sexta-feira, 17 de maio de 2024

 PORQUE QUE A GENTE É ASSIM ou POR QUE A GENTE É ASSIM?

1 - Primeiro a decisão da Justiça pela rejeição e suspensão, já decidindo por nova votação de decisão totalmente arbirtrária da Câmara de Bauru, comandada pelos integrantes de sua Mesa Diretora - ligados umbilicalmente com os interesses da alcaide, a incomPrefeita Suéllen Rosim. No início da sessão, toda ela arbitrária, um munícipe pede abertura de uma Comissão Processante contra os três integrantes das Mesa Diretora. A votação até ocorre, mas com uma clara irregularidade. Os três, cujo pedido era de Processante contra eles, estariam naturalmente fora da votação, conflito de interesse explícito, porém, o presidente da Casa, vereador Júnior Rodrigues, diz que votaria e pronto, assim foi feito, ignorando a legislação e os apupos dos contrários. Ali foi rasgada a legalidade de tudo o mais ocorrido. Ao final, outros gritantes absurdos foram cometidos, sendo consumado com a aprovação, sem a presença dos oito vereadores de oposição, contrários à Carta Branca para prefeita, a tão decantada privatização bilionártia, dita como concessão, da água e esgoto bauruese. De tão fora dos preceitos mínimos previstos na legislação existente, sabia-se, tudo seria questão de tempo. E foi. Nessa sexta, a Justiça suspendeu a votação que rejeitou a instalação dessa Comissão Processante. Ufa! Outra eleição ocorrerá e sem a presença do trio. Suplentes serão acionados, somente para votar e a previsão de que, a próxima sessão será tão ou até mais intensa do que a anterior. Desde já tem início intensa movimentação de bastidores. De uma coisa, os da situação, os que promoveram as alterações ilícitas, tem certeza: se algo acontece já alterando o que foi decidido no começo da sessão polêmica, o tudo o mais, que foi imensamente mais fora da lei, o que irá acontecer daqui por diante? Muito sono perdido.

2 - O PT está didivido. Nenhuma novidade. O PT, para quem não sabe, possui dentro de seu corpo de militantes, vários segmentos e agrupamentos políticos. Costumeiramente divergem e converger, ao sabor do tema em questão. Algo mais aconteceu em Bauru na noite de sexta - vejo o mesmo ocorrendo em outros partidos, com mais ou menor intensidade. No daqui, dois grupos dividindo seu Diretório Municipal. Um quer conversar, outro quer travar qualquer discussão e impor à sua vontade sobre tudo o mais. Posto nas redes sociais o seguinte texto na noite desta sexta: "Boa noite. Hoje teríamos uma reunião do Diretório Municipal do PT Bauru, onde seriam apresentados dois pré-candidatos, conforme deliberado em reunião do dia 5/5. Daqui tiraríamos uma prévia e daí decidir. Sabe o que aconteceu? O mesmo problema encontrado pela direção atual deste DM. Um dos grupos, dividindo em 50% seus componentes, faz questão de inviabilizar todas as reuniões marcadas. Isso mesmo, não compareceram e só oficializaram isso minutos antes da reunião começar. Algo orquestrado, atrasando mais uma vez a vida do partido. Por que isso foi feito, repetição de algo ocorrendo desde a posse? Reunião inviabiliada, sem quórum, nenhuma decisão pode ser tomada. Computamos hoje, tivemos 12 representantes do DM. Existe um PT que quer discutir, faz tudo dentro dos pazos possíveis, insiste, quer dialogar, mas existe um que não quer nada disso e daí, quer impor de cima para baixo algo deles, não aceitando sentar na mesa e olho no olho, resolvermos tudo. Estamos fazendo uma Ata e prevendo algo de bastidor, tudo será devidamente documentado e informado nas instâncias superiores. Este seria o momento do PT, com uma bela candidatura própria, um bom nome encabeçando, saber como enfrentar seus oponentes, preparado e ciente do seu papel, com consistência, mas pelo visto, tem algo mais ocorrendo e lá na frente, pelo que se vê, estão dando um jeito de dizer que aqui não existe consenso, tudo para virem com algo pronto e nome definido pela Federação. Entendam, em Bauru tem um PT que quer e outro que atravanca, faz o mesmo que Suéllen faz com a cidade, trava as pautas e atrasa o partido de andar. HPA". Eu, na qualidade de militante, só quero uma coisa, que um partido sendo atacado tão injustamente, lutando por dias melhores para o povo, algo assim em suas entranhas é totalmente incompreensível, pois temos uma insana luta sendo empreendida nas ruas e, nem sequer nos entendemos internamente. Como poderemos mudar o mundo deste jeito? Só nos enfraquecemos. Chega de mandões em instâncias partidárias. Se faz necessário quebrar grilhões nos mantendo atados a algo repudiado por todos, da boca pra fora. Por que uns querem um partido enfraquecido e com tudo gravitando em torno de si? Não dá mais...

3 - Eu converso regularmente com o presidente da Câmara Municipal de Vereadores, o Júnior Rodrigues. Ele um dia, lá atrás, esteve no PT, nunca sendo petista. Foi assessor parlamentar de vereador, que já ser bandeou para outra instância, exatamente por também não ser petista. Júnior nunca se negou a conversar, mas se deixou levar. Não diria estar iludido, pois ninguém se envolve num grupo político por acaso. Isso não existe. São afinidades, proximidades que num dado momento se juntam. As ilegalidades cometidas por ele, investido como presidente da Câmara de vereadores lhe trarão eterna dor de cabeça, talvez até problemas muito sérios para a continuidade de sua vida política, enfim, é ainda tão jovem. Ele deve ter avaliado tudo isso, colocado no liquidificador e chegado à conclusão de valer a pena continuar fazendo o que têm feito como presidente. Quase foram destituídos sessões atrás, mas votaram nela e ser safarasm de terem o mandato da Mesa cassado. Agora é mais sério e pelo conjunto da obra, muito degraus acima foram subidos e, consequentemente, infração triplicada contrariando o que reza e prega legislação existente. Quando ele estava claudicante sobre dar continuidade ou não para a sessão, que culminaria com o abandono dos parlamentares de oposição, instigado pelo vereador suplente, ali presente só para reforçar uma missão recebida, do lado de fora da tribuna, da galeria reservada aos munícipes, eu disse em voz bem alta, por repetidas vezes e sei, ele ouviu muito bem: "Juninho, ponha a mão na consciência, ela (a alcaide) irá embora e você vai ficar". Talvez ele, não pudesse recuar, pois estava também acuado, mas teria sido sua libertação. Não o fez, preferindo continuar recluso de algo ainda muito mal explicado no cenário político bauruense. Está dando no que deu, começando com a rejeição suspensa. Ele sabe, muita coisa ainda vai passar por debaixo dessa ponte e seu nome um dos expoentes da crueldade e atos fora de sustentação legal. São as tais escolhas que a gente faz na vida...

quinta-feira, 16 de maio de 2024

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (228)


