segunda-feira, 14 de outubro de 2024

FRASES (250)


EM BRUZUNDANGAS TUDO É POSSÍVEL, EM BAURU NÃO, POIS AQUI NÃO É TERRITÓRIO DE FICÇÃO*
* Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 
“A política não é uma grande cogitação de guiar os nossos destinos; porém, uma vulgar especulação de cargos e propinas” (trecho de Os Bruzundangas).

Bruzundangas é um país hipotético descrito por um brasileiro e que possui todos os problemas do Brasil. Lá ocorre o nepotismo desenfreado, há privilégios e favorecimentos aos políticos, a saúde e a educação são tratadas em segundo plano, num conjunto de mazelas que, publicadas após a morte do escritor Lima Barreto, em 1923, mantém uma terrível atualidade. Tal qual sua obra-prima O triste fim de Policarpo Quaresma (1911), este livro enquadra-se naquilo que Lima Barreto qualificou de "literatura militante", cuja missão era "fazer comunicar umas almas com as outras (...) reforçando deste modo a solidariedade humana, tornando os homens mais capazes para a conquista do planeta e se entenderem melhor, no único intuito de sua felicidade". Tudo com o estilo e o humor que o colocam entre os gigantes da nossa literatura. Até o mordaz bloco burlesco, farsesco e algumas vezes carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto já se utilizou de Bruzundangas para, num momento, desdizer das mazelas bauruenses. Foi no ano de 2018, com o enredo "Na cidade dos Bruzundangas: De bordel a quartel, em cada esquina um coronel".

Neste momento, nada melhor do que, reviver novamente, enfim, a farsa continua ululando pela aí. A eleição em si, em todos os seus sentidos, reflete muito bem a desorientação em que se encontra o eleitorado brasileiro, decaindo de votar conscientemente, para fazê-lo de acordo com as conveniências, acordos, conchavos e benesses prometidas ou até mesmo, recebidas. Escrever de Bruzundangas é adentrar o campo da ficção, sempre esbarrando na mais perversa e insana realidade. Pois bem, tento, ao meu modo e jeito retomar o elo nunca perdido de Lima Barreto e neste momento, assim como ele, faço uso desse país hipotético, tão longe e tão perto de nós, pobres mortais.

Nele, um parlamentar de voz esganiçada, soube se aproveitar do momento e diante da proximidade dos holofotes, bradou em alto e bom som contra o mandatário de plantão. Ficou conhecido pela sua eloquente verborragia, porém, o que o povo não sabia, ou não lhe foi permitido perceber é que, este que, se dizia seu inimigo público nº1, nos momentos de decisão, quando se fazia necessário votar, deixar registrado o voto, daí ele votava junto aos interesses do ocupante do poder. E o mandatário, que de bobo não tinha nada, mesmo violento, permitia que o vassalo parlamentar bradasse quanto quisesse, não lhe impingindo nenhuma correção (sic), desde que, na hora de votar, estivesse ao seu lado. Era tudo feito de comum acordo, evidentemente, sem que a turba tivesse conhecimento. Os holofotes eram sacados do palco em momentos cruciais das votações, assim não tinham o mesmo estardalhaço dos pronunciamentos. Daí, poucos ficavam sabendo do que de fato estava em curso. Uma enganação geral.

Antes disso, outro mandatário, este já em outro campo de atuação no momento, foi eleito para governar a cidade por quase dez anos e por uma necessidade, acabou deixando este mesmo parlamentar em seu lugar, num mero final de semana. Foi chamado de volta às pressas, pois como medida primeira o tal havia já se beneficiado de medidas desviatórias de recursos. Desde então, nos restante período de governo, não tirou sequer mais um dia de férias, pois alertado por todos ao seu lado, se o fizesse o tal parlamentar poderia aprontar algo pior do que o que fez num só dia com o poder da caneta em suas mãos.

Teve mais com o mesmo parlamentar. Ele, pelo visto é fonte de muitas e muitas histórias. Várias delas são contadas nos corredores do poder. Dizem que, este mesmo mandatário, não tendo como se esquivar, o convoca, a contragosto, para ser o responsável pelo projeto de casas populares da localidade, tudo com verba advinda de entidades superiores. O dinheiro chegava e sob a administração do parlamentar, parte era desviada, subtraída e ia diretamente para os bolsos e contas deste. Um verdadeiro esquema de arrecadação foi montado, tudo na mais plena surdina, algo que o próprio mandatário só ouvia falar, nunca provar sua ilicitude. Infinidade de detalhes caíram na boca do povo, como quando um material tecnológico foi entregue, supostamente recebido, papelada assinada, porém nunca chegou ao seu destino. Funcionário foi até afastado e depois, como sabia demais, ficou sob as asas do parlamentar ad eternum. Um sabia muita coisa do outro, e o outro de um, laços indissolúveis.

