quarta-feira, 26 de abril de 2017

CARTAS (173)


PIRES NA MÃO E BICO CALADO*

Texto de minha lavra e responsabilidade publicados hoje, um aqui outro ali, na Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade - Bauru SP e como 2º texto na nova edição virtual d'O Alfinete, da vizinha Pirajuí SP:

A maioria dos prefeitos de agora perdeu a liberdade de, ao menos em alguns momentos, se posicionarem contrários ao poder de mando vindo lá do Palácio dos Bandeirantes, emanado por Geraldo Alckmin, e do Palácio do Planalto, emanado pelo ilegítimo e golpista Michel Temer. Existia até bem pouco tempo algo natural dentro da política, o fato de um prefeito ser de um partido político e o governador de outro, sem que isso causasse problemas além da divergência partidária e ideológica. Mesmo com rusgas, a coisa pública prevalecia sobre as demais. Foi-se o tempo.

Vigora hoje nas hostes paulistas, ampliada com o advento da chegada do (des)governo de Temer, a institucionalização de nova modalidade transacional entre as partes. Para um prefeito conseguir algo, necessita ir de pires na mão, tanto para São Paulo quanto para Brasília, mesmo sendo da mesma linhagem política e partidária. A condição hoje é só uma: implorar para conseguir algo e, mesmo diante de urgência urgentíssima, nunca ousar demonstrar algo contrário do prescrito na cartilha do mandatário superior.

Gazzetta, o prefeito bauruense, esteve essa semana em Brasília e deve ter sentido na pele o que isso tem de mais cruel. Não existe mais cordialidade nas relações; elas, além de embrutecidas, são muito práticas, a cara dos novos tempos. "Ou você me apoia ou nem lhe atendo ou, se lhe atender, é mera questão protocolar. Tire seu cavalinho da chuva se espera receber algum tipo de ajuda para a necessidade de seu rincão se ousar discordar ou agir diferente do que lhe imponho", eis a regra primeira.

Veja como se dão as relações de Temer com os governadores. Para conseguir uma grana extra, mesmo as mais que básicas, se faz necessário entregar de bandeja lucrativas empresas estatais para privatização. Sem ela, nem conversa existe. Na bacia das almas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul já entregaram a alma ao diabo, no caso, aos vis interesses dos atuais integrantes planaltinos.

Não pensem diferir o "modus operandis" de Geraldo Alckmin. A negociação se dá nesse nível. Você aceita fechar uma escola, assumir seu passivo e, daí, penso no que posso fazer. Quanto tempo mais, por exemplo, nosso DAE resistirá? Cito caso bem recente ocorrido em Bauru. A falta de medicamentos nos postos de saúde da cidade está pela hora da morte e o menos culpado por isso é o município. Os programas são estadual e federal, porém, os prefeitos preferem engolir em seco, assumem para si culpa e tocam o barco com o que tem, pois se reclamarem e explicitarem a culpa a quem de direito, correm o imenso risco de perder o pouco ainda recebido e, daí sim, o caldo entornará. Nem dialogar podem mais, quanto mais denunciar.

Não existe mais periodicidade para nada, certeza então, nem pensar. Cortes são rotineiros e que se virem, levantando as mãos para o céu pelo ainda recebido. Contam com o acaso e com o quesito da boa vontade. Os tempos são outros e isso é só a ponta do iceberg do estado de exceção adentrando as quatro linhas do campo e jogando cada vez mais um bolão. Hip hip hurra, não era isso que queriam? Não queriam mudança? Ei-la, sem tirar nem pôr.

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