terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

RELATOS PORTENHOS E LATINOS (112)


DE ONDE VEM O CAFÉ? E DE ONDE VEM O VINHO???
Aqui na Europa, vejo cartazes como este espalhados por diferentes lugares. Existe preocupação pela origem do produto consumido. Se o vinho é produto trabalho escravo é rejeitado. O mesmo ocorre com toda cadeia de produtos consumidos. O Brasil precisa ser reeducado, principalmente empresários com pensamentos retrógrados, pois a imagem do país é deteriorada pela ação de conservadores e escravistas.

A foto foi tirada por mim na porta do hotel onde me encontro, o Puerta de Toledo, em Madri e nela contida o que pode servir de freio para os escravagistas brasileiros. Todos eles precisam muito continuar fazendo seus negócios e lucrando cada vez mais, mas quando o mercado deixar de comprar o produto produzido por quem não segue mínimas regras de condicionamento humano, somente daí poderão mudar e adotar regras mínimas de convivência. O recado dado e contido na frase do lado de fora de um hotel no meio de uma das mais importantes cidades européias é algo para ser repassado aos tantos "donos do poder" brasileiros, de como suas posturas influenciarão tudo o que for feito daqui por diante. Toc toc toc.

O CURIOSO
Assim conhecido por ter sido colocado diante de ruínas, protegidas por vidro e nela algo dos primórdios de Madri. A estátua foi ali colocada para despertar a curiosidade dos visitantes e fazer o mesmo que ele, se curvar e se intetessar, ao menos olhar para o conteúdo protegido. Desde 1999, quando ali instalado, teve início crendice de que, se passando a mão em sua bunda, prenúncio de sorte pela frente. Foi o bastante para ganhar fama e desde então torna-se ação repetitiva de todos. Passam tanto a mão em suas partes traseiras que, o lugar está sem a tradicional pintura, limpa e reluzente, brilhando. Hoje, guia Alba Gallego afirma ser o mais bulinado em toda grande Madri. Eu mesmo passei a mão e fiz secreto desejo - ainda não realizado.

EU E ANA BIA, MANHÃ DE TERÇA NO MUSEU DO PRADO, MADRI ESPANHA
Enfim, como vir para Madri e não ir no Museu do Prado? Fomos rever pintores e escultores que fizeram e fazem parte da historiografia de uma época. Uma viagem no tempo através de quadros retratando o passado e quando olhamos para ele, dá aquele clik, o de quanto evoluimos, mas em alguns itens continuamos tão ou mais perigosos do que os poderosos daqueles tempos. Não mudamos nada ou mudamos pouco ou devríamos ter mudado e, não soubemos fazê-lo. Uma viagem percorrendo os corredores deste museu. 

UM DOS SETE BARES DOS FILMES DE ALMODÓVAR - ESCOLHEMOS O MAIS POPULAR, TABERNA ALHAMBRA
Ana Bia descobriu a dica pelo site, os sete bares madrilhenhos que o cineasta Pedro Almodóvar se utilizou em alguns de seus filmes. A dica está no link a seguir: https://www.arquitecturaydiseno.es/.../bares-miticos...

Como bons turistas, acertamos em cheio e como não podia deixar de ser, meio que sem querer - querendo. Fomos no mais perto do hotel e deu tudo mais certo que esperávamos. O Taberna Alhambra é numa rua perto da praça Porta do Sol, lembrando a região da Andaluzia. No texto do site resgato isso como informação: "Fundada em 1929, a Alhambra Taberna é provavelmente um dos locais mais visitados pelos turistas. A reclamação está na sua decoração tipicamente granadina e na variada carta de tapas que este espaço da rua Victoria nos oferece. Uma atração de tradição e ponto de encontro popular que Almodóvar não deixou de conhecer. "O que eu fiz para merecer isso!" (1984), nos conta em uma de suas cenas ambientadas na Alhambra, um encontro entre a avó (Chus Lampreave), seu neto e um amigo dele. Uma cena tão quotidiana quanto simbólica, que nos fala do encontro entre gerações".

Sentamos quase 15h para almoçar após uma maratona de dois museus e um passeio numa igreja. Estávamos exaustos, loucos por um bom vinho e uma comida agradável e honesta. Encontramos tudo junto e as fotos revelam algo, bem com a nossa cara. Depois, barriga mais do que cheia, descemos de lá até nosso hotel, pela Calle Toledo, nem reparando direito no frio que, infelizmente, voltou nessa semana por aqui. Por sorte, sem chuva. Gastamos sola de sapato e quando voltamos ao hotel, desmaiamos um pouco, recuperamos alguma energia e voltamos pras ruas. Sobrevivendo, revivo algo por aqui, dentro de minhas parcas possibilidades.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

DIÁRIO DE CUBA (229)


TRENS EUROPEUS E O OCORRIDO NO BRASIL
Nasci, cresci e vivo em uma cidade com profundas raízes ferroviárias, com um dos mais importantes entroncamentos ferroviários deste país. Em Bauru, privilégio histórico, convergiam a Noroeste, a Paulista e a Sorocabana. Hoje tudo fazendo parte de seu glorioso passado histórico. Muitos renegam isso e fazem até questão de fingir não existir. Toda a pujança e progresso bauruense, mesmo que não queiram, se deve aos trens. Por aqui também tivemos um dos mais importantes lobbies para a implantação em definitivo do modal rodoviário no país, enterrando de vez o ferroviário. Nosso ex-deputado federal e amigo dos militares, Alcides Franciscato - principalmente o general presidente Figueiredo, dono até bem pouco tempo do Expresso de Prata, foi um dos incentivadores do assassinato da ferrovia. Ele tinha interesses pessoais. Assim foi feito, pagou-se o preço e a ferrovia padeceu e padece até hoje do grande mal causado a ela. A enterraram viva. Tudo foi praticamente destruído. Estações e ramais inteiros foram extirpadas criminosamente do cenário.