Em Bruzundangas algo assim é natural, porém, nada é comprovado, mesmo todos sabendo e botando a mão no fogo como verdade absoluta. Tudo segue e com poucas possibilidades de tudo vir à tona. Uns dizem saber de algo mais, tanto que, num dia lá dentro do parlamento, um outro parlamentar sendo acuado pelo nosso personagem, levantou a voz e ameaçou contar algo. Não contou, pois conversaram a tempo do estrago não se concretizar. Ou seja, neste território fictício, tudo pode acontecer, menos um delatar o outro ou o fio da meada ser puxado, pois segundo contam, naquele reino, se algo acontecer a um, muitos outros cairão juntos. São anos de entrelaçamento. Em Bruzundanga tudo é possível. Por lá, existe a crença de que, nada será desvendado e tudo continuará a ocorrer sem que, nenhum padeça de punição. Um ou outro é usado como boi de piranha, até para saciar a sede de justiça existente naquele reino. Com os mais graúdos, a esbórnia nunca tem fim. E renovada a cada nova eleição, chegando outros com a mesma ou até mais voracidade. Haja cofres!

“Convém notar que, quando digo que a ânsia geral é viver fora do país, excetuo os ativos, aqueles que sugam dos ministérios subvenções, propinas, percentagens e obtêm concessões, privilégios, etc. Estes demoram-se pouco fora dele e, seja governo o partido radical, seja governo o partido conservador, esteja o erário cheio, esteja ele vazio, sabem sempre obter fartos e abundantes recursos monetários de um modo que só eles têm o segredo. Estes senhores gostam muito da Bruzundanga e são ferozes patriotas.” (outro trecho de Os bruzundangas).

COMEÇANDO NOVA SEMANA COM UM CONSELHO. NÃO É MEU E SIM DO ESPANHOL JOAQUIM SABINA
«A mim o que me salvou foram os livros que li. Mas principalmente da solidão. Por exemplo, acontece muita coisa nas digressões, quando acontece algo a um avião e ficamos todos deitados em um aeroporto, que os músicos ficam desesperados, não sabem o que fazer. Mas eu, se eu tiver um bom livro, estou feliz! Os livros me acompanham, me ajudam a pensar, a viver um monte de vidas diferentes da minha. Em vez de ficar como um animal enjaulado olhando para um avião que vai partir em seis horas, eu posso estar na Roma antiga vivendo a vida de outros. Penso que esse é o único conselho que me atrevi a dar na vida: se você tem um livro, você nunca estará sozinho».
SABINA CANTA, LÊ E ESCREVE DE UM JEITO COMO ESTE HPA GOSTARIA DE FAZÊ-LO.

domingo, 13 de outubro de 2024

DICAS (250)


PRIVATIZA QUE MELHORA - PURA CONVERSA PRA BOI DORMIR

Bauru resolveu apostar na proposta privacionista da atual alcaide, a incomPrefeita Suéllen Rosin e deve pagar caro por isso. Primeiro, pela cidade estar passando por uma séria crise hídrica, com o rio Batalha, nossa maior fonte de água, descuidado e entregue às moscas. Nenhum trabalho sério de armanezamento de água foi feito na gestão suellista e mesmo assim, com muitas residências permanecendo sem água em suas torneiras por até sete dias, mesmo assim ela teve votação expressiva e levou a eleição de sua reeleição no 1º Turno. Vive de promessas e assim engambelou novamente o bauruense. A questão da água por aqui é caso mais do que sério, pois nosso sistema de água acaba de ser privatizado, numa concessão sem sentido, praticamente dando cabo do DAE e em seu lugar, sendo instituído empresas como essa ENEl paulistana.

A ENEL é essa que, neste exato momento, após uma chuva forte, de um dia só, na capital paulista, boa parte do paulistano ficou sem luz elétrica e o gobvernador, responsável pela privatização, concorrendo para sua reeleição, não teve como esconder o fiasco que foi a privatização da energia elétrica. Evidente que, privatizou, o preço subiu e agora, nem mão de obra especializada para resolver o problema existe mais. Tudo terceirizado, sucateado e só pensando um lucro, ou seja, dinheiro no caixa. Essa a cara mais latente da privatização brasileira, verdadeiro caso de polícia.

Reclamar para quem? Para o bispo, como no ditado popular. Só se for para ele mesmo, sem nem desta forma conseguindo voltar à normalidade, ou seja, um atendimento digno, rápido, seguro, eficiente e com custo baixo. Vivemos um momento pouco entendido pela população. Saímos de um capitalismo feito à moda antiga, adentrando o neoliberalismo, este mais cruel e insano, com menos responsabilidade e propondo para tudo este tal de Estado Mínimo. Eliminam as empresas estatis, vendem tudo, gastam o dinheiro não se sabe em que e depois, quando o problema surge, um verdadeiro "deus nos acuda". E os governantes dentro deste sistema neoliberal, possuem na ponta da língua a desculpa quando o problema surge: a crise climática.

