domingo, 30 de abril de 2017

OS QUE FAZEM FALTA E OS QUE SOBRARAM (99)


O ÚLTIMO DIA DO MÊS NA FEIRA E O “FIO CONDUTOR”
E assim termina abril. O que salva tudo são as companhias, as que escolhemos para tocar esses e todos os demais dias pela frente. Se as coisas não andam lá muito boas e ainda por cima não as temos ao nosso lado, as complicações são mais torturantes e bate aquele sentimento de isolamento, derrota total. Quando eu sei que, indo a certos lugares, frequentando os locais onde os iguais a mim por lá estarão, mais do que um alento. Mesmo diante desse mar de problemas, nada como poder compartilhar de conversa saída, bem humorada, bem pautada e disso não se pode mesmo abrir mão.

É o que faço aos domingos. Meu dia, como todos os últimos estão apilhados de compromissos, mas impossível não abri mão momentaneamente, tudo para rever pessoas queridas e conseguir, ao lado delas todas, recarregar um pouco mais as baterias que movem uma vida. A feira dominical é meu local, primeiro a banca do Carioca, onde ouço hoje uma das frases mais espetaculares que se pode ouvir durante a existência humana. “O melhor de tudo é quando você aparece. O pior de tudo é quando o dia passa e pessoas como você não aparecem”, me disse. O queixo cai a cada reencontro nesse sacrossanto lugar. Hoje, um sujeito de Ribeirão Preto, pela primeira vez ali vendo livros, compra dois, ouve palavras inesperadas vindas de um livreiro da feira e ao sermos apresentados me diz: “Que lugar cheio de luz é esse. O cara tem a banca recheada de coisas boas, leituras para todos os gostos e ainda nos enche de luz. Conheço muitas bancas e sebos, mas igual a esse, só esse”. Esse o sentimento de quem por ali aporta, assunta e a partir daí, não existe mais saída, estará contaminado.

Saí de casa às 11h e queria permanecer na feira por pouco tempo, mas já na banca do Carioca encontro o Geraldo Bergamo e o Manuel Rubira e, confesso, ambos são cativantes. Cada um tem um jeito só seu de voltarem todo domingo e dali irem para o Bar do Barba, sentarem sempre no mesmo lugar e esperar a chegada de outros tantos. Vieram hoje, o Sivaldo Camargo e nos contou uma história tão linda de como o Gilberto Gil deixou a macrobiótica, depois a Camila Godevice que precisa sair escondida de casa com a camiseta do DNT Petista, tudo para não chocar a mãe, depois o Cláudio Lago e a Luzia Siscar, que perdeu o danado do marido no meio do “rolo”. Fui obrigado a lhe dizer: “Motivo aqui não falta para perdições, fique atenta”. Ele é muito conversador, se perde em conversas. A Cristina Zanin conta detalhes de resgates feitos na biblioteca de um dos maiores juristas bauruenses, seu eterno sogro, Gastão de Moura Maia e o casal Neiva e Dauri, chegaram quase no final e gostaram tanto da conversa q2ue, quase convenceram todos para continuarem a contenda num churrasco lá pelas bandas do mafuá. Foi por pouco.

O assunto do dia foi o falecimento do cantante Belchior e com ele outro tema, o das pessoas que, como muitos ali presentes, vivem sozinhas e ao morrerem são descobertas pelo cheiro, o mau cheiro. Ali mesmo na feira, um carro da polícia parado no meio de movimentada quadra e eu já crendo ser para batidas ao contrabando. Nada disso. Haviam descoberto o corpo de um morador da Júlio Prestes nessa situação, morto deitado e em cima disso, todos demonstram o profundo pesar por Belchior, que tantos sonhos nos embalou e o fez até no seu momento de reclusão, quando pediu para ser esquecido num canto qualquer do país. Vivia esse momento de ostracismo e nele feneceu. Como o cantamos e ao falar de sua morte (nem sei como o foi), relembramos quantos de nós não vivem sozinhos e podem muito bem ter o mesmo fim do escrito João Antonio (um dos meus preferidos) que, foi encontrado uma semana depois no seu apartamento em Copacabana e pelo cheiro.

Criamos ali mesmo uma espécie de “fio condutor”, uma espécie de “verificador obrigatório da vida do amigo”, quando todos em apenas dois dias sem notícias do outro, deveríamos acionar os mais próximos e ver o que se passa. Pedro Valentim passa pelo local envergando a camisa do Corinthians (hoje é o dia), com a Folha de SP debaixo do braço e mostrando a pesquisa (“ninguém tira do Lula numa eleição honesta”) de capara, mas ao pegar o exemplar nas mãos comento com o Bergamo: “Li tanto esse jornal e todos os outros, mas hoje mais nenhum deles”. Bergamo encerra o assunto: “E dá para ler algum deles hoje?”. Não dá. Estão mortos e não sabem. Alguém precisa avisá-los.

Com o voto vencido de fazermos um churrasco, cada um vai para seu lado. Sivaldo sobre com Camila por uma feira já sendo desfeita, levando a Zanin debaixo de um lenço palestino. Lago e Luzia vão em busca de um lugar para o almoço. Dauri faz subir em sua moto a Neiva e somem pela Rio Branco. Eu sigo só para casa, pago o Barba e vou lendo a Carta Capital pelas ruas. O cara do estacionamento puxa conversa e a partir daí, (re)descubro o quanto é importante esse reencontro dominical ali no meio do furdunça. Estava totalmente recarregado para o que possa vir pela frente. Atravesso a linha, relembrando as palavras de Claudio Lago, que me disse, ontem, sábado ter ficado o dia todo ainda meio em estado de transe e sua ficha só caiu no final do dia com o que havia presenciado e participado nas ruas de Bauru quando da Greve Geral. Ali foi outro momento de união, de encontros e reencontros. Venho pensando em como precisamos mais e mais de rua, de botar o bloco permanentemente nas ruas. E daí vou pra casa, me tranco e me ponho a ler e escrever isolado do mundo e até do barulho da TV do vizinho (o Corinthians deve ter ganho).