A privatização empreendida por FHC foi bestial e seu resultado prático foi a derrocada dos trens e ascenção dos veículos e estradas de rodagem. Demoliram estações e quando não o fizeram, a deixaram à mingua. Tudo o que funcionava maravilhosamente bem foi jogado no lixo. Vejam o estado das estações bauruenses. Estado criminoso de calamidade pública. Daí, viajo pra Europa e constato tudo ao contrário, ou seja, o modelo de trens públicos, ou mesmo privados, funcionando de forma impecável. Neste momento viajo de Madri para TOLEDO e dá vobtade de chorar, diante das atrocidades cometidas com os trens brasileiros. Um crime e até o momento nibguém pagou nada pelo que fizeram. E pra danar ainda mais, leio sempre que, Franciscato foi um dos nossos melhores políticos. O que fizeram é merecedor da mais alta punição e não puxação de saco. O atraso hoje vivenciado no Brasil se deve a estes.

DIA NA CIDADE DE TOLEDO, SUAS RUAS E VIELAS ESTREITAS, ANDANÇAS O TEMPO TODO, DE MANHÃ À NOITE
De carro, nos contam, de Madri para Toledo demora de uma hora até hora e meia, mas de trem rápido, o percurso é de aperoximadamente 20 minutos. Um vapt-vupt, com lugares marcados e saindo no horário previsto. Ninguém viaja em pé e a parte interior é impecável. 

Ouvimos que, os trens espanhóis são os melhores de toda Europa. No que vi gostamos. Eu e Ana, num hotel 2 km do terminal férreo. Embarcamos 9h e aportamos em Toledo. 

Caminhamos a pé até o centro e começamos nosso roteiro de museus e igrejas. Confesso que, em cada suntuosa igreja que adentro, como a mais famosa daqui, a Catedral, me vejo a pensar em como foi construída, quem o fez, erm que condições. Ou seja, a igreja toda poderosa fez e aconteceu pra cima dos trabalhadores, numa época onde o trabalho era executado de forma escrava e sem condições de qualquer tipo de reclamação. A suntuosidade dos templos me assusta e, pasmem, a menos luxuosa é a sinagoga visitada.

Os judeus, mesmos muito endinheirados, não gostam de se expor como os católicos e seus templos são mais modestos. Os católicos parece competiam entre si, pois é um mais suntuoso que o outro. Andamos em todas, percurso a pé, ruas estreitas, onde passa um só carro e nada mais. Algumas ladeiras, mas tudo suportável. Toda história da cidade, que já foi sede do reinado espanhol possui ligação umbilical com a igreja. A cidade respira religião e possui um comércio bastante ativo. Tento conversar, mas o que mais faço é ouvir histórias. Creio, devo começar a utilizar de meu celulatr como gravador, pois ouço cada uma e se não anoto, como tudo passa muito rápido, acabo esquecendo. Aproveito tudo no que posso e assim continuamos. 

Paramos só para almoçar, sem tréguas e descanso - viagem é assim. Retornamos de trem ás 17h25, com o trem saindo no exato horário. Na chegada em Madri, já estamos nos habituando com o terminal férreo e os procedimentos todos. Decidimos não sair hoje, segunda, pois descansando hoje, estaremos inteiros amanhã para a maratona de museus madrilhenhos na terça.
El Greco, o Enterro do Conde de Orgaz, vale a visita.

DAS RUAS FRIAS DE TOLEDO, ESPANHA: "POR ISSO É QUE EU CANTO, NÃO POSSO PARAR"
João Costa, moçambicano, cantava numa esquina de Toledo, tarde muito fria desta segunda, 27/02. Passo e me encanto com sua voz. Me aproximo, conversamos, digo ser brasileiro, ele abre largo sorriso e me dia ser moçambicano, daí ambos falamos português. Quer cantar algo do Brasil e escolhe Caetano Veloso. "Escolho uma versão mais reeguiana, espero que goste. No meu país ouvimos muita música brasileira, canto muito do Brasil pelas esquinas de Toledo", me diz. Adoro, canta mais duas, sambões das antigas, nossos clássicos. Junta no entorno várias pessoas e isso aumenta seu soldo. Tiro fotos juntos e aquela irrefreável vontade de conversar mais, saber mais, mas o trem tem hora pra levar de volta pra Madri, a mim e Ana Bia Andrade. João é gente na labuta da vida, "sangue, suor e lágrimas". Um operário da música.

Eis o link do cantor moçambicano cantando CAetano Veloso:


ANA BIA TIRA FOTOS MINHAS E DE JOÃO COSTA, CANTANTE MOÇAMBICANO NUMA ESQUINA DE TOLEDO, ESPANHA
Eu queria ficar mais, ouvir suas histórias, saber de suas andanças, enfim como chegou até aqui. Em pouco de meia hora, me disse tanta coisa, cantou de memória três canções brasileiras e quando puxou um sambão, fomos rodeados. Dos encantados e encantadores das esquinas do planeta.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

COMENTÁRIO QUALQUER (234)


JUNTANDO HISTÓRIAS

A PLACA, O RESTAURO EM CURSO E OUTRO EMPACADO...
Na visita feita em Barcelona para o que um dia foi o Hospital de la SAnta Creu i SANT PAU, lugar lindíssimo e num canto uma placa, obra pública, com a chancela do "Gobierno de Espana", através do Programa de Conservação do Patrimônio Histórico Espanhol e nela o que está sendo feito; "reabilitação e consolidação de cobertura, cúpula, torre de água e fachadas do Pabellón da Puríssima". Consta também da placa a data de finalização da obra, abril 2023 e o percentual de 1,5% cultural. E por que tal placa me chama a atenção? Simples, elas também existem no Brasil e são como nada, pois não são respeitada, datas não são cumpridas e são meras peças decorativas.