Desde a liberalização do Governo FHC, o país convive com riscos de racionamentos e apagões. Na verdade, não adianta tapar o sol com a peneira, o modelo de organização elétrica e energética brasileiro em geral está axaurido e como se sabe e estamos vendo, não serão essas empresas privadas, as que ganharam a concessão, que farão os investimentos necessários para solucionar o problema. O negócio destes é lucro, nada mais. Houve, na verdade, com a liberalização, uma predominância cada vez maior dos interesses de vários grupos e lobbies.

Repare como se derão todos os leilões de energia realizados nos últimos anos. Foi a verdadeira farra do boi. Todos tiveram critérios de escolha destituídos de fundamentos econômicos sólidos. Nenhum deles em atuação busca a otimização do sistema, mas sim, o atendimento de dogmas deste tal de "mercado". Quando muito, vendo a situação num beco sem saída, sabe o que fazem e continuarão fazendo? Devolvem a concessão, pois não vão investir. Isso vai acontecer muito em breve com essa ENEL na capital paulista e com o que virá depois de afundarem definitivamente o nosso valoroso DAE em Bauru. O problema climático atravessado pelo Brasil é mais do que sério e estes dois setores, tanto o energético, como o do abastecimento de água são os que mais sogfrem. Enquanto perdurar essas privatizações, com essa dinheirama correndo solta em caixas-dois, nenhum responsabilização para quem está no comando do que foi feito delas, tudo tendo a piorar. E daí, assim mesmo, um povo cegueta reelege Suéllen e pode fazê-lo também em Sampa com outro da mesma estirpe, Nunes, ambos bolsonaristas de carteirinha. Não preciso ser "bidu" para enxergar que com estes o futuro será um desastre.

ISRAEL MATA MAIS QUE QUALQUER FURACÃO

sábado, 12 de outubro de 2024

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (211)


hoje é o dia delas

SÉRIO???
A campanha política em Bauru terminou no domingo passado. Temos ainda uma disputa, na qual já me posicionei, a da capital paulista, onde precisamos estar não só atentos, como participantes, pois ali está em jogo muito do nosso futuro, o dessa disputa entre o lado palatável do mundo e o da aproximação dessa extrema diteita, ocupando espaços e se bober, nos colocando cada vez mais contra a parede. A política nunca termina, ela é feita no dia a dia e neste momento, fingir que tudo se findou e estamos começando um ciclo novo é deixar o bonde passar por cima dos nossos costados. Continuo querendo ir pra Sampa ajudar e dar meu quinhão de participação na campanha do Boulos.

Aqui em Bauru, acompanho sem grande participação de vários debates sendo travados, todos versando sobre o futuro petista. Não me envolvi em nenhum deles, mesmo lendo as discussões. Tive uma semana de reaproximação com meu trabalho, neste momento, todo centrado em alguns projetos regionais, um sendo maravilhosamente concluído em Arealva e outros dois em curso, tomando muito do meu tempo. Isso, logo na segunda, mal terminada a apuração das urnas já me levou para a estrada. E como é bom estar envolvido em algo dessa natureza, onde dou minha contribuição no relato de histórias de vida, contadas uma a uma em gravações que tenho feito e movem minha vida. Quem me acompanha aqui ou pelo meu blog, o Mafuá do HPA, onde reproduzo o que publico pelo Facebook, sabe que, ao longo destes anos todos, desde 2007, escrevo muito de pessoas. Conto histórias e isso é para mim, o grande recarregador de minha vida. Pouco ganho com isto, porém, me fortalece enquanto ser humano, o de possuir um lado e dele extrair o que de melhor consigo.

Estive envolvido numa campanha política de um baita amigo, por quem nutro uma consideração enorme. E se o fiz, o foi em primeiro lugar por acreditar em sua proposta, que na verdade foi a proposta de um grupo, a do Núcleo de Base DNA Petista, que em Bauru está devidamente constituído e atuando. Foi linda a campanha, cheia de militantes, todos atuando de forma espontânea, verdadeira dedicação por uma causa, um propósito. Não chegamos lá, assim como de outras vezes. As vezes somos vitoriosos em algo, noutros perdemos - a maioria - e nem por isso desistimos. Somos como aroeira, vergamos, mas não quebramos. Neste momento, estamos conversando entre nós, nos reunindo e reposicionando onde estaremos daqui por diante. Na sequência iremos nos juntar a outras conversações feitas, outros grupos e continuar lutando, esgrimando dentro e fora do partido escolhido para ser o canal, o possibilitador de estarmos unidos em busca de algo maior lá na frente. 

