O TORTO, LEMBRANÇAS DE CURITIBA E UM QUASE RETORNO
Domingo é dia de divagar. Conto aqui estar numa séria conversação com o amigo bauruense e residindo em Curitiba há algumas décadas, o libanês KIZAHY BARACAT NETO. Ele, que um dia se foi daqui, se instalando lá em Curitiba, tempos bem antes dessa nhaca de Lava Jato e desses Ratinhos tomarem conta da cidade e do estado por inteiro. Eu também já perambulei muito por lá. O motivo era para vender minhas chancelas, semana sim, semana não. Ótimas recordações, tempos mais palatáveis. Depois fui voltando com menor frequência. Só para visitar o acampamento lá defronte a Polícia Federal, onde encarceraram de forma vil o ex-presieente Lula devo ter ido cinco vezes. Em todas, revi o Kizahy e sempre mais que acolhedor. Noutra fui com Ana Bia e a sogra, dona Darcy, quando nos arrumou uma cadeira de rodas e a empurrei por toda cidade. Agora, digo da vontade de rever a cidade, lugares e cido o Bar do Torto. Ele, danado como sempre, para ma provocar ainda mais, envia foto do lugar. Deve ter passado lá em frente e sacou do celular, registrando a esquina.
Em quase todas idas e vindas, ele me apresentou lugares inesquecíveis. Sabe lá o que é ir assistir a um jogo do Paraná Clube, ali naquele estádio atrás do terminal rodoviário, o vila Capanema, numa tarde fria de Curitiba? Sim, fui e depois, nos aquecemos num lugar mostrado a mim por ele, o próprio, o Bar do Torto. Este botequim tem pouco espaço físico e a maioria do público permanece na calçada. O nome se deve a uma homenagem pra Mané Garrincha. Isso mesmo, em Curitiba, tem um botequim versando sobre o maravilhamento do homem das pernas tortas. Bebi algumas por ali e agora, eu e ele nas conversações, digo ter vontade de rever a cidade. Ele oferece seus aposentos para mim poder descansar os ossos depois da boa andada que quero fazer. Quero ir ainda em maio, ir num dia, chegar bem cedo pela Princesa do Norte, passar o dia inteiro gastando sola de sapato e à noitinha, ir com ele no Torto, depois em sua casa, numa encosta divinal, com macaquinhos na varanda. No outro dia retomo as andanças, almoçamos juntos num bar pé sujo que não me sai da cabeça e volto à noite, 22h, chegando em Bauru no outro dia cedo.
Isso para mim é recarregar energias. O Torto é só um dos tantos lugares onde quero ir. Tenho tantas lembranças de lá. Muitos sebos, livrarias, centros culturais, lugares onde a resistência se faz presente, cantos ainda resistindo a essa atroz invasão direitista insana de doentes da cabeça. Vez ou outra preciso disso, de sair um pouco da rotina diária, espairecer, pirocar vendo ou revendo algo pelo qual, tenho saudade. Hoje, as pernas já não estão lá essas coisas, mas ainda aguentam dois dias de longas caminhadas pela aí. Tomara dê tudo certo. Do amigo, com seus dois filhos agora residindo em Sampa, casão vazio, me disse quando demonstrei a vontade de por lá aportar: "Venha". Creio, não vou resistir. Evidentemente, passarei pelo Bar do Torto.
Impossível você não trombar com muitas pessoas, dessas que não vê há muito tempo ou mesmo conhece só por ouvir dizer ou pelas postagens pelas redes sociais, por tudo o que é possibilitado aos frequentadores da nossa Feira do Rolo, o Mercado de Pulgas bauruense, dito e visto por mim, como o lugar mais democrático da cidade. Em cada domingo, uma imensidão de possibilidades, daí, ao acordar, não existe outra alternativa, é ir ou ir. Sempre acabo indo e nunca me arrependo.
Desta feita foram vários os encontros. Conto um deles aqui. Ludmilla Voigt é pedagoga, professora de História e Geografia. Não a conhecia pessoalmente, mas acompanho suas postagens e, principalmente, o que ouço de uma turma de ex-alunos lá de Arealva, onde ministra aulas junto à escolas estaduais. É também frequentadora de um dos locais considerados não só como point da cidade, mas reduto daqueles em busca de aprazíveis locais junto da natureza. A Cachoeira Babalim, ali em Ribeirão Bonito tem um apelo neste sentido, além de manter do lado de fora da água, um museu com quinquilharias, inusitada reunião de tudo o que suas proprietárias, mãe e filha, foram juntando ao longo da vida. Estive por lá algumas vezes, entrevistei as duas quando realizei o documentário Arealva - Cidade das Águas e depois, vi que Ludmilla também gosta muito do lugar.
Nos tornamos amigos pelo Facebook e desta forma, passei a seguí-la e ela a me ler vez ou outra. Como ambos somos historiadores, muita coisa em comum. Na confluência de interesses, isso de dcomo ir ainda conseguindo fazer com que essa nova geração se interesse por estudar História. Para isso, vale até nossas postagens por aqui, instigando o lado de lá a perceber que o professor de História/Geografia é acima detudo, uma pessoa tão normal como todos eles. Fazemos o que que podemos e vez ou outra, depois de se conhecer pelas redes sociais, acaba-se trombando presencialmente. Desta forma, conheci hoje a professora Ludmilla e seu marido, ambos, como eu, fuçando livros na Banca do Carioca.
Essa banca é mesmo iluminada e por ali, impossível não acabar cruzando pessoas como nós, amantes de livros, leitura e de conhecer gente com essa mesma concepção humanitária de tocar a vida. Ela olhou para mim, do outro lado da banca, eu pra ela e sabíamos nos conhecer. Partimos para o cumprimento e tiramos fotos. Eu faço uma dela com o marido e depois ele tira uma minha com ela. Dizem ter me visto dias atrás bebericando algo no Bar do Shel, bem atrás do SESI da Duque, pois moram ali pertinho, quase ao lado do Bar da Nelma. Isso deve ser complicado, pois morar ao lado de dois bares, primeiro não sabendo em qual sentar e jogar conversa fora, depois como permanecer dentro de casa, ouvindo o burburinho do lado de fora.
Não deu pra conversar quase nada, mas o que vale nestes momentos é reconhecer e validar o fato de estarmos todos na lida e luta, dispostos a construir algo, desbravando esse mundão e quando possível, trombando pela aí. Ludmilla era uma dessas tantas amigas propiciadas pelo Facebook, mas não a conhecia pessoalmente e agora, já conheço. Qualquer dia sentamos todos no mesmo bar e damos prosseguimento a essa interminável conversa que é a vida.