sábado, 31 de agosto de 2013

RELATOS PORTENHOS (07)


OS AZULEJOS URUGUAIOS EM HOMENAGEM AO DEUS BACO
Peguei um gosto danado de vinho por causa da Ana Bia. Sempre fui adepto de uma boa e gelada cevada, não me importando muito com a marca, mas com a procedência. Assim como a maioria tenho as de minha preferência. Ana me ensinou o básico sobre vinhos, algo que para mim passava batido. Hoje já sei distinguir alguma coisa, pouca mas que me faz não beber (sic) gato por lebre. Ela, como boa admiradora de vinho, descendente de portugueses, nessa viagem para Argentina, demos uma passada muito rápida num final de semana pelo Uruguai (27 e 28/07), Colônia del Sacramento, pertinho de Buenos Aires, atravessando o rio da Prata com um imenso e caro ferryboat, que lá recebe o pomposo nome de Boquebus (tem também o Seacet, menos famoso e mais barato). Eu fui por interesse em conhecer a cultura local, perambular pelo país vizinho e tão cheio de encantamentos. Ana o foi por única e exclusiva necessidade de fazer uma rápida pesquisa na arquitetura e azulejaria da pequena cidade, tombada pelo patrimônio história da humanidade, algo significativo do design local. Material não lhe faltou.

Colônia é muito mais frio que Buenos Aires. Estive lá pela segunda vez, ano passado e nesse. Em ambas as vezes um frio de rachar mamona. Nada como beber vinho e em torno de uma fornalha. Fizemos isso andando muito pela parte histórica e central da cidade. Registramos belas fotos com muitos azulejos históricos e outro tanto na frente das residências, principalmente usados na sua numeração e até como fachadas de lojas. Impossível andar um só quarteirão que fosse sem trombar com muitos deles e um mais significativo que o outro. Ela trouxe belas fotos, que irá utilizar em trabalhos seus na universidade e infelizmente, não os posso divulgar. Uma pena. Mas, como escrevi do bom vinho, tão necessário com o frio, descobri algo mais e fiz um registro fotográfico ao meu modo e jeito. 

Em primeiro lugar uma clara e evidente constatação. Não tenho motivos para exacerbar nada contra o modo como o argentino trata os turistas. São o modo lá deles e aprendi a conviver e a entendê-los. Muitos são bastante generosos, alguns poucos não, mas nos uruguaios vi uma presteza de atenção em todos. Flui um diálogo de forma muito mais rápida, gostoso e proveitoso. Pois bem, dito isso, numa loja dessas de lembrancinhas, um uruguaio atrás de um balcão e numa prateleira uma infinidade de pequenos azulejos com escritos sobre vinhos (alguns sobre culinária). Confesso, eram todos muito simples, mas diferentes e difíceis de serem encontrados no Brasil. Caíram nas minhas graças e após o consentimento do balconista (lá aprendi algo, deve-se pedir sempre autorização para tirar fotos em lugares fechados), tirei várias fotos de todos eles.

Meu post de hoje é sobre eles, os azulejos com frases do peculiar e saudável gosto de se tomar um bom vinho. Como já confessei, acabei me transformando também num devorador de vinhos, porém com certa moderação, motivado por uma diabetes a me infernizar e um triglicerídeos alto. Difícil isso de, com o passar dos anos, você conseguir mudar alguns dos seus hábitos, como esse de trocar gradativamente a cerveja pelo vinho e descobrir que tanto um como outro devem ser consumidos com muita (mas muita mesmo) moderação. O corpo desse desalinhado HPA, mesmo querendo, já não consegue mais acompanhar as estripulias que insisto em querer continuar fazendo. Bem, voltemos aos azulejos, Ana trouxe alguns e eu, hoje me arrependo, nenhum. Trouxe as fotos, não tão boas e as exponho aqui e agora.

ALFINETADA (114)


EU NO BLOG DESDE 2007 E N’O ALFINETE DESDE 2000 – E AGORA NO NY TIMES
Hoje, na sequencia de expor publicamente meus textos antigos n’O Alfinete (semanário de Pirajuí SP), reproduzo mais três, todos do começo de 2001, quando os denominava de “Apontamentos da Periferia de Pirajuí”. São eles, o de nº 104, “Livro sempre foi um bom negócio”, de 24/02/2001, nº 105, “No Limite: O lado ruim da TV”, de 03/03/2001 e nº 106, “Nepotismo é coisa muito feia”, de 10/03/2001. Marcelo Pavanato, uma espécie de faz tudo no hebdomadário, fazia algo que vejo pouco hoje na imprensa, ele inseria a ilustração (que sempre lhe enviava via correio ou fax) no meio do texto, contornando o mesmo com a escrita. Isso é lindo, algo que aprendi a ver e gostar pel’O Pasquim.
Postando isso chego a comparar o antigo Alfinetinho, lá da terra do rio do peixe dourado, como algo precursor ao que vejo hoje no facebook. Escrevinho por lá desde 2000, com publicações quase semanais, com pequenas falhas e interrupções. Some aí, 50 textos anuais e vejo o quanto já publiquei por lá. No blog do Mafuá, algo criado de forma insipiente em 2007, quando ainda nas hostes da Secretaria Municipal de Cultura e depois ganhando um corpo e disposição a me consumirem, pois tenho uma quase obrigação de publicar pelo menos um texto por dia. E todos eles, na maioria das vezes, longos e contundentes.
 
Escrevinho isso hoje, pois vejo acontecer hoje na cidade um tal de “Blogando 2013”, evento anual com convidados ilustres e pouca, mais muito pouca coisa mesmo de algo local. Não sou pretensioso, mas me considero um dinossauro no quesito blog. Tão dinossauro, como rudimentar, pois ainda mantenho no ar a página de abertura igualzinha a criada por Nilson Jr em 2007, sem nenhuma alteração e apanho feito cão de rua nas postagens, que insisto em não aprender, deixando espaços horrorosos nos textos (a internet me tortura com suas transformações). Tento primar pelo conteúdo e sei, deixo a desejar na apresentação. E esse curto desabafo é para evidenciar que, os blogueiros bauruenses deveriam, ao menos, merecer um CONVITE de participação em algo desse naipe. Nada foi feito nesse sentido. E olha, que acredito tenho alguma coisinha de história para contar e relatar. Ontem mesmo, em algo que quero contar só após sair publicado, mas aconteceu fruto ao que escrevo no blog, fui entrevistado por uma jornalista do New York Times, o jornalão norte-americano (falou comigo por mais de meia hora). É que não faço o blog para ganhar grana, nem para enchê-lo de anúncios, nem o uso como meio de subsistência e de fama. Faço por fazer, por gostar de escrever, por para fora minha forma de encarar esse mundão destrambelhado. E assim devo continuar sempre na transversal, fazendo questão de andar nas vicinais e não nas principais rodovias. Se bombar eu explodo...