Nada se encerra com uma eleição. Outras se foram, embates também duros e aqui continuamos. Ou seja, continuaremos. Estou numa fase de revisão de táticas, buscando entender melhor o momento vivenciado pelo país o mundo, para juntar tudo o que fiz até então, teoria e prática, buscando um denominador, algo que, sem ferir princípios me faça seguir acreditando que outro mundo é possível e que a luta vale a pena. Mesmo, como hoje, vejo forças contrárias obtendo vitórias mais alvissareiras das alcançadas pelo grupo onde milito, o mínimo que posso fazer - e faço - é revendo tudo, dar a volta por cima. Não consigo fazer e militar politicamente ao lado de quem não acredito. Eu acredito estar do lado certo, sei não ser dono da verdade e estou sempre apto a conversações, sem que essas firam algo primordial. Eu sei, milito no mesmo partido, junto de muitos que aceitam e fazem acordos com a parte contrária, usando de um discurso para fazer negócios e se dar bem na vida. Abomino isso e com estes, sei impossível ter acordos. Quem trai princípios mínimos de convivência política, ainda mais num partido denominado do Trabalhador, impossível manter acordos. O DNA não é puro e límpido como água cristalina, mas nada o é. Porém, ninguém vai poder apregoar nada que nos desabone. É mais do que sabido da retidão de todos os aqui unidos e coesos. Assim continuaremos, acreditando sempre.

 
Por fim, encerro este diálogo de sábado à noite com algo ouvido de outro baita amigo, Orlando Alves, alguém com quem convivi na única experiência que tive na vida pública municipal, quando da última administração de Tuga Angerami, 2005/2008. Ele funcionário público municipal de carreira e eu comissionado. Ele foi quem conduziu boa aprte dos Museus bauruenses, nos áureos tempos quando funcionavam abertos ao público e sem pedantismo de deter o único conhecimento na área. Foi um tempo em que fazia e aconteciam, a Maria Fumaça funcionava, museus estavam todos abertos e a Cultura municipal ocorria, de fato e de direito. Hoje, Orlando se aposentou e continua aprontando das suas numa oficina própria, na chácara onde mora. É o que encontrou para driblar o ócio total e ir contornando problemas de saúde. Todos nós precisamos disso. 

Pois bem, Orlando me convida para um café na manhã deste sábado. Sentamos e proseamos até perder hora. Num certo momento, ele saca algo e me deixa consternado. Diz me ler, meus escritos, não só os atuais, como me acompanha. Tempos atrás me presentou cum uma linda biografia do Lima Barreto, escrita pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz, o "Triste Visiconário" e neste reencontro, digo que o catatau está na cabeceira de mina cama e o leio quase diariamente, pois adoro o escrito. Ele diz também ter muito apreço pela forma como BArreto encarou sua vida e diante de todas suas adversidades, escreveu e retratou tão bem seu tempo. Foi mais longe e daí, em enrubesce. Compara o que escrevo com outro tanto admirado, João do Rio, outro cronista do início do século passado, entrando nas entranhas do Rio de Janeiro, então capital da República. Foi demais da conta. João e Barreto são o supra sumo do que me move. Ser comparado a um destes é muito mais do que ser reconhecido. Eu só quero continuar escrevinhando, ou melhor, tentando ao meu modo e jeito. O faço sem muito aprumo, sem correções. Escrevo do jeito que tudo me aparece na mente. Coloco no papel e só depois, vou corrigindo. Ele diz que, tenho que juntar algo e publicar um livro. Quer até me ajudar na empreitada. Só posso ficar enaltecido com tamanho reconhecimento, ainda mais neste justo momento, quando alguém muito próximo de mim, solta algo no calor da contenda política, o tal do fogo amigo, afirmando ser este HPA "leviano". Ainda não voltei a conversar com essa pessoa, pois muito me magoou, ainda mais por saber não o sê-lo. Vindo do Orlando, algo no sentido oposto, a certeza de não estar trilhando caminhos tão desconexos. Sou um ser político, sujeito a chuvas e trovoadas, fiz minhas escolhas e delas não arredo pé. Erro e acerto, sem medo de me posicionar. Assim quero continuar, escrevinhando e tentando fazer política. Vivencio Bauru na sua essência e ainda acredito, a cidade se reencontará com algo perdido lá atrás. Quero ser um dos tantos elos possibilitadores deste reencontro.  

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

CARTAS (234)


LOKADORA NÃO É MAIS SURPRESA E SIM, CONSOLIDADO COMO ALGUÉM CIENTE DO SEU PAPEL DE FISCALIZADOR DO EXECUTIVO
Quero escrever algo sobre a grande revelação no campo da política bauruense nos últimos quatro anos. Nas eleições de 2020, pelo Partido Progressistas (PP), foi eleito vereador para a 33ª legislatura da Câmara Municipal de Bauru, de 2021 a 2024, com 1557 votos um tal de Edmilson Marinho da Silva Junior. Com seu nome de batismo poucos o conhecem, mas quando chamam por Lokadora, ou simplesmente num abreviativo disso, Loka, pronto, este até então Técnico em Enfermagem desponta e desde então sob os holofotes da política bauruense, uma grande e positiva surpresa.

