quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

CHARGE ESCOLHIDA À DEDO (214)


TRAÇO
EU ADMIRO DEMAIS QUEM DESENHA SUA CIDADE
Estes artistas do traço produzem algo tão ou mais grandioso do que os cronistas, com parágrafos e parágrafos de boa escrevinhação. Vejo no resultado do que fazem com suas cidades, uma verdadeira crônica viva, minuciosa, em detalhes de algo percebido por eles nas ruas. Por estes dias observo atentamente o que o Leandro Gonçalez, artista com ateliê aqui em Bauru, mais precisamente na rua Bandeirantes, bem detrás do prédio da Câmara de Vereadores. Gonçalez desenha, tem ali seu estúdio, dá aulas e quando chega a noite, desmonta tudo e vive ali no meio daquele monte de tinta. Já se acostumou com o cheiro das tintas e elas devem ser até uma espécie de néctar para embalar seu sono.

O danado todo janeiro bate asas. Junto de sua cara metade, a também amiga Fátima Napolitano, se vão por este mundo e de todas as paradas uma é certa, a deles se instalarem por uns dias em Ourinhos e de lá, ele com sua tela em praça pública, desenha algo de interessante ali nas ruas. E desta forma, ano após ano, o vejo já com telas e mais telas, a maioria feitas em aquarela e nos mais diferentes lugares, desde um mero caderno de notas, como numa rebuscada tela. Tudo é válido e o resultado, sempre surpreendente. Nestes dias em especial, está enfincado lá na sua cidade natal e fazendo o que gosta, desenhando, guacheando tudo o que vê pela frente.

Ele já fez isso aqui em Bauru, num trabalho auspicioso com moradores em situação de rua, os retratando nas mais diversas situações, principalmente pelas praças. Algo, para mim, de valor inestimável. Estes artistas do traço, quando diante de algo nas ruas, sempre um resultado a merecer mais que um estudo de caso. Isso que Gonçalez produz já deveria ter merecido uma exposição lá mesmo em sua ourinhos, num lugar de destaque, provavelmente naquele belo teatro que a municipalidade administra ali há pouco menos de uma quadra da praça principal. Este resultado de anos do artista debruçado sobre sua aldeia é como se uma jóia rara estivesse dilapidada ali, ao vivo e a cores.

Fausto Bergocce, meu dileto amigo de Reginópolis fez um livro inteiro sobre sua terra natal e vez ou outra está por lá, tanto para se recarregar, se reenergizar, como para, com coceiras nas mãos, sentadinho e com o pincel ou canetas nas mãos. Esses não se seguram. O jausense Jozz Jugliani tem um livro feito mais ou menos assim sobre a sua Jahu, dos tempos quando tinha por lá um ateliê. Veio uma enchente e ele perdeu tudo, trabalhos de uma vida inteira, pois papel e água não combinam. Ele porém já tinha publicado seu livro, botando o peixe Jahu para sobrevoar a cidade e lá embaixo, flashes imortalizando lugares. Obra linda, merecedora de premiação. Outro que faz isso sempre é o nosso Gilberto Maringoni, o Beto bauruense, que hoje menos, mas quando senta para desenhar Sampa, com aquele traço detalhista, possuidor de uma sensibilidade a toda prova. Muito disso está retratado em seus livros e cada trabalho uma verdadeira obra de arte.

Tem muitos outros que se especializaram nisso de retratar a vida urbana e seus prédios, monumentos e algo mais de tudo isso em pleno movimento e ebulição. Sempre que acho por aí, livros assim, compro e me delicio. Lembro de um onde o Luís Fernando Veríssimo fez isso com algumas cidades européias, uma delas Paris e junto do desenho, para enriquecer ainda mais o trabalho, uma pequena cronica. Algo para endoidecer gente sã. Tento me lembrar assim de memória de outros e sem consultar minhas estantes e alfarrábios, como amante do traço, reconhecendo a maioria dos que pululam pela aí, só de bater os olhos em seus desenhos, hoje ao ver algo mais da safra do amigo ourinhense, isso tudo me veio a mente e está me fazendo viajar na maionese, ou seja, dar um breque em tudo e passar horas espiando algo que tenho por aqui. Gonçález precisa urgente reunir isso tudo num livro, antes que se disperse por aí, fragamentos espalhados pelos mais diferentes lugares, nunca mais conseguindo se juntar. Vejo isso tudo e, com certeza, viajo junto deles. Encantador o que fazem.

UM LUGAR NO RIO, QUE BATO CARTÃO TODA VEZ QUE POR LÁ APORTO
FOLHA SECA
A Folha Seca nasceu em 1998, dentro do Centro de Artes Hélio Oiticica, no Centro do Rio. Em 2003, migrou para perto, se instalando numa loja na rua do Ouvidor. “[Mas] tem gente que acha que é da época do Machado de Assis”, diverte-se Rodrigo Ferrari, acrescentando que já desistiu de desmentir a lenda urbana de que sua livraria é a mais antiga da cidade. O escritor Alberto Mussa colaborou com a narrativa atemporal: a “livraria do Ferrari” já foi cenário em dois de seus romances: A hipótese humana (2017), que se passa no século 19, e A extraordinária Zona Norte (2024), cuja história acontece em 1974.