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

UM LUGAR POR AÍ (42)


AS HISTÓRIAS CONTADAS A MIM PELO FUNILEIRO ADELINO

Existem lugares em Bauru onde acabo indo e esqueço da vida, perco o rumo e deixo de lado compromissos ditos mais importantes. É que algumas pessoas são tão envolventes, tão boas de prosa que, ao cruzar com algum destes, para dali escapulir é uma luta (e quem me diz que quero escapar). Passei por isso esses dias quando fui até seu ADELINO SILVESTRE, um funileiro dos bons (meu lanterneiro para o que der e vier), com estabelecimento bem atrás de onde hoje está a Seccional da Polícia Civil, na vila Cardia. Confiram aqui o que já escrevi dele:
http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=adelino. Aqui CINCO histórias contadas por ele:

PRIMEIRA: Um rico senhor, dono de muitos negócios, idade de aproximadamente 80 anos, teve sua bolsa de mão roubada e ali todos seus documentos, cheques, cartões, celular e uma boa bolada, perto de R$ 5 mil reais. Desesperado em ter que fazer tudo novo, acabou passando pela funilaria do seu Adelino e desabafa. Adelino lhe pergunta: “Já ligaste para o celular?”. Ele ainda não havia pensado nisso e ligam ali da oficina. O cara atende e após uma conversa acertam que tudo seria devolveria , menos a grana, essa já gasta. E pede o que quer em troca: “Gastei tudo. Quero mais R$ 100 reais. Se topar deixo a bolsa dentro de uma lata debaixo do viaduto na Rondon com o PVA, você pega ela e deixa a grana lá dentro. Não tente bancar o esperto, pois tenho o endereço do velho”. Adelino foi sozinho, fez tudo como combinado e ao dar a volta no retorno, ao olhar para o lugar, nem a lata já estava mais no lugar.

SEGUNDA: Uma cliente lhe contou essa. Bateram no seu carro e ficou uma discussão sem fim, dessas sem acordo. Foram todos fazer o Boletim de Ocorrência para ela acionar o seguro. Ali a surpresa, ela ouve o cara dizer o nome do pai, nos dados para preenchimentos dos papéis e vê ser o mesmo do seu. Acabam descobrindo que são filhos do mesmo pai. Ela vivendo com o seu até sua morte, meses atrás, ciente de que ele teve outra família, mas nunca tendo notícia alguma deles. Histórias antigas, ouvidas quando muito criança. Ele, não sabia quase nada do seu, só ser esse o seu nome, mas que sua mãe nunca mais o tinha visto desde a separação. Descobriram-se irmãos ali na delegacia, reencontraram-se num desentendimento.



TERCEIRA: O rico fazendeiro, dinheiro a dar com pau, deixa uma caminhonete para ele consertar, valor combinado e com o serviço quase pronto, o cliente pede que leve o carro para um tapeceiro de sua confiança fazer a parte de tapeçaria. O cara cobra um valor três vezes acima do combinado, ciente da grana do dono do carro, gerando desconfiança. Quando o fazendeiro foi conferir o preço com os concorrentes descobre o engodo e quer desfazer o negócio. O tapeceiro tenta rever e quando cai sua ficha, oferece um serviço até mais barato que todos os demais. “Agora nem de graça, perdi a confiança em ti e aqui não boto mais os pés. Alicerce a gente faz com bom cimento. Sabe dos motivos do prédio ter caído em São Paulo, cimento fraco. Tome cuidado, pois do jeito que quis fazer negócio comigo, pode até estar rico, mas está usando cimento fraco”, foi a lição dada ao tapeceiro. “Essa do cimento fraco eu ouvi ainda hoje, agorinha mesmo, pouco antes de você chegar”, finaliza.

QUARTA: Certa vez fez um serviço e no momento de apresentar o orçamento, confundiu-se com outro, apresentando um valor bem maior que o combinado. O cliente ficou um tanto desconfiado, mas como gostou do serviço, disse que pagaria. Trouxe a parte maior em dinheiro vivo e o restante em cheque. No final da tarde, conferindo tudo descobriu o erro e foi correndo ao cliente, isso já quase dez da noite. Esse o recebe da seguinte forma: “Ainda lhe devo algo, Adelino?”. “Não, pelo contrário eu é que lhe cobrei mais e vim lhe explicar o que ocorreu. Trouxe tudo para o acerto final”, diz. O cliente disse-lhe que tinha certeza ter ele errado no preço, mas preferiu não discutir e explicou dos motivos de ter pago em dinheiro e cheque. Tornaram-se além da continuidade dos negócios em comum, amigos para sempre. “Ainda bem que fui conferir os outros orçamentos, percebi a troca e deu tempo de resolver tudo”, conta.


QUINTA:
Essa para encerrar. Uma vó cria o neto após a perda muito jovem da mãe. Tudo caminha bem, com o menino, estudioso e bem encaminhado na vida. Quando esse atinge 14 anos, ela procura como fazer para que ele comece a trabalhar, pensar no futuro. Descobrem que ela, avó, 85 anos cuida do menino sem ter a guarda e querem ficar com ele, encaminhando-o para um abrigo de menores. A alegação é de que ela já está muito velha e se morrer o menino não terá com quem ficar. Sua resposta: “Posso viver muito bem até ele atingir a maioridade, mas se me retirarem ele aí sim é que morro logo”. Para seu espanto, eis a resposta ouvida do outro lado: “Um dia todos nós teremos mesmo que morrer”. Ela continua com a guarda do menino, mas a situação não está totalmente definida. A solução deverá ser sua outra filha assumir a guarda do menino. E ela nem dorme direito.

Complicado reduzir tantos detalhes de cada uma das histórias e em tão poucas linhas. Ele me contou pelo menos mais duas, mas deixo para outra hora. Casos envolvendo a oficina ele diz ter na memória e para escrever um livro. Eu acredito. Acabou por me segurar mais um pouco e não escapei dele enquanto não me contou a história do pescador Tibúrcio, essa dentro do projeto “Pequenas Histórias”, assistido por ele no Canal Brasil. A historinha é tão cheia de passagens interessantes que recomendo assistirem também: Parte 1 http://www.youtube.com/watch?v=WhWRQGkIB68, Parte 2 http://www.youtube.com/watch?v=3LzWz6YM9tI e Parte 3 http://www.youtube.com/watch?v=cPciKm0wyt4. Boa sexta a todos e todas.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ALGO DA INTERNET (76)


HPA, O FORA DE ÓRBITA E SEU ENTENDIMENTO SOBRE O MENSALÃO

Que meus pinos estão desajustados disso não tenho a menor dúvida. Pudera! Vivendo onde vivo, observando rotineiramente o que observo, se agisse diferente e seguindo como manada tudo o que me rodeia, acredito já teria batido as botas. Tento resistir, sei que nem sempre detenho a razão, mas tento manter certa coerência. Postei ontem no facebook uma montagem com os dizeres: “A Direita não gosta de EDWARD SNOWDEN (uma foto dele), mas adora EDUARDO SABÓIA”.

Dentre as respostas recebo uma de um muito considerado: “ Você realmente está "fora de órbita" e sem a mínima coerência ... se o boliviano é bandido, o que dizer dos PTralhas, Zé Dirceu, Genoíno, João Paulo Cunha, etc.? Santos? Nunca vi você chamá-los de "bandidos" ... É a "coerência" PT!!!!”. Achei oportuna a cobrança, aliás, defendo até hoje algo nos petistas, mesmo não o sendo mais e cobro algo mais do que constato acontecendo. Dessa forma, aproveito o tema para dar uma derradeira (duvido?) explanação de como entendo o processo do dito mensalão, o julgamento e de outros. Minha resposta (aqui mais alongada) ocorre mais ou menos dessa forma.