DIAS SE PASSAM E A REVERSÃO PRECISA OCORRER
VAL e ELIANA, do SINSERM
A sessão da Câmara aconteceu dois dias atrás, mas ela não me sai da memória. Uma tenebrosa lembrança de algo que, nunca mais me sairá da memória. Tomara pela Justiça algo consiga ser revertida, pois não é possível que o mal triunfe da forma como foi apresentado, numa sucessão, não de erros, mas de crimes repetidos, todos com justificativas de amparo dito legal, ou ao menos, impostas pela força de quem detinha no momento o poder do bastão, da caneta e da força - inclusive a policial - ao seu lado. Tudo deprimente e deplorável. Circo de horrores. Bauru não merece isso. Ressalto deste e de dias anteriores a luta de bravos guerreiros, servidores municipais em greve justa e necessária - hoje contestada e quase colocada na ilegalidade. Estes dois da foto, no uso dos microfones de um carro de som, tanto nas passeatas, como defronte o prédio do "Palácio Encantado da Princesa Suéllen", como no dia da farsa sendo convertida em legalidade, novamente marcaram presença e dignificaram uma categoria vilimpediada dia após dia. Sei, pois os conheço, não será agora, que a alcaide, dita por mim como incomPrefeita conseguiu o seu intento, e após isso, teremos a votação com o reajuste dos servidores sendo concedido e com os artistas tendo liberados os valores de seus editais, pois bem, não será por isso que irão dar cabo a tão pujante movimento. Se a greve não continuar, eles e todos nós precisamos continuar nas ruas e lutas, retidão de caráter que carregamos junto da gente, teremos que continuar unidos, coesos e clamando aos quatro ventos pela cassação da alcaide, pelo seu impeachment, pela abertura de processos judiciais, pelo fim deste desGoverno e pelo mesmo para os nove vereadores, que desonraram por demais da conta o mínimo de sensatez, passando de todos os limites. Ver estes dois na rua foi algo mais do que dignificante para uma categoria em busca de novos líderes e de gente corajosa, sem medo de enfrentar todos os dragões e moinhos pela frente. Toda vez que cruzar com eles, daqui por diante, quero lhes dar um forte abraço, pois souberam como ninguém levar adiante uma luta que ainda não se findou e só se findará com este desGoverno no chão, punidos por todos os excessos cometidos.

EU QUERIA TER SIDO PEREIO
Mal consigo ser o HPA. Vida que segue - para os que por aqui ficaram.

Conheça a história da última foto de Pereio
LEO AVERSA
O fotógrafo Leo Aversa publicou na manhã desta segunda-feira (13), em suas redes sociais, o que pode ter sido a última foto de Paulo César Pereio, que morreu na tarde deste domingo (12), aos 83 anos. Aversa, que também é colunista do GLOBO, fotografou Pereio em dezembro do ano passado, no Retiro dos Artistas.
"Fotografá-lo foi uma das experiências mais radicais como retratista. Qualquer coisa podia acontecer, desde as maiores patadas às gentilezas mais delicadas", escreveu o fotógrafo. "Normalmente eram patadas engraçadíssimas, afinal ele era um adorável rabugento. Era preciso usar toda a experiência de domador de leões e encantador de serpentes para arrancar dele uma imagem. Hoje essa figura de mil histórias e imenso talento se foi. Vai fazer muita falta, jamais existirá ninguém sequer parecido."
Ao GLOBO, Aversa deu mais detalhes sobre aquela tarde em que esteve no Retiro dos Artistas. Segundo fotógrafo, o trato com o ator era tão imprevisível que ele tinha uma espécie de "interlocutor" no local.
— Só esse cara se dava com o Pereio, era um garoto que trabalhava lá desde sempre. Uma vez o Pereio chamou ele de longe, e quando o rapaz chegou lá, ouviu dele: 'Porra, estou aqui há meia hora procurando alguém pra mandar à merda, mas não encontro ninguém' —se diverte Aversa. — As histórias são impagáveis.
Não era a primeira vez que Leo Aversa fotografava o ator.
— Já fiz algumas vezes. E só dele olhar, você já fica com receio. Mas ao mesmo tempo ele era engraçado, então podia acontecer qualquer coisa. Ele era tipo um tubarão que sente sangue na água. Se ele sentisse que você estava intimidado, aí que você estava perdido mesmo.

REVEJAM O DIA DA GRANDE VERGONHA BAURUENSE
https://youtu.be/H3CHzViE8e0
E esses vereadores aprovando, a ilegalidade não vão ter seus mandatos cassados?

"Hoje, durante a sessão extraordinária do "puxadinho das Cerejeiras", que um dia já foi chamado de Câmara Municipal, acho que ouvi uma das "piadas" mais hilariantes de toda minha vida. Um dos "9 do puxadinho" usou a Tribuna para lançar a ideia de que o DAE deveria contratar caminhões pipa para transportarem água da CONTAMINADA lagoa da Quinta da Bela Olinda e transportar até a represa de captação (40 km ida e volta)para ser tratada e assim ajudar no abastecimento da cidade...... e ainda complementou argumentando que isso ajudaria a "baixar o nível da lagoa", diminuindo o risco de novos afogamentos....
Gente, não é possível que tenhamos que ouvir BARBARIDADES como essa! NUNCA achei que a "fábula do beija flor que carregava gotículas de água no bico para apagar o incêndio na floresta" iria servir de inspiração para a FALTA DE PRÓ ATIVIDADE DO DAE em resolver o problema de abastecimento em Bauru kkkkkk!
A que ponto chegou a representação da sociedade na outrora "CASA DO POVO", Orlando André Gasparini.

A GOLPISTA BAURUENSE, 17 ANOS DE PRISÃO, AGORA É FORAGIDA DA JUSTIÇA
https://g1.globo.com/.../mulher-condenada-apos-organizar...
Procura-se. Será, alguém conseguiria lhe dar cobertura em mais este ato criminoso???
E mais, alguém tinha alguma dúvida de que a criminosa bauruense não iria se juntar aos tantos outros, beneficiados com afrouxamento de suas prisões e mesmo com tornozeleiras eletrônicas, iriam ganhar o mundo?
Pelo menos, agora, está findo o afrouxamento e ela, a Pletti, é foragida e quando capturada, cana dura, sem dó e piedade. E ainda exister a possibilidade das tão esperada revelações de quem foram os financeiadores e vereadeiros mentores da aventura golpista na cidade de Bauru.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

REGISTROS DO LADO B (123)

CREIAM, O "LADO B - A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES" VOLTOU E AGORA, DEPOIS DE UM SONINHO DE ALGUNS MESES, COM ESTE PAPO, FEITO AGORA, O DE Nº 123

BRENO ALTMAN, conceituado jornalista de esquerda, passando por Bauru para lançar seu mais novo livro, o "Contra o Sionismo - Retrato de uma doutrina colonial e racista", aceita um bate papo, feito agora, logo após seu café da manhã. Sentamos num canto do Hotel Obeid e por quase meia hora, uma conversa não só sobre o tema do seu livro, mas sobre este momento da esquerda brasileira, a perda da disputa de narrativas, as lutas de ontem e hoje. E é claro algo sobre sua passagem por Bauru, nos anos 80, no primeiro Governo Tuga Angerami, quando por aqui passou numa espécie de assessoria para o então Secretário de Saúde, David Capistrano Filho. Enfim, o recomeço deste HPA precisava se dar com algo cheio de pompa e brilho. Assim sendo, nessa conversa com Breno, algo para injetar ânimo, nessa necessária renovação de esperança. Se o que precisávamos era uma injeção de ânimo, eis algo proposto claramente pelo Breno, enfim, pelo nos diz, está surgindo um novo momento para a esquerda e a maioria destes ainda não se deu muito conta disso. Portanto, estar ou ir pra luta é a única alternativa possível para a sonhada transformação, tão sonhada e almejada.

Eu não pensava em parar com o Lado B, mas estava um tanto empacado com a coisa. Travado, seria a palavra mais acertada. Creio eu, agora desempaquei e com alguém grandioso. Breno tem uma forte relação com as esquerdas bauruenses. Esteve por Bauru, junto do Capristrano e por dois anos, circulou por todos os lugares, mantendo vínculo com todos os expoentes da esquerda na época. E deles não se esqueceu. Cita todos, com uma memória incrível. E quando fala de sua relação então com o PCdoB, conta que, uma das tarefas na cidade foi ter sido segurança num dos maiores comícios políticos já ocorrido em Bauru, o de Luiz Carlos Prestes, na praça na esquina das Nações com a Rodrigues, no qual tive o prazer de estar presente.

