nesse dia, disse que poderia chegar mais tarde, mas ela pensou consigo mesmo, “se o fizer, terei que ficar até mais tarde e como não gosto mesmo de futebol, para mim nada muda e a só por ter conseguido mais uma nova casa, me sinto recompensada”. Sua rotina é essa, sai de casa bem cedo, desce de ônibus até a cidade e de lá, se a distância for grande, outro até o local. Combina sempre 8h e fica até por volta das 18h, mas pedirem, acaba ficando até mais tarde, pois sabe muito bem, “com as coisas mais do que difíceis, melhor agradar do que desapontar e impor a saída no horário combinado”.
No trabalho do dia de hoje a deixaram a vontade, mas nem espiou o jogo e só ficou sabendo do resultado no final, ou pelos gritos ouvidos da sala. Rosa, como gosta de ser chamada não escolhe serviço e vai aonde é chamada. Cobra um preço considerado justo e dentro da média das outras exercendo a mesma função. Ruim mesmo quando num dia pega uma casa menor e noutro uma imensa, cobrando o mesmo preço para ambas. Sua rotina não termina ao sair do duro expediente de cada dia, pois ao chegar em casa, mesmo com as filhas já tendo adiantado muito, sempre encontra muitas outras tarefas para serem realizadas. Por fim, vê pouca TV, mesmo até gostando e só não o faz mais por absoluta falta de tempo. Quando sua rotina se encerra já está na hora de deitar e descansar, para tudo começar no dia seguinte. Chato mesmo, diz, quando acorda e não tem nenhuma casa para limpar no dia. Sabe que, o dinheiro que muito a ajudará nas despesas da casa naquele dia não vai entrar e assim, um buraco a mais no orçamento.
ESSE SIM FOI PÊNALTI E ESCANDALOSO: https://www.facebook.com/Globoesportecom/videos/10156625002675409/
quinta-feira, 21 de junho de 2018
RETRATOS DE BAURU (215)
DAMIÃO COM SUA INCREMENTADA BICICLETA ALEGRA AS RUAS DA CIDADE Paro no sinal e uma moça simples me entrega um folheto de revenda de carros. Lá o último lançamento, um que custa a bagatela de R$ 200 mil reais, fora a manutenção. Ao meu lado, vejo um senhor passar com um galão nas mãos e seguindo cabisbaixo em direção ao posto de combustível. Com certeza vai gastar algo além do que pode, tudo para manter rodando seu meio de locomoção. Sigo em frente e na Baixada do Silvino eis que encontro alguém a me alegrar o dia. Barra das calças amarradas por um saco plástico feito cordão para não enroscar no cilindro de sua “magrela”, alguém com um sorriso a me fazer ganhar o dia. Paro tudo, o abordo e aqui conto algo de sua história. Assim como ele mudou o meu dia, espero que mudem o de muitos vendo algo no horizonte descolorido, insosso, inodoro e insípido do mundo atual. Sempre existirá algo para nos ajudar a reverter o desânimo, eis um exemplo.
DAMIÃO DE OLIVEIRA BARRETO, 56 anos, mora na Pousada da Esperança e diariamente cruza a cidade, ida e volta, mais de 8 km, até seu local de trabalho, a sede da editora Edipro (a da Jalovi) na rua Primeiro de Agosto, circulando e pedalando sua incrementada bicicleta, seu meio de locomoção. É porteiro há 22 anos e nesse tempo todo fez muito pouco uso do ônibus circular, pois circula mesmo é com sua potente “magrela”. O que chama a atenção é como foi ao longo do tempo a transformando numa peça colorida e chamando muito a atenção por onde passe. Fui lhe perguntar como tudo começou? Religioso, diz ter “sido um projeto divino, dos céus. Ele me deu a inteligência e eu a usei”. Ele a adesivou com logomarcas de várias empresas, uma ao lado de outra, numa composição tipo a dos parangolés do Hélio Oiticica ou mesmo as peças do Bispo do Rosário e assim as expõe à visitação pública, advinda dos olhares a ele dirigido pelas ruas. Em cada nova abordagem, explica em detalhes cada colagem e do que vai juntando, do gosto por embelezar aquela que o leva cidade afora e como produz com esmero a manutenção do aparato. Nas horas vagas, numa oficina em sua residência ainda encontra tempo para manter ativa uma oficina de conserto de guarda-chuvas, essa funcionando há 18 anos (pedidos podem ser feitos na portaria da Edipro). Um senhor de bem com a vida, fazendo algo que gosta, feliz por ter conseguido com o que fez, atraiar novas amizades, conversas variadas e dessa forma, não passar despercebido. Estampado em sua face um permanente sorriso, advindo das explicações nas abordagens. E na despedida, monta na sua possante, que diz custar mais de R$ 2 mil e segue seu caminho. Diz ter que sair mais cedo de casa todo dia, pois muitos o param e daí, com as conversas tem receio de chegar atrasado ao serviço.
