sexta-feira, 13 de junho de 2025

FRASES DE LIVRO LIDO (218)


PAPO RÁPIDO COM LUCIUS DE MELLO NA QUERMESSE DA PARÓQUIA DE SANTO ANTONIO
Vez ou outra proseio com o jornalista e escritor Lucius de Mello aqui pelas redes sociais. Ele anda muito ocupado nos últimos tempos, dedicação exclusiva para seus estudos balzaquianos, o que deve ser maravilhoso. Hoje, quando aporto no meio da tarde na quermesse da paróquia de Santo Antonio, com a intenção de comer um pedaço de bolo - como bom diabético -, acabo chegando tarde, pois o bolo pelo que soube, terminou antes das 11h e foi o maior de todas as festas. Não como o bolo, mas cruzo com Lucius e justamente quando ele queria adentrar a igreja, para presenciar o início de uma missa ministrada pelo bispo de Bauru. Consigo subtraí-lo da idéia por uns dez minutos e trocamos afagos mútuos.

Foi o tempo suficiente para ele me contar várias novidades a seu respeito e me indicar para procurar suas duas teses publicadas na Biblioteca Virtual da USP. Sabe aquilo de tentar captar muita coisa dentro de uma conversa muito rápida? Pois bem, tentei e até marcamos de novo encontro para o próximo domingo, quando com mais tempo, um aprofundamento maior. Saquei de cara o envolvimento dele com a grande obra de Honoré de Balzac, "A Comédia Humana", devassada de cabo a rabo em várias vertentes e numa delas, sua tese de doutorado, de 2024, "A Bíblia segundo Balzac: Deus, o Diabo e os heróis bíblicos em A Comédia Humana". Fiquei mais que curioso, pois pelo que ouvi dele, Balzac considerava seu livro uma espécie de Bíblia Mundana. Ou seja, deu vontade danada de buscar lá na estante do meu Mafuá e reler um condensado dos catataus. Como se sabe, a Comédia Humana é um verdadeiro inventário da França no século XIX: costumes, negócios, casamentos, ciências, modismos, política, profissões, tudo entrava nesse imenso painel, costurado com maestria narrativa e exibido aos poucos em folhetins.

Agora sei porque Lucius anda desaparecido das paradas de sucesso, pouco é visto pela aí. Pesquisar de fato é obra para desvairados, dedicação em tempo integral. Revela algo, após ter dito que, todos se lembram dele por causa do Livro da cafetina Eny. Ele ri, concorda e diz algo ainda mais surpreendente. Após juntar a Bíblia com Balzac, já está com tudo concatenado dentro de sua cabeça, com algum registro já feito, até para não gerar cópias, vai juntar nesse balaio a prostituição, num título que achei divinal, "Madame Imprensa". Sabe o que vem a ser isso? Simplesmente a tal da madame, a prostituição e de como a imprensa é intronizada neste meio. Enfim, muito simples, pagando bem a estes, qualquer um pode ser endeusado. Isso é muito balzaquiano, não?

Para maior detalhamento do seu doutorado, peço clicarem no link a seguir: https://www.teses.usp.br/.../tde-24042024-100201/pt-br.php . Uma bela viagem, já imaginando como, a partir dela, outros saltos e possibilidades. Deixou também outra bela dica, a para acessarem também sua tese de mestrado, essa de 2013, com o título "Dois Irmãos e seus precursores: um diálogo entre o romance de Milton Hatoum, a Bíblia e a mitologia ameríndia". Foi longe, devassou Hatoum nessa comparação. Leiam o estudo clicando no link: https://www.teses.usp.br/.../tde-03022014-110556/pt-br.php . Só mesmo lendo com afinco para desvendar isso tudo. Conversar com Lucius é se aprofundar em temas bem distantes do dia a dia, pois ele navega em outros mares. Vez ou outra, resolve vir descansar por aqui, rever familiares e até bater perna numa quermesse. Sorte a minha de ter trombado com o danado. Consegui sacar isso tudo, presenciado por Kyn Jr e seu filho, no meio da muvuca da agitada tarde nos altos do Bela Vista.

MIMOS RECEBIDOS DE LONGE
Meses atrás, meu dileto amigo Fausto Bergocce passou por aqui a caminho de Reginópolis e o fez trazendo junto um amigo, curioso por conhecer a cidade onde o amigo havia nascido. Passaram por lá uma semana. Foi como conheci Darlan Zurc, um baiano de ilhéus, residente de há muito em Guarulhos, onde também reside Fausto. Darlan é um monte de coisa ao mesmo tempo, verdadeiro polivalente, ou seja, bate nas onze. Historiador, escritor, cronista, tradutor, pensador, poeta, jornalista, quadrinista e rueiro, batedor de perna. Assim veio conhecer este lado do mundo, conhecendo também a Feira do Rolo, quando perambulamos os três, mais meu filho, Henrique Aquino em conversações mais que transversais. Fausto já é meu velho conhecido e a partir daquele dia, foi introduzido no páreo o tal do Darlan.

Hoje, ele além daquele longo currículo apresentativo é também funcionário graduado lá na Câmara de Vereadores de Guarulhos, seu ganha pão. Quando de férias, curioso por natureza, como bom baiano, gosta de perambular. Instigou Fausto até que este o trouxe para conhecer sua terra natal. Papeamos muito e quando se foi falou muito de seu livro, o "A fúria de papéis espalhados", com 24 textos/crônicas com temas variados e múltiplos. Havia prometido me enviar um livro a mim e outro ao filho. Promessa cumprida hoje.