Enfim, quem mais do PP esteve tão em evidência e pelo lado positivo na política bauruense? Nenhum outro. A explicação é das mais simples. Loka é de origem humilde, foi eleito em 2020, de forma surpreendente, muito pela forma como até então havia tocado sua vida. Seu nome advém de uma locadora de vídeos, propriedade de seus pais e também tocada por ele. Continuou atuando politicamente dentro de um partido dito e visto como de direita, porém, sua atuação destoava, pois seguiu uma pauta bem diferenciada do que seu partido põe em prática. Na verdade, Loka poderia ter aderido às benesses de um mandato mais tranquilo se houvesse se aliado, como tantos outros fizeram, aos interesses da alcaide municipal. Teve problemas no antigo partido, por causa de seu posicionamento, optando por se filiar ao Podemos, onde pelo visto, não enfrenta muitos problemas. Autenticidade não lhe faltou.

Loka, como já disse, de origem popular, um nato trabalhador da Saúde, tendo atuado também em hospitais locais e, diante disso, enfim, como poderia se posicionar ao lado da maioria dos parlamentares, contra os interesses de sua categoria profissional? Não tinha como. A surpresa, que na verdade não representa nenhuma surpresa, pois só demonstra sua grandeza enquanto pessoa humana é ter, depois de um início com pouco destaque no primeiro mandato, ter se juntado aos opositores da alcaide e a partir daí, se firmou como a grande novidade dentro dos 17 vereadores da nossa Casa de Leis.

Daí veio sua reeleição, onde atuou com reduzido staff na campanha, ou seja, quem estava à frente de sua campanha, das mais simples, foi ele mesmo, encontrado facilmente em esquinas e, principalmente, nos pontos críticos, gravando suas lives onde realmente aconteciam os grandes problemas da cidade. Se nessa atual Legislatura, com 17 vereadores, ocorreu, num certo momento, uma quase divisão de posicionamentos, com 9 situacionistas e 8 da oposição - onde esteve -, e na nova, começando em 1º de janeiro de 2025, agora com 21 vereadores, pelas contas feitas, a alcaide terá vida muito mais fácil, com somente 5 oposicionistas. Loka deverá ser um destes, cada vez com maior representatividade popular.

Se isso se confirmar, será mais um belo momento para Lokadora se firmar como o mais consistente, original e decidido vereador dos novos tempos. Loka gosta de dizer a todo instante sofrer forte inspiração de vereadores mais experientes, porém todos estes, firmes no propósito, que é o princípio básico de um vereador, o de fiscalizar as ações do Executivo. Agora, com os 3937 votos é um novo momento em sua vida. Outros vereadores eleitos tiveram mais votos que ele, mas nenhum possui a consistência obtida de seus firmes posicionamentos, tendo saído de onde saiu e por um partido onde o posicionamento mais natural é pender para a direita, no caso bauruense, apoiando Suéllen Rosim. Sai do pleito de peito esfutado, cabeça erguida e se for firme, resoluto e continuar na mesma pegada, estará se firmando, não mais como uma revelação, mas como um forte nome dentro do cenário político local. Ótimas perspectivas continuando em algo pelo qual, pode ser considerado, um dos mais vitoriosos deste último pleito.

ATACAM A ESQUERDA, UM MEMBRO DO MBL - EU REPONDO PELA TRIBUNA DO LEITOR, DO JORNAL DA CIDADE
Na edição de ontem, quinta, 10/10 do JC, Tribuna do Leitor, uma missiva, a única publicada, me incomodou. Seu título: "Centrão e Esquerda: Os verdadeiros problemas do País", autoria de Fabrício Rodrigues - Coordenador do MBL. Eis o link para ler o texto na íntegra: https://sampi.net.br/.../centrao-e-esquerda-os...
Envio carta de minha lavra e responsabilidade, com a devida resposta, publicada hoje na mesma Tribuna do Leitor:

INCONCEBÍVEL DIREITA
Leio estarrecido a propositura e entendimento do missivista Fabrício Rodrigues, coordenador do MBL, a apregoar em carta publicada no JC em 10/10, os problemas do país serem oriundos de ações da esquerda. Para começo de conversa, ser membro do MBL já desqualifica qualquer pessoa, pois estes estiveram - e estão - envolvidos em todas as perversidades contra as instituições e mesmo, contra o que se convém ainda denominar de democracia.

Estes fazem parte de uma ultra-direita radical, perversa e cruel, agindo e pensando o país pelo pior viés possível, talvez algo destrutivo como Javier Milei o faz no momento com a Argentina, a levando ao caos absoluto.