Vamos por partes, como fazia muito bem o Jack. Imagine-se trabalhando dentro de uma instituição, ocupando uma hierárquica função e respeita, segue isso. O que acha de um subordinado que faz o que o Sabóia fez e para repatriar um cara que fez o que esse boliviano fez? Isso é uma coisa. O Sabóia passou de todos os limites e fez comparações esdruxulas, que a própria Dilma teve que intervir e recolocar tudo nos trilhos. Nisso acho que temos concordância. Ele ultrajou o país com sua pífia explicação e colocou a presidenta numa sai justa, desnecessária e agora diante de algo confrontando uma nação amiga. Isso uma coisa, outra é o caso dos que você chama de PTralhas, um caso a parte nesse país. Como sei, tu deve conhecer bem o processo e podemos discuti-lo sem me ater a explicações elementares. É do conhecimento até das pedras que revestem o piso de nossas ruas que esse julgamento foi e é político. Analisando tudo, mas tudo mesmo, principalmente o dos nomes citados por ti, não existe a grana pega em causa própria, pra uso pessoal, para enriquecimento. O que de fato ocorreu em todos é algo a se repetir com todos os nossos políticos, grana para financiamento de campanha. O Brasil necessita de algo novo nesse quesito, isso é inegável. Isso algo ainda não resolvido na política brasileira. Você bem sabe que foram pegos como bodes expiatórios para criminalizar um partido político, algo que a mídia está fazendo de forma cruel e insana, com apoio de outro partido, esse mais criminoso e não criminalizado pela Justiça. Uma das vergonhas da Justiça brasileira. Ficou evidente que o STF julgou por presunção e isso não é Justiça. O STF serviu de instrumento para interesses de alguns poucos. Discorro sobre isso com detalhes, que tomariam muito tempo agora. Nossa Justiça, como sabemos, está assim como a nação, doente (veja o caso da reação de alguns à chegada dos médicos cubanos). A Justiça não leva em consideração no caso de alguns dos citados por ti, que a grana foi utilizada de fato, não por eles, mas por empresas, inclusive a TV Globo e não revê o que já foi julgado. Uma perícia já demoliu a tese de que o dinheiro público do Visanet irrigou o mensalão, mas os fatos não importam nesse caso. Está tudo já mais do que definido, esses pagarão pesado, como se fossem os únicos delinquentes da nação. Algo escabroso, que a História julgará. Existe um ódio de classe hoje em vigência, num jeito caolho de julgar e de entender as coisas. Esse o fato pelo qual não os chamo de bandidos, pois fizeram muito menos que tantos outros, alguns acobertados pela mídia e pela Justiça. Uns são julgados nesse país e outros não. Uma evidência de que o PT está sendo criminalizado, só ele e por algo que todos cometeram, cometem e continuarão a cometer. Não nego que o PT de hoje não é nem sombra do que já foi um dia, antes se dizendo diferente de tudo e hoje, mais do que igual a todos. Aproveitando do termo citado por ti, cito outro, o Tucanalhas, esse sim, no caso do metrô e trens paulistanos com valores desviados para fins pessoais, roubo para enriquecimento, contas em paraísos fiscais, envolvimento de governadores e por enquanto todos se safando, vinte anos de muita sacanagem em SP. Na comparação, o rombo promovido por um é pífio perto do outro e para esses últimos a Justiça faz vista grossa. Essa minha coerência. Posso explanar isso tudo em detalhes, pois os tenho, mas não os repito mais aqui, pois não vale a pena. As pessoas não querem mais ouvir, parecem estar de cabeça feita, construídas, manejadas e influenciadas. Seria chover no molhado, pura perda de tempo. Querendo continuar a discussão, tomamos uma cerva juntos e debatemos sobre isso. E mais, as faço aqui a ti por um único motivo, o de saber que posso ter um debate de alto nível sobre tudo o discorrido. Não entro mais em discussões sobre esse tema com quem não possui um mínimo de entendimento do que ocorreu e quer sair dando opiniões. E para encerrar algo bem normal, nada fora de órbita: quem errou, quem procedeu errado, quem acabou por desviar-se do caminho da retidão, que pague pelos seus erros, nada mais normal e natural, mas que isso não ocorra só com esses e sim, com todos os que assim o fizeram. O insuportável nessa história é continuar vendo gente acusando só a esses e fazendo a vista mais do que grossa para outros (para mim os piores), talvez os da mesma linha de pensamento. Um abracito desse desvairado e mafuento escrevinhador.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

FRASE (110) -


O ÓDIO, A INDIFERENÇA, A MENTIRA, A FALSIDADE, TUDO JUNTO E BAGUNÇANDO O CORETO

Eu se pudesse largava tudo o que estou fazendo e ficaria horas e horas escrevendo só sobre meus amigos, temas que gosto, histórias recolhidas por aí, mas meu baixo saldo bancário me faz correr atrás do que dizem ser “o prejuízo”. E vou na onda, sobrando algumas poucas horinhas para escrevinhações mafuentas. As faço a toque de caixa. Primeiro, antes de mais nada escrevo de um dileto amigo, ESSO MACIEL. Estive com ele na segunda no 4º SLAM e lá algo contundente que fiquei sabendo pelo escrito de outra amiga, Mariza Basso: “Ontem foi a última aparição da Onça, conforme anunciado pelo seu criador Esso Maciel. Esso há muitos e muitos anos veste a pele da Onça geralmente para sair no carnaval, ontem no SLAM poético realizado no Museu Ferroviário de Bauru, a Onça Morreu! Esso deu um show de disposição e talento com seu jeito irreverente e polêmico. Um amigo querido fiel há muitos anos, meu primeiro ídolo teatral. Vida longa ao Esso!”. Isso teria que ser matéria de capa de todos os jornais locais, dar na TV, o rádio divulgar como algo a enlutar essa cidade. A Onça do Esso pendurou as chuteiras. Não vi uma linha em lugar nenhum. Essa foto da Mariza, a última de Esso como Onça já é histórica. Saúdo meu amigo Esso, aroeira pura nesse varonil torrão cheio de contradições homéricas. Dele, esse vídeo, também gravado por Mariza, do última ato: http://www.youtube.com/watch?v=n6A9zBhHcko

Deixa eu esmerilhar algo que ando lendo e a me fazer subir a hemoglobina. Seu Reinaldo Cafeo, o economista que prevê tudo e depois desprevê (sic) tudo com a mesma rapidez, sempre lado a lado com os interesses das "forças vivas", não vê nenhum tom racista na manifestação dos médicos brasileiros protestando contra a vinda não dos estrangeiros, mas só contra os cubanos. Não consigo concordar com nada do que esse cara fala ou escreve. Sabe aquilo de você querer buscar um caminho e ouve o cara só para saber que o rumo a ser tomado é exatamente o contrário. É o que faço com tudo o que vem de suas profecias (sim, ele é profeta, mas já teve que desdizer suas previsões em muitas vezes). Já o outro Cafeo, seu irmão, vejo esse nessa semana envolvido com algo salutar, tentando promover algo de grandioso junto ao combalido Esporte Clube Noroeste, quando propõe fazer o que sabe (atuação publicitária) em prol de salvar o time do coração da cidade (pelo menos os do lado B dessa cidade, pois os do lado A gostam mais da Panela de Pressão). Diferentes, não?

Abro os jornais e cuspo fogo. Tentam camuflar mortes e mais mortes nos plantões hospitalares bauruenses e ninguém se espanta a ponto de ir à frente do escritório do deputado PT – Pedro Tobias e exigir algo contundente sobre o crime de lesa município que os seus impingiram à AHB. Não pegam pesado para que ele vá lá no seu amigo Alckmin exigir como deputado, que as vagas do monopólio mantido pelo estado dirigido por esse, tendo à frente uma empresa das mais nebulosas, a Famesp, fique segurando vagas. Existe uma ala inteira do Hospital Estadual deserta, não funcionando por falta de funcionários, existem outras no Base e gente continua morrendo no Pronto Socorro. Cadê o Bauru Acordou!? Ai vem um vereador da ala tucana, ligação umbilical com esse PT, Arildo Lima Jr e diz que os vereadores cassados fizeram uso do tapetão. Adora picuinhas e sabe que nenhum dos que talvez tomem posse fizeram algo via tapetão, quem fez foi a Justiça Eleitoral. Ele ajudar a cidade pressionando o governador e o deputado para resolver o problema da saúde, isso algo impensável, pois naquelas hostes não é permitido cobranças com alguém do alto escalão. E aí o cara fica atirando a esmo, deixando de cumprir o papel para o qual foi eleito. Estamos cheios de gente assim por lá e o pior é a frase que continua valendo, dita por não me lembro quem de que, com 3 vereadores médicos na Câmara, não é a Saúde bauruense que está doente, mas sim eles, deixando de atuarem na solução adequada para os nossos problemas no setor. Daí, em tom de ironia, essa bula distribuída como a Nota Oficial dos médicos brasileiros, provável posicionamento desses sobre a vinda dos cubanos, serve também para a atuação dos três frente ao caos na saúde na cidade. Ininteligível até para atendentes de farmácia.