Breno lança seu livro país afora e me conta do que tem encontrado país afora. Por aqui, creio eu, estivemos perto de umas duzentas pessoas, o que foi ótimo. Diz que, no Recife PE, seu maior público, com mais de mil no evento e muito do que aconteceria num local fechado, sendo transferido para a rua. Ou seja, a recepção está boa e, claro, o tema ajuda. Ele, de origem judaica, versando sobre o outro lado, algo não aceito por parcela significativa do mundo judeu, defende abertamente a questão palestina e para tanto, antes do lançamento, faz uma palestra e conta da forma mais didática possível, num histórico, fala ocorrida no salão de entrada do Sindicato dos Bancários, na rua Marcondes Salgado, como se deu tudo, desde o princípio, até a criação do Estado de Israel. Desde então, algo inegável, o povo palestino foi sendo, pouco a pouco, encurralado e massacrado. Não existe como negar isso, com tudo culminando nesse ato de resistência, tudo para que este povo não se veja mais e mais subjugado pela força de quem invadiu seu território e hoje o expulsa. Uma reação natural, porém, como a força da informação repassada do outro lado é imensamente desproporcional, quem de fato invadiu, ainda tenta sair como vítima.

A história que Breno conta é essa em seu novo livro. Maria Cristina Zanim, pela ABJ se esforço ao máximo para trazê-lo e este reencontro foi por mim registrado desde o princípio. Ainda na viagem de vinda de São Paulo, na tarde do dia 15, tento marcar uma entrevista. Foi impossível sua realização antes da palestra. Ficou para a manhã do dia 16, quinta, 7h30 da manhã no Obeid Hotel, pouco antes dele ir para outra, na TV Câmara, com o jornalista Nelson Gonçalves. O que queria fazer e fiz foi fugir um pouco do trivial para com ele. Dessa sua saga pelo Brasil lançando o livro, as perguntas são repetitivas e quase todas em cima do tema da questão palestina. Sim, este o momento para falar disso, porém, aqui em Bauru, aproveito o gancho dele já ter convivido por aqui, conhece um pouco a luta e os bastidores de como se dá a contenda e foco a conversa para falarmos do momento da esquerda, o passado e o presente, perspectivas, avanços e recuos. Ou seja, sua opinião sobre isso tudo. Creio eu, missão cumprida. Breno estava descansado e creio ter dado conta do recado.

Desta forma e jeito, volto com as entrevistas do Lado B. A lista dos futuros convidados sempre é grande. Vamos ver como tudo se dará daqui por diante. Por enquanto, faço aqui o compartilhamento do registro feito por mim de dois momentos de sua fala no sindicato. No primeiro, mais longo, consegui captar quase toda sua fala, mais de uma hora de gravação e quando tive um problema, parei e volto para a finalização da palestra, o ponto alto, quando junta tudo o que havia descrito e lacra. Daí, o terceiro vídeo já é no dia seguinte, lá na sala do café da manhã do Obeid. Assistidos na sequência, se possível, melhor ainda para o entendimento de minha proposta.

Vídeo 1 - Sua palestra, desde o princípio até o corte, mais de uma hora de gravação: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/1795303684297519

Vídeo 2 – A parte final dessa fala, quando dá o arremate final: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/1744998329361545

Vídeo 3 – O bate papo do Lado B nº 123, a retomada, de algo que sempre me deu grande júbilo e contentamento fazer: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/2340694929459949

Breno é isso tudo e muito mais. Espero ter dado mais uma contribuição para o engajamento necessário para a continuidade de uma infindável luta, a de nossas vidas, com COERÊNCIA, começado tudo lá atrás, na juventude e só se findando quando partirmos dessa. Desistir, para gente como Breno, impossível.

terça-feira, 14 de maio de 2024

UM LUGAR POR AÍ (180)


SÓ PODE SER FICÇÃO – ELE FOI EFETIVADO SÓ PARA CONCRETIZAR O GRANDE NEGÓCIO
O cara foi comerciante, filho de político, já tendo tido até negócios no exterior – um país vizinho. Voltou para atuar naquela administração, muito precisada de uma cara experimentado na vida, com passagens por aqui e ali, sabendo se safar das dificuldades de um dia a dia administrativo cheio de percalços. Virou secretário quando um dos que, até então ocupava o posto, saiu, na incompatibilização exigida para se candidatar a um cargo público.

Chegou chegando e diante de outros com menos qualificação e quilometro rodado, fazia e acontecia. Surge nova necessidade e pelo, visto, ele o mais gabaritado. Enfim, estava ali para aquilo mesmo, experiência comprovada. Tinham lá uma votação necessitando ser aprovada junto dos vereadores locais e pasmem, este mesmo cidadão, havia se candidatado, não foi eleito e, naquele momento era o primeiro na fila dos suplentes. Feita toda a certificação junto dos pares, o momento exigiria um sujeito tarimbado, com os costados calejados e já um tanto vaselinado.

Tudo foi combinado, o vereador ocupando o cargo era de confiança, mas não tinha o cabedal de expertise necessário para o embate ali se apresentando. Nem era bom de juntar ideias quando diante de forte pressão. Tinham mêdo do danado vacilar. Votar é uma coisa, fazer a defesa, argumentar junto aos opositores, estes com alguns bons de oratória e afinados num discurso corrosivo, caberia a este, adentrar a cancha de jogo e dar o acabamento final para a partida em sua fase final, quase prorrogação.

Pois bem, o vereador foi enviado para uma viagem de negócio, o preparadíssimo assume sua vaga e no dia da contenda final, ele cumpre seu papel. O tal do presidente lá da Câmara correspondia as expectativas, mas meia boca, não saberia tocar o barco sozinho. Outro cujo receio de vacilar, pairava no ar. Precisavam do reforço. Ele se apresenta e mesmo diante de maioria já constituída, uma calada maioria, desses não pronunciando nada além do voto, este chega chegando e apresenta as cartas escondidas nas mangas da camisa.

No final da contenda, partida encerrada e todo o plano já concretizado, este está agora prestes a deixar o cargo, reassumindo o que havia viajado, fiel, porém, ruim de prosa e o bam-bam-bam vai voltar a reassumir seu cargo numa das pastas mais importantes da administração. Dizem que, após tudo ter dado certo, o reconhecimento do clã no poder foi de júbilo e contentamento. Não sabem nem o que fazer para complementar sua remuneração, talvez uma gratificação de grande valia. Estudam algo neste sentido, enfim, o cara foi sensível ao momento vivido, assumiu todos os riscos, foi lá, botou a cara a tapa, não teve medo de cara feia e demonstrou competência.

Dizem que, é assim que o jogo é jogado lá na distante Uruab, lugar onde o judas perdeu e bateu as botas, mas a esperteza é a alma do negócio. Eu, besta que não sou, escolhi viver num lugar longe disso tudo. Meu lugar é tranquilo, tudo acontece como escrito nas estrelas. Gosto de vez em quando de escrevinhar histórias deste tipo, pois dizem, quando a gente escreve, menos elas acontecem perto da gente. Toc toc toc...

OBS.: Nem tentem aproximar ou enxergar semelhanças dessa estória com algo acontecido pela aí, pois trata-se de mera peça ficcional, talvez ocorrida não nessa Uruab aqui citada, mas só mesmo no mundo criado pela verve de Dias Gomes, na já quase esquecida Sucupira.

AMANHÃ, QUARTA, 15/05, TEM CONVERSA COM BRENO ALTMAN E A QUESTÃO PALESTINA
Será no Sindicato dos Bancários, 19h.

Não existe neste momento pessoa mais qualificada que o Breno para a discussão da causa palestina. Perder essa oportunidade será desperdiçar rico e raro momento, que não se repetirá rapidamente. Casa cheia na recepção a um guerreiro das boas causas.