Já contei por aqui em várias publicações a fixada diante do Museu Ferroviário de Bauru, cruzamento da Nóbile de Piero com Primeiro de Agosto, decretando como término da obra, julho de 2022. Por três meses seguidos cobrei e nada. Aquela finalização, pelo que sei é a hoje atravancando a abertura daquele museu. Na de Bauru, trata-se de obra de pequeno porte, banheiros públicos e mais umas coisinhas e patina, não sai do lugar. Hoje, nenhum museu público municipal, dos três que temos, funciona. Placas existem também diante da Feira do Rolo para outro, o Histórico Municipal, fechado há mais de dez anos, obra na antiga Estação da Cia Paulista, paralisada, pelo visto, ad eternum.

No Brasil, infelizmente, vinga algo cruel. As empresas ganham a licitação e não vão até o final da obra, pedem aditamento, ou seja, querem mais do que o combinado para executar o serviço. Em particular, no caso bauruense, placan abundam pela cidade e a de maior escândalo é a Estação de Tratamento de Esgoto, antes a do viaduto inacabado - hoje com uma mera alça para torná-lo de mão dupla.

Comparações mais que entristecedoras. Converso aqui em Barcelona com funcionária do museu visitado e ela me diz que, na maioria das vezes terminam antes do prazo. Poucas vezes são prorrogadas datas, na maioria das vezes, quando trata-se de obras externas e por motivo mais do que justificável, a das intempéries do tempo. Na do museu, nenhuma explicação e na da ETE mais do que pouca vergonha, explícita, ou seja, nossas placas denunciam o mal trato para com o dinheiro público. Seriam provas contundentes para incriminar quem não as cumpre, porém, nada vejo sendo feito neste sentido. Estamos acostumados a não reclamar e deixar o barco continuar navegando desta forma e jeito.

O HOMEM GRITANDO PELAS LIBERDADES
Não fui o único intrigado com o homem diante de imensa janela fechada num prédio público e gritando pela LIBERDADE.

Aliás, isso intriga muitos e percebi isso ao questionar um dos seguranças do local. Sua história é desconhecida, ele de poucas palavras, mas todo dia, faça sol ou chuva, frio ou calor, se posiciona duas vezes ao dia diante da imagem, parte da manhã e no final da tarde, e permanece por uns quinze minutos na posição em que tirei a foto e ali grita. 

Depois, para tudo e se retira. Me pareceu ele conta a quantidade de vezes em que grita. Missão cumprida se retira, Perguntei dos motivos, se sabem sua origem e ninguém soube me responder. O máximo ouvido foi já ter se tornado uma figura conhecida, popular. Não o incomodam e ele desta forma, pelo seu gesto, tornou-se figura conhecida no local. 

Curioso, permaneci no local, fotografando a região por uns trinta minutos e indaguei por funcionários do comércio, pessoas locais e nada. Saio de lá sem saber dos motivos e depois, andando pelo local o reconheci e curioso, me aproximo e pergunto algo para ele, como que a puxar conversa. Ele arredio dá de ombros. Ou seja, não quer ser importunado. 

Histórias assim são comuns, a de pessoas que se sobressaem por algo feito, de forma repetitiva e sem que os demais saibam dos motivos. E também, por que deveria saber? Curiosidade mata...

TOUR SÁBADO MANHÃ PELA BARCELONA VELHA
Caminhando e cantando e seguindo Pablo, guia em espanhol. 

O estilo é o mesmo em todas as grandes cidades européias. Um tour é contratado pela internet, de forma gratuita. Marcam num local público e se identificam por algo inusitado, um guarda-chuva colorido ou uma bandeira de cor diferenciada. 

Grupo reunido saem pela cidade, o guia contando algo da localidade. No final, cada um dá o que quer, mas subetentido que todos devem contribuir com algo compensador. 

Hoje o guia foi um jovem estudante de História da Arte, alguém que vai a fundo no que faz e além de nos apresentar algo da história da cidade, o faz com propriedade e também pitadas de ironia. Dessa forma, se aprende mais rápido. Tudo numa só aula, mais preciso em duas horas de caminhadas pelas ruas de Barcelona. 

TOUR TURÍSTICO EM MADRI
Guiados pela atriz espanhola e profunda conhecedora da história de seu país, Alba Gallego nos leva a conhecer alguns dos cantos, que nunca iriamos ter oportunidade de fazê-lo sem ajuda de alguém com seu conhecimento. Vimos de tudo, desde a farmácia mais antiga da cidade, o restaurante mais velho do mundo, o salão de barbeiro com mais de cem anos e em cada parada, a história revivida ali na nossa frente.

GUIA DE TOUR COM ALBA GALLEGO NUMA DAS PARADAS NO ROTEIRO DE APRESENTAÇÃO HISTÓRICA NA MADRI
Ela é demais.
Baita aula de História e cada lugar indescritível. Ela é atriz e marcamos o encvontro junto do grupo para Praça do Sol, o marco zero da cidade de Madri, seu local mais central e conhecido. A cidade no entorno, era ali no centro vazio da praça era feitas as vendas e escambo de mercadorias, isso desde a Idade Média. A partir daí, ela circulou conosco por 2h30, indo de um lugar a outro, parando e nos dando aula sobre a história de sua cidade. 
Eis o link com dez minutos de algo de sua apresentação de Madri:

ALGO DO BRASIL ESCRAVAGISTA
"São esses empresários que se apresentam à sociedade como gente de bem, defensores de valores cristãos da família e da pátria e da tal meritocracia, Não é sem motivo que foi nessa região do país ,onde o abominável ex presidente teve grande votação", Woltaire Mattozinho.