Uma delícia receber um mimo dessa natureza. Darlan é rigoroso na apresentação deste seus primeiro livro. Ele me chega com outros mimos. Tem chaveiro, marcador, poster, uma síntese dos textos e até um folheto sobre a AGL - Academia Guarulhense de Letras, da qual faz parte. Primeiro curto o material recebido, todo espalhado sobre um sofá aqui junto de meu local de escrevinhações. Depois, vou ler a orelha, prefácio, preâmbulo e passo a entender o livro escrito pelo amigo. Trata-se de uma reunião de alguns textos escritos por ele ao longo de um período de sua vida. Escreve de tudo o danado e o faz com muito conhecimento de causa, pois ele é desses vorazes leitores, devorador de tudo o que encontra pela frente.

Tenho cá comigo uma boa pilha de livros na fila de espera, todos aguadando o momento em que os devorarei com a devida fúria. Muitos iniciados ao mesmo tempo. O de Darlan não só entra na fila, como passa na frente de alguns e se não o leio por inteiro, alguns dos textos, com certeza, o farei já. É minha forma de retribuir o mimo recebido. Adoro presentes dessa natureza. Livro é como se fosse um filho para quem o escreveu. Tomo todo o cuidado em comentários superficiais sobre alguns principalmente quando recebido desta forma e jeito. Se a primeira impressão é a que fica, gostei muito. Darlan em breve, diz voltará perambular por aqui e desde já prometo, irei qualquer dia bater perna com ele e, provavelmente, Fausto, por Guarulhos e pela Grande São Paulo.

MEU SEGUNDO LIVRO LIDO NO MÊS É SOBRE A RUA DA BOÊMIA CURITIBANA
Ainda hoje, conversando com alguém muito próximo a mim, este quando contei do livro que estava finalizando a leitura, me disse: "Fui numa reunião da firma em Curitiba, com uma turma de gente de várias regiões da páis. Decidiram todos sair à noite e escolheram ir no Gato Preto. Fui pesquisar e descobri o motivo". Este é o nome do último sobrevivente da famosa rua curitibana, a Cruz Machado, reduto da boêmia no centro da capital paranaense. Comprei o livro semana passada quando lá estive. Já conhecia a fama da tal rua, ainda dos tempos quando por lá trabalhei, mais de dez anos atrás. Ela já estava em decadência, fim de feira. Quando o peguei nas mãos no sebo Joaquim, não resisti. Conhecer particularidades de tempos de boêmia de variados lugares é instigante. Viajei no tempo, pois já circulei muito por essa rua, durante o dia e se já conhecia sua fama, agora me apropriei de alguns detalhes.
Na viagem que fiz de Curitiba pra Sampa, li mais da metade. Cheguei em Bauru, interrompi e ontem retomei e fui até o fim. Em cada lugar, sempre existe alguém com a característica de ser o alavancador de um lugar. No caso desta rua, Aldo Cardoso reinou. Um cidadão comum, marmorista e de um pequeno negócio, um quase império e tudo num quarteirão de uma rua. Um começo insipiente, depois a transformação no que, até hoje, é reconhecido como o lugar efervecente de uma fria cidade. Quem gosta de boêmia e também de convivência com tudo o mais daí decorrido, se interesse por histórias como essa. Sim, a capital do Paraná tem a rua Cruz Machado como principal setor de entretenimento adulto e ainda hoje, caracterizada como o maior ponto do submundo de Curitiba. Queria trazer um livro sobre algo de Curitiba e quando diante de tantos, ao pegar este nas mãos, tive a certeza, traria este.

Reuni poucas frases, convidativas para entender algo da noite daquela cidade:
- "O submundo noturno de Curitiba é como a lenda do lobisomem: de dia, pacífico e banal, mas à noite assume sua forma de fera e mostra sua verdadeira face. (...) Quem pensa em Cruz Machado, ainda pensa em boates, em luminosos, canja de galinha e uma boa dose de safadeza".
- "...mostrando uma faceta até então um pouco conhecida do submundo da noite: ele traz consequências. Quem não paga apanha e, quem revida, pode morrer. (...) Não é sópelo sexo que o cara vai, é por todo o ambiente que tem ali".
- "...arrumar um namoro na boate não era absurdo. (...) Nenhuma garota de programa usa o nome verdadeiro, as exceções são muito raras. (...) Se não fosse pelo Aldo, muita gente iria pra casa dormir mais cedo".
- "...as casas noturnas foram afetadas pela internet. (...) O mundo virtual foi tomando conta do sexo pago. (...) Relacionamentos que nascem em boates quase sempre são para que o cara banque a menina. (...) Os clientes podem diminuir, mas nunca vão faltar".
- "O Gato Preto é uma das maiores tradições da vida noturna curitibana, todo mundo já veio ou pelo menos ouviu sobre a gente. (...) Quem administra o Gato Preto é responsável por cuidar de um patrimônio cultural da vida noturna de Curitiba".
- "Existiam dois tipos de boêmia na cidade. Os primeiros são os românticos, mais apegados à música, que vão aos bares para falar sobre política, encontrar amigos, muitas vezes ligados ao universo intelectual, de uma geração um pouco mais velha. De outro lado, existe a baixa boemia, gente que ama a noite por causa da farra de uma forma geral, mais preocupada em não se preocupar com nada".

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