Quero ver alguém começar a tomar uma atitude contra os vereadores que descaradamente mantém gente aos borbotões dentro da administração municipal. Os caras são pagos para fiscalizar a administração, mas mantém funcionários lá dentro. E a dita Justiça não toma as providências cabíveis? Estou ficando um velho gagá e rabugento, como me escreveu meu primo, Beto, semanas atrás. Para os que me vêem assim, deixo aqui algo que acabo de ler num texto sobre o cineasta egípcio Muhammed Hamdy, transcrito na íntegra para entendimento geral dos interessados de plantão: “Os incidentes no meu país me levaram a começar a ler Forag Foda. Forag foi um pensador liberal, assassinado por um grupo fundamentalista religioso em 1992 por causa do seu livro A Verdade Ausente. Um fato irônico é que, quando o juiz pergunto ao assassino por que o tinha matado, ele respondeu: 'Por causa dos textos ateus que ele escrevia’. O juiz indagou: ‘E você leu o que ele escrevia?’. ‘Não, nunca li’, respondeu ele. E o juiz questionou: ‘Por que?’. ‘Porque não sei ler nem escrever’, respondeu o matador”. Quando li a introdução do livro me deu uma louca vontade de chorar, pois misturei com tudo isso que anda acontecendo por aqui, essa intolerância de merda: “O que digo aqui muitos irão negar, porque preferem ouvir só o que querem ouvir, porque sua alma só gosta do que já gosta, só adora o que já decidiu adorar, e é muito difícil que consiga entender qualquer outra coisa. E o pior que pode acontecer para os leitores deste livro é começarem a lê-lo a partir de um prejulgamento determinado pelo ódio”.
É isso, a agente se odeia, mas finge que tudo está muito bem, obrigado.
Fechando tudo, Mariza publica no youtube um vídeo onde declamo uma poesia de Lázaro Carneiro, uma de suas mais longas, segunda à noite no frio do quintal do Museu Ferroviário, nos estertores do 4º SLAM. Se prometerem que não irão dar muitas risadas, deixo assistirem. Vá lá: http://youtu.be/KgE-dIUF7Uk

terça-feira, 27 de agosto de 2013

DIÁRIO DE CUBA (64)


POR QUE CUBA INCOMODA TANTO OS INCONSEQUENTES?
Eu não me emendo, vivo me metendo em homéricas discussões por tudo quanto é lado e com gente de tudo quanto é libra, calibre e envergadura. Quando a coisa resvala para a inconsequência, preconceito descabido, piadinhas de péssimo gosto, com racismo embutido, dou minhas patadas. Ontem no facebook de um conhecido, algo postado como o único intuito de provocar, com a foto ao lado. Fervi na hora. Vejam alguns dos comentários que travei por lá, fazendo questão de deixa-los aqui registrados, numa clara demonstração de como parcela do país está totalmente abilolada e não pensa mais de forma racional:

HPA: Comentários como esse merecem só e tão somente uma coisa: Vá a merda!!!
A - Embora a imagem publicada tenta desqualificar os serviços médicos cubanos, penso que o senhor deveria, em primeiro lugar, buscar imagens dos prontos-socorros e hospitais públicos espalhados pelo brasil para "sentir" a indiferença do Estado brasileiro. São seres humanos tratados como lixo, com total descaso, em sua grande maioria com a participação ativa da classe médica brasileira. Agora, essa mesma classe médica vem à imprensa para tentar impor princípios éticos. É uma vergonha!.... Temos que dar graças a Deus pela atitude do governo federal (e não sou petista), porque certamente irá amenizar muito o sofrimentos de nossos irmãos necessitados de assistência médica. Me desculpe o desabafo, mas tem certas coisas que a gente não pode sair metendo o pau. Saúde!... Fica na paz!

B (O que postou e sua justificativa): Creio que está havendo algum equívoco na interpretação da significância do post acima. Compartilhei a imagem com o intuito de demonstrar a realidade de Cuba. Em Havana existem ambulâncias modernas, mas elas atendem uma parte pequena da população, os usuários dos melhores hospitais. Nas províncias a situação é de igual para pior. É o roto que vem para tentar ajudar o rasgado. Foi nesse sentido que compartilhei essa matéria. Além disso, foi também com o intuito de demonstrar que há, nesse programa Mais Médicos, mais mistérios do que possa sonhar a nossa vã filosofia. Alguns dados para reflexão. No ano de 1999, 40º aniversário da revolução, um médico de Havana ganhava Us$ 40 mensais! Aqui, eles vão ganhar em torno de R$ 4.000,00 e o governo cubano embolsará a diferença para R$ 10.000,00 pagos pelo nosso governo. Então, a quem interessa esse programa? Você acha que os médicos cubanos estão trabalhando em regime de semi-escravidão, como a imprensa mundial vem noticiando? Você acha que o governo brasileiro, do PT, depois de 12 anos, repentinamente passou a pensar nas agruras do povo?
Essas respostas o tempo nos dará. Não me oponho à vinda dos cubanos, mas vejo com reserva o modo pelo qual eles vêm.