OBS.: Peço antecipadas desculpas a todos os citados, mas são vocês alguns dos culpados por gente como eu continuar viva. Sem a presença e encontros revitalizantes não sei o que seria de mim, já tão debilitado. Vocês são a força!
OBS 2: e semana que vem o Geraldo Bergamo não vai descer pra feira, pois vai estar se recuparando de cirurgia. Vamos dar um "fio condutor" nele, hem!!!

sábado, 29 de abril de 2017

FRASES DE UM LIVRO LIDO (114)


O PAPEL DOS MEMORIALISTAS – UMA CONVERSA COM O AUTOR DOS ESCRITOS ESPALHADOS SOBRE MINHA MESA

Da série: Dos encontros e desencontros da Greve Geral ontem nas ruas de Bauru e de diálogos iniciados nas ruas e terminados por aqui, no isolamento do mafuá. Percorri o trecho todo, fui e voltei várias vezes fotografando e falando com as pessoas. Conto uma história, acho que do momento quando o cortejo (olha só que definição) estava na curva, descendo a Ezequiel Ramos e adentrando a Nações Unidas. Ali, ao olhar do meu lado, o professor da Unesp, CÉLIO JOSÉ LOSNAK, DO Departamento de Ciências Humanas, Campus de Bauru. Cumprimentamo-nos e disse estar lendo exatamente neste momento um livro seu, para fechar um dos capítulos de meu mestrado e o encontro é dessas coincidências da vida. O livro é o “Polifonia Urbana – Imagens e Representações – Bauru 1950/1980” (editora Edusc, 2004, 288 páginas) e o assunto que faço questão de citar a ele ali no agito da manifestação é sobre a reação que tive ao ler sobre o PAPEL DOS MEMORIALISTAS na história dos tempos idos de Bauru.

Tinha chegado numa conclusão, a de que esses, por mais detalhistas no trabalho feito, escreviam tendo sua linha pensamento voltada para o poder dominante, possuiam certo entrelaçamento com esse. Muito perceptível esse envolvimento. Losnak riu e me perguntou se havia encontrado o que queria. Disse que sim e na sequência, ficou de me enviar links de outros escritos seus sobre o mesmo tema e mais, muito em breve voltaria a escrever sobre a História de Bauru, algo que, temos a certeza, precisa ser recontada segundo outra visão, menos apaixonada e muito menos dependente dos poderosos. O encontro foi rápido e ao cruzar com ele (e tantos outros professores unespianos), bateu uma certeza, parcela significativa da universidade pulsa o sentimento das ruas desta cidade, estado e país. Um baita alívio.

Volto no final do dia de ontem para meus escritos e ao reler a parte que havia tocado na conversa, reproduzo trechos para ampliação do debate a respeito do papel dos memorialistas retratando a história:

“Tem sido tradicional a existência desses agentes em cidades do interior do estado, com o interesse de perpetuar determinadas tradições do lugar. Em Bauru, houve e há vários deles, que coletaram e arquivaram diversos tipos de fontes, escreveram na imprensa, trabalharam em setores de órgãos públicos voltados para a memória e produziram livros reconhecidos pela sociedade local. Entretanto, é clara a vinculação ideológica entre o trabalho desses autores e as versões oficiais do passado da cidade e, também, os setores dominantes e politicamente conservadores”.

Quando li isso surtei. Não era o único a pensar da mesma maneira a respeito do que leio sobre a história de minha aldeia e, melhor que tudo, um grande educador e estudioso já havia tocado no assunto. Li mais: 
- “...buscavam definir novas identidades para a cidade, mas tendo por suporte a memória oficial”.
- “A eleição, elaboração e divulgação do projeto de cidade moderna e atualizada aos novos tempos foram possíveis por meio de vários agentes que estavam além dos grupos dominantes. A maior parte desses atores sociais era composta de trabalhadores assalariados:: memorialistas, jornalistas, editores e técnicos da área urbana, funcionários com atividades intelectuais em órgãos públicos. Embora possa ser observada a presença de profissionais liberais, eles não pertenciam ao grupo dominante (político-econômico), mas sim a uma elite intelectual afinada com os poderosos.”
- “...a classe dominante se utiliza de tais representações para dar base a visibilidade a um articulado projeto de legitimação e ação política que nega outras possibilidades. As representações e a ideologia estão presentes na elaboração de um amplo imaginário que pretende abarcar todos os segmentos sociais e todas as dimensões do humano”.

- “Toda sociedade é uma construção, uma constituição, uma criação de um mundo, de seu próprio mundo. Sua própria identidade nada mais é que esse ‘sistema de interpretação’, esse mundo que ela cria”.
- “As cidades médias e interioranas ainda são muito pouco estudadas”.


O pensamento fundamentado pelo professor Losnak me fez ter um outro direcionamento num texto ainda em fase de conclusão para meu capítulo envolvendo a história de Bauru, pois a maioria do material encontrado para contar essa história é proveniente do escrito e encontrado em arquivos, justamente escrito pelos memorialistas. Escrever de Bauru é como, numa outra passagem, o próprio Losnak ressalta, te obriga a fazer "uma retrospectiva de partes de sua vida: exercita a flânerie por meio da memória...”, ou seja, necessariamente quem é de um lugar e escreve dele, dialoga com experiências urbanas pessoais. Como não incidir no mesmo erro da maioria dos memorialistas? Eis a questão? Juntar isso tudo e apresentar algo dentro de uma concepção isenta de amarras, muito mais próxima da realidade dos fatos. Como é difícil isso. Passo parte do meu sábado enfurnado num lugar isolado e na tentativa de parir um escrito com essa visão. Losnak colocou umas minhocas a mais em minha cabeça.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

MEMÓRIA ORAL (209)


EIS ALGO DA GREVE GERAL E SUA REPERCUSSÃO EM BAURU – 5 MIL PESSOAS NAS RUAS

“Sensacional ideia! - Para quem vai comprar seus presentes do dias da mães , vai aqui uma sugestão: comprem os presentes de pequenas empresas. Da vizinha que vende por catálogo, das mulheres e mães empreendedoras, de artesãos , #ficadica! :) ), das lojas do bairro, da doceira que faz doces artesanais, do rapaz que tem uma banquinha ... Façamos o dinheiro chegar às pessoas comuns e não somente às multinacionais... Assim haverá mais gente para comemorar dias da mães . Apoiemos a nossa gente! Se acha que é uma boa proposta, copie e cole no seu mural.”, Valquíria Correa.