DOIS VELHOS E SEUS DOIS CÃES, UMA HISTÓRIA VIVENCIADA NO GASPARINI
Vou visitar meu cão Charles, ele cada dia melhor, mais robusto e feliz, agora com a companhia de outro, ele de porte médio e o outro, pequeno. Se entendem num quintal todo cimentado, folia declarada e explícita. Vou lá e não quero mais vir embora. Sou chamado pela Maria, a hoje guardiã de dois cães para ver de perto a situação de outros dois, em situação oposta, na quadra de baixo de onde mora.

Ela vai me contando pelo caminho, conhecer o casal de velhos, Manuel Gaspar dos Santos e sua esposa, Maria Aparecida dos Santos, moradores do bairro desde sua inauguração. Uma casa simples, sem grandes mudanças, de um lado um corredor coberto, este levando para a porta da cozinha e debaixo duas pequenas casinhas abrigando dois pequenos cães. O casal envelheceu por ali, sem perder o gosto por ter ao lado sempre um cão, também ajudando na vigilância e companhia para ambos.

Tudo vinha dando certo, mas de uns tempos para cá, as condições foram se complicando e até mesmo a própria sobrevivência está complicada. Com a pandemia tudo se tornou mais difícil e o casal mais lento, com a distância da residência até o Posto de Saúde se tornando uma tortura quando feita a pé. Se o casal sofre, junto deles dois cachorrinhos, o Apolo, 4 anos e mais recentemente o Ori, 2 anos.

De uns tempos para cá, algo vem preocupando não só eles, mas toda a vizinhança. Os cachorros estão neste momento infestados de carrapatos e tudo tem se espalhado rapidamente para o quintal, paredes e tudo o mais na casa. Um dele, o Apolo já se encontra com parte da face toda consumida por uma ferida proveniente de algo proveniente da ação dos carrapatos. Vez ou outra se vê, dona Maria empunhando uma vassoura e tentando varrer os carrapatos da parede, mas estes caem no chão e até varrê-los, sempre alguns permanecem no local.

Não conseguem nem lavar convenientemente os animas e assim, as situação está por demais agravada. Maria Aparecida e Manuel de um lado e no mesmo ambiente, padecendo de tudo juntos, Apolo e Ori. Semana passada quem por lá passou foram algumas funcionárias da Prefeitura, verificando a situação canina em respeito a leishmaniose. Se inteiraram de tudo e aguarda-se algo também sendo providenciado por elas em respeito aos carrapatos.

Maria me leva até o portão da casa deles, converso com dona Maria, cruzamos com seu Manuel no quarteirão e diante dos dois cães, o que fazem querendo expor a situação e lançar um pedido de socorro. Dizem já ter acionado a ONG do vereador Julio Cesar, a Arca da Fé e também alguns setores da Prefeitura, mas até agora, quem faz algo mesmo são eles, mesmo com movimentação reduzida e condições precárias. Escrevo, a pedido de Maria, pois ela gostaria muito de movimentar os vizinhos todos e ali acontecer uma ação em conjunto. Esperam uma sinalização dos órgãos municipais e temem também uma proliferação dos carrapatos pelas demais casas.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

COMENDO PELAS BEIRADAS (145)


A SESSÃO DA CÂMARA MAIS VERGONHOSA DA HISTÓRIA BAURUENSE E SEU DESFECHO, QUE DEVERÁ TERMINAR NUM PLANTÃO POLICIAL OU NO MINISTÉRIO PÚBLICO

COMO ME SINTO APÓS O PRESENCIADO NA SESSÃO DA CÂMARA BAURUENSE NO DIA DE HOJE
Tudo o ocorrido na tumultuada sessão da Câmara de Vereadores de Bauru nesta semana passa já para o folclore da cidade. Folclore, negativo, claro. Mais um. Ali não ocorreram somente infrações, meras irregularidades, mas aberrações jurídicas. O grupo comandando pela Mesa Diretora, três vereadores da base governista, atuando cegamente na defesa dos interesses da alcaide, a incomPrefeita Suéllen Rosim, compondo no total 9 vereadores, de um total de 17. O que se percebe destes é a incapacidade de, em algum momento, acontecer de um deles ousar votarem desacordo com o decidido pelo grupo. São muito fechados em si e cegamente levantam de suas mesas e, simplesmente, votam. Abrem a boca, dirigem-se ao microfone da casa e sacramentam algo decido em grupo, não se sabe em que condições. Com estes, impossível algum tipo de argumentação, que os demova a ideia de que a privatização nos moldes sugeridos, repassando R$ 3,5 bilhões, numa espécie de “carta branca”, possa ser um péssimo negócio para cidade. Todos estes votam de forma cega, em algo a ser estudado e entendido. Enfim, o que ocorre nos bastidores para ocorrer uma votação tão sincronizada, sem a mínima possibilidade de algum destes “mijar fora do penico”? Isso merecerá, com certeza, amplo estudo futuro, talvez até teses acadêmicas, dentre tudo o que já ocorreu dentro da Casa de Leis bauruense ao longo de sua história.

Eu, nos meus 63 anos, tive o prazer e o desprazer de ter presenciado muitas sessões de teor igual, parecido, com menor ou maior intensidade, mas todas, refletindo muito bem algo da época onde aconteceram. Quando estava lá, primeiro do lado de fora da Câmara e depois, do lado de dentro, impossível não me lembrar do dia, com pneus queimados na esquina da avenida Rodrigues Alves com Azarias Leite e o então prefeito, cassado momentos antes, escapulindo no carro do Ayub pelo portão de entrada dos veículos. Olho para trás, me vejo novamente no mesmo cenário e com conjunturas com muita similaridade. E eu, junto dos que não só protestavam, mas tenho a mais absoluta certeza, estivemos ao lado de algo propondo o bem para essa cidade. Disto tenho orgulho. Meu envolvimento sempre se deu contrariando a corrente de poderosos que, tomando de assalto o poder local, fizeram e desfizeram, usufruindo de benesses e massacrando os interesses populares. Sempre com muito dinheiro em jogo. Não me lembro do montante na época do Izzo, mas hoje a bagatela é uma milionária cifra batendo recorde, alcançando os R$ 3,5 bilhões.

A bizarrice do que vi acontecer desta feita dentro do salão principal da Câmara é pra ser retratada como fosse peça de ficção, impossível de acontecer num espaço seguindo os ditames de algo a seguir preceitos democráticos. Tudo ali, desde o começo passa ao largo de alguma conotação democrática. Irregularidades seguidas e assim ocorrendo, pois a reação até agora tem sido pífia. Deixaram algo ocorrer sem a devida consistência jurídica, deixaram duas e quando viram, tudo se tornou rotina, dito e visto como natural. Tudo de permissividade é lá tolerado e sob vistas grossas. Mas tudo tem um limite. Mas como conter algo, se a porteira já tinha sido aberta e agora, o lado de lá se fortaleceu, criou musculatura e, infelizmente, está até mais forte do que a resistência? Não é fácil, não será fácil, nunca foi fácil. Descrever o ali ocorrido, passo a passo, outros já fizeram e não quero repetir algo já lido por aí.

Estou a tentar interpretar, ao meu modo e jeito, da insanidade ali em curso e do que pode ainSim, aqui e da ser feito para reverter a situação. De uma coisa, pra começo de conversa, se faz necessário deixar bem claro: nossa Câmara está doente, talvez em estado até terminal, mas nada muito diferente do que vemos hoje ocorrendo na maioria dos parlamentos nacionais. O que foi visto aqui se difere muito do que se vê sendo feito pelo sr Lira, presidente da Câmara dos Deputados e pelo sr Pacheco no Senado? Daí já se entende como será difícil reverter o ocorrido, mesmo existindo muitos motivos e razão para tanto. Nem sempre vence o dito Bem. Tudo é fruto de intensa luta.