quarta-feira, 20 de junho de 2018
DICAS (173)
1.) MANZANO, OS TRÊS MOSQUETEIROS DA ENCADERNAÇÃO Tem história que não pode passar em branco e muito menos ser esquecida. A da encadernação em Bauru passa por um famoso sobrenome, muito conhecido na cidade. Trata-se de uma profissão meio que em extinção ou cada vez mais restrita e segmentada. Tempos atrás, mais precisamente em 2009 contei a história de outro com a mesma persistência, seu Clóvis de Garça. Eis o link: https://mafuadohpa.blogspot.com/search…. E a do seu Vaz, de Novo Horizonte: https://mafuadohpa.blogspot.com/search…. Em ambos, algo muito triste, fizeram sucesso, mas não tiveram solução de continuidade. Nenhum filho ou parente deles deu continuidade na atividade exercida brilhantemente pelos anfitriões. Conto algo desses três irmãos de Bauru.
MARCOS, BETO E LAERTE MANZANO estão na atividade de encadernação há exatos 55 anos. São uma referência na cidade e região quando o assunto são a "capa-dura, teses, encadernação, espirais, livros fiscais, binder, restauração e TCC". O lema da empresa está expresso no cartão de visitas, "a qualidade ao lado da arte". A imensa maioria das bancas de revistas os indicam para encadernar revistas e enciclopédias, além do mesmo ocorrer nas universidades para os trabalhos acadêmicos. Trabalhando num mercado muito segmentado, muitas empresas já atuaram nesse ramo, mas com o passar dos anos, muitos não resistiram e foram em busca de outras atividades. Eles permaneceram, sempre no mesmo lugar, estabelecidos ali na rua alto Acre nº 3-42, começo do jardim Bela Vista. A atividade ainda é o sustento da família desses três abnegados irmãos, tirando leite de pedra e tocando o barco para a frente. Não perdem a esperança de quando cansarem, chegarem o tempo de parar, consigam entre os seus encontrar algum Manzano para dar prosseguimento ao negócio. Quem circula por lá e vê todo o maquinário conseguido ao longo dos anos, muitos hoje quase ociosos, não imagina o quanto fluia de movimentação e barulho naquele recinto. Hoje, eles mesmos dividem as tarefas e se safam com maestria e sutileza, buscando um mercado junto a quem sabem ainda necessitam de um trabalho bem feito. Seguindo rigorosamente as normas estabelecidas para armazenamento de trabalhos acadêmicos, seguem por saberem atuar num filão, que mesmo diminuido a concorrência, seguirá sempre necessário. Os Manzano são a cara da encadernação na cidade, sabem disso e até por causa disso não deixam a peteca e nem a qualidade cair.
2.) ZÉ DA VIOLA NOS DEIXOU... Ontem ciurculando e pagando contas pelo centro velho da cidade, rua Gustavo entre Ezequiel e 1º Agosto sou abordado por um cidadão me chamando pelo nome. Abro um baita sorriso, desses de boca a boca. Era seu ZÉ DA VIOLA, um violeiro e sanfoneiro que já comandou na aldeia bauruense casas noturnas aos estilo arrasta pé da maior responsa. Foi meu número 1 dos relatos que faço regularmente aqui, o Personagens Sem Carimbo - O Lado B de Bauru. Era lindo vê-lo nos shows cidade afora com a disposição de quem é grandioso, mas adora observar o que os colegas aprontam pela aí. Certa vez um garoto de uma orquestra lhe disse ser maestro. Ele me disse: "Tive que rir, pois estudei música a vida inteira e não cheguei nem perto disso". Triste foi vê-lo tempos atrás vendendo picolé pelas ruas da cidade, mas o fazia com a devida galhardia e dignidade, algo que nunca dele estiveram distantes. Grande figura humana, um que abrigou em seus forrós n ada menos que Toninho Ferraguti, hoje um músico universal, mas sendo de Botucatu, começou sanfonando com ele na periferia bauruense.