HPA - O médico cubano não fará trabalho escravo nenhum, pois ele não á capitalista, é comunista, humanista e não vem aqui para ganhar dinheiro, vem para salvar vidas e quando o fazem isso mundo afora, o que pesa menos é dinheiro. É simples, eles poderiam fugir uma vez aqui, e tentar se estabelecer por conta própria, mas não o fazem e isso você parece não entender. Não o fazem pelo simples motivo de não serem iguais a nós, são mais sensíveis, acreditam no ser humano e não no deus dinheiro. É difícil entender na existência de gente assim? Torça mais pelo Brasil e não pela crença do dinheiro e do capital acima de tudo e de todos. Tem momentos que cansa, vocês em alguns momentos são muito repetitivos e não dão uma dentro.
B (respondendo a mim): Quanto à vinda dos médicos cubanos, você pode ter certeza de que o motivo mencionado por você é o que menos influi na decisão desses médicos. Na verdade, eles são loucos para saírem de Cuba. Eles, cubanos de várias profissões, de longa data já vêm para o Brasil, embora em contingentes menores. A professora de piano da USC é cubana. A professora de espanhol dos meus filhos e dos demais advogados do meu escritório é cubana. Elas e os demais cubanos veem o Brasil como um paraíso. E o dinheiro é sim um dos elementos determinantes da vinda deles. O salário que vão ganhar aqui é exponencialmente muito maior do que eles ganham lá, pode ter a certeza. Levariam mais de um ano para ganhar lá o que eles vão ganhar aqui num único mês, mesmo com os altíssimos impostos cobrados pelo governo cubano. Quanto ao cubano como pessoa, há muito tempo que falo que o cubano é um brasileiro falante do espanhol. A nossa identificação e empatia é muito grande. Nesse sentido, são eles bem-vindos, embora faça várias restrições ao programa Mais Médicos e restrições totais ao nascente programa Mais Professores.
Tenho dito e encerro aqui esse assunto.
C (Outro na discussão): A Nordestinização do Brasil, vem aos poucos corroendo tudo! Antigamente, era meio na surdina, agora a coisa é desbragada, não conseguimos ganhar nada, já saímos perdendo de 16 a 8 e a malversação das verbas publicas, é endêmica por lá, não é de estranhar, que o PT esteja bem calçado neste tipo de pessoa, vi coisas horríveis aqui na câmara paulista . . .e tome ó xente e osh . . .ta feio viu? No esporte, deu para notar o declínio de Cuba, os atletas vinham em excursões, mais pela comida do que qualquer coisa, eles já demonstravam fraqueza, terminado o jogo, corriam para a mesa! mas médicos são iguais em todo o mundo, tem os abnegados, os mercenários, os cientistas, os socioanalistas etc . . .não queiram demonstrar um conhecimento de pessoas que vocês não possuem, sem um currículo especifico, é tudo fofoca e maledicência . . . nesta novela tem de tudo!
HPA: PORÉM E ALÉM DE TUDO, ALGO DOS MAIS DIGNOS NA ESPÉCIE HUMANA: os cubanos são de uma sensibilidade no trato com o ser humano que os nossos, desumanizados já nos cursos (onde são preparados para o mercado e não para o trato com gente). Vão ensinar um bocado disso aos nossos. Sinto falta da vinda de um algo mais, os REVOLUCIONÁRIOS. Precisariam vir esses juntos.
C (Respondendo a mim): Se você tiver coragem de pegar em armas, tendo uma direção coesa, eu estarei do teu lado! Não precisamos de revolucionários que vivem como escravos . . .pirou? Vivi 18 anos com os cubanos no sul da Florida, prefiro os boriquas . . .povo difícil!
HPA: "REVOLUCIONÁRIOS QUE VIVEM COMO ESCRAVOS" - Meu caro, escravos são os que vivem endeusando o deus dinheiro como senhor único de tudo. Ainda não entendeste que em Cuba isso não vigora e o ser humano é mais importante que tudo isso. Eles não estão vindo aqui por grana, mas para nos ajudar. Coloque isso na sua cabeça. Sei que é difícil entender isso, pois estamos contaminados pelo senhor de tudo, a grana, eles não. "VIVI 18 ANOS COM OS CUBANOS NO SUL DA FLORIDA" - Viveu com a escória cubana, as viúvas do Batista, os piores cubanos, todos eles morando e exercitando criminosamente meios de derrubar o regime que os expulsou de lá. Se aprendeu algo com eles, desculpe, mas aprendeu tudo de ruim e se acha que esses tem razão, tenho que me declarar seu adversário, pois o que vejo aqueles cubanos fazerem da Flórida é caso de polícia.
B (o do post a mim): Henrique para, cara. Você acha que os cubanos são otários? Ou são todos clones da Madre Tereza de Calcutá? Cubano é um ser humano normal, como todos nós. Bem parecido com o brasileiro. Não é um extraterrestre. Você, por acaso, sabe qual é a moeda circulante em Cuba? Num aparente paradoxo, DÓLAR AMERICANO! Tente pagar qualquer cubano com peso e ouvirá gritado no seu ouvido: "no, no, no quiero, és una mierda! Quiero dollar..."! Além disso, caso ainda não saiba, em Cuba há um mercado paralelo muito ativo. Já quanto à escória, meu amigo, ela existe em qualquer lugar, em qualquer povo. Só não podemos generalizar, como você fez acima.
C (também a mim): Deus do dinheiro? Deixa eu ver . . .no banco um troco que recebi agora, no bolso, a taxa dos jogos de ontem, mas aqui onde estou, tudo de bom rola, pago com o rachid dos amigos, dinheiro sim . . .ninguém aceita bônus sociais do governo . . .paguei o metro, trem e ônibus com grana . . .mas vamos olhar no legado . . .alguns alunos bem formados, cidadãos de qualidade, dois filhos adultos, respeitadores da lei e muito bem encaminhados na vida . . .uma luta de 39 anos para melhorar o meio onde vivo, trabalho e ganho o pão, honestamente, sempre recebi, apos suar um pouco . . .então Henrique, eu valho exatamente quanto? os mil e poucos reais que tenho ou aquilo que fiz, idealizei, sonhei e tentei implantar na minha comunidade? Voce quer ser meu inimigo? Ta falando serio? No físico, não aguenta o primeiro tranco, no intelecto, ta prejudicado demais por monocultura . . .voce sabe como é né? Passeei na Serra do Mar, via a Mata Atlantica e convivi com alguns dos seus animais . . .voce ja viveu fora do Brasil? Ja derramou lagrimas quando o nosso Hino é tocado antes de um jogo? Já sentiu falta da nossa cultura? Eu voltei . . .não vejo cubanos querendo voltar . . .todos os outros voltam . . Nicas, Ricans, chicanos, Bolivianos, todo mundo ganha uma grana la fora e volta para casa . . .ah . ..agora entendi . ..casa! La em Cuba, não tem uma . . .(marca horário e local que eu apareço, Enemy of mine!)
HPA (ao C): Tu falas sem conhecimento de causa. Exemplos pífios. Te dou um que virou manchete mundial. Alguns cubanos quiseram deixar o país e foram para a Espanha, isso recentemente. Bem recebidos, se viraram no começo e depois de alguns meses, a ficha começo a cair, desempregados, esfomeados, viram que o buraco no capitalismo é cada um por si. Juntaram-se numa praça e estão dando graças aos céus se fossem devolvidos ao seu país, onde tinha de tudo e não sacaram. Perguntem a esses. Outro exemplo, qdo em Cuba 2008, ficando por lá 30 dias, encontrei um taxista que havia morado no Brasil e aqui residiu 3 anos. Mesma coisa, sentiu um negócio por dentro quando precisou de atendimento médico e foi constatar o tipo de atendimento. Sabe o que fez, voltou correndo. Suas palavras: "Eu ia morrer no seu país, lá ninguém ligava para nós, o povo passa fome e ninguém nem aí". Portanto, aqui o dinheiro vale, voce não vai a lugar nenhum sem ele, concordo, é o tal paraíso do deus dinheiro. Existe de tudo, mas nem todos podem ter esse tudo. Lá, todos ganham pouco, mas o estado subsidia tudo. Lindo vê-los indo de onibus, todos bons, de uma cidade para outra, passagem quase gratuita. Eu, turista, pagava um preço mais alto e eles um preço irrisório, possibilitando a todos irem de um lugar a outro. Adoro a minha cultura, mas a verdadeira, não uma falsa que hoje tentam inserir mundo afora e a respeito. Não renego o Brasil, só luto pelo fim das injustiças e por justiça social, fim das desigualdades, atendimento justo e honesto a todos. Os cubanos nos ensinarão muita coisa. desarme-se, meu caro e conversamos lá na frente. Sem neuras, por favor...
C (a mim): Ah! Melhor assim . . .você iniciou o tal de inimigo . . .mas você não muda para Cuba por que mesmo? eu morei la fora, vi coisas fantásticas . . .tinha dinheiro, modernidade, mas estou aqui . . .que tal? O modelito não serve mais meu amigo, Trotsky, Lenin foi ha muito tempo atrás . . .o mundo virou outra coisa , , ,vocês não tem mais espaço com esta conversa, Eu estou fazendo minha parte e sim, vai precisar muita grana para implantar nosso projeto, que ira beneficiar milhões de pessoas, mas vocês não só não vão ajudar, como irão tentar impedir, com os velhos chavões de sempre . . .qual tua renda anual?
HPA (ao 3): Tu me parece agente do imperialismo yanque, querendo saber até minhas fonte de renda e meios de subsistência. Vá buscar isso em outras fontes, talvez direito ao um que deve respeitar, Obama. Esse papinho cerca lourenço, "não muda para Cuba por que mesmo?". Primeiro, porque sou brasileiro e prefiro tentar mudar para melhor o meu país, ajudar a torná-lo menos desigual. Depois tenho uma missão comigo mesmo, que é a de espezinhar pessoas como tu, mostrar o quando são contraditórios. Faço isso por gosto, puro prazer. Perco tempo nisso, deixo de sair vendendo meus caraminguás que me dão os meios de subsistência, mas atinjo o orgasmo quando os tiro do normal. Acredito que estou conseguido, ops, desculpe, gozei.
3 (a mim): Ah . . .coito digital? Legal, cada um goza por onde pode! Mas eu sou um cara completamente duro, se olhar por um lado, um fracassado ... mas por outro, um vencedor, me propus a lutar e continuo na luta, descanso, preparo armas e luto! E você realmente acha que pode me atingir? Tente vir a um jogo duro, com milhares de pessoas (agora não mais) e ver se eu me intimido com isto . . . passei 39 anos na quadra, julgando instantaneamente, pessoas e ações, acho que isto me deu alguma condição de opinar, ainda mais pensando e lendo . . .não entre um tic e um tac do relógio . . .Sabemos onde, como e porque o socialismo funciona, porque tem sempre grana atrás, tirada do povo, uma vez que não são capazes de a produzir . . .voce sabe disto né? Partimos do feudal para o industrial, ai apareceu o capital . . .não tem mais que pedir para o dono da terra, o governo esta ai para isto . . né? Mas os disquerda, tomaram o governo em vários pontos do mundo . . .enquanto Mama Rússia, se esbalda no caviar beluga e no champagne frances . . .nao deu certo não é verdade? Alguém tem que produzir a riqueza, o exercito, para alguém poder ficar no comando . . .muda o que mesmo? Ah sim . . .o modelito . . .alias . . ta maus hein, de Mao a Dilma . . .cohorrorosa! Enfin mon cher . . .nada existe neste planeta que não tenha sido falado numa mesa de bar!
HPA (ao 3): Voce me propõe comparações e eu não as aceito. Quem disse que na União Soviética (Rússia é hoje) existia socialismo? Penso e defendo outro estágio. Cuba é cheia de defeitos, mas resiste e caminha numa vertente que incomoda, pois demonstra a existência real de que um outro mundo é possível. A discussão é prolongada e se o quiser a continuo num outro dia, hoje não mais. Propus-me a permanecer tempo limitado nessa máquina de fazer doido. Vejo como alternativa das mais viáveis buscar recursos dentre os capitalistas para manter um estado ao estilo de Cuba. Afinal se fosse hoje para lá, onde iria, por certo Varadero (que nem penso em pisar, pois os atrativos da ilha para mim são bem outros). Isso mesmo que se quer, que os capitalistas indo muito até lá deixem lá burras de grana e ajudem a manter o pobre país. Nada mais justo. No caso dos médicos, fonte de nossa discussão inicial. Eles tendo algo a nos oferecer, algo que irá com certeza nos ajudar muito em soluções que não estamos conseguindo dar, recebam por isso e esse valor os ajudem a manter o sistema que cria essa maravilha de médicos humanitários e sensíveis. é uma justa paga. Um abracito e amanhã continuamos, a rua me espera. Tchau.
3 (a mim): Mira muchacho, Cuba, para mi es una cosa para el futuro . . cuando tenga liberdad vamos ver como el pueblo se comporta . . . no creo en mejores dias sin capitalismo, sin produccion, a menos que vuelva a ser un pedaço de tierra olvidado y lejano . . .viviendo de sus proprios medios . . .agricultural, indigena! Asi es! Quem desistiu do seu pais, é, no mínimo, sem caráter! Eu vivia de sub empregos . . .ai você vê o povo real, são aqueles melhor aculturados e com certa intelectualidade! Tentei controlar alguns motoristas cubanos, ai quase rolei escada abaixo com um deles . . .como dizia meu amigo e patrão . . .nunca mais vou contratar um afro americano . . .e o cara era totalmente negro . . .escorias a parte, uma ilha pequena, com este tipo de problema, fala serio . . . por isto vivou a zona dos mafiosos americanos, todos se vendiam . . .e continuam . . .hoje por comida! Triste, mas real!
HPA (ao 3): Sua visão é reacionária e até racista. Não privo de discussões com quem pensa assim. Deprimente. By
4 (Outro na parada): Desistiu de um País? Por acaso cuba é um país? Um país tem democracia, tem liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa. Os cubanos que conheci continuam cubanos e continuam lutando por um "Cuba libre".
HPA (ao 4): Tu não conhece nada de Cuba, isso que explicita aí ocorre de Miami pra cima. Já ouviu falar vagamente em Bradley Manning, Edward Snowden e Glenn Greenwald? Por acaso são cubanos?