“Talvez, a greve não deva ser um direito. A essência da greve é causar, mesmo. Apavorar. Questionar com a ausência, com os braços cruzados. Quando ela vira um direito, fatalmente, ganha regulamentações, perdendo de fato, sua essência. (Leia novamente, por favor, antes de se precipitar em modo emotivo)”, Daniel Daiben

"Vagabundo” não é quem faz greve. É quem se nega a estudar História", Fellype Borges

“Greve é pra incomodar mesmo. Se fosse pra fazer graça, a gente se vestia de verde-amarelo , batia panela e dançava em volta de pato gigante”, Janaina Oliveira (informado por Luiz Carlos Azenha).

“Vamos fortalecendo nossas organizações e a nossa consciência de classe. não são mais possíveis reformas dentro do sistema, e a política de colaboração com a burguesia fracassou. porém, uma outra sociedade, mais do que possível, é uma necessidade”, Tauan Mateus.

“Esse governo atolado na lama da corrupção não tem moral e credibilidade para fazer qualquer reforma! Seja ela na previdência, nas leis do trabalho ou no quartinho dos empregados do Palácio do Planalto!”, Lucius de Mello

“Hoje aprendi algo: que lutarmos pelo que acreditamos torna-nos vagabundos”, Emílio Figueira

“Os manifestantes estão tirando meu direito de ir e vir, ouço. Respondo: amigo, o poder econômico tira o seu direito de ir e vir todo o dia com uma catraca dentro do ônibus, na entrada das estações de trem e metrô, com o sucateamento do transportes públicos e você não reclama”, Luis Felipe

“Vários são os derrotados de hoje. Mas a taça vai para João Doria, que pensou em matar no peito e chamou a greve para si, ao desafiar o movimento social. Não é político e nem gestor (esses em geral são mais espertos). É apenas um bobo alegre”, Gilberto Maringoni

“Ele apoiou e participou de manifestações contra Dilma e seu governo legítimo e democrático. O governo do Estado permitiu catraca livre no metrô para que as pessoas participassem e atendessem as convocações feitas pelos partidos de oposição (PSDB, DEM e outros) e pelas grandes emissoras de televisão para derrubarem o governo da presidenta e tomarem seu lugar. Até proteção policial aqueles manifestantes tiveram. Diferente da manifestações contra o golpe que foram ostensivamente reprimidas pelos governos tucanos.”, Heloisa Alves Ferreira Leal.
“Mais de 10 mil pessoas no ato de hoje A classe trabalhadora e a juventude ganharam as rua de Bauru. Várias categorias respondendo à convocação de seus Sindicatos, em com conjunto com os movimentos sociais e populares paralisaram suas atividades. Foi uma das maiores passeatas seguida de ato realizada nos últimos anos. Muita motivação, muito ânimo e vontade de lutar foi o que vimos , para derrotar Temer, o congresso Nacional e todas as reformas propostas por estas quadrilhas.”, Roque Ferreira

“Se a greve te atrapalha de alguma forma, isso apenas demonstra que estamos numa relação interpessoal, onde seus atos imbecís, como criticar a greve, ou chamar seus manifestantes de vagabundos, também atrapalham a tentativa de manutenção dos direitos sociais. E se te atrapalha, é porque está dando certo a manifestação.”, Luiz Gustavo Branco

“ Houve manifestações democráticas em minha cidade natal Jaú(SP). Para mim foi uma surpresa emocionante, me pegou de surpresa. A cidade é extremamente conservadora, reacionária. Fiquei muito feliz.”, Carlos Norberto Olisieri
“Chega de hipocrisia e manipulação ou lutamos pelos nossos direitos e seremos explorados por aqueles que nunca tiveram escrúpulos e nem compromisso com o Brasil !!”, Marcelo Cavinato
“Bauru.... Sem limites para lutar. Trabalhadores em defesa dos direitos e conquistas. Só a luta muda a vida.”, Tatiana Calmon


"O tempo enorme que está sendo despendido por instâncias de governo e noticiários de tv, para dizer que a Greve Geral foi um fracasso é um dos principais indícios de que o movimento foi forte em todo o País. Os golpistas sentiram a pancada recebida, sabem que há uma tendência de crescimento da luta contra o Golpe e, por isso, usam a manjada tática da desinformação. A hora é de partir para cima dessa direita entreguista, parasita e venal.", Geraldo Bergamo.
 

quinta-feira, 27 de abril de 2017

COMENDO PELAS BEIRADAS (39)


EXTRA EXTRA EXTRA, GOLPE POSSIBILITA ABERTURA DE NOVA FÁBRICA NA CIDADE 

UMA NOVA FÁBRICA FLORESCE EM BAURU E AMANHÃ SUA PRODUÇÃO ESTARÁ NAS RUAS, PRAÇAS, BECOS, VIELAS E NA BOCA DO POVO - VAGABAS EM AÇÃO
Ela está em plena ascensão e com, cada vez mais pessoas querendo dela participar. Trata-se do mutirão de cartazistas para engrandecer ainda mais o ato de GREVE GERAL ocorrendo amanhã no país todo e com grande movimentação em Bauru. Munidos de pincéis, guache, pilots, tintas e papéis múltiplos e variados, com "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", cada um cumpre o que lhe vai por dentro, a vontade de contribuir, dar o seu quinhão para retransformar esse país e, pelo menos fazer o que estiver ao seu alcance para devolver o mesmo num caminho dentro da normalidade. Como primeira etapa, extirpar, eliminar, dar cabo desses cruéis e insanos golpistas, predadores dos bens nacionais. Amanhã é o dia, hoje a etapa final da preparação.

Colo aqui algo criado pela verve do cantante e encantante João Biano (hoje já quase um carioca) e que, acabei completando com um algo mais, muito propício para o momento vivido, onde todos estamos sendo chamados de vagabundos. Seria vagabundagem lutar pelo restabelecimento da normalidade? Daí, seu escrito cai como uma luva para o conflitante momento, quando uns se mostram indecisos, outros com medo, tem que se esconda embaixo da cama e tem quem ainda defenda o indefensável, mas existem os que botam o bloco na rua e colocam a cara para bater, considerados vagabas por uns bestiais:

✔️Indígena: vagabundo;
✔️Sindicalista: vagabundo;
✔️Esquerdista: vagabundo;
✔️Artista: vagabundo;
✔️Grevista: vagabundo;
✔️Movimento Social: vagabundo;
✔️Feminista: vagabunda;
✔️Professor: vagabundo.
👉🏾Deixa de ser mente xerocada e venha ser vagabundo também. Prometo o seu futuro de volta!