Muito jogo de cena, não só do lado da situação, o a defender cegamente os interesses da alcaide, mas também os do lado de cá. Suspeita-se que, alguns dos que gritam em alto e bom som, o fazem de comum acordo com a parte contrária. Seria possível? Tudo é possível neste jogo onde a ideologia deixou de ser a mola mestra das relações políticas. Tem muita gente hoje com discurso progressista, mas na hora do vamos ver vota de acordo com o que prega o inimigo. Isso acaba de acontecer na Argentina, na votação da Lei Ônibus. Opositores a Miles esbravejaram durante todo o tempo, mas na hora do voto, se perfilaram ao seu lado. Isso pode ocorrer na Câmara bauruense? Sim, aqui e por todos os lugares. Dos vereadores que estiveram a defender essa privatização criminosa, pela forma como foi construída e, por fim, como foi alcançada a aprovação, nada mais a dizer. Só mesmo entrando na Justiça contra, não só a Mesa Diretora, mas todos, pois agiram de comum acordo, selado e levado à execução como visto numa espécie de “pacto de sangue”. Todos merecem o pior, a perda de seus mandatos. Já dos que se mostram hoje como oposição, neste momento unidos, mas um “balaio de gatos”. Não dá para ouvir calado e sem se sentir incomodado com um “Meira, nunca critiquei”. Existe hoje convergência, mas vou adiante, seria possível algo em conjunto visando a eleição municipal, onde estes todos estariam juntos, como o ocorrido na eleição de Lula, tudo para vencer o capiroto Bolsonaro? Impossível, difícil ou razoável? Isso é outra história, por ainda vale a união de interesses, para algo em curso, neste momento sendo resumida na judicialização do ocorrido, enfim, só mesmo a Justiça para reestabelecer algo de normalidade dentro da Casa de Leis bauruense.

Era isso, por enquanto. A cabeça continua fervilhando e sendo colocada pra funcionar, mesmo que aos trancos e barrancos, diante de tudo, não existe quem não esteja um tanto confuso. Confuso, porém ciente de que, algo precisa ser feito e com urgência. Já estou envolvido em algo, que contarei em detalhes por aqui nos próximos dias. No momento, deixa primeiro se consolidar. O fato é que, se não fiquei quieto e contido no meu canto em tantas outras oportunidades, não será agora, com tão pouco tempo de vida pela frente, que irei recuar, vestir um calção de banho e ficar à beira da piscina. Continuarei na lida e luta, sem pedir licença, usando as poucas armas que disponho, como a escrita e alguma organização a resistir deste avanço das iniquidades, deste modo perverso da ultradireita de fazer política. Nos vemos pela aí.

BRASIL: CRÔNICA DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA, por ERIC NEPOMUCEMO*
* Texto publicado no domingo, 12/05/2024, no melhor jornal latino-americano, o argentino Página 12:

O Rio Grande do Sul, como o nome sugere, é o estado mais meridional do Brasil. Possui extensa fronteira com o Uruguai e, em menor distância, com Argentina e Paraguai.
Sua população varia, segundo os institutos, entre a quinta e a sexta maior do Brasil. E tem a quarta maior economia.
Produz 70% do arroz brasileiro, 40% da soja, além de produzir parte substancial de carne bovina, suína e de frango.
Nas últimas duas semanas, sua capital, Porto Alegre, radicalmente ao contrário do seu nome, transformou-se em um panorama muito triste, dramático, com cenas de destruição ambiental nunca antes vistas no país.
Seus habitantes contemplam, maravilhados, imagens da cidade coberta de água e lama.
Alguns centros culturais com longa tradição e intensa atividade estão agora encobertos e lisonjeados. Não existem mais praças, parques ou jardins.
A desolação é total.
A água potável tornou-se um tesouro, inicialmente contestado ferozmente, e depois praticamente desapareceu.
Caminhões carregados de água chegam de cidades próximas e seu conteúdo é dividido em quantidades mínimas. Cargas de água e outros utensílios chegam de todo o Brasil, mas até o último sábado sua distribuição não havia começado.
Nas cidades vizinhas, igualmente afetadas pelas aglomerações, foram resgatados quase dez mil animais, principalmente cães e cavalos. Ainda não se sabe quantos foram perdidos para sempre.
Os dados mais recentes apontam para 136 mortos, 125 desaparecidos e pelo menos mil afetados diretamente, levados para hospitais e centros de saúde. Pelo menos 350 mil residências foram destruídas e o número exato de edifícios que abrigam escritórios e lojas afetados ainda é desconhecido.
Cálculos iniciais indicam que serão necessários dois bilhões de dólares para recuperar o que foi destruído. E o presidente Lula da Silva já destinou 800 milhões de dólares para, se necessário, importar arroz: estima-se, embora sem confirmação, que mais de metade da colheita do estado sulista, principal fornecedor do país, foi perdida.
Cinco cidades vizinhas, muito próximas de Porto Alegre, foram gravemente afetadas. Em Eldorado do Sul, seus 42 mil habitantes tiveram que deixar primeiro suas casas e depois a cidade. Não há água nem eletricidade e os saques continuam a aumentar.
Em São Leopoldo o prefeito viu como sua casa ficou coberta de água, deixando apenas o telhado visível.
O prefeito de Porto Alegre, o direitista Sebastião Melo, pouco falou. Agradeceu a ajuda recebida, as doações enviadas pelas pessoas físicas e pronto.
Já o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, fervoroso seguidor da desequilibrada extrema-direita Jair Bolsonaro, que devastou o país durante a sua presidência – de 2019 a 2022 – optou por dizer que não é hora de encontrar culpados.
E nisso ele está completamente certo.
Das 23 bombas de sucção de água justamente para evitar o acúmulo de água, apenas seis funcionam.
No ano passado, a prefeitura de Porto Alegre não deu pouca importância à proteção ambiental.
O governo do Estado já aplicou exatos dez mil dólares no setor de Defesa Civil.
Não é hora de encontrar culpados porque não é necessário encontrá-los. Eles estão à vista.
E o principal deles é justamente Eduardo Leite, que até agora se esforçava para ser indicado por Bolsonaro para concorrer com Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2026.
Suas reivindicações foram lavadas. Eles naufragaram.

domingo, 12 de maio de 2024

AMIGOS DO PEITO (225)


EU E DUÍLIO DUKA, INVETERADOS AMANTES
Sempre que nos encontramos, o que hoje raramente acontece, pois Duilio Duka se bandeou de mala e cuia para a não tão vizinha Botucatu, distante de Bauru uns 100 km, atendendo pedido de sua Rosana Zanni e deixando desamparados legião de amigos, pois bem, sempre nos reencontros ele me sussura:

- Você sabe que eu gosto muito de você.

Diz isso e some, apressado, na primeira esquina ou na primeira sala. Pessoa de pouca acuidade, até hoje não consegui decodificar o que ele, Duka, quer realmente me dizer com aquele "você sabe que eu gosto muito de você". E vá ver que só queria dizer exatamente isto, nada mais. Mas deixa pra lá, eu também gosto muito dele. 

Ainda por estes dias relembrava algo e num certo momento, outro amigo, Jesus Garcia se penitenciava de apoio dado pra outro candidato pra vereador, em eleição lá atrás no tempo. "Ah, se tivessemos dado apoio para o Duka, tudo poderia ter sido construído de forma diferente". Sim, disto nenhuma dúvida. Tudo se constrói diferente com outra pessoa. Vou além disso, Duka já estava pronto e acabado. Teríamos tido outra formação e constituição petista na cidade, talvez até nem tivesse isso de um dono querer hoje mandar em tudo.

VÁLTER, O BIGODE E REQUENA
Válter é vendedor ambulante e monta sua barraca em várias feiras da cidade. Ou melhor montava. Por décadas era visto todo domingo na Feira do Rolo, numa banca bem defronte a Associação dos Aposentados, bem ao lado da famosa banca de livros do Carioca. Cansou do ponto fixo, passou o lugar para outro e foi seu gauche na vida, ou seja, virou mabembe. Conhecido também por Bigode, sua improvisada barraca estava sempre em eventos diferenciados em Bauru, como a Parada da Diversidade, na Nações ou mesmo o Aniversário da cidade. Ou seja, via uma possibilidade, comprava produtos ligados ao evento e ali comparecia, mas o tempo foi passando e o corpo não mais permitia ir a todos, estar em todos os lugares. 