Trabalho escravo no Brasil, em pleno século XXI e sendo executado por empresários de ponta, destes fazendo parte dos tais "forças vivas" deste país. Os tais considerados por muitos como INTOCÁVEIS, sem máculas e observações desairosas. Impolutos até a página 2. Só que, quando bocadinho do que escondem debaixo do tapete vem à tona, demonstram e deixam claro a que vieram, como agem e, é claro, tudo pelo lucro, muito lucro.

sábado, 25 de fevereiro de 2023

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (172)

museus 

MIRÓ, CRIANÇAS E O ENTENDIMENTO HISTÓRICO*
* Meu 98º artigo para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição circulando a partir de hoje:

Mal o Carnaval acabou, parti com a esposa, num retorno memorável ao Velho Mundo. Conto algo de Barcelona, Espanha e ocorrido hoje, sexta, 24 de fevereiro. Percorremos vários museus e num deles, a Fundação Joan Miró, na parte alta de Barcelona. Poderia discorrer muito sobre o que sempre se aprecia em lugares assim, parte da história revivida, viva e pulsante. Antes de adentrar o que me faz escrever este texto, lembro dos tempos quando era presidente do CODEPAC – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru e numa reunião com proprietários de importante edificação histórica, eles não a queriam tombada de jeito nenhum e o argumento utilizado foi este: “Viajo e sei da importância destes tombamentos, mas na Europa, não aqui em Bauru e justamente numa edificação de minha propriedade”.

Isso nunca mais me sai da cabeça. A tal edificação foi tombada, mas só a fachada, contrariando os interesses dos proprietários, que queriam liberdade para derrubar tudo ao seu bel prazer. Na verdade, não entendem lhufas de tombamentos históricos e do quanto isso pode ser vantajoso para proprietários. Viajo no pensamento e anos depois, nem o Codepac existe mais a contento em Bauru, pois quando uma administração municipal não se empenha neste ideal, tudo se perde. Com o advento Bolsonaro tudo piorou e não só as edificações antigas foram sendo derrubadas ao bel prazer, tudo para favorecer interesses imobiliários e financeiros. O ocorrido com o meio ambiente é a cara deste período, hoje felizmente, sendo substituído por algo bem mais palatável.

Junto tudo isso e hoje, lá no interior do Museu Miró, vejo algo da importância da Educação (com M maiúsculo) no quesito entendimento do que seja Arte, História e reconhecimento do passado na construção de futuro altaneiro e pujante. Encontro dentro do museu três grupos de jovens, crianças de 6 a 10 anos, todos em atividades com seus professores, em rodas animadas de conversas. Vê-los sentadinhos e atentos no que seus mestres lhe diziam sobre Miró foi algo me batendo como um choque térmico no cérebro. Tudo começa muito cedo e aqui, se existe isso da valorização para a História, isso se deve a esse início desde os cueiros.

Quando isso não ocorre desde cedo, algo como o ocorrido no dia 08 de janeiro, com a destruição de obras de arte, puramente como demonstração de força, sem nenhum bom senso, a certeza de que, o país caminhou por descaminhos irrecuperáveis. Reverter isso será questão de décadas, isso se ocorrer boa vontade. Aqui em Bauru temos três museus e todos encontram-se fechados, sem projeção de voltarem a funcionar para o público. No passado, muitas escolas levavam seus alunos para visitas nestes locais e recebiam aulas dos seus monitores. Hoje tudo foi desmantelado e nada mais acontece.

Num país onde nem os museus funcionam a contento, como esperar que alunos se sintam interessados em visita-los e gostar do que ali encontram. Quase impossível. Nossa recuperação educacional precisa ocorrer a toque de caixa, para não termos este país mais perdido do que se encontra em seu atual momento. No museu Miró, vendo a cena das crianças interessadas em Miró, com o que havia ouvido anos atrás da proprietária de imóvel histórico e sei, nada será fácil, mas continuar tentando se faz necessário.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

DOIS COMENTÁRIOS NO MEU TEXTO:
1 - "Fui professor efetivo da rede Estadual numa escola em Bauru. Se nem a escola, a equipe, dirigentes valorizam a disciplina de Artes, imagine o resto. O fechamento dos museus aqui em Bauru é uma piada muito sem graça. Essas pessoas que estão no poder hoje nem imaginam o estrago que estão fazendo. Recuperar o tempo perdido será tarefa hercúlea", Ronaldo Gifalli.
2 - "Exatamente... Foi numa viagem a Europa, após vermos tantas crianças em museus e pinacoteca, que tivemos a idéia de criar a ONG Sementes do Bem... As crianças são iguais no mundo todo... O adulto no que se transformam é reflexo do que lhes oferecemos na infância e adolescência... Nós começamos com 12 crianças há 13 anos... Hoje 8 já estão na universidade...", Benedito Falcão.