DIA 28 FAÇA GREVE E VENHA PARA A RUA PARTICIPAR DOS ATOS CONTRA OS ATAQUES DO GOVERNO TEMER E SUA QUADRILHA.

EM BAURU: ATO UNIFICADO ÀS 9 HORAS CONCENTRAÇÃO EM FRENTE À CÂMARA MUNICIPAL!
Quer aderir à greve do dia 28 mas tem receio em ser punido no trabalho? Vá doar sangue, a lei trabalhista ainda garante o dia de folga para aqueles que realizarem essa boa ação. Colabore com a construção da #GreveGeral. #28deAbril #28A #GreveNoBrasil

E o aluno não saiu para estudar, pois sabia o professor também não tava lá

E os fiéis não saíram pra rezar, pois sabiam que o padre também não tava lá

"Como explicar a uma pessoa que vive do trabalho que não adianta ela se aliar ao discurso dos donos dos meios de produção e comunicação para se tornar um capitalista ?
Você vive no capitalismo mas não é capitalista.
Você não tem fábricas, Capital investido, não é latifundiário.
Se você faz viagem pelo CVC, tem tres carros financiados, casa com piscina comprada pela Caixa. Mesmo que se ache rico, não é rico.
Ricos são aqueles caras que você não vê
Se você defende um sistema do qual você é excluído, é apenas outro inocente útil."
, Silvio Selva

"Greve não é para gostar, é para nego ficar puto, é para dar prejuízo, parar tudo, para os caras pensarem antes de tirar os direitos !", jornalista Rodrigo Ferrari
Sem mais nada a ser dito, amanhã GREVE GERAL.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

CARTAS (173)


PIRES NA MÃO E BICO CALADO*

Texto de minha lavra e responsabilidade publicados hoje, um aqui outro ali, na Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade - Bauru SP e como 2º texto na nova edição virtual d'O Alfinete, da vizinha Pirajuí SP:

A maioria dos prefeitos de agora perdeu a liberdade de, ao menos em alguns momentos, se posicionarem contrários ao poder de mando vindo lá do Palácio dos Bandeirantes, emanado por Geraldo Alckmin, e do Palácio do Planalto, emanado pelo ilegítimo e golpista Michel Temer. Existia até bem pouco tempo algo natural dentro da política, o fato de um prefeito ser de um partido político e o governador de outro, sem que isso causasse problemas além da divergência partidária e ideológica. Mesmo com rusgas, a coisa pública prevalecia sobre as demais. Foi-se o tempo.

Vigora hoje nas hostes paulistas, ampliada com o advento da chegada do (des)governo de Temer, a institucionalização de nova modalidade transacional entre as partes. Para um prefeito conseguir algo, necessita ir de pires na mão, tanto para São Paulo quanto para Brasília, mesmo sendo da mesma linhagem política e partidária. A condição hoje é só uma: implorar para conseguir algo e, mesmo diante de urgência urgentíssima, nunca ousar demonstrar algo contrário do prescrito na cartilha do mandatário superior.

Gazzetta, o prefeito bauruense, esteve essa semana em Brasília e deve ter sentido na pele o que isso tem de mais cruel. Não existe mais cordialidade nas relações; elas, além de embrutecidas, são muito práticas, a cara dos novos tempos. "Ou você me apoia ou nem lhe atendo ou, se lhe atender, é mera questão protocolar. Tire seu cavalinho da chuva se espera receber algum tipo de ajuda para a necessidade de seu rincão se ousar discordar ou agir diferente do que lhe imponho", eis a regra primeira.

Veja como se dão as relações de Temer com os governadores. Para conseguir uma grana extra, mesmo as mais que básicas, se faz necessário entregar de bandeja lucrativas empresas estatais para privatização. Sem ela, nem conversa existe. Na bacia das almas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul já entregaram a alma ao diabo, no caso, aos vis interesses dos atuais integrantes planaltinos.

Não pensem diferir o "modus operandis" de Geraldo Alckmin. A negociação se dá nesse nível. Você aceita fechar uma escola, assumir seu passivo e, daí, penso no que posso fazer. Quanto tempo mais, por exemplo, nosso DAE resistirá? Cito caso bem recente ocorrido em Bauru. A falta de medicamentos nos postos de saúde da cidade está pela hora da morte e o menos culpado por isso é o município. Os programas são estadual e federal, porém, os prefeitos preferem engolir em seco, assumem para si culpa e tocam o barco com o que tem, pois se reclamarem e explicitarem a culpa a quem de direito, correm o imenso risco de perder o pouco ainda recebido e, daí sim, o caldo entornará. Nem dialogar podem mais, quanto mais denunciar.

Não existe mais periodicidade para nada, certeza então, nem pensar. Cortes são rotineiros e que se virem, levantando as mãos para o céu pelo ainda recebido. Contam com o acaso e com o quesito da boa vontade. Os tempos são outros e isso é só a ponta do iceberg do estado de exceção adentrando as quatro linhas do campo e jogando cada vez mais um bolão. Hip hip hurra, não era isso que queriam? Não queriam mudança? Ei-la, sem tirar nem pôr.

terça-feira, 25 de abril de 2017

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (98)


BRASILEIROS RICOS SE MUDAM PARA LISBOA
Portugal se tornou a “meca para um mundo em crise”. É o que afirma a manchete e o texto de matéria publicada no Jornal da Cidade (www.jcnet.com.br), edição de ontem, segunda, 24/04/2017. Aparentemente, tudo parece lindo e os abastados brasileiros indo para lá de mala e cuia, mais por causas das tais facilidades, principalmente as da língua e da estabilidade existente naquele país. Hoje, segundo o que leio, já seriam 85 mil brasileiros com residência regular naquele país.