Pois bem, Zé da viola estava sumido e já comentava comigo mesmo: Por onde andará o Zé? O via muito lá pelos lados do Pingueta, mas desaparaceu misteriosamente. Estaria doente? Hoje elucidei a charada. O velho bardo não está mais morando em Bauru e sim, no Guarujá (pertinho do tal apartamento que os malvados enfiaram como sendo do Lula só para tirá-lo do pleito já ganho). Foi abrigado por uma sobrinha generosa e no sorriso diz estar feliz da vida. Me passa o mapa e diz para passar a notícia adiante. Está localizado bem defronte o Hospital Santo Amaro, ali ao lado a Amanda Cosméticos, da sobrinha e também ali perto o restaurante Nino's (três na cidade), da irmã Cecília, onde almoça e janta todos os dias. Mora na rua Rivaldo Fernandes 368, 3º andar, apartamento 31, jardim Tejereba (nome de um peixe). Passo a notícia adiante, como me pediu, pois pedido de Zé da Viola é para mim uma ordem. Esse é um daqueles que adoro reencontrar pelas ruas, bate papo alvissareiro garantido. Gente da melhor estirpe.
terça-feira, 19 de junho de 2018
OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (113)
CONVESCOTE ESQUERDISTA NAS BARBAS DO GENERAL E NA NOITE DE SEGUNDA
Antonio Pedroso Junior hoje morando em Sorocaba, quando retorna para a cidade, nem que seja por alguns dias, não gosta de permanecer sozinho. Já vai fazendo contatos na viagem de volta e tenta aglutinar amigos para que o esperem com a devida pompa no seu quartel general, o General Bar, ali ao lado do clube Nipo Brasileiro. Dessa feita os consistentes chamativos despertaram a atenção de alguns e mesmo numa segunda-feira um tanto friorenta, os motivos eram mais do que fortes.
Numa mesa do lado de fora do estabelecimento, sem a proteção de uma mera cobertura, todos sujeitos às intempéries da natureza, o convescote foi de todo animado, pois um dos requisitos básicos para a convocação era o de pertencer ao segmento da esquerda bauruense. Lá estiveram além do proponente, Darcy Rodrigues, o sempre lembrado como braço forte do sempre saudoso capitão Carlos Lamarca, Milton Dota, um ex-vereador desses que faz falta em qualquer Casa de Leis, José Canella, um que não mudou de lado mesmo tendo auferido sucesso nos seu empreendimento comercial, Jeferson Rodrigues Barbosa, o Jeffé, emérito professor de Ciências Sociais da Unesp Bauru e mentor político de uma pá de boas histórias dos bastidores dessa cidade, Eduardo Piotto, o vigilante, ou simplesmente um dos diretores de um dos Sindicatos dos Agentes Penitenciários da região e este escriba.
Imaginem os senhores a conversa que rola num encontro como esse, regado a algumas doses de uma boa cachaça e muita cerveja, gelada como só o Wagnão, dono do bar numa das encruzilhadas mais politizadas da cidade e de sua esposa e partner, prestativa até a medula em petiscos de grande valia intestinal? Sentiram o clima? Na verdade, nem sei por onde começar. Assunto não falta a todos para, não só se reunirem, como deitarem muita falação. O convescote durou bem umas quatro horas e não teve a presença feminina, não que elas não fossem convidadas, mas pelo não comparecimento. Seriam e são sempre bem vindas, pois estariam muito bem enfronhadas com a temática pairando no ar.
De cara um compromisso assumido. Pedroso está realizando encontros de bate papo futebolísticos, com mistura de temas políticos com nada menos que Afonsinho, o primeiro jogador a receber passe-livre no futebol brasileiro e o irmão do Zico, o revolucionário Nando, o primeiro jogador anistiado do país. Uma mistura que dá um papo desses de adentrar a noite. Definido que, quando estiverem em agosto na vizinha São Carlos, o grupo de Bauru os trariam para fazer o mesmo em algum lugar ainda sendo pensando por aqui. Falou-se de todos esses que, de uma forma ou de outra infernizaram a vida dos dirigentes esportivos deste país, desde os dois, mais Sócrates, Almir Pernambuquinho e outros capetas. Em agosto a coisa vai acontecer por aqui, compromisso selado na mesa do bar.
A novidade na mesa e desses que circula por aqui com maior espaçamento de tempo ficou por conta do Jeferson, uma espécie de guru político de muitos ali presentes e de outro tanto ausentes. Da conversa sobre quem lançou quem na política, quem fez isso e fez aquilo, viro para ele e lhe provoco: “Isso tudo que ouço aqui não está ainda contado em nenhum livro, registrado em lugar nenhum. E por que não escreve isso? Tem muita história para contar”. E provocado pelos da mesa, as histórias fluem, umas cabeludas, outras picantes, mas todas por demais interessantes. Poderia dar nomes a alguns bois aqui, para ir levantando a lebre de tanta coisa que falta ser revelada sobre o passado político bauruense, mas não o faço, até por não ficar publicando pequenos fragmentos. Num bar, esses são esmiuçados no pé do ouvido, mas colocar no papel, mereceriam melhor acabamento. Fica para outra ocasião, mas ouvir coisas que ainda não tinha tomado conhecimento de bastidores.