PARK GÜELL, OBRAS AO AR LIVRE ARREDORES DE BARCELONA

SAINT PAU, PRIMEIRO HOSPITAL PÚBLICO DE BARCELONA, HOJE JÓIA RARA ARQUITETÔNICA MODERNISTA


FECHANDO E LACRANDO O DIA, MUSEU DE DESIGN DE BARCELONA
Casa de Ana Bia Andrade, o de ela se sente em cada, sua praia. Tirou foto de tudo, trouxemos folhetos mil, livros sobre as exposições e onde permanecemos mais tempo. Um bar temático delicioso, tudo dentro do padrão catalão de museu e do design. Fui para aprender e foi o que fiz.


algo de Bauru
AMÍLCAR OLIVEIRA, UM DOS "GERENTES" DA FEIRA DO ROLO INTERNADO
Recebo há mais de uma semana recado aqui pelo messenger, algo vindo da Ednéia, esposa do querido Amílcar, espécie de dirigente ou representante da Feira do Rolo, um dos espaços mais democráticos de Bauru. Seu recado é triste: "Só avisando que o Amilcar está internado na UTI em coma induzido e entubado". Passamos a trocar algumas conversas e as notícias continuam precocupando: "O Amilcar ainda está na mesma situação sem melhoras, trocou novamente o antibiótico, os olhos dele já não estão mais amarelos, um pouco de febre, estado grave ainda.
Obrigada pelo carinho".

O fato é que a Feira do Rolo não conta com a banca deles, bem na entrada do espaço domingueiro e muito notada sua ausência. Pessoa querida, taxista de longa data e também na atividade junto da esposa, especializado em revenda de semi-jóias, com banca também numa das tranversais da Batista. O vejo sempre na defesa dos feirantes e de todos os com banca no Rolo, ou seja, é um dos que, quando se faz necessário representar o lugar, o faz com afinco. Bom de conversa, não passo um domingo sem saudá-lo de forma efusiva e sempre está disposto a essa salutar prática, a da boa conversação.

Amílcar resiste bravamente, ainda entubado e com certeza, empreendendo algo mais da luta diária, desta feita para voltar a vicejar pela alí e fazer o que o move desde que o conheço. Ao passar no último domingo pela feira e não vendo novamente sua banca montada, espaço vazio, bate aquele sentimento da falta de algo no lugar. Todos à sua volta continuam apreensivos e Ednéia pede para comunicar a todos de sua luta e reforçando a esperança de que tudo possa se normalizar em breve. Eu sempre que procurado, muitos estudantes querendo algo sobre a Feira, o indico para entrevistas e já apareceu em inúmeras, pois ciente de seu papel, toca em frente este barco, o da continuidade de um trabalho dos mais instigantes dentro da vida urbana bauruense.

O que faço, além de expor seu triste momento é produzir um reforço, auxílio positivo, crendo muito em sua recuperação.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (174)

 ANIVERSÁRIO DE ANA EM PLENA BARCELONA

HOJE É O DIA DELA.
Ana Bia Andrade FAZ ANOS
SEU PRESENTE É ESTARMOS JUNTOS AQUI EM BARCELONA, ZANZANDO PELA BELA CIDADE CATALUNHA/ESPANHOLA

EXPOSIÇÃO MIRÓ, UM LIBERTÁRIO NA ESPANHA FRANQUISTA
Manhã envoltos nos altos do país basco, conhecendo a maior exposição de Miró, um desses que nunca se vergou aos interesses do mundo dominante. Miró é a cara da necessária resistência.
HPA, hoje sendo conduzido pela aniversariante ABPA

DEZ ANOS DEPOIS VOLTAMOS AO MERCADO LA BOQUERIA, CORAÇÃO DE LAS HAMBLAS
Dia de seu aniversário, zanzamos pelas Hamblas e é claro, terminamos na Boqueria.


ALMOÇO DE ANIVERSÁRIO NO EL NACIONAL, TUDO CONFORME O COMBINADO*
* Terminado quase 17h.
Como dizer não para a aniversariante? Impossível para Ana Bia Andrade, ainda mais no dia de hoje. Ontem à noite, tudo lotado, jantamos em outro lugar e hoje, insistimos, voltamos e adentramos o La Llotja, especializado em frutos do mar. Paeja com frutos do mar. Comemos e fomos descansar, pois ninguém é de ferro.

UM ANO DA GUERRA UCRÂNIA RÚSSIA, MANIFESTAÇÃO EM BARCELONA
Estou em Barcelona e hoje por volta das 20h, me vi dentro de manifestação pelo fim da guerra, favorável a imediata paz. Acompanhei tudo por alguns quarteirões e tentei conversar com alguns dos manifestantes. Espanhol eu até entendo, mas catalão sou um zero à esquerda. Do que observei, movimento é totalmente crítico a Putin, favorável a Ucrânia. Sim, a Rússia de Putin é muito cruel, porém a Ucrânia de Zelenski também o é ele poderia ter evitado tudo. Faltou negociação, pois fechou questão e hoje seu país pena com a destruição total após este um ano de conflito. Claro que sou favorável a paz, mas sem hipocrisia. Se bobearem e deixarem é bem provável que, Lula tenha grande chance de, com seu peculiar jeito, produza intermediação para encerrar o conflito. E mais, insuflamentos de um lado e de outro, pode a qualquer momento ampliar o conflito para algo mundial. A faísca pode estar sendo acesa neste momento.

VISITA NOTURNA GUIADA EM "LA PEDRERA", SUNTUOSA OBRA DE GAUDI
Eu e Ana Bia Andrade, ainda nas comemorações de seu aniversário, adentramos a edificação de Gaudi e descobrimos alguns de seus segredos. Subimos e descemos os sete andares e no terraço projeção de vídeo sob as estátuas. Aproveitando cada momento.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (213)

DESPEDIDA DE PARIS E OUTROS ARES

QUINTA, MANHÃ RUANDO PELAS REBARBAS DE PARIS
O textão eu vou publicando em drops, ou seja, aos poucos, assim como novas fotos. Ruar e escrever não estão sintonizados, daí prefiro registrar e depois, se tempo houver, escrevo. Não está sendo fácil manter os escritos por estes dias. Muito pouco tempo diante do computador. Espero que entendam.