Creditar à esquerda prejuízos é não saber nada de História. Veja o Governo Lula, que nem de esquerda é e todos os avanços já retomados, com o destroçamento causado pela avalanche negacionista bolsonarista. Não fosse Lula, neste momento, estaríamos "num mato e sem cachorro", algo muito perto do proposto por mentes em decomposição, como a deste grupelho, o MBL, que nada propõe de projeto e sim, aposta no caos e quer destruir tudo. Ou melhor, possui sim proposta, mas para uma minoria, a rentista, a que não mais investe no País e sim, privatiza tudo, joga o dinheiro no lixo e com um Estado Mínimo, leva todos ao caos.

Dar ouvidos para inconsequentes é colocar o País em risco. Chega de aventureiros, meninos mimados e com discursinho "cerca lourenço". O Brasil que queremos precisa manter distância absoluta de algo sem sentido. Que o Centrão é o caos, todos sabemos, mas colocar no mesmo balaio o que fazem estes e a esquerda, é algo surreal, brincando com o entendimento do que de fato ocorre.

O MBL nem pode ser considerado lobo em pele de cordeiro, mas sim, algo como, numa simplista comparação, o estrago feito pelo furacão Milton.

Não existe um só membro do MBL recomendável para atuar seriamente no campo da política.
Henrique Perazzi de Aquino, historiador e jornalista - www.mafuadohpa.blogspot.com

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

COMENDO PELAS BEIRADAS (152)


QUE TAL UMA CARAVANA BAURUENSE INCREMENTANDO CAMPANHA DE BOULOS NO 2º TURNO DA CAPITAL PAULISTA - RELEMBRANDO ALGO OCORRIDO TEMPOS ATRÁS
Vi fotos, mostradas a mim, numa conversa entre risadas de tempos idos, quando uma caravana de bauruense foi incrementar uma campanha política na capital paulista. Quem me contava algo sobre essa epopéia foi o finado e saudoso Antonio Pedroso Junior. Ele havia participado da saga e a rememorava com a devida picardia. As fotos eu vi, não me lembro se numa postagem dele ou do Pedro Romualdo, um que fotografou tudo num período intenso de nossas vidas, hoje possuidor do maior acervo fotográfico político de décadas atrás neste rincão bauruense.

Pois bem, descrevo como me lembro do ocorrido. Vi fotos de muitos dos jovens de então, creio que, Pedroso Jr, Marcelo Borges, Arthur Monteiro Jr e outros, nas ruas paulistanas, numa contribuição bauruense numa das campanhas de antanho, daquelas que todos estivemos nas "ruas e lutas". Eu creio, sem dar certeza de nada, ter sido naquela campanha do FHC - Fernando Henrique Cardoso -, a para ao Senado, ele começando e todos ainda acreditando piamente em uma reviravolta, com ele sendo um dos próceres. Terá sido nessa? Não sei, lembro de algo envolvendo o jornalista e escritor, também político Fernando Morais. Tudo está envolto em névoas na minha mente, enfim, o tempo ajudou a distanciar tudo. Levo em consideração não ter participado dessa viagem e dessa arruaça paulistana.

Hoje, passado todo este tempo, gostaria de poder reviver algo daquele dia. Para tanto, preciso contar com quem dela participou e ainda esteja vivo. Compartilho com todos os que, acredito possam acrescentar algo, na verdade, esclarecer como se deu aquilo tudo. E por que faço isso neste exato momento? Guilherme Boulos foi para o segundo turno pra eleição paulistana e como se sabe, será uma pauleira sem fim este período até a volta às urnas. Querendo dar meu quinhão de participação, proponho que o ocorrido lá atrás, com a saga envolta em névoas - para mim -, possa ser refeita, desta feita, com a ida de muitos de nós, os ainda propondo que algo novo possa ressurgir e ser possível, diante deste avanço abrupto e quase incontrolável de uma direita pérfida e querendo destruir tudo o que foi duramente conquistado.

Adoraria embarcar numa nave e ir passar uns dias em Sampa, ajudando no que for possível na campanha de Boulos, pois tenho plena consciência da necessidade de sua eleição. Ela é vital para nós todos, da esquerda brasileira. Sei que, muitos poderão me dizer, que nada hoje se decide mais nas ruas e sim, de forma virtual, mas como sou rueiro, gosto deste contato imediato. É o que posso contribuir. Daí, lanço a ideia: vamos pra Sampa ajudar Boulos vencer o bolsonarismo?

A CONVERSA COM A DENTISTA - SÓ ELA FALA...
Precisei sentar novamente na cadeira da dentista, dias após o término da campanha política. Não teve mais jeito, o dente gritou mais alto. Sentei e como somos amigos, começamos a falar, trocar animada conversação. Ela ganhava mais e mais sustância a cada novo diálogo. O tema preferido foi o político, porém sai no prejuízo, pois quando estava no auge da argumentação, eis que, eu lá de boca aberta, ela com a maquininha na mão, me diz em alto e bom som:

- Daqui por diante, não feche mais a boca, não fale mais nada. Só eu posso falar. Entendido?