Só que nem tudo são flores nessa debandada. No caso brasileiro, as flores murcharam de vez com o advento do golpe institucional, quando assume o poder o ilegítimo presidente Michel Temer, também assumido golpista. A partir esse novo cenário, o país deixou de ter um Governo realmente autônomo, independente e, principalmente, perdeu sua soberania. O enfraquecimento foi sentido de cara no cenário internacional e no interno, a catástrofe é sentida a cada no ato promovido pelo já denominado (des)Governo. Não existe mais como contemporizar com esses, pois a destruição do país se faz presente em todos seus atos, um após o outro, no sentido de passar a borracha em algo consolidado ao longo de décadas. A economia está em frangalhos e as relações institucionais só pioram. Até o Judiciário, um dos últimos bastiões de credibilidade, perdeu de vez a sua e isso é sentido no desanimo com que a população os encara. O menor índice de aceitação de um Governo nas últimas décadas é o do atual. Pior impossível.

E como reage a população? Cada um ao seu jeito. A matéria não esclarece o principal motivo dessa debandada dos ricos brasileiros do país. Rico, em primeiro lugar, nunca foi bobo. A maioria explora o pobre, mas gosta de viver num lugar saudável, edificante e coisa e tal. Ajudaram a dar o golpe, mas hoje, com a ficha caindo pela besteira feita, muitos continuam usufruindo das benesses, mas preferem bater em retirada e tocar suas vidas em outras paragens. Quem pode faz isso? O rico faz descaradamente. Mas existem outros indo pelo mesmo caminho. Cito uma história de um casal, longe de ser considerados ricos e acabam de fazer o mesmo caminho, o de ir morar em Portugal.

Um casal de amigos carioca, ela aposentada do Governo do Estado e ele em vias de se aposentar de função no Governo Federal, acabam de se casar em Portugal na semana passada e fizeram por motivos outros. Ele, perseguido em seu local de trabalho por se opor aos golpistas, sofre perseguição e está tendo que antecipar sua aposentadoria, mas como possui cidadania portuguesa, moram juntos há anos, foram se casar na terra dos seus patrícios. Ela vai buscar a cidadania na convivência e moradia por lá. E por que escolheram Portugal? Sempre foram muito atuantes na política daqui, mas se desencantaram com o atual rumo das coisas e, reunindo forças partiram para um lugar mais palatável. Pensam que o povo brasileiro em sua imensa maioria está feliz diante do que vê ocorrendo à sua volta? Evidente que não, mas como não tem outra saída, resistem ao seu modo e jeito.

Conheço outro, um ferroviário aposentado que, cansado das bestialidades reinantes por aqui, conheceu o Uruguai, viu como podia transferir sua aposentadoria e receber seu soldo por lá, via Banco do Brasil, vendeu sua casa aqui e foi-se enquanto ainda lhe resta um tempo de vida saudável. Não é o fato em sair, de desistir do país, mas de não suportar novamente um regime perverso para com o povo. Quem enfrentou resistindo ao Golpe Militar de 64 sabe disso muito bem e, alguns desses, até pela idade, perderam a disposição de ter que enfrentar novamente algo similar. Tudo começa com essa onda de moralismo e fascismo já dobrando a esquina e atingindo a tudo e todos.

Eu mesmo, só não vou agora mesmo para Pasargada, por tres motivos. Primeiro, por não conhecer o caminho, depois por não ser amigo do rei e depois, pois ainda acreditar que algo ainda precisa ser tentado a mais nos próximos passos por essas plagas. Tenho um filho terminando a universidade (e o que será dele diante desse país tão bestificado?), uma esposa com anos de labuta antes da tão sonhada aposentadoria e eu, mesmo com 56 anos, ainda não conseguindo ter vencido na vida. Do contrário, ah, do contrário, flanaria primeiro pelo que ainda resta de América Latina livre e depois encontraria um cantinho bem distante da bestialidade e do medo coletivo que vejo reinar no meu país.

Portugal é só um dos lugares palatáveis pela aí...

segunda-feira, 24 de abril de 2017

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (102)


PRIVILÉGIOS – AEROCLUBE E PANELA DE PRESSÃO
O mundo capitalista, até as pedras do reino mineral o sabem, é dos e para os espertos. E neste sistema econômico vigente hoje no Brasil e em boa parte do mundo, ser esperto faz parte do negócio. Não me canso de repetir ser o mundo de hoje o paraíso de uns poucos tirando proveitos nos costados da imensa maioria. Como pode dar certo isto? Não dá, mas é assim que se dão as coisas. Cito abaixo dois casos de privilégios em plena vigência na terra “sem limites” bauruense:

PRIVILÉGIO 1 – O Aeroclube de Bauru é uma área pública, das mais valorizadas para o mercado imobiliário local, hoje tombada pelo CODEPAC (este hoje adormecido em berço esplêndido, sob patrocínio do poder público municipal) e ali um bucólico aeroporto, nos moldes dos de antigamente. Virou o paraíso dos proprietários de pequenas aeronaves na cidade e região. A edificação é pública, mas administração é privada e daí cobrar aluguel dos hangares é algo natural. Fazem por lá uso e uma espécie de usucapião. Assim como também é algo mais do que natural encher todo o muro lateral da avenida Getúlio Vargas, ladeando a pista, com anúncios variados e múltiplos. Faz-se de tudo por aquelas bandas sem prestar nenhum tipo de conta para o dono da porcada. Hoje, o grande problema a revoltar todos os que lucram com o edificante negócio (da China, diria!) é a propositura de ocorrer uma licitação para, por exemplo, compra de combustível. Pelo que sei, o coronel a comandar a EMDURB, o Eclair ameaça mexer neste vespeiro. Não encontra só resistências, mas um declarado “motim”. Não entendem como alguém com seu currículo, pode querer fazer algo tão injusto para um negócio tão bem ajustado. “Pra que mexer em time que está ganhando? Para que revolver problemas do passado, enfim, águas passadas não movem moinhos? Está tudo correndo tão bem e agora vem esse cara cutucar quem está quieto”, eis como lhe cobram. Deixar como está ou comprar uma briga com alguns das “forças vivas” desta cidade? Eis a sina do coronel presidente da EMDURB.