Darcy rivaliza, no bom sentido, sem que nenhum tenha necessidade de fazer uso da faca na algibeira, com o Pedroso. São histórias compridas de um lado e de outro. Eu e Zé Canella, ouvidos atentos, mais calados que falantes, aprendendo com a sapiência da somatória dos anos ali desfraldados. Divertido ver como ocorrem as interrupções nos relatos. Esses tem muito o que falar e quando diante de uma rica oportunidade como o dessa noite, a aproveitam nos seus mínimos detalhes. Outro que esbanja histórias é o Dotão, um sempre procurado para se lembrar de algum detalhe esquecido no meio de uma história. “Quem é mesmo aquele que...?”, buscam a revelação pela mente sempre atenta e acervo de valorosa consulta coletiva. Eu sei que num certo momento, nem sei quem dos presentes, mas relembraram de uma reunião, nem sei se clandestina ou não, mas ocorrida numa mesa de bordel. Um deles reafirma: “Muita coisa eram decidida nessas mesas”.
Jeferson contou uma linda história da rua onde mora em Natal, a São Matias, sobre a escolha de Cristo para ele completar o quadro de discípulos após a traição de Judas. “O mais simples, o menos empoado, o com menos cabedal e pompa”, diz. E explica dos motivos. O assunto recai no tema comida e por fim num especialista, o folclorista Luiz Câmara Cascudo. Todos versam sobre ele e eu para encerrar o assunto conto algo dele sobre comida. “Perguntaram a ele, entendido de todas as comidas brasileiras, qual a melhor de todas. Ele não vacila, responde curto e grosso, a melhor mesmo é a que produz uma boa bosta”. Um assunto vai puxando outro e dentro das possibilidades e do poder de convencimento de cada um dos presentes, cada um fica por instantes com a palavra e a faz uso da melhor maneira possível.
Ali ninguém quer convencer ninguém de nada, nem ser um pedante com o outro, querer aparecer, nada disso. Trata-se de uma conversa entre velhos amigos e conhecidos. Em alguns momentos a roda se divide, um ou outro se afasta para uma conversa mais ao pé do ouvido, um assunto entre paredes, mas logo o grupo está refeito e o furdunço tem continuidade. Claro que o assunto permeando as boas discussões foi a política atual e o momento vivido com essa insano e cruel golpe sob os costados de todos. Todos com Lula e alguns até mais confiantes. “Sai essa semana”. Outros menos. “Sai só quando não representar mais perigo para os canalhas no poder”. Esquerda reunida, vários segmentos dela ali juntados, todos com uma longa história de vida política, mas com uma convergência, a de estarem perfilados com Lula neste momento da vida nacional. A cada menção são sacados relatos do arco da velha, histórias revividas e enquanto cada um conta uma, na preparação muitos outros relatos, uma na sequência do outro, mal dando tempo para a fungada respiratória.
Quem acabou a festa foi o Wagnão, com o seu jeito de simples de resolver isso da última mesa a ser fechada num bar, sempre com aqueles renovando a cada chamado a saideira e isso tendo prolongamento sem definição garantida. Mesas são retiradas no entorno, cenário ficando pelado, mas essa resistindo. O dono dá uma de elefante numa loja de cristais, entra na conversa mais para dispersar o grupo e só consegue no adiantado da hora. Assunto existia para muito mais e a promessa é algo dessa natureza ter prolongamentos em outras oportunidades, talvez na próxima visita do Pedroso à Bauru. Foi só o pessoal se levantar, até a mesa foi recolhida e quando um olhou para o outro, todos em pé, luzes sendo apagadas, o jeito foi ir dormir. Mesmo com a desfeita, a conta foi paga.
segunda-feira, 18 de junho de 2018
COMENTÁRIO QUALQUER (176)
FRAGMENTOS DE UMA CONTURBADA SEGUNDA
1.) O CARA VEIO QUERER DISCUTIR SOBRE NÃO VIVERMOS NUM ESTADO DE GOLPE, GOLPISTAS E TENTEI EXPLICAR, NÃO CONSEGUI...