Entendi a mensagem e me calei, mas ela não parou mais de argumentar e a todo instante. E encerrava cada frase com um:

- Não é isso mesmo?

Eu lá com a boca aberta, sem poder me mexer. No máximo levantava a mão e fazia um sinal de positivo.

Ela não foi votar. Disse já ter perdido as esperanças deste país melhorar. Faço um resumo do que me disse:

- Minha última eleição acho que foi pro Mario Covas, depois me decepcionei de vez. Ele, depois, também falaram algo dele e resolvi, pago a multa, mas não vou mais perder meu tempo. Ainda mais, como desta vez, num domingo, meu tempo de lazer. Eu tenho lá minhas ideias, mas não gosto nem de Lula, nem de Bolsonaro e não quero votar nem em gente ligada a um, muito menos no outro. Outro dia uma cliente me disse que, agindo assim eu não poderia reclamar. Respondi a ela que, sabia disso. Não reclamo, toco meu barco, pago meus impostos e fico quieta. Resolvi levar a vida assim, sem me envolver. Não confio em mais ninguém, pois pelo que vejo e leio, todos são corruptos. Não consigo mais encontrar um que, lá no fundo, eu não detecte algo e o coloque como suspeito de algo errado. Prefiro não arriscar. O sistema gerou isso, difícil quem nãoseja engolido por ele e não participe. Pago a multa, vou lá, pago e pronto, vida que segue. Meu filho, estudante do ensino superior também não queria ir e o aconselhei, ou melhor, o fiz ir votar e usei um forte argumento. Ele quer fazer uns concursos, tem muita coisa pela frente e em todos vão pedir o comprovante de votação, daí no caso dele, não teria como justificar. Foi sem reclamar. Nem sei em quem votou. Eu não, ninguém mais me convence. Não me pergunte se a coisa aqui na cidade está feia, se isso é só atualmente, ou sempre foi assim. Não quero saber, pois pelo que sei todos os últimos deixaram a desejar e agora não é diferente. Não sei se isso é ser conservadora ou não, mas sou assim e não escondo isso de ninguém. Falo como sou pra todo mundo. Gosta de mim quem quer".

Eu queria argumentar, incrementar a conversa e pretendia fazê-lo quando pudesse abrir a boca. Chegou a hora, tinha algo mais a perguntar sobre minha boca, ela me explicou com tanto esmero, me levou até outra sala, tomamos água e por fim, esqueci. Perdi a oportunidade. Enfim, o mal de ir no dentista é esse. Só eles falam e nós, lá de boca aberta, não temos como argumentar. E mais, se discordamos de forma veemente, algo pode nos acontecer, pois quem está com aquele aparelhilho de esmeril na mão são eles.

Saio de lá pensando no que ela me disse, por mais de meia hora. Daria uma boa prosa. Ela gosta de prosear e sabe para que lado pendo, daí, sempre algo salutar, pois ela, quando não estou de boca aberta, fala e me ouve, o que é maravilhoso. Adoro os que, além de falar, ouvem. Gosto dela, talvez outro dia a encontre fora do consultório, daí, eu pedirei, delicadamente, para ficar de boca aberta e lhe darei o troco. Ela é uma ótima profissional.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (233)


O CHINÊS DO BAR DA ESQUINA
Bares com chineses existem muitos hoje por aí, cidade afora e adentro. Muitos nem são chineses, mas este, motivo de minha escrita é de verdade. Chegou aqui com sua,família, quinze anos atrás. Já havia circulado por outros países, até descobrir o Brasil, depois Bauru. Um batalhador no que faz. Batalhador e bom observador. Fincado com seu comércio familiar no centro de Bauru, já viu de tudo e mais um pouco, ali detrás do balcão.

Histórias não lhe faltam. Tem diversas, mas como todo bom chinês, reservado, contido, porém, quando passa a conhecer pouco mais a pessoa, se abre, conta algumas particularidades. Consegui escutar algumas. Viver de um bar no centro nervoso bauruense é algo inebriante, não tanto pelo ganho dali obtido, mas muito pela persistência, insistência, daí, ao final de cada dia, inevitável, sendo bom observador, uma boa coletânea de acontecimentos pouco usuais. Ele e sua família convivem neste ambiente já década e meia.

Vejo sua filha, 17 anos, ali no comando do bar, quando ele e esposa estão ocupados com outros afazeres e pergunto: "Você gosta de Bauru?". Ele, meio que medindo as palavras, responde: "Não é questão nem de gostar ou não. A filha chegou aqui, tinha dois anos. Estudou desde a infância aqui, construiu amizades. Como posso querer levá-la pra outro lugar? Não tenho mais esse direito. Estou estabelecido". Seu bar tem muito movimento, o preço é dentro da média popular, sua rotina é algo pelo qual tem amplo domínio e o resto, como todo bom imigrante, tira de letra, segue seu rumo e toca,sua vida, sem importunar ninguém. Quer passar desapercebido, pois sabe, chamando a atenção, pode também despertar problemas.