É possível que isso se deva ao fato de a Folha Seca estar tão bem inserida numa das partes mais antigas do Rio, parecendo ter ocupado desde sempre o número 37 de uma das ruas mais tradicionais da cidade. Espalha-se pelo térreo e o mezanino de um pequeno edifício “mais do que centenário” e atrai uma clientela fiel a animados lançamentos e rodas de samba.
 Destaca-se, entre outras coisas, por causa da vitrine dedicada a temas caros ao Rio de Janeiro: música, futebol, carnaval, arquitetura, além de livros que tratam de questões que afetam as metrópoles em geral. Tudo isso a fez ser conhecida também por outra frase de efeito, talvez mais realista: a mais carioca das livrarias.

A trajetória que levou até esse ponto começa em meados dos anos 90, quando Ferrari era um estudante de história que trabalhava como vendedor na Dazibao, importante livraria da época. O espaço no Centro Hélio Oiticica havia sido ocupado pelos antigos patrões numa tentativa de expansão. O livreiro já tinha vontade de ter seu próprio negócio, e acabou assumindo a loja em sociedade com Daniela Duarte. Assim surgiu a Folha Seca original, já com esse nome – uma homenagem ao chute com efeito criado nos anos 50 pelo jogador Didi, que fazia a bola cair repentinamente na direção do gol, e ao samba de Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho. No local também já havia uma destacada prateleira dedicada a livros sobre o universo carioca.

Foram seis anos até surgir a oportunidade de alugar a loja na rua do Ouvidor. Apesar de sua importância histórica, a via no quarteirão entre a Primeiro de Março e a rua do Mercado estava bem castigada no período. A Folha Seca e outros empreendimentos acabaram ajudando a revitalizar a área naqueles primeiros anos. Os sambas, antes raros, agora são comuns na região. “Não sou produtor de roda de samba, faço porque gosto, mas saber que essas rodas começaram espontaneamente e viraram movimento cultural da cidade é muito legal”, observa Ferrari, que desde 2009 toca a livraria sozinho.

A Folha Seca também é editora, ainda que não tenha ambição de crescer neste segmento. Em 1995, antes mesmo de criar os dois negócios, Ferrari teve uma experiência editorial ao publicar, com o designer Egeu Laus, a revista Roda de choro. Foram seis edições, que inclusive ajudaram a aproximá-lo de músicos da cena instrumental carioca. Em 1999, já com a livraria, foi convencido por Hermínio Bello de Carvalho a editar um livro de poemas dele, Contradigo, e reeditar uma coletânea de crônicas do autor, Cartas cariocas para Mário de Andrade. Em seguida, o sambista e escritor Nei Lopes quis lançar uma obra inédita, 171, Lapa-Irajá, pela Edições Folha Seca. Hoje, são mais de trinta livros no catálogo.

Os dois autores são visitantes assíduos da livraria, que tem outros frequentadores ilustres (carinhosamente chamados de “folhasequenses”) como o ilustrador e caricaturista Cássio Loredano e o historiador Luiz Antonio Simas. Sem falar nos músicos, como Pedro Amorim e Tiago Prata. Além das rodas de samba e de choro que já tiveram canjas de nomes como Paulinho da Viola e Beth Carvalho, o dono da Folha Seca costuma botar um piano de cauda na rua para celebrar os aniversários da loja, que coincidem com o feriado de São Sebastião, padroeiro da cidade, em 20 de janeiro.

Na comemoração de 26 anos, em 2024, a multidão que se aglomerou para ver tocarem pianistas como Cliff Korman protagonizou uma cena que viralizou na internet: ali do lado, um casamento aconteceria no período da tarde e, em clima de pré-carnaval, os foliões abriram um enorme corredor para a passagem da noiva e seu pai, gritando o nome dela até a entrada da dupla na Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. Mais um episódio que entrou para a singular história “folhasequense”.
(Helena Aragão visitou a livraria em outubro de 2024)

VELHICE
MUITO TRISTE POR PEPE MUJICA
Durante uma entrevista para um veículo uruguaio Búsqueda, o ex-presidente José “Pepe” Mujica, de 89 anos, revelou que o câncer de esôfago que enfrenta desde 2024, se espalhou por todo o seu corpo.
Mujica relatou que sofre de um tumor no fígado e deixou uma mensagem de despedida.

“O câncer no esôfago está se espalhando em meu fígado. Não consigo impedir isso com nada. Por quê? Porque sou uma pessoa idosa e tenho duas doenças crônicas. Não posso passar por tratamento bioquímico ou cirurgia porque meu corpo não aguenta”, expressou.
Mujica usou a entrevista mais recente para fazer um apelo, “o que eu peço é que me deixem em paz. Não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo acabou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso”, expressou.

Com informações da @cnnbrasil

PRAGA
NÃO PERCEBERAM, ESTÁ EM CURSO UM COMPLÔ CONTRA A VERDADE DOS FATOS, POIS O QUE VALERÁ É A DELES, A DOS PODEROSOS DE PLANTÃO E DANE-SE O RESTO - ELES QUEREM NOS DOMINAR EM TUDO

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