UM MÚSICO E SEU GATO
A música eu ouvi de longe e me aproximei dela. Permaneço por alguns instantes diante de quem a irradia. O músico me sorri, para por alguns instantes e estende uma tigelinha com grãos para seu gato. Este não sai de seu ombro, dormita sob o instrumento sendo tocado. Parecem interligados por algo indissolúvel, inquebrantável. Ele volta a tocar, o gato se posiciona novamente em seus ombros e até na cabeça, sob seu gorro. Ofereço algo, ele agradece com gesto de cabeça e faz o mesmo quando lhe mostro o celular e o desejo de registrar o momento. São os registros inesquecíveis das ruas de Paris e dos tantos artistas atuando e trabalhando em suas ruas. Me interessam muito mais do que tudo o que nos é oferecido nas tantas lojas à nossa volta.

UM PERIÓDICO DE CADA LUGAR
Pra leituras variadas e múltiplas, (ainda) permaneço devoto do modal papel. Não tem jeito, o cheiro me atrai. Não consigo fazer leituras longas pela tela de celular ou computador. Trago periódicos por onde ando. De Paris, alguns alternativos e dentre estes, na despedida, aeroporto de Orly, o semanário Charlie Hebdo. Podem chamá-lo do que quiserem, mas continuam corajosos e não aceitam permanecer acuados, mesmo diante de constantes ameaças. 

Leio sobre as grosserias deles, ou seja, tudo tratado com ironia, galhardia e liberdade absoluta. Não os confundo, por exemplo, com o que a Jovem Pan, ops, digo, Velha Klan faz, pois esta é criminosa, rainha dos fake-news e o Charlie adoraria encostá-los na parede. Enfim, não entendo nada de francês, mas conto com a tradução de Ana Bia Andrade e faço eu mesmo interpretação das charges. 

No voo até Barcelona vim tentando ler seus textos. Não gostam do Putin, mas também abominam o atual mandatário ucraniano e o que ele representa.

EM 2019 HAVIA ESCRITO ALGO DELA, REPITO TUDO NOVAMENTE E COM MAIS LOUVOR
Elaine e Ana Bia nas ruas de Paris
É de um luxo só você chegar numa cidade cosmopolita como Paris e ter um anjo da guarda, te orientando e auxiliando em lugares e evitando gastos desnecessários. Eu e Ana estivemos sob o manto protetor de uma brasileira, carioca, conhecedora de todos os cantinhos da Cidade Luz. Queria escrever um texto novo, mas localizei este e descobri já ter dito tudo quando da última vez com ela. Elaine Laval é tudo isso e muito mais. Não venha pra Paris sem contar com a cobertura de tão alvissareira pessoa, profissional na acepção da palavra. Se tudo por aqui deu certo, o dedinho dela está por detrás de tudo.
Eis o texto de 2019:
QUEM VIER A PARIS PRECISA DO ACOMPANHAMENTO DE ALGUÉM IGUAL A ELAINE, SABE TUDO DE TURISMO E DESTA CIDADE.
Atua na área de turismo para empresas e sempre pronta para entender, atender e estar ao lado de quem chega daquele jeito, demonstrando saber tudo, mas não sabendo quase nada. Ela, ELAINE BARREIROS LAVAL (Manager MICE & Leisure Groups) é uma ótima "guia de cego", algo como uma bússola para gente como eu e Ana. Sem gente assim ficaríamos perdidos e não aproveitaríamos a cidade a contento. Nos agendou cada lugar, alguns até foi junto, pela amizade com Ana, desde os bancos escolares, dos tempos quando ambas ainda debutavam, enfim, sabe tudo e mais um pouco do seu ofício e de Paris. Posto depois os contatos dela, pois é dessas imprescindíveis mundo afora. Ela em Paris e em Londres, Luciana Franzolin. Tivemos sempre alguém olhando pela gente, "dois perdidos numa noite suja".

ALGO DA DISTANTE BAURU
ELE VENDEU SUA CARROÇA E CAVALO, QUITOU ALGUMAS DÍVIDAS E HOJE ELE PUXA E EMPURRA SUA NOVA CARROÇA. 
Escrevo muito deste casal, moram na beirada dos trilhos, parte baixa do Bela Vista. Fazem parte de segmento praticamente com caminho sem volta. Toda ação social feita precisa levar em consideração e construir algo para melhorar a vida destes tantos.
A foto nasce da sensibidade do poeta José Brandão, andando pelas ruas de Bauru e envolvendo seus poemas com a dor observada dessas caminhadas.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

BEIRA DE ESTRADA (163)

MUSEU ESPAÇO SALVADOR DALI
Subimos até Montmartre, com inevitáveis e incontroláveis paradas pelo caminho, numa caminhada quase toda a pé, tudo para conhecer bocadinho da obra do controvertido artista espanhol/catalão. O espaço está localizado num local, residência do artista durante parte de sua vida. Andanças e parte da manhã saboreando e tentando entender a motivação de Dali. Tudo é arte por essas bandas do mundo.


FIQUEI NA DÚVIDA
Estou esbarrando frequentemente aqui em Paris com uma cápsula igualzinha a que nosso astronauta bauruense perambulou pelo espaço. Como vi uma parecida junto ao Aeroclube Bauru, não sei qual a mais funcional...