Dizem que, muitos dos "comércios" de "chineses", generalizando tudo, existe uma máfia comandando tudobpor detrás dos panos. No caso dele, dos de seu país, isso não existe. Existe sim o sonho de reunir forças, ganhar o mundo, descobrir locais mundo afora onde consiga explorar seu comércio, na maioria das vezes, desta forma, com bares, pequenas mercearias e mercadinhos. Invadiram o planeta e Bauru não poderia ficar de fora. Vendem comida, salgados e afins, sempre com preços muito competitivos.
SEU WILSON PAVAN SE FOI 

Escrevo dele, pois queria ver sua opinião sobre o trabalho por aqui e da relação, dele chinês com a contratação de mão de obra brasileira. Conta ser o trabalhador brasileiro bem diferente do chinês. Lá, segundo ele, se a pessoa é contratada para trabalhar oito ou mais horas por dia, se trabalha de fato, com muito poucos intervalos. "Aqui não. Tudo é motivo para uma nova paradinha, um café, uma olhada no movimento da rua, o celular ou mesmo uma quase necessidade de conversar. Tudo é motivo para uma fugidinha do trabalho. Na China não tem disso não. No início bati de frente, depois vi que não tinha jeito. Melhor fazer vista grossa e ir tocando o barco. O brasileiro é bom de conversa. Se bobear te leva na conversa, te enrola, só que não conhece o chinês. Mas dá pra se entender. Melhor se entender, né!", me diz.

Muito interessante suas histórias. Numa diz do cara que comeu e saiu na cara dura sem pagar, batendo boca. Pra seu espanto, ele voltou e na maior cara de pau, queria comer mais umas vezes e da mesma forma: "Aqui, se a gente bobeia, eles se aproveitam e deixando, quando percebemos estão junto de nós detrás do balcão. Na China não é assim não. Tem folgado, mas aqui tem muito mais. Aprendi a conviver com tudo isso. Crio meus filhos aqui. Minha filha gosta demais de Bauru, daí gosto também. Viver longe de casa nem sempre é bom, mas de algo não posso reclamar, o brasileiro é muito acolhedor. Gosta de uma conversa e como também gosto, ouço mais do que falo, mas tenho falado muito mais que antes. Estou me soltando aos poucos".

QUANDO FICAR MAIS VELHO QUERO FUGIR DE CASA, SÓ PARA PERAMBULAR NA RUA, COMO FAZIA SEU WILSON PAVAN 
https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=pavan
Escrevi muito dele - acima o link para leitura destes textos - e de seu esforço para continuar batendo perna.
Ele se foi neste momento. Ele e Diva, comandaram o Carimbos Pavan, na Rodrigues Alves, por décadas.
O perseguia pelas ruas, quando o encontrava foragido da família e circulando pela Primeiro de Agosto, até o Bar La Taska, na Ezequiel, seu porto seguro. Ele nunca foi de muita conversa. Diva era mais conversadeira. Ele, mais contido, depois que ela se foi, marcante suas andanças pelo centro da cidade. Morava lá pelos lados do Camélias, o que lhe difucultava muito as saídas, acrescidas da passagem dos anos. Sua mobilidade foi sendo prejudicada e, assim mesmo, insistia, caminhando lentamente pelas ruas. O cumprimentava sempre o via e o acompanhava. Éramos todos, ou melhor, somos todos, os velhos conhecidos, uns olhando pelos outros e assim tocamos nossas vidas até quando podemos. 

terça-feira, 8 de outubro de 2024

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (207)


"DIFICULDADE DA ESQUERDA EM TROCAR DE PELE"
Cá estou eu tentando entender e dar um significiado para tudo o que tem acontecido para com a "esquerda" nestes últimos tempos, principalmente os rumos depois desta última eleição, a municipal, no país num todo. Perceptível que, algo não anda muito bem nessa relação dela com o povo, o eleitor e tudo o mais. Mesmo que a presidenta do PT afirme que o partidso esteja numa processo de "reconstrução", tem algo mais nisto tudo, alguns complicadores, enfim, estariamos nós, os esquerdistas - me incluo nestes, viu! - sabendo jogar e entendo realmente o que se passa do lado de fora de nossa janela?

Pensava nisto tudo, quando o telefone toca e do outro lado uma baita amigo, o Miltão - grandão, o cara - Epstein, do inesquecível restaurante Mió, um paulistano que um dia deixou sua cidade e aportou por aqui, para não mais sair. Pois bem, ele me liga para falar exatamente disto. Queria conversar