Hoje, sua feira onde bate cartão é lá perto da Hípica e de sua casa. Neste domingo veio matar saudade dos tempos quando comparecida todo domingo na do Rolo. Rever os amigos ali deixados é algo feito e assim o reencontro com os olhos marejados. Quando me fala de uma pessoa, já falecida, presença também constante na feira dominical, o jornalista Benedito Requena, o levo até a banca do Carioca, onde tinha acabado de ver ali exposto o seu livro de memórias. Bigode permaneceu com o livro nas maõs por um bom tempo e passou a relembrar as conversas travadas com Requena. "Eu adorava conversar com ele. Era muito atencioso conosco, os trabalhadores da feira. Ele chegava por aqui sempre tarde, tipo lá pelas 11h30 e depois ficava até desmontarmos tudo. Ele sabia ouvir, atencioso e não era desses de ficar dando conselhos. Creio eu, se colocava no lugar da gente antes de dizer alguma coisa. Eu percebi isso e senti muito quando se foi, pois perdemos um ótimo papo", conta. 

Ouço muito o que Bigode me conta hoje pela manhã e, também como frequentador da mesma feira, via todo domingo os dois, Requena e ele, proseava com ambos, porém neste momento, muitos outros resistem ali na feira, porém ressalto o Carioca e o Chico, ambos no mesmo espaço, bem defronte o prédio da Associação dos Aposentados, tocando este barco adiante. O espaço destes dois é hoje algo único na cidade, além de ser também, um ponto de tantos reencontros, aproximações e muita conversa. FIco triste e acabrunhado nos domingos em que não posso ali marcar presença. Eu me recarrego exatamente ali naquele pequeno espaço físico.

MARCÃO JÁ ENXERGOU COMO SERÁ O DIA DE AMANHÃ NA CÂMARA DE VEREADORES DE BAURU
Textículo da Bauruzão
A harmonia em breve estará restabelecida em Bauru, fiquem tranquilos!! Já tem data marcada.
Na próxima segunda-feira, dia 13, já está tudo armado, tudo pronto para a cidade retomar a paz... a privatização da ETE será votada e aprovada em sessão extraordinária convocada pelo presidente da casa.
Com isso o reajuste dos servidores poderá ser votado, assim como a verba da cultura, a prefeita seguirá no cargo rumo ao segundo turno e talvez até um novo mandato para futuramente ter seu reconhecimento nacional ao participar de futura edição do reality show 'Mulheres Ricas'.
E o cidadão que conseguir pagar a conta de água pode se considerar um sobrevivente de uma hecatombe nuclear.
Saudações Fodidas!!
Marcos Paulo Casalechi Resende, o Marcão Comunista em Ação.

AH, COMO QUERIA TER MINHA MÃE, NESTE MOMENTO, ESPREMENDO MINHAS ESPINHAS
Viva ela, dona Eni Perazzi de Aquino e também a Supermãe do já saudoso Ziraldo.

PAULO CÉSAR PEREIO SEMPRE FOI TUDO DE BOM E MAIS UM POUCO

Faltam hoje contestadores como ele. Eu sempre vibrei com suas ações fora da curva...

sábado, 11 de maio de 2024

O QUER FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (172)


ÚLTIMO DIA DE FUNCIONAMENTO DO ARMAZÉM DO CAMPO DO MST EM BAURU
Dia triste e um almoço de despedida. Por lá, os amigos que sempre prestigiaram a casa durante todo o seu tempo de funcionamento. Esta unidade do Armazem do Campo só foi possível abrir suas portas por causa de Milton Dota, o proprietário do imvóvel, falecido recentemente. Ele comprou a ideia do Armazem do MST funcionar em Bauru desde que foi apresentado a ela e para tanto, disponibilizou um de seus imóveis, a preços módicos. E assim, desta forma e jeito, subsidiado pela ação de um militante social como poucos, tivemos por alguns anos, aberto ali na rua Araújo Leite, entre os trilhos férreos e a rua Inconfidência, cem metros da unidade local do Poupatempo.

Tudo foi muito bom enquanto durou. Por detrás de tudo duas pessoas de considerável magnitude, a gerente (sic) Joyce e Pedro, um faz tudo, desde caixa a atendente de balcão. Junto destes uma equipe de gente com ligação umbilical com o MST, em sua maioria procedentes do assentamento de Promissão, pouco mais de cem quilometros de Bauru. Olho para trás e me vejo como um dos culpados pelo Armazém ter tido vida tão curta em Bauru. Sim, poderia ter ido mais, comparecido mais, participado mais e quando não o fiz e ciente da necessidade de fazer de tudo e mais um pouco para essa boa iniciativa não só brilhar, como vingar.

Agora é tarde. Lamentações são até pertinentes, mas se algo poderia ter sido feito, este tempo já se foi. Ouço hoje por lá, algo de bom diante do momento triste. Existe uma possibilidade sendo estudada do Armazém renascer em outro espaço e isso é visto por mim como alentador. O Armazém é uma experiência revitalizante neste momento brasileiro. Eu, por exemplo, emérito tomador de leite, só compro leite advindo de assentamentos e hoje, o Terra Viva, só encontro no supermercado São Judas, ali na rua Primeiro de Agosto. Um ótimo leite. Vou lá todo mês e trago minha caixinha com 12 litros e os consumo durante trinta dias. Este, infelizmente, vi quando da abertura sendo vendido no Armazém, mas depois não mais. Eles também começaram com um ímpeto, inclusive com verduras e legumes, mas depois não resistiram. Não havia como competir em preço, mesmo sendo sem agrotóxicos. Abriram mão de muitos produtos e pouco a pouco a loja foi perdendo muito dos seus atrativos.

Perderam muitos produtos em suas prateleiras, mas mantiveram até o fim, a vitalidade de um valoroso espaço, sendo utilizado como de resistência. Arthur Monteiro Jr vai até seu último dia ali apresentando filmes épicos e históricos, como "Cabra Marcado para Morrer", documentário de 1984, do Aduardo Coutinho, sempre apresentados com lindos debates. Depois, os muitos lançamentos, as festas todas, as palestras e o espaço sendo cedido para eventos variados, desde que dentro da linha libertária do MST. Toda vez que a luz por ali estivesse acesa, tinhamos a certeza de algo de muito bom acontecendo ali no local.

Vai deixar saudade. Hoje mesmo, no almoço de despedida, muito bom reencontrar gente que fazia tempo não via por ali. Melhor ainda quando, como acontecido comigo, alguém se aproxima, me chama para sua mesa, pede para sentar e tenta me reavivar a memória. "Você se lembra de mim? Sabe que trabalhamos juntos décadas atrás?", me disse. A cabeça varia e vareia, mas quando assim forçada a lembrar, sento paro e após instantes de rememoração, tudo volta. Ao final de tudo, fui agradecer uma senhora da cozinha, com um lindo avental da Mafalda com o símbolo do MST nas vestes e a agradeço. "Tomara, tudo dê certo e as reencontre novamente em breve, daí, vamos nos unir mais e fortalecer, criar motivos para estarmos mais juntos, pois é disso que precisamos", disse. Com uma moqueca de banana, muito saborosa e não sei nem onde poderei encontrar algo assim, com produtos realmente naturais e sem agrotóxicos na cidade. 

Enfim, estive lá e na ida, muitos reencontros. Já marquei algo junto do advogado Arthur Monteiro Jr para a próxima semana, com a artista Maria Inez Martinez de Rezende, que não via há tanto tempo e agora, me disse, queria estar se infiltrando por tudo o que ocorre de acontecimentos relacionados aos esquerdistas na cidade. Querendo se reencontrar com a cidade, procurou o Armazém, justamente no seu último dia de funcionamento. Tomara a gente consiga ir se reencontrando pela aí, mais e mais, nem que seja também nas ruas, como na movimentação da greve dos servidores municipais. O Armazém nos unia...