UMA LOJA DE LOUVAÇÃO PARA A "MERDE"
Passávamos pela rua e a vitrina só dava MERDE, de todos os tamanhos, jeitos e possibilidades. Foi na região de Montmartre, coração boêmio de Paris. Não resistimos, adentramos e nos esmerdeamos todos. Paul, o idealizador da coisa é francês, já morou no Rio de Janeiro, daí a conversação flui. Resolveu ganhar a vida espalhando "merde". Muitos param e ali tem de tudo, desde cadernos, canecas, adesivos, bottons, bandejas... Muita criatividade e irreverência, aliado ao jeito malemolente de quem sabe ir tocando sem pisar na merda. Trouxe umas bobagenzinhas, nenhuma cheirando ruim. No teatro, antes do espetáculo começar, nada como um bom "merda", o desejo de boa sorte. Para quem quiser saber mais cliquem merdegalerie.com.

A loja fica na rua de Ravignon 9, no começo da ladeira. Dei ao Paul um adesivo do Lula e ele, abriu sorriso largo e o colou numa lousa cheio de outros. Disse dará sorte pra ele livrar o Brasil do fascimo que nos ro dava. Enfim, quem não gosta de merda, bom sujeito não é.

TARDE NO MAD - MUSEU DE ARTES E DECORAÇÃO
Ele fica ao lado do louvado Louvre e guardadas as devidas proporções é tão pomposo quanto. Edificações suntuosas a dos museus públicos franceses. No entorno deles, percebe-se a importância de cada um deles. São lugares mais que mágicos. Já fui duas vezes ao Louvre, visitas de um dia inteiro e desta feita só com uma tarde livre, Ana opta por ver o acervo exposto do MAD e junto, no mesmo espaço, a Étienne+Robial Graphisme & Collection, de Futurópolis à Canal+. Primeiro o acervo da casa, Idade Média, Segundo Império, Napoleão e ao lado a parte contemporãnea, com muito do Design, em acervo temporário, produção dos anos 80. Ana delirava, eu junto, aprendendo muito. Lugares mais que mágicos, fora as andanças pelas redondezas.
 
O "CORVO" NOS PARQUES DE PARIS E ALGO DELES
Sabe qual o animal que vejo mais nos parques aqui espalhados por Paris, numa acirrada disputa com os pombos? O corvo. Isso mesmo. Deve ser o mesmo que inspirou Edgar Allan Poe nos seus romances. Corvos em Paris, ouço aqui, sempre conviveram quase harmoniosamente com a cidade. Um pessoa lá nos parques nos arredores do Louvre me contava hoje, que o animal tem a ver com traição. Essa sua marca, algo pelo qual atravessa o tempo sem conseguir se desvencilhar.

Aqui no Brasil quem amargurou a pecha do nome de CORVO foi o ex-governador carioca Carlos Lacerda, golpista em 64 e depois, como tantos, arrependido, mas já era tarde. O estrago estava consumado. Já escrevi sobre isso e até reproduzi charge de um corvo com sua cara. Aqui na França, onde me encontro neste momento, muitos corvos andam calmamente pelos parques, não se intimidando com a movimentação das pessoas. Estão acostumados. Ele me diz que aqui na França, dentre alguns políticos que não conheço, pelo menos um o brasileiro se lembra. "Tem, inclusive, cara de corvo. É o ex-presidente Nicolas Sarkozy", diz. Ouço histórias de arrepiar deste, hoje praticamente com sua vida política encerrada.

Fico a matutar quem seria o corvo hoje na política brasileira. O nome mais próximo, dentro do enquadramento de traidor recai como uma luva para o ex-juiz Sergio Moro, infelizmente eleito senador pelo Paraná. É o próprio.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

DICAS (229)

PARIS

DOS CAMINHOS PARA A FUNDATION LOUIS VITTON, VER EXPOSIÇÃO MONET MITCHEL
Terça de manhã, a dica recebida por mim e Ana Bia foi para irmos logo pela manhã ver a exposição do Monet na Fundação Vitton. Esse cedo, foi patra estarmos lá por volta das 9h e não pegar o fluxo e filas intermináveis. Assim fizemos, com ajuda da sempre atenta para conosco Elaine Pedreira. O lugar é lindo e fomos até o Arco do Triunfo, de um ônibus especial levando quem já tem ingresso comprado, passando pelo parque Bois de Bologne. Suntuoso espaço abrigando a obra do pintor Claude Monet junto da obra de Joan Mitchell, essa revisitando o famoso pintor. Foi uma manhãe tanto, surfando pelas obras de artes e ouvindo e lendo muito a respeito dos dois, grandes artistas destes tempos. Dessas viagens que fazemos uma só vez na vida e olha lá...

MUSEU DE CLUNY (O MUNDO MEDIEVAL)
Depois de perambular junto aos bopquenistes na beirada do rio Sena, eu e Ana fomos para o Museo de Clony, o museu nacional da Idade Média e despertando curiosidade não só pelas rlíquias ali contidas deste período, como os tapetes, fixação de Ana Bia. O museu, criado no século XIX, alberga dois edifícios excepecionais: as antigas termas de Lutecia e o hotel dos abades de Cluny. Muita história junta. Indescritível a sensação nos porões do castelo. São 1500 anos de História da Arte, em 22 salas, divididas em dois níveis. O local é na muvuca parisiense, depois do Sena, Quartier Latin, região que vale também muito pelo passeio pelas ruas. As fotos dizem mais do que presenciamos. Passamos a tarde toda lá dentro, tocados pela volta ao passado.
Veja mais em musee-moyenage.fr