PRIVILÉGIO 2 – A Panela de Pressão é um ginásio patrimônio noroestino e alugado para a Prefeitura Municipal por R$ 28 mil mês, tudo para favorecer duas equipes de grande rendimento no esporte nacional, com empresários bauruenses por detrás de cada uma e aqui mandando seus jogos, os de basquete e vôlei. Ambas disputam os mais importantes torneios nacionais em suas categorias e por detrás de cada uma, empresas, auferindo lucros com o auspicioso negócio. A cidade ganha com os jogos, os times formaram torcidas, os empresários lucram e a Prefeitura entra com o que pode fazer dentro de suas limitações. Tudo certo, até o exato momento em que, malditas goteiras interrompem uma partida de basquete transmitida ao vivo pela TV e para todo o país. O Noroeste, como se sabe, é o primo pobre neste imbróglio e dele não conseguirão a necessária reforma do teto. Simples, faça-se pressão sob quem já paga o aluguel, para que esse providencie a reforma e a toque de caixa, pois na próxima sexta já teremos mais um jogão aqui na cidade. Veladas ameaças são desferidas: “Oferecemos o melhor para cidade e em troca recebemos um ginásio meia boca”. Simplifico tudo. Eu monto o meu auspicioso negócio e conto com a ajuda externa, neste caso, do poder público, do contrário, irei à busca de quem assim o faça. A pergunta que não quer calar: tenho um time lucrativo, disputo torneios de ponta, não possuo ginásio para as partidas, ganho um praticamente de presente e reclamo por não estar nos trinques, do contrário, ameaço arredar pé. Promover, os dois times, em franca união de interesses, a tal reforma, nem pensar, né? Adoro explícitas demonstrações do “venha a nós, nunca ao vosso reino”.

domingo, 23 de abril de 2017

UM LUGAR POR AÍ (94)


ATO PELA REABERTURA DA ESCOLA ESTADUAL FRANCISCO ALVES BRIZOLA!!!
A RESISTÊNCIA É FEITA NAS RUAS!!!!
Um abraço no Brizola e repúdio a ação do Governo Estadual, com repetidas ações de desmonte da estrutura educacional paulista. Mais do que perceptível isso, o descaso e uma clara tentativa de ir desmontando toda uma estrutura educacional.

Foi hoje, às 10h, lá defronte a Escola Estadual Francisco Alves Brizola, no Geisel. Sou convidado pela antiga aluna e professora, ex-moradora da região (hoje dá aulas e reside em Pederneiras), a Silvia Carlos Lopes e repassei convite e todos os interessados nos destinos da Educação quando capitaneada pelo atual Governo Estadual, sob as ordens do desmobilizador Geraldo Alckmin.

No facebook da mesma algo mais do convite:
"Hoje é dia de luta para aqueles que ainda acreditam num mundo melhor. Minha imagem de bom dia é a bandeira da E. E. Francisco Alves Brizola, a escola em que eu estudei e vivi os melhores dias da minha vida e que fez a diferença na vida de muitos. Hoje ela encontra-se fechada, largada, humilhada, mas nós, "seus frutos" vamos deixa-la em pé novamente e que ela volte a ser o Brizolão, a que marca/ou a vida de muitos. Bom dia, mas bom dia mesmo! Silvia Carla".

No JC algo mais do evento:
http://m.jcnet.com.br/…/em-protesto-exalunos-promovem-abrac…

Abaixo depoimento de uma ex-professora:
Mainini, ex-diretor
“Amo esta escola, dei aula ali e fui muito feliz. Tinha uma equipe de professores nota 1000, e quem não conheci podia até falar mal, mas quando entrava ali as coisas eram diferente. Tinha problemas como toda a escola tem, mas o que faltava nos alunos era amor e quando conseguimos transmitir isso para eles , era tudo de bom. Fico muito triste e com o coração partido, sempre dizia , que foi o lugar que aprendi a ser professora,. Trabalhei com SR Aparecido e o Marcelo ,e toda a equipe é uma pena mesmo.”, Renata Santin

No final do dia, a boa repercussão: Foram mais de 200 pessoas dando o abraço na escola e numa das fotos, o primeiro diretor, professor Mainini, também presente. Os próximos passos subsequentes serão fazer um BO e dar entrada num processo no Ministério Público. Isso tudo fundamentado por ex-alunos hoje advogados.

Uma luta sendo iniciado junto de tantas outras na mesma situação no estado dito como o mais rico e importante da Federação.

Nas fotos algo mais...

sábado, 22 de abril de 2017

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (141)


FRAGMENTAÇÃO DA VIDA SOCIAL – A RELIGIÃO INVADINDO SUA PRIVACIDADE

Li dias atrás um belo conceito dessa fragmentação social dos tempos atuais na revista Caros Amigos, entrevista com o sociólogo Sergio Adorno. Era mais ou menos isso. O mundo do trabalho como até então conhecíamos e era praticado, isso já se escafedeu e daqui por diante, prevalece o “deus nos acuda”, ou seja, um “salve-se quem puder”. A precarização foi oficializada e o mundo do trabalho se esvai. Com ele, a insegurança e tudo o mais. Junto dessa insegurança toda, começam a pipocar aqui e ali os salvadores do mundo. Os que enxergando tudo sob a sua visão, querem moldar todos os demais segundo a sua linha de pensamento.

Quem mais atua nesse sentido são segmentos religiosos. Tem seita para tudo quanto é gosto e sabor. Prometem mundos e fundos, tudo no campo do imaginário, do se você seguir a risca os preceitos ditados por eles chegará lá. Verdadeira aberração. Crescem desmedidamente, pois até hoje não vi nenhum governo barrar a explícita sacanagem com os incautos. De incauto, denomino todos os inseguros neste momento, pois fragilizados, estão mais propensos a cair em armadilhas. O que se vê são portinhas se abrindo a cada esquina e com isso, um acirramento competitivo entre eles. Cada um prometendo mais que o outro, tudo para conseguir o cliente, ops, digo, fiel. Apelam e a cada dia aumentam a intensidade da aproximação.


O sociólogo Adorno conta uma história e ela merece ser aqui transcrita: “Eu moro em um prédio e um dia um vizinho que eu nem conheço me liga e me chamando para ler a Bíblia. Eu fiquei chocado, é um bairro classe média, não vou dizer alta, Perdizes. Então você começa a se perguntar: nós estamos vivendo em um mundo onde também se perdeu o respeito à liberdade do outro. Você tem que se salvar, tem que salvar o outro. Então, você tem um mundo no qual você tem missões e essas missões tem que ser concretizadas. É cruzada. E cruzada é fonte de fascismo. Quando você acha que os seus valores estão certos e os outros estão errados, você acha que tem que partir da ideias para a ação e, portanto, você tem que expandir o seu universo de adeptos. Nós estamos em uma sociedade com traços fascistas bastante acentuados”.