A discussão tende a continuar sem solução. Iguais a essa pipocam outras tantas, assunto desses dias por tudo quanto é lado. Participar disso toma tempo, alguns deixo passar, mas outros piso forte no acelerador. Tive que dar um breque, pois eu não os convencerei e nem eles a mim. Fica o registro.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

RELATOS PORTENHOS (06) e MEMÓRIA ORAL (147)


A HISTÓRIA DA NEGA ANA PINTADA NO CAMINITO
FELIPE CARVALHO é um eterno meninão e assim o será enquanto viver. Espírito jovial desses jorrando aos borbotões por seus poros e por onde ande. Saiu lá dos morros na beirada do cais carioca, Saúde, Gamboa e Santo Cristo, conseguiu cursar Design numa escola particular, curso noturno e de curta duração, foi galgando passo a passo uma trajetória vitoriosa e foi parar no final de julho em terras argentinas. Morou meses em Bauru, quando por aqui tentou um mestrado. Fez amigos às pampas, merecendo meus textos via blog do Mafuá, podendo ser lidos clicando a seguir: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=felipe+carvalho. Mais dele e sem delongas, aqui: http://www.fluidr.com/photos/ilpe86 ou aqui: http://statigr.am/tag/ilpe77.
Isso tudo para começar afirmando que o garoto é fera, hoje um reconhecido designer da Taco, uma loja de estampas de camisetas com temas inovadores. Chegou a grafitar paredes dessa nova novela da TV Globo, a “Amor à Vida”, fazendo as vezes de um dos papéis principais da trama. Seu traço já é por demais conhecido, tanto que já foi bater asas em Macau e agora Buenos Aires. O motivo da estada já foi motivo de um Memória Oral, o de nº 146, quando com outros colegas de classe, todos oriundos da periferia carioca, foram participar da apresentação de trabalho da professora Ana Beatriz Pereira de Andrade, no Encontro Anual de Design da Universidade de Palermo. Tudo lá foi um sucesso, mas esse ousado e irrequieto garotão queria algo mais por lá.
Dono de um traço peculiar queria deixar sua marca registrada numa parede da cidade. Tentou contato com o famoso muralista Miguel Rep, mas esse se encontrava fora da cidade no período. Foi também visitar a Casa das Madres da Praça de Maio, mas pela rapidez no contato e os poucos dias na cidade, teve que deixar a visita com as “madres” para outra oportunidade. Daí quem lhe ajudou mesmo foi a professora Ana e esse intrépido escrevinhador. Havíamos, eu e Ana conhecido um restaurante fora das cercanias turísticas do Caminito, algo mais no espaço periférico, junto das casas originais do lugar, ainda mantendo as chapas de zinco como paredes das casas. Tratava-se do “resto Bar La Bohemia”, na rua Magallanes 1000. A casa é cheia de inscrições pela parede, ou seja, quem por lá aparece para almoçar pode deixar gravado uma frase e sair de lá todo pomposo. Havíamos estado na casa dias antes, gostado do ambiente e na pressa, vendo se aproximar o dia da despedida de Felipe, combinamos de irmos todos num grupo para lá tentar junto aos donos uma pintura em uma de suas paredes.