REVOLUCIONÁRIAS PESSOAS
Essa é a JOYCE, quem esteve à frente da loja do Armazém do Campo, iniciativa do MST país afora e aqui em Bauru, funcionando na rua Araújo Leite, até o final do dia de hoje. Ela, oriunda do assentamento de Promissão, afilhada do padre Severino Leite Diniz Diniz, mentor espiritual de uma legião de desbravadores e lutadores sociais, ficou na frente do Armazém até quando puderam resistir. 

Não é mesmo fácil vender produtos sem agrotóxicos, com preços pouco acima dos oferecidos pelo cruel "mercado" quando diante de uma enxurrada de preços mais convidativos, porém nos levando mais rapidamente para o cadafalso. 

Joyce não perdeu o belo sorriso, nem na despedida, pois nutre forte esperança de ainda vingar algo novo, uma continuidade num outro espaço e com a proposta renovada, daí mais e mais incentiva por essa legião de gente necessitando de um espaço fixo para ser, fazer, acontecer, conspirar e propor uma revolucionária forma de tocar a vida.

A LUTA CONTINUA - UM BASTA IMEDIATO E PEDIDO DE PROCESSANTE PARA TENTAR COLOCAR A CASA BAURUENSE EM ORDEM

sexta-feira, 10 de maio de 2024

MÚSICA (235)


O SHOW FOI DE ELBA, LINDO, MAS O ZABUMBEIRO É SENSACIONAL - REVÊ-LO NO PALCO FOI INEBRIANTE
Elba, como até as pedras do reino mineral sabem, canta muito. Sempre cantou muito, pois soube estar bem acompanhada no palco. Nos últimos tempos, depois de festar e farruar uma vida quase inteira, deu de mostrar um outro lado de sua face. Abominável sua demonstração direitista, mas relego diante da grande obra. Olho para trás e enxergo, por exemplo, em Fagner, o vejo cantando junto de Mercedes Sosa e até hoje a ficha não caiu de como conseguiu, depois de tudo, se posicionar ao lado dos perversos e louvar gente como Moro e mesmo, o capiroto. Muitos outros, artistas de renome e que estiveram no meu altar da MPB, como Ivan Lins, Toquinho, Djavan, Nana Caymmi resvalaram para o lado de lá. Elba faz parte deste time. Por sorte, pelo bem dela e de sua carreira, sempre soube subir aos palcos com gente da melhor estirpe do mundo musical. Vê-lo por boa parte de sua carreira ao lado do paraibano Durval Pereira, o rei da zabumba no mundo, é uma espécie de alívio. Os dois juntos no palco se superam e se completam e por alguns momentos, chego a esquecer de tudo o mais.

E Elba, já passou dos 70. Dou o desconto, se é que é assim que deve ser feito. Gosto de sua música. A musicalidade nordestina é inquebrantável e indestrutível. Olho para trás e vejo Elba chegando no Rio, com uma mão na frente e outra atrás. Enfrentou tudo e fez de tudo um pouco. Bagunçou o coreto, muuitoi bem bagunçado. Circulou em todas as bocadas por onde circulavam os bons de uma época de ouro da MPB. Depois de fazer e acontecer, com o passar dos anos e do tempo, deve ter fundido algo interno, juntado alguns fios desencapados e hoje fala algo não batendo com toda sua trajetória. Triste fico, mas não a deixo de ouvir. Lembro dela cantando "Nordeste Indendente" e me arrepio dos pés à cabeça.

Eu sei de mim, pois beirando os 64, vi também quase de tudo, mas não mudo de lado. Isso me basta para seguir em frente, enfim, a luta continua e as desigualdades não foram resolvidas. Se outros feneceram pelo caminho, isso é lá com eles. Eu não o faço, algo como sina de vida. Na lida e luta sempre, ideal sempre sendo buscado. Assisto desta forma e com essa concepção de vida encruada dentro de mim a um belo show. No final do show, Claudio Lago, que estava no sexteto de gente a me acompanhar me fez pensar em algo dito ao pé do ouvido: "Não são os artistas que vão mudar o mundo? Pois hoje, estivemos aqui vendo Elba e depois fomos prum barzinho na Nossa Senhora de Fátima e lá, um cantante daqui, o Eliel, cantando todos os nomes da resistência da MPB, mas pensando tudo igual a Elba. E daí, vão ser mesmos os artistas que irão mudar o mundo?". Já não sei mais nada. Sei que me resta pouco de tempo de luta pela frente e dela não desisto. Falo por mim, não pelos outros.

Na verdade, além do show da Elba, lindo em todos os aspectos, quem sempre esteve ao seu lado nos palcos da vida, décadas ali na estrada, é o maior zabumbeiro do planeta, o Durval Pereira, o paraibano Val, que leva adiante isso da importância deste instrumento numa banda tocando ritmos nordestinos. É impecável em todos os sentidos e de uma simpatia enorme, sendo essa irradiada do placo para quem o assiste, como eu, boquiaberto, do lado de baixo. Com certeza, Elba e ele são os mais velhos ali no palco e pelo fato de estarem juntos a tanto tempo, só posso aplaudir e reverenciar essa conjunção mais que carnal. Escrevi deles juntos num outro show por aqui, em 2016 e hoje, quando termina o show de hoje, passa um filme pela minha cabeça e vejo que ele continua o mesmo. Tomara o tempo não lhe seja pesado e continuem juntos pelos palcos por mais algumas décadas. Que a zabumba lhe seja leve, como tem sido até a presente data.

Por fim, tenho que elogiar o Ginásio de Esportes do SESI Bauru. Ficou lindo, confortável e se cabe mesmo 5 mil pessoas, parabéns para seus realizadores. Tenho muita reserva ao escrever algo de Paulo Skaf, por tudo o que ele representa de amarração neste país, algo que prefiro passar ao largo neste momento. Bauru ganhou com o belo ginásio. Nos eventos esportivos, deve estar tudo dentro de todos os padrões, mas para os shows algo ainda ser regulado. O som deixa a desejar e se perde na imensidão. Como resolver isso? Deve já haver um monte de técnicos debruçados sobre essa questão. O SESC resolveu e o SESI também deverá fazê-lo para o bem das apresentações musicais. Dou meu parabéns para a querida Rosimeire Santinelli Longhi, hoje cuidando da área de espetáculos e eventos do SESI Bauru, que um dia desenhou uma das camisetas do Bloco do Tomate e se desdobra para tudo dar certo. Tem muito gás e vai estar sempre oferecendo e dando o melhor de si para tudo dar certo.

Foi isso e muito mais. Estar acompanhado de diletos amigos e reencontrá-los, alguns destes por lá, quando a média de idade do show era alta entre os espectadores é sinal de que, continuamos pela aí, sendo fazendo e acontecendo. Boi preto anda com boi preto. Eu sigo sempre junto aos meus e com estes sou feliz. Não gosto de caminhar sózinho. Luto por um mundo melhor e estes são os mesmos, os que me acompanham num show e também na lida de luta diária, engajados em algo com caráter transformador, onde este mundo só será viável quando mais e mais pouderem desfrutar igualmente de condições de bonança justas e adequadas. Tudo é uma luta. Eu luto e me divirto, pois não vejo outra forma de enfrentar as agruras deste mundo só com lida, luta e trabalho. O ócio é mais do que necessário. E quando nele, na maioria das vezes, tem outros tantos juntos de mim. Sigo assim, revendo cantantes marcantes em minha vida, cantando todas num show como o de hoje, aproveitando para recarregar energias, pois amanhã cedo começa a contenda novamente e preciso estar em condições de, em primeiro lugar, não esmorecer. Sigo em frente. Hoje, quem me fez realmente vibrar foi Durval Pereira, o maior zabumbeiro do mundo. Amanhã será outro a me mover e assim toco meu barco.