Concordo em gênero, numero e grau e conto algo aqui do lugar onde moro. Tempos atrás uma vizinha nova chegou por aqui. Logo de cara deu para saber que não seguia a religião dela, aliás, não sigo nenhuma. Eu sempre respeito o semelhante e ouvia sua cantilena todo dia. Vinha em casa e me pedia para imprimir seus estudos bíblicos e se insinuava para comigo: “Deu uma lida no que imprimiu? Não quer saber mais a respeito? Quer conversar sobre isso?”. Respeitosamente me esquivava, não queria ser deselegante. Tudo seguia com essa anormalidade mais do que instalada até o dia em que marcou uma reunião de seu grupo em meu quintal e sem ao menos me comunicar. Cheguei e a coisa estava se consumando. Pedi a palavra e educadamente disse algo bem simples: “Sou umbandista declarado. Se continuarem com isso, me acho no direito de todos baterem tambor comigo ao final. Será uma troca”. Ela arregalou os olhos e tentou desdizer, com aquilo a encher o saco de todos: “Mas isso é coisa do diabo”. Foi o bastante para melar tudo, perdi a compostura. Não passou nem um mês, ela se mudou. 
Foi pregar em outro terreiro.
Falta muito pouco para isso...


Já que o negócio é contar história religiosa, conto outra, essa amena. Tinha uma vizinha divinal por aqui, perto dos 90 anos (ainda viva e bem de saúde). Conversávamos sempre no portão e quando passava diante de sua casa. Sabia ser ela muito religiosa, católica praticante da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, conhecia meus pais, enfim, me conhecia desde criança. Certo dia, me vendo com essa barba branca, já meio arcado, andando lentamente, chegou perto e me fez um convite: “Faz tempo que quero lhe falar uma coisa. Você sabe, estou velha, cansada e atuo na igreja junto ao grupo de organização da Terceira Idade, com reuniões toda semana, grupo grande. Te vejo sempre escrevendo, fala bem e acho que seria a pessoa ideal para dar prosseguimento ao que faço. Não quer assumir a coordenação desse grupo?”. Educadamente recusei e no caso dela, houve compreensão mútua, nunca mais tocou no assunto. Já os demais, você renega e eles insistem, querem te salvar (do que, hem?) a qualquer custo e para tanto invadem sua privacidade.

Obs.: Aray e Anaí Nabuco, a Caros Amigos está ótima, como sempre, e com o novo formato, melhor ainda.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

DIÁRIO DE CUBA (85)


NECESSIDADE DE RECARREGAR ENERGIAS – ARTHUR VAI PARA CUBA*
* Escrever de Cuba é um alento diante de tudo o que temos aqui pela frente nesses tempos destrutivos e sombrios. O faço tão alegre, de uma só vez, sem correções, do jeito que as coisas estão guardadas dentro de mim e prontas para serem colocadas pra fora. Pronto, despejei...

Dia desses vi aqui pelas redes sociais um foto que muito me entristeceu. Meu caro amigo, o advogado e militante social, Arthur Monteiro Junior estava hospitalizado. É sempre muito triste ver a fisionomia de quem está com a saúde debilitada. Eu mesmo, com a minha pela hora da morte, penso logo nas consequências todas de uma vida desregrada (não a dele, mas a minha) e sei que hospital, não é lá um lugar dos mais seguros para tratamentos variados e múltiplos. Sou adepto do que fez um dia bem lá atrás, o grande Darcy Ribeiro, que ciente de que sua cura não seria mais possível, fugiu do hospital e foi viver seus últimos dias ao sabor do vento. Mas o Arthur é novo e, sabíamos todos que, mais dia menos dia estaria de volta ao nosso convívio. E está. De lá para cá não tive mais notícia dele.

Nessa semana um amigo me diz ter se encontrado com ele pelas quebradas do mundaréu e a alvissareira notícia: “Domingo próximo ele embarca para Cuba. Vai participar de mais uma Brigada Cubana”. De imediato, a alegria pelo seu pronto restabelecimento, depois, outra alegria, também incontida, a de vê-lo participar de mais uma Brigada Anual, o encontro de gente do mundo todo para juntos, estudar, praticar decência, ajudar Cuba e ser mais humanos a cada reencontro. Se me perguntarem sobre um sonho de consumo, não me verão dizendo que desejo conhecer o coração do mundo capitalista, mas somente ter o prazer de voltar mais algumas vezes para Cuba (fui uma e quero fazê-lo em outras tantas). Conhecer a vivência possibilitada por uma Brigada deve algo indescritível para uma vida humana enfronhada dentro dessa concepção capitalista.

No post que leio do Arthur só isso: “Mala pronta. É hora de rever Cuba! "Havana-me / Não esqueço teu povo em momento algum / Havana-me / Bota uma cubalibre, limão e sal / Quero ouvir teu som caribenho / Teu par ainda é o Brasil, havana-me/ Havana-me / Acho mesmo que temos muito em comum / Cubana-me / É o povo, é a pele, esse batecum / Cubana-me / Me ‘havana’ de amor num abraço igual / Irmana-me / Mostra que nossa raça é sentimental, havana-me" (Joyce e Paulo César Pinheiro”.

Não precisa mais nada. Mas, alguns incautos ainda podem torcer o nariz e querer perguntar: Mas por que Cuba? Simples e é na simplicidade das respostas e das coisas que quero continuar vivendo o tempo que me resta aqui neste mundo. Não me canso de repetir: como não acredito em outra vida, tenho que aproveitar ao máximo desta. E aproveitar é não só deixar seu corpo a deriva, como venho fazendo, mas tentar leva-lo para lugares considerados paraísos terrestres. Cuba, para mim, um desses. O encanto de Cuba vem em primeiro lugar por mostrar a toda uma legião de sonhadores que, outro mundo é mais do que possível. Os cubanos ousaram e estão levando adiante uma experiência única neste planeta. Não quero saber das imperfeições e erros, pois nós os cometemos muito mais e sim, quero enaltecer das maravilhas de buscar algo diferente do trivial. E mais que isso, conseguirem, ao seu modo e jeito.