Vanira Lallana nos reconhece e alegre pelo retorno, pedimos um almoço ao estilo do lugar, bifes de chorizo para todos, regados a Quilmes e a proposta logo lhe é sugerida. Aceita, mas diz ter que consultar seus outros sócios. Some na cozinha, comemos nossas carnes e a vemos sair calçada afora e entrar em casas vizinhas. Quando volta é um sorriso só: “Pode fazer, mas quero que conheçam o Felipe”. Havíamos falado dele, enchido sua bola, mas alguém mais queria conhece-lo e lá foi ele adentrar uma das casinhas do Caminito. Volta e começa a reunir tintas, sprays, pincéis, todos trazidos do Brasil.

Quem mais o ajuda é Toco Cabrera, um chileno que ele conheceu no alojamento onde está hospedado e por pura empatia, acabam por se tornarem imediatamente amigos. O local é definido por Vanira, na parte externa do bar, num local onde tempos atrás algo já havia sido pintado. O desenho escolhido é uma das marcas do artista, sua Nega, reproduzida por vários lugares onde mostra seus trabalhos.  Leonardo, garçom da casa, que também desenha transforma-se numa espécie de auxiliar e lhe arruma uma escada, permanecendo de prontidão para o que mais ia sendo pedido. Em momentos todos da casa estavam na rua e vendo o início do trabalho
Riscos na parede sob o olhar atento de todos. Nisso surge e sentam-se numa das pontas um grupo de jovens do bairro, assuntam sobre o que ocorre e se inteiram de tudo diretamente com Felipe. Tudo acertado, apertos de mãos e a aprovação vem de um deles: “Vagabundo, você é como nós. Mostre a que veio”. Aval dado, todos se ajuntam, em mesas, seguidas cervejas são seguidas e daí em diante por aproximadamente duas horas Felipe sua a camisa. O frio tomava conta do lugar e quanto mais o tempo passava, mais aumentava. E ele ali de bermuda e em infinitos retoques, que pareciam não ter fim. Um perfeccionista, cheio de detalhes, riscos exclusivos, reforços com tintas daqui e dali. A nega ganhou a parede, ganhou forma, ficou imponente e quando menos se deu conta, estava pronta.
Para surpresa geral, pouco antes do apronto final deu a ela um nome: “é a nega Ana”. Pronto, Ana estava ali mais derretida que manteiga em dia de calor infernal e o produto fora da geladeira. Novamente todos à calçada e fotos do coletivo diante da obra ainda brilhante pela tinta fresca. Vanira e os seus se derretem diante da obra, oferece mais algumas cervejas a todos (Felipe fez tudo de forma espontânea e gratuita). Sair de lá não foi fácil, pois a conversa parecia não ter mais fim. A noite começava a chegar e ainda todos tinham por propósito conhecer o La Bombonera, o estádio do Boca Juniors. E lá foi a trupe, andando pelos trilhos até a porta do estádio e de lá, de táxi, noite alta, para o centro de Buenos Aires, mais precisamente os altos da avenida Corrientes. A conversa sobre tudo aquilo continuou noite adentro e a ficha demorou a cair para Felipe. Ele andava meio nas nuvens e nem sentia o frio da noite de um começo de agosto por aquelas bandas.

RETRATOS DE BAURU (144)


SEBASTIÃO VENDE AOS 78 ANOS, SORVETE PELAS RUAS E DE BICICLETA
Na última sexta eu passava pela rua aviador Gomes Ribeiro, atrasado para fazer um serviço bancários, momentos antes do banco fechar, mas tentado pelo que vejo, estaciono o carro e esqueço da vida. Faço isso regularmente quando tocado por algo das ruas. Perdi o serviço bancário, mas não perdi a oportunidade de conhecer um personagem das ruas bauruenses, um que perseguia a dias e não havia ainda surgido o momento acertado de conhece-lo melhor. O momento era aquele, o local ali e foi o que fiz.

SEBASTIÃO FERREIRA DA SILVA é um senhor do alto dos 78 anos e pedalando sua bicicleta pela cidade, não como lazer, mas usando-a como complemento de renda. Sai diariamente do Jardim Chapadão e vai até as imediações da Prefeitura Municipal, onde ao lado está a Pinguim Sorveteria (uma das melhores da cidade). Roda diariamente de 22 a 23 kms dia, tudo para vender sorvetes e 30 kms aos finais de semana, quando vai e volta com ela para casa. Fez mais, instalou um velocímetro no seu instrumento de trabalho e ali registrado o pedalar diário, são exatos 7hm30 de casa ao local do trabalho. Com 5 filhos, renda de pouco mais de uma salário mínimo, não se intimida pela idade, mas sim, pela necessidade. Enfrenta tudo galhardamente as agruras da vida, fazendo questão de usar o motor da sua potente só para as subidas. Deixa em pessoas como esse escrevinhador, que aos 53 anos não pedala nada e anda muito pouco, uma mensagem de que algo precisa ser feito. Seu Sebastião é um DIGNO representante dessa cidade dentre os que resistem e insistem. Nada como começar a semana reclamando menos e olhando mais para as dificuldades muito maiores dos nossos semelhantes.

OBS.: Quando paro o carro na rua, eis que surge Sílvio Rodrigues, da revista Já, que também conhecia seu Sebastião. Esse me envia o texto, “Nossa Gente 171”, com o título “Aos 78 anos, ele pedala 23 quilômetros por dia - Aos sábados e nas segundas-feiras, a distância alcança 30 quilômetros”. Um escrito com a mesma visão da minha, que faço questão de juntar ao meu: “Entre a Praça das Cerejeiras e o Jardim Chapadão há uma distância de sete quilômetros e mais trezentos metros. Quem garante a precisão da distância é o sorveteiro Sebastião Ferreira da Silva. Em segundos, ele revela o segredo: em sua bicicleta, há um medidor de distância. E aí vem outra novidade: de segunda a sexta ele percorre, em média,  23 quilômetros. Conclusão óbvia: aos sábados, ele pedala 30 quilômetros. É fácil entender o cálculo: de segunda a sexta, a bicicleta permanece no posto de trabalho da filha, na região da Praça das Cerejeiras. Aos sábados, após percorrer os tais 23 quilômetros, ele retorna para casa pedalando. Assim, são  mais sete quilômetros. Ah! Na segunda-feira pela manhã, ele vai do Jardim Chapadão à região da praça pedalando. Nesse caso, podemos dizer que pedala 30 quilômetros também na segunda-feira.  Por volta das 9 horas da manhã, ele começa seu itinerário que começa pelas ruas Araujo Leite e Aviador Gomes Ribeiro. Na sequência, ele segue pela alameda Octávio Pinheiro Brizola. Aí, sim, ele entra em alguma rua com acesso à região do Bauru Shopping. No roteiro, está a avenida Nações Unidas entre a sede da OAB e o Confiança Flex, com um trânsito absurdo o tempo todo. Sebastião Ferreira pedala em frente ao Residencial Camélias até alcançar a avenida Duque de Caxias pela qual  retorna ao ponto inicial. O mais incrível vem agora: ele tem 78 anos de idade. É isso mesmo! Aposentado por idade, com os filhos criados, ele quer trabalhar ainda mais agora com a temperatura  voltando a subir. É uma forma de ganhar um dinheiro a mais e sentir-se útil, algo fundamental para ele que passou a maior parte da vida trabalhando em Bauru  nas mais diversas atividades. A esposa e os filhos ficam desesperados  diante do trânsito de Bauru. Mas ele garante que dribla os carros e respeita a sinalização”.