SEXTA À NOITE, FUI ASSISTIR ELBA RAMALHO NO GINÁSIO DO SESI E NA VERDADE, REVI O MAIOR ZABUMBEIRO DO MUNDO, DURVAL PEREIRA, DE QUEM JÁ HAVIA AQUI ESCRITO EM 2016
https://mafuadohpa.blogspot.com/searchq=ELBA+RLHO
Leiam o que escrevi naquela oportunidade e agora, reafirmado com sua reapresentação, sempre ao lado de Elba Ramalho. É um prazer inenarrável rever o grande paraibano, me
zabumbastre no ofício de tocar .

DOIS VÍDEOS GRAVADOS POR ESTE HPA NO SHOW DO SESI
1.) ELBA É ELBA, PODE FALAR BESTEIRAS, MAS ACOMPANHADA DE IMPECÁVEL BANDA, ARRASA NO SHOW DO SESI
Cantei todas e isso é sinal de ter envelhecido bem.
https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/746479597679986

2.) ELBA AO LADO DO MELHOR ZABUMBEIRO DO MUNDO, O PARAIBANO DURVAL PEREIRA

CARO WINSTON*
* Ou a carta que sempre pensei em escrever e que hoje achei escrita, pronta e acabada, num belo texto do argentino Federico Lorenz e no melhor jornal de toda a América Latina, o Página 12:

Em 4 de abril de 1984, Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade, procurou um canto de sua casa onde a teletela não pudesse alcançá-lo, preparou uma caneta, mergulhou-a no tinteiro e abriu seu diário. Ele havia comprado todos aqueles materiais de livraria em uma loja em Londres. A cena é o momento fundador da história de 1984, famoso romance de George Orwell. Ao escrever suas primeiras linhas, Winston Smith produziu “o ato importante e decisivo” de “marcar o papel”. Para dar voz ao que estava acontecendo no mundo.

Quando li esse livro pela primeira vez, há quase quarenta anos, fiquei chocado ao descobrir que algo que eu fazia rotineiramente todos os dias poderia ser clandestino, perigoso e secreto. Naquela época eu era muito jovem e ingênuo, um adolescente que estava iniciando o ensino médio justamente no ano em que se intitulava aquele romance, 1984. Isso já era marcante e perturbador por si só, pois como é que meu presente poderia ser o futuro de outra pessoa? (Anos depois tive uma sensação semelhante com a música “Not so different”, do Sumo, em que cantávamos “Waiting for 1989”. 1989 chegou e o mundo seguiu em frente).

Mas no caso do diário de Winston Smith, forçar a ideia instalada por Orwell da possibilidade de tal distopia era preocupante, porque e se este futuro em que vivi se parecesse com o que Smith temia? Parecia muito improvável: para perscrutar o horror, uma realidade semelhante à que Winston viveu, era preciso realmente olhar para o passado, para a ditadura. Nada na liberdade que experimentamos em 1984, 1985, 1986 se assemelhava ao clima opressivo e cinzento descrito no romance. E, no entanto, aqui estamos hoje, defendendo tantas coisas que pareciam incontestáveis.

Com o passar do tempo, quando me tornei professor e escritor, passei a valorizar muito mais as falas que seguem a primeira anotação do diário de Winston. Depois de anotar a data, Winston Smith se perguntou: “Para quem ele estava escrevendo este diário? Para o futuro, para quem ainda não nasceu.” E ele também pensou que se nós (seu futuro) não nos comovessemos com suas palavras, haveria duas respostas possíveis. Uma, terrível, é que este presente seria igual à realidade que o oprimia, e então o que ele havia escrito não poderia circular. Mas, pelo contrário, também poderia acontecer que, dado o quão diferente é o nosso presente, não fizesse sentido que as suas palavras chegassem até nós.

Hoje eu não escreveria um diário, embora muitas das publicações que fazemos nas redes tenham essa vocação de registro. Acho que escreveria uma carta a Winston, naquele pacto ficcional que a literatura permite, e assumindo que a linguagem da neofala não tivesse triunfado, para lhe dizer que estávamos a passar por uns dias em que nada do que tomávamos como certo, como certo , Porque recuperado, está seguro de ser destruído.
 Nada: nem educação, nem saúde, nem investigação, nem vida comunitária. Nem mesmo o passado sangrento que a democracia argentina julgou e condenou e que, como Winston bem sabia pelo seu trabalho, era muito frágil. Eu explicar-lhe-ia que, retoricamente, nos embarcaram em guerras e conflitos como os que confrontaram a Oceânia, a Eurásia e a Lestásia, para que os gritos e o barulho dos motores e as explosões escondam o barulho da sociedade que estão a desmantelar como alguém desmontando uma velha fábrica.
EU E MINHA TURMA, BOI PRETO ANDA COM BOI PRETO.

Há universidades nas trevas, fábricas que fecham, ruas e cidades em ruínas habitadas por famílias que perderam o teto e a esperança, e que se alimentam da pequena guerra que o governo aposta todos os dias. O Estado encoraja a denúncia e o individualismo; Denuncia a doutrinação mas, ao mesmo tempo, traça uma linha entre as pessoas boas e as que não o são, e espalha-a por todos os meios de comunicação, que são muito mais poderosos do que teletelas e megafones. Não é necessário reescrever a verdade o tempo todo, porque a verdade não importa para ninguém. Vivemos numa permanente fake news da qual o presidente é o principal divulgador.

Eu diria a ele que não existe “minuto de ódio”, mas que ele não deveria ficar feliz com isso, porque o ódio e o ressentimento permearam a sociedade e são permanentes, instalados e disseminados pelas redes. Qualquer dia encontraremos o nosso próprio rosto, o de um dos nossos companheiros, projetado para milhares de pessoas insultarem e atirarem coisas. Cada vez mais, o discurso libertário tem conseguido fazer com que metade do país veja a outra como a causa de todos os seus males. O governo propõe um inimigo para atacar: o responsável por um suposto declínio, materializado em tudo o que construímos coletivamente como povo: hospitais, escolas, organizações públicas.
ESSA A ILUSTRAÇÃO DO TEXTO "CARO WINSTON"

“Libertário?”, ele me perguntará, surpreso com o significado que isso tem. “Sim”, responderei. Conseguiram inverter o significado das palavras e hoje “liberdade” é sinônimo de “autoritarismo”. Somos obrigados a ser clandestinos, a exercer o “duplipensamento”, sem saber bem com quem podemos conversar utilizando a riqueza das nuances das palavras. O Big Brother já não nos observa: o uso das redes e da retórica governamental faz de todos nós, pouco a pouco, a nossa própria polícia do pensamento.

Talvez Winston Smith pense que a pequena esperança com que começou a escrever em segredo foi derrotada. Eu vou te dizer não. Ou ainda não. Mesmo que queiram nos arrastar para o quarto 101, o mais terrível porque lá encontraremos nossos próprios medos, para nos quebrar, temos um caminho possível: resistir. O esforço para fazer as palavras voarem e encontrar destinatários nunca é em vão. Mas temos que começar a imaginar com quem queremos falar, o que queremos dizer, por que devemos ouvir uns aos outros, e não apenas expressar a nossa indignação.

A palavra e a escrita são as maiores formas de resistência, as mais persistentes. São aqueles que unem aqueles que estão insatisfeitos com o mundo que lhes foi dado, com a opressão que enfrentam, e lhes permitem encontrar forças para não aceitar ou adaptar-se a esta destruição, e para resistir. As palavras organizadas em torno de uma ideia, no esforço de apontar o que há de injusto no mundo para combatê-lo. Mas também o que é belo, para preservá-lo. As palavras que dizem que sempre podemos escrever, como Winston: “Abaixo o Big Brother”.