Vou até meu limite com esses. Tento fazê-los entender da besteira que fazem ao estarem do lado dos que vendem o país a preço de banana. Insistem em me denominar petista (como se o termo fosse depreciativo), pelo simples fato de me opor ao que pensam. Fazem uma defesa extremada do neoliberalismo, mesmo o país se encontrando num afundamento nunca visto, quebradeira generalizada, instituições todas comprometidas com o que de pior temos. Defendem como lhe vendem a ideia de se desfazer de tudo, privatizar tudo e não aceitam reconhecer o óbvio, o de que tínhamos um país muito mais decente e viável do que o atual nos tempos de Lula. Por fim, para um desses, envio essa frase de Fidel e isso, creio eu, mais o enfureceu do que melhorou a situação, pois não deve ter nem lido (nem sei se entenderia a mensagem) e já me chamou de comunista. Não perdi mais tempo, deletei e fui tomar um copo de vinho. Não sou pedante, metido a besta, desses que se acham superior a ninguém (até por que isso é uma grande besteira), mas em alguns momentos não existe nenhuma chance em continuar perdendo tempo com quem está enfileirado com a derrocada do país enquanto nação soberana. Triste Brasil.
A frase de Fidel caindo como uma luva para tentar encraminholar algo mais na cabeça de quem está iludido pelo capitalismo neoliberal e não aceita mais nada, mesmo não sabendo direito o que lhe enfiam goela abaixo:
“... Não admitam que ninguém acredite em nada que não compreenda. Assim se produzem fanáticos, se desenvolvem inteligências místicas, dogmáticas, fanáticas. E quando alguém não compreende algo, não parem de discutir com ele até que compreenda, e, se não compreende hoje, compreenderá amanhã, compreenderá depois de amanhã, [...]. Que ninguém vá a nenhuma escola revolucionária para ser doutrinado. Que ninguém se deixe doutrinar, que ninguém aceite absolutamente nada que não compreenda. Que vá educar-se, aprender a pensar, aprender a analisar, a receber elementos de juízo que compreenda ....", Fidel Castro, 1 de dezembro de 1961.
Eles não compreendem o que se passa de fato com o país, mas insistem em continuar o destruindo e ao lado dos piores. O vinho me salva.
2.) O QUE ESSA CARMEN LUCIA FAZ AO BRASIL É ALGO DE INTOLERÁVEL - MINO CARTA FOI NA VEIA NO SEU EDITORIAL DESTA SEMANA EM CARTA CAPITAL: https://www.cartacapital.com.br/revista/1008/a-medusa
3.) LA MANO DEL 10 – MARADONA E VICTOR HUGO MORALES O programa de TV que fez muito sucesso na Copa do Mundo no Brasil está de volta. O bate bola entre esses dois craques, cada um na sua especialidade com os pormenores da transmissão da Copa da Rússia, exclusividade da Telesur para mais de 60 países é algo que faço questão de indicar. Coloquei de fundo aqui nas atividades das quais estou incumbido de cumprir aqui pelos lados do Mafuá e deixo a coisa rolar solta. O papo flui e preenche os espaços. O link dos primeiros programas está abaixo relacionado e para quem gostar, vasculhem pelo google, youtube e continuem assistindo algo fora dos padrões que vemos nos programas esportivos brasileiros. Ótimo ver declarações como essa dos ouvintes/telespectadores: “Abrazo fraterno de los pueblos comprometidos con la liberación del "neoliberalismo"!! Abrazo latinoamericano!! Estamos de pie y muy vivos,más que nunca!!!”. Imperdível a homenagem de Maradona para o ex-presidente Lula, algo que nenhum jornalista brasileiro na Rússia teve a ousadia ou a coragem de fazer até o presente momento. Nesse cruel momento vivido por Brasil, Argentina e a maioria dos países latino-americanos, a fala dos dois versando livremente sobre futebol, política e nossos povos é um alento, algo para recarregar baterias:
1ª transmissão - https://www.youtube.com/watch?v=CbL5JuW8uQ8
2ª transmissão (convidado especial: presidente boliviano Evo Morales) - https://www.youtube.com/watch?v=CW4aptCZ118
3ª transmissão - https://www.youtube.com/watch?v=x3AdLXAwTE4 Outras transmissões - https://twitter.com/DeLaManodelDiez?ref_src=twsrc%5Etfw&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.telesurtv.net%2Fnews%2Fmexico-alemania-maradona-mundial-rusia-2018-de-la-mano-del-10-20180617-0071.html
A chamada da Telesur - http://delamanodeldiezmaradona.telesurtv.net/
4.) COXINHAS SÃO BOÇAIS, BESTIAIS E INSANOS POR ONDE PASSEM, AQUI OU ALHURES...
Eis o mais novo exemplo, torcedores brasileiros envergonhando o Brasil por onde passem. Isso vai além de torcer, vai além de ser um cidadão universal, mas demonstra muito da bestialidade dos que estão pela aí pululando malversações contra nossos costados.