Por esses dias aqui em Bauru um juiz de Direito está com exposição aberta lá na galeria, hall de entrada da FM 94 e com fotos feitas após sua visita à ilha. Ainda não fui visitar, daí não posso escrever tudo o que penso do que já o ouvi falando daquele país. Em primeiro lugar, percebo que suas fotos são muito boas, tiradas com maquinetas do último tipo, aquelas que tirão água de pedra, mas isso só não basta.
Quem for pra Cuba e buscar com seus olhos encontrar a pobreza a verá e se o fizer centrado nisso, nem perceberá o que de melhor eles possuem. Ir com ideias preconcebidas é um saco, pois as conclusões são sempre as mesmas. Tenho o que saiu de suas impressões aqui e as comentarei melhor após minha ida pessoalmente. Eu sempre, ressalto sempre, vejo Cuba e os cubanos com meus olhos ainda libertários, os de quem ousou e conseguiu se contrapor ao Grande Irmão do Norte e debaixo de suas barbas. Passei trinta dias entre eles e são as melhores recordações que posso ter de um país e de um povo. Não me venham falar da pobreza cubana, pois isso é pífio argumento diante de tudo o mais por lá.

Arthur é um sortudo, desses que, dá muito duro o ano todo, mas não abre mão de algo bem simples, o de juntar sua graninha e ir todo ano para Cuba. Descarregar a carga juntada aqui neste país, hoje dominado pelo que de pior temos na classe política é mais do que necessário. E depois, o algo mais, o que lhe dá forças para continuar na lida no restante do ano por aqui: renovar a bateria e vir com ela recarregada. Ficaria horas aqui falando de Cuba, mas tenho outras coisas para fazer. Meu baita abracito para o Arthur e a certeza de continuar sonhando em retornar para a ilha, paraíso terrestre nesses tempos onde o neoliberalismo quer impor suas condições. Todos nós, os sonhadores, estamos um pouco contigo nessa viagem, meu caro.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

ALFINETADA (155)


TEXTOS DO HPA PUBLICADOS N'O ALFINETE DE PIRAJUÍ – JULHO 2005, O FALECIMENTO DE MARCELO PAVANATO E MEU RETORNO, AGORA NA EDIÇÃO VIRTUAL*
*Mais uma batelada de textos meus publicados no começo de 2015 n’O Alfinete – Pica mas não fere! No primeiro deles, algo da morte de Marcelo Pavanato, ocorrida no mês de junho de 2005. E lá se vão mais de doze anos. Hoje, recomeço o envio de textos semanais para publicação no até então semanário de Pirajuí, porém, não mais pela via impressa e sim, somente, pela via virtual. Alex Rodrigues Palopoli, atual diretor, recepcionará toda quarta e publicará no www.oalfinete.com um texto de minha lavra e responsabilidade. O primeiro segue abaixo e, logo a seguir, os de 2005. Espero que gostem.

O QUE MUDOU?
Ano passado vicejou por todas as cidades aqui da região algo inflamado pela mídia: a de que, o Governo de dona Dilma Rousseff era o pior que podíamos ter, antro de corrupção e de desmandos. A TV, rádios e jornais despejaram diariamente algo pernicioso sobre os petistas e (quase) todos acreditaram piamente no que viam, ouviam ou liam sem pestanejar. Imensas manifestações ocorreram país afora e também em todas as cidades, de Bauru, Pirajuí e mesmo menores, como Reginópolis. O que mais se via eram adeptos para seguir cegamente o que profetizava aquele tal de “pato amarelo”, criação da FIESP para incutir nas massas estarmos no pior dos mundos. A maioria caiu como patinhos, endossou o golpe e deu no que deu.

Claro, só podia dar em algo, fomos todos ludibriados, glamourosamente enganados. Digam-me com toda a sinceridade deste mundo: Alguma coisa mudou para melhor desde então? Michel Temer e os seus deram o golpe, assumiram o poder e tudo só piorou. O desemprego aumentou, as leis trabalhistas estão se evaporando, as liberdade democráticas se esvaem no ralo, a Judiciário comete seguidas irregularidades nunca vistas até então e até a Polícia Federal vai na valsa e segue os prescrito pelos atuais donos do poder. “Tá tudo dominado”, não se cansa de repetir um vereador aqui de Bauru. Agora, mais do que nunca.

Toda aquela movimentação feita para retirar de forma vil Dilma do poder hoje não mais ocorre, mesmo a sacanagem tendo atingido índices estratosféricos com o nível corruptivo desse um ano de (des)Governo Temer. Cadê o povo pedindo e clamando pelo fim da corrupção? Se ela só aumentou, por que não o fazem mais? Seriam todos teleguiados pela TV Globo e como ela é golpista e defende o que aí está, calada fica e os que a seguem fazem o mesmo? Algo para se pensar. Por fim, a pergunta a envergonhar a nação: Foi para isso que estiveram nas ruas?

Digo o que mudou. Muito simples. A indiferença de gente acovardada, medrosa e se escondendo até envergonhadas pelo triste papel cumprido. Para muitos a ficha já caiu e estão cientes da besteira feita. Se ruim estava com Dilma, a que menos culpa tem nessa balbúdia toda, hoje tudo piorado e nem reclamar já podem, pois grassa o medo. O sujeito hoje tem medo de perder o emprego, de ser cerceado no que ainda lhe resta de assistência, de ser perseguido pelos atuais donos do poder, tanto locais como estaduais e federais. Incautos e bobalhões ainda conseguem querer culpabilizar Lula e Dilma pelo atual estado de coisas, mas devem morrer de vergonha, pois já faz um ano que esses estão fora do poder e tudo só piora. Piorará. Reconhecer ao menos isso é salutar para combater o que está em curso e o que ainda virá de ruim sob nossos costados.

HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO – jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.com.br).


Edição 329 – VAZIO (pelo falecimento de Marcelo Pavanato) – 25.06.2005
Edição 330 – nº 254 – Templo do consumismo desenfreado – 09.07.2005
Edição 331 – nº 255 – Assunto do momento e o momento do PT – 16.07.2005
Edição 332 –nº 256 – Pirajuí e os Tempos de Chumbo – 23.07.2005
Edição 333 – nº 257 – Algumas coisinhas sobre os últimos acontecimentos... – 30.07.2005