NÃO RESISTI E ENTREI NA LIVRARIA JOSETH GIBERT, NO BOULEVARD SAN MICHEL, MUVUCA PARIESIENSE
Imagine eu estar em Paris e não adentrar nenhuma livraria ou papelaria? Impossível. Passando por essa, Ana me diz ser uma das mais famosas. De um dos lados da rua a papelaria e na outra a livraria, com promoções desses de enloquecer gente sã. Eu não leio nada de francês, mas converso por sinais com todos os atendentes e eles me entendem. Assim fico encantado primeiro com os cadernos e as canetas, uma mais instigante para quem ama escdrever à mão. Depois os livros, muitos expostos na calçada. Linda a coleção "A Paris de ...", com nomes todos conhecidos, como Proust, Piaf, Balzac, Pompidou, Gainsberg, etc. Quase trago alguns só pelo prazer de ter alguns destes em casa. Só de estar junto a livros, sentir o cheiro do papel, sacar dos caminhos das publicações francesas, ainda distante do modal livros de auto-ajuda, isso já é mais do que encantador. Circulando por aqui de metrô e ônibus, também de uber, confesso ter cruzado com muita gente lendo livros pelas ruas. Hoje vi um andando e lendo, como costumo fazer quando a leitura me contagia. No metrô dou de cara com uma francesa lendo Cem Anos de Solidão, do Gabriel Gárcia Marques. Peço para Ana me traduzir a palavra "ótimo" e quando descemos do vagão, chego perto dela, digo ser brasileiro e aponto o livro que lia com o ótimo em francês. Ela me sorriu, como fazem todos os que lêem algo do tipo. Existe uma empatia entre todos. Eu cada vez cruzo com mais gente lendo por aqui e sinto muito falta disso no Brasil. Não comprei nada na famosa francesa, mas sai de lá arrastado pela Ana, pois tínhamos outros lugares com hora marcada para ir na tarde de hoje. Passando em frente entro em outras e fotografo tudo.

PASSEI PELO PARQUE BOIS DE BOULOGNE, ME LEMBREI DE NANA VOGUEL E DA MÚSICA DE ALDIR BLANC
Hoje quando eu e Ana Bia estávamos num ônibus nos levando para o Instituto Luis Vuitton, passamos pelo meio do parque Bois de Boulogne, olhei para os lados e de imediato me lembrei de dois fatos do passado não tão distante, mas de décadas atrás. Este parque parisiense está localizado no centro da cidade, assim como o Central Park novaiorquino. No daqui, histórias mil com as travestis brasileiras em tempos quando ainda não existia celular, muito menos isso de anúncios interativos de sexo, primeiro em jornais e revistas, depois pelas redes sociais. Anos 80 e começo dos anos 90, algo por aí. Elas ralaram muito para conseguir algo e uma das cidades preferidas sempre foi Paris. O lugar ficou muito conhecido como um dos pontos de trabalho das travestis brasileiras em Paris.

Certa feita escrevi para uma revista paulistana um texto sobre uma diva do mundo trans, Nana Voguel e ela me contou, não a sua, mas a história de quase todas as que aportavam em Paris e o ponto mais famoso na cidade era o tal parque Bois de Boulogne. Sabia ser um local sem residências, mas só agora, passando por ele, vejo como se dava a coisa. Elas ficavam na avenida, rodeada de árvores e mato. Foi ali neste imenso parque que, muitas das pioneiras em Paris ganhavam a vida e conseguiram trazer algo consistente para o Brasil, comprar imóveis e conseguir um status acima da média. Lembro até hoje da Nana me narrando histórias de muitas e hoje, me passou um filme na cabeça, da dureza do que passavam, sem que no Brasil a maioria soubesse de como se davam suas vidas na Cidade Luz.

As histórias de muitas de décadas atrás tem este parque parisiense como pano de fundo, o local dos encontros. Tempos depois Aldir Blanc, meu compositor preferido, escreveu uma letra primorosa sobre essa relação de Paris com o Brasil, a "Paris - De Santos Dumont aos Travestis". Eis a letra, dessas coisas maravilhosas do mestre da escrita: "Paris, Uma loura envolta em negligée/ Ton-sur-ton e degradé/ O meu francês é meio assim Jabaculê/ E esse impasse:/ Me mudar da vila pra Montparnasse/ Eu sei que o tempo urge/ Do verde-amarelo pro bleu-blanc-rouge/ Da Conde Bonfan pro Moulin Rouge./ Três bien, que beleza:/ Ver o pandeiro tocar a Marselhesa/ Pra cada merci beaucoup/ Eu mando um n'a pás de quoi/ E lê samba, voilá!/ Com mon amour eu vou derreter/ (Dieu!)/ E qu'est ce que c'est que vous voulez/ Si la question é remexer?/ Paris, je t'aime!/ Eu voar pra ver".

Pois bem, Nana Voguel já nos deixou faz um certo tempo, as travestis brasileiras continuam vindo pra Europa, se enricando por aqui e o parque, pelo visto não mais abriga brasileiras no seu entorno. Passo pelo lugar, lembro das histórias ouvidas, dessas merecedoras de um livro e matuto cá comigo, de como os brasileiros (as) são perseverantes, enfrentam grandes adversidades, tudo em busca de dias melhores e uma vida mais calma no seu país. Esse tal de Bois de Boulogne já viu de tudo...

Para quem quiser pesquisar sobre o que este parque já presenciou de brasileiras no seu entorno, clique a seguir, pois são muitos os links sobre o tema: https://www.google.com/search...

OBS.: As primeira foto foi tirada por mim no dia de hoje e as duas últimas são registros dos anos 90, do movimento das brasileiras no local.