Eis o link da bestialidade desses na Rússia: https://www.diariodobrasil.org/russia-atitude-grotesca-de-torcedores-brasileiros-repercute-no-mundo/
5.) CADÊ O ÂNIMO BRASILEIRO, ERIC NEPOMUCENO, IN PÁGINA 12
Ótimo para dar o pontapé inicial em mais uma semana enfronhado neste cruel e insano golpe arrastando o país para o caos. Elis o link para ler o texto: https://www.pagina12.com.ar/122360-un-brasil-sin-animo
domingo, 17 de junho de 2018
COMENDO PELAS BEIRADAS (56)
DUAS HISTÓRIAS DO DIA DE ESTRÉIA DO BRASIL NA COPA DO MUNDO
1.) ACORDO DOMINGO E VOU REVER MEU AMIGO...
A rotina dominical passa pelo Gustavo Mangili. Ele é filho de outro amigo, o Claudio Vieira, dono da banca de jornais e revistas do Paulistão na Nações. Antes tiveram uma banca na Duque, quase esquina com a Gustavo Maciel e era ali que comparecia todo domingo pela manhã. O faço para ir buscar a revista semanal que faço questão de ler, a Carta Capital. Enquanto o pai hoje toma conta da banca lá na frente do Confiança da Falcão, o filho abre essa na Nações e aqui permanece durante o dia todo. Ele já me confessou que o negócio de revistas está em baixa e para não fecha-lo, inovou e o incrementou com uma charmosa tabacaria. O local atrai clientes variados, fumantes de toda estirpe. Vejo desde seda como fumo para todos os gostos. Tem até para o nargilê, aquele que todo mundo fuma na mesma embocadura. Sei que o Gustavo não abre tão cedo como pai fazia, daí chego sempre entre 8h30 e 9h. Sou um dos primeiros a levar a revista. Não saio do estacionamento enquanto não a folhear por inteiro. Minha rotina dominical.
Hoje pego o Gustavo abrindo a banca e carregando para dentro uma pilha de jornais, os mesmos que ele espera saírem de lá nas mãos dos clientes. Nesse período de Copa, me diz, apareceram alguns a mais, tudo pelo motivo do futebol estar dominando a cena. Tiro uma foto sua carregando a pilha e ainda com a olheira da noite mal dormida. Jovem, mesmo apaixonado pela companheira colombiana, não tem cara de quem dorme cedo. O conheço desde muito moleque, dos tempos que o pai vindo de Marília aqui aportou e nunca mais parou com esse negócio de vender revistas. Moravam ao lado da banca ali na Duque e até em festas na casa deles acabei indo, amizade nascida do contato com isso de frequentar bancas.
Tenho uma linda história com o Gustavo e já a contei num longo texto no Mafuá. Ana Bia Andrade, a companheira de todas as horas herdou a biblioteca do pai após seu falecimento e depois de muito tempo no meio dos livros, alguns foram vendidos para um livreiro de Araraquara. Mas como levar os livros do Rio de Janeiro para o interior paulista? O Cláudio me emprestou sua pick-up e fomos ao Rio eu e o Gustavo. Passeamos um pouco, lhe apresentei a cidade, circulamos pelos pontos turísticos e voltamos com ela abarrotada. Descarregamos tudo na livraria em Araraquara. Coisa de amigos. Como não gostar deles? Minha fidelidade hoje demonstro comprando minha revista semanal ali com ele todo domingo pela manhã. Mantenho o contato e seguimos em frente com a amizade.
São dois batutas, cheios de boas histórias para contar. Se tivesse mais tempo sentaria lá numa das cadeiras de um bar que montaram junto da banca das Nações e ficaria registrando seus causos. Todo ambiente como o deles produz belos relatos de vida. Eu mesmo já presenciei gente paciente como eu esperando do lado de fora da banca, sentadinho no meio fio, até que o dono chegue com o seu objeto de consumo. Hoje compro o pouco que leio em duas bancas, essas dessa família e algo mais na da Ilda, lá defronte o Aeroporto. Até poderia fazer assinatura do que leio, mas não o faço, pois perderia o contato com eles e sem motivo para ir visitá-los com a frequência que faço, não tomaria conhecimento das belas histórias que me contam. E como sabem, não fico sem elas. Nada como acordar num domingo de manhã sabendo de antemão do roteiro a ser seguido, primeiro a banca, folhear a revista preferida e depois ir pra feira, a do Rolo e lá se esbaldar no recanto mais democrático desta cidade. o que vem demais eu não tenho programado, mas desses dois não abro mão.
2.) O SORVETEIRO SOZINHO NA PRAÇA
Meia hora antes do jogo começar eu volto pra casa. As ruas já estão vazias. Tudo bem, hoje é domingo e mesmo que alguns continuem afirmando não irão torcer pro Brasil, dificilmente deixarão de ao menos assistir o jogo de estréia na Copa. Venho subindo pela rua Antonio Alves e já na praça Rui Barbosa, pouco movimento. O movimento que vejo são dos apressados tentando de tudo para chegar em casa antes do apito do juiz. Eu um deles. Acelero, chego nos sinais, olho dos dois lados e atravesso, outros fazem o mesmo. Somos os apressadinhos de última hora.
Ao passar defronte a pista de skate junto do Aeroclube algo me chama a atenção. Uns três jovens ainda estão na pista, mas do lado de fora mais ninguém. Epa! Vejo alguém e é dele que quero escrever. Um sorveteiro, jeitão queimado pela inclemência do sol, desses que devem permanecer muitas horas por dia rodando por aí atrás de uns caraminguás. Está ali com seu carrinho e em busca de perdidos clientes. O dia não está tão quente, o que já é motivo para não ter uma clientela como nos dias onde suamos à cântaros. A sua imagem me faz até parar o carro e esquecer por instantes da pressa para chegar em casa.
Paro o carro e vou lá chupar um picolé. Comprei um de goiaba e puxei conversa. Perguntei se não iria assistir o jogo. Ele me disse que gostaria, mas pegou o carrinho cedo e ainda tem muito para vender. "Não foi um dia bom, está frio. Não posso devolver o carrinho pela metade. Vou insistir por aqui, pois os meninos lotam aqui de domingo à tarde, mas hoje vejo que não vai ser a mesma coisa. Sempre pinta alguém e depois me contam o resultado. Vejo os gols à noite, pois tenho que levar algum para casa", me diz. Nem um radinho de pilha o acompanha na sua rotina de trabalho.
Não lhe perguntei mais nada. Volto para o carro e antes de sair em disparada para casa, dou mais uma olhada para trás e ele lá, agora praticamente sozinho com seu carrinho. Quantos não estão pela aí tentando algo a mais para sanar buracos enormes no orçamento? E volto pensando cá com meus botões algo ainda mais triste: se agora, quase 15h, temperatura ainda quente, ninguém nas ruas, quando o jogo terminar, depois das 17h, o frio e vento vai estar se instalando lá naquela região da cidade e as chances de vender serão cada vez menores. Triste deixá-lo para trás. No caminho outros apressados e retardatários correm para chegar em casa antes da contenda começar. A TV ligada, jogo começando e eu pensando no sorveteiro lá na praça, ele e mais ninguém lá na praça. Uma hora dessas até os garotos já se foram. Tô quase saindo no intervalo só pra ver se ainda está por lá e escolher mais um picolé de fruta. Um pra mim, outro pra Ana Bia.
A rotina dominical passa pelo Gustavo Mangili. Ele é filho de outro amigo, o Claudio Vieira, dono da banca de jornais e revistas do Paulistão na Nações. Antes tiveram uma banca na Duque, quase esquina com a Gustavo Maciel e era ali que comparecia todo domingo pela manhã. O faço para ir buscar a revista semanal que faço questão de ler, a Carta Capital. Enquanto o pai hoje toma conta da banca lá na frente do Confiança da Falcão, o filho abre essa na Nações e aqui permanece durante o dia todo. Ele já me confessou que o negócio de revistas está em baixa e para não fecha-lo, inovou e o incrementou com uma charmosa tabacaria. O local atrai clientes variados, fumantes de toda estirpe. Vejo desde seda como fumo para todos os gostos. Tem até para o nargilê, aquele que todo mundo fuma na mesma embocadura. Sei que o Gustavo não abre tão cedo como pai fazia, daí chego sempre entre 8h30 e 9h. Sou um dos primeiros a levar a revista. Não saio do estacionamento enquanto não a folhear por inteiro. Minha rotina dominical.
Hoje pego o Gustavo abrindo a banca e carregando para dentro uma pilha de jornais, os mesmos que ele espera saírem de lá nas mãos dos clientes. Nesse período de Copa, me diz, apareceram alguns a mais, tudo pelo motivo do futebol estar dominando a cena. Tiro uma foto sua carregando a pilha e ainda com a olheira da noite mal dormida. Jovem, mesmo apaixonado pela companheira colombiana, não tem cara de quem dorme cedo. O conheço desde muito moleque, dos tempos que o pai vindo de Marília aqui aportou e nunca mais parou com esse negócio de vender revistas. Moravam ao lado da banca ali na Duque e até em festas na casa deles acabei indo, amizade nascida do contato com isso de frequentar bancas.
Tenho uma linda história com o Gustavo e já a contei num longo texto no Mafuá. Ana Bia Andrade, a companheira de todas as horas herdou a biblioteca do pai após seu falecimento e depois de muito tempo no meio dos livros, alguns foram vendidos para um livreiro de Araraquara. Mas como levar os livros do Rio de Janeiro para o interior paulista? O Cláudio me emprestou sua pick-up e fomos ao Rio eu e o Gustavo. Passeamos um pouco, lhe apresentei a cidade, circulamos pelos pontos turísticos e voltamos com ela abarrotada. Descarregamos tudo na livraria em Araraquara. Coisa de amigos. Como não gostar deles? Minha fidelidade hoje demonstro comprando minha revista semanal ali com ele todo domingo pela manhã. Mantenho o contato e seguimos em frente com a amizade.
São dois batutas, cheios de boas histórias para contar. Se tivesse mais tempo sentaria lá numa das cadeiras de um bar que montaram junto da banca das Nações e ficaria registrando seus causos. Todo ambiente como o deles produz belos relatos de vida. Eu mesmo já presenciei gente paciente como eu esperando do lado de fora da banca, sentadinho no meio fio, até que o dono chegue com o seu objeto de consumo. Hoje compro o pouco que leio em duas bancas, essas dessa família e algo mais na da Ilda, lá defronte o Aeroporto. Até poderia fazer assinatura do que leio, mas não o faço, pois perderia o contato com eles e sem motivo para ir visitá-los com a frequência que faço, não tomaria conhecimento das belas histórias que me contam. E como sabem, não fico sem elas. Nada como acordar num domingo de manhã sabendo de antemão do roteiro a ser seguido, primeiro a banca, folhear a revista preferida e depois ir pra feira, a do Rolo e lá se esbaldar no recanto mais democrático desta cidade. o que vem demais eu não tenho programado, mas desses dois não abro mão.
2.) O SORVETEIRO SOZINHO NA PRAÇA
Meia hora antes do jogo começar eu volto pra casa. As ruas já estão vazias. Tudo bem, hoje é domingo e mesmo que alguns continuem afirmando não irão torcer pro Brasil, dificilmente deixarão de ao menos assistir o jogo de estréia na Copa. Venho subindo pela rua Antonio Alves e já na praça Rui Barbosa, pouco movimento. O movimento que vejo são dos apressados tentando de tudo para chegar em casa antes do apito do juiz. Eu um deles. Acelero, chego nos sinais, olho dos dois lados e atravesso, outros fazem o mesmo. Somos os apressadinhos de última hora.
Ao passar defronte a pista de skate junto do Aeroclube algo me chama a atenção. Uns três jovens ainda estão na pista, mas do lado de fora mais ninguém. Epa! Vejo alguém e é dele que quero escrever. Um sorveteiro, jeitão queimado pela inclemência do sol, desses que devem permanecer muitas horas por dia rodando por aí atrás de uns caraminguás. Está ali com seu carrinho e em busca de perdidos clientes. O dia não está tão quente, o que já é motivo para não ter uma clientela como nos dias onde suamos à cântaros. A sua imagem me faz até parar o carro e esquecer por instantes da pressa para chegar em casa.
Paro o carro e vou lá chupar um picolé. Comprei um de goiaba e puxei conversa. Perguntei se não iria assistir o jogo. Ele me disse que gostaria, mas pegou o carrinho cedo e ainda tem muito para vender. "Não foi um dia bom, está frio. Não posso devolver o carrinho pela metade. Vou insistir por aqui, pois os meninos lotam aqui de domingo à tarde, mas hoje vejo que não vai ser a mesma coisa. Sempre pinta alguém e depois me contam o resultado. Vejo os gols à noite, pois tenho que levar algum para casa", me diz. Nem um radinho de pilha o acompanha na sua rotina de trabalho.
Não lhe perguntei mais nada. Volto para o carro e antes de sair em disparada para casa, dou mais uma olhada para trás e ele lá, agora praticamente sozinho com seu carrinho. Quantos não estão pela aí tentando algo a mais para sanar buracos enormes no orçamento? E volto pensando cá com meus botões algo ainda mais triste: se agora, quase 15h, temperatura ainda quente, ninguém nas ruas, quando o jogo terminar, depois das 17h, o frio e vento vai estar se instalando lá naquela região da cidade e as chances de vender serão cada vez menores. Triste deixá-lo para trás. No caminho outros apressados e retardatários correm para chegar em casa antes da contenda começar. A TV ligada, jogo começando e eu pensando no sorveteiro lá na praça, ele e mais ninguém lá na praça. Uma hora dessas até os garotos já se foram. Tô quase saindo no intervalo só pra ver se ainda está por lá e escolher mais um picolé de fruta. Um pra mim, outro pra Ana Bia.