Esses textos saem também hoje no facebook, na série Personagens sem Carimbo – O lado B de Bauru, edição 243.

domingo, 25 de agosto de 2013

RELATOS PORTENHOS (05)


DUAS DISTINTAS ARTISTAS DA FEIRA DE SAN TELMO
Essas duas personagens, encantadoras pessoas merecem um texto juntas, unindo suas histórias de vida. E o faço hoje por dois simbólicos motivos. O primeiro deles é que hoje, domingo, temos a nossa FEIRA DO ROLO, a qual gosto muito e lá em Buenos Aires, todo domingo ocorre no bairro do mesmo nome a famosa e tradicional FEIRA DE SAN TELMO, ocupando uma extensão de aproximadamente umas vinte quadras, todas repletas de artesões, antiguidades e personagens sui generis. Encantamentos mil naquelas imediações. Estive cinco vezes em Buenos Aires e em todas as vezes bati cartão por lá. Querem saber se comprei muita coisa por lá? Não. Trouxe alguns penduricalhos, mas o que sempre mais me interessou foi o contato com as pessoas. Forço um pouco a barra para ir conhecendo pessoas e nesses anos conto a história de duas, que é o segundo motivo desse meu escrito. Ambas são duas TRAVESTIS de meia idade e no próximo domingo ocorre aqui em Bauru mais uma Parada da Diversidade, onde muitas iguais a elas expõem um pouco da irreverência embutida em todas.

A primeira delas é uma velha conhecida minha, pois nesse ano a revi por duas vezes, dois domingos seguidos e dela já havia escrito algo no blog, “A INESQUECÍVEL MARLENE, OPERADA ARTESÃ NA FEIRA DE SAN TELMO” (clique a seguir: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=marlene). Travamos, eu e Ana um papo tão amigável com ela no ano passado, que acabou tornando-se minha amiga pelo facebook. Sua história é merecedora de um livro, ser contada nos detalhes. No primeiro domingo passado em Buenos Aires, dia 28/07, ao chegarmos perto de sua banca, toda recheada de filetados (as plaquinhas coloridas e cheias de rococós que os argentinos espalham por tudo quanto é lugar), parei diante dela e ela não notou. Acostumada com turistas, disse que não queria comprar, mas sim revê-la. Só aí ela me olhou, fixou bem os olhos e para minha surpresa, mesmo após um ano sem nos falarmos, tascou algo inebriante para mim: “Perazzi, como podia esquecer de você. Imprimi o que escreveste de mim, emoldurei e está na minha parede. Você é aquele dos longos textos, escreve muito”.

Rimos muito, abraços cordiais e mil histórias colocadas ali para fora no meio da feira. Além de ter lembrado o meu nome, fez mais. Algumas turistas insistiam para fotografar sua banca, ela irredutível, assim como muitos em San Telmo, não deixam fotografar seus trabalhos. Liberou geral para mim, pois sabia que escreveria dela e bem. Claro, levei alguns fileteados e ganhei dela um copinho com a imagem da Mafalda. Falou muito dos seus problemas de saúde e do esforço que faz para continuar vindo todos os domingos, distância de mais de 30 kms de sua casa até a feira, medicada com morfina. O encantamento maior é quando diz das pessoas que atuaram com ela na Galeria Alaska, no Rio, uma delas Elza Soares. Tenta lembrar o nome de um artista brasileiro, um nome que desconheço. Trago gravado num guardanapo de papel, LEO BELICO e ao fazer uma pesquisa pelo google, algo grandioso de alguém que desconhecia. Ela me disse tanto dele que vou pesquisar mais a respeito.

Difícil despedir de pessoas iguais a ela. Não resistimos e no domingo seguinte, 4/08, íamos eu e Ana passear de trem num outro lugar, mas voltamos para San Telmo e novamente uma parada na banca da MARLENE. Gostei muito de conhecer Marlene e se pudesse voltaria outras vezes, pois percebi que a reciprocidade para conosco foi da mesma intensidade. Uma pessoa cheia de sensibilidade, uma longa história de vida, uma trajetória onde faz questão de dizer que foi uma das primeiras “operadas” no Brasil dos anos 50 e 60. Sabem lá o que é isso? O que deve ter de histórias por trás daqueles cabelos louros. Tento desde o ano passado fazê-la me postar algo mais de suas histórias pelo e-mail, mas como sabemos esse meio não é confiável (Obama fica sabendo de tudo), acho que irei conseguindo em drops, aos poucos nos futuros retornos.

De lá, no mesmo dia, 28/07, subindo a feira nos deparamos com algo também eletrizante. Gosto muito de camisetas diferentes, com grafias surreais e fora do usual. Numa das ruas, uma banca com muitas dessas, todas desenhadas numa espécie de glitter, bem coloridas e com temas bem sacados. Além da banca, um algo mais me chamou muito a atenção, a dona do pedaço. Paramos ali diante da banca e fomos curtindo o astral emanado do produzido. “Mulher bonita é a que luta”, “Um homem sem pança é como um céu sem estrelas”, “Todos somos raros”, “Mickey Mouse come Donald”, “Todas unidas é melhor”, “Eu não sofro de trânsito lento! Me cago todo!”, algumas das frases escritas nos objetos sendo ali revendidos. Uma muito animada e conversadora pessoa tomava conta de tudo por ali.

Fomos ficando até ela ficar mais folgadinha, pois a procura pelo que faz é intensa na feira. No papo algo mais logo de cara. Seu nome é NATY, com um surreal acréscimo, NATY MENSTRUAL. Quando disse que queria escrever dela, me assuntou bastante (os argentinos são bastante desconfiados com estranhos faladores) e só depois foi me contando mais. A empatia bateu quando me disse que escrevia textos semanais para o suplemente GLBT do diário argentino Página 12, o SOY. Fico de ler e o consigo fazer só aqui no Brasil nos exemplares que trouxe de lá (um peso imenso, pois trouxe jornais de 14 dias por lá, infinidade de papéis). Naty é uma pessoa cheia de gás, envolvida com a luta dos seus e para os seus. Tem um passado e conquistou espaços valorosos dentre os seus, faz um bom uso deles e ali expõe sua forma libertária de ser e de agir. Vive da venda dos produtos feitos e criados pela sua mente muito sã.

Escolho uma camiseta dentre tantas opções, não sei se o fiz com a melhor, mas acabo trazendo justamente uma em cor preta e sobre a situação desesperadora de minha “pança”. Naty nos passa seus contatos e deixo aqui alguns deles para que conheçam um pouco do que essa batalhadora faz. No www.natymenstrualremeras.blogspot.com tudo o que ela produz e revende, com estampas das mais interessantes. Nos dois demais, o www.natymenstrual.blogspot.com e www.ladorysgay.blogspot.com um pouco do universo onde ela vive e faz descrições bem lúcidas, sem papas na língua. Seus escritos refletem uma postura pelas quais não me furto em ler e divulgar. Fortes, contundentes e uma reflexão bem fundamentada de quem vive intensamente.

Da mesma forma como fizemos com Marlene, retornamos no domingo seguinte para um novo abraço em Naty. Sua banca estava com o mesmo movimento, atraindo gente não só do segmento LGBT, mas de todos. Ela pinta desde temas infantis, desde os para adultos bem resolvidos. Quem ali para e conversa animadamente com essa travesti, sabe o que vai encontrar e não se decepciona, pois quem faz uma arte tão engajada só pode ter uma boa cabeça. Essas duas, ambas muito bem resolvidas, são duas personagens marcantes de uma das mais famosas feiras do mundo. Ali você encontra de tudo, elas são só um cadinho do universo de possibilidades de algo, que transportado para a minha aldeia, Bauru, vejo como algo mais do que possível, uma feira universal, um imenso e movimentado MERCADO MUNICIPAL, culminando com uma feira ao estilo dessas todas. A Feira do Rolo precisa ganhar o mundo, pois potencial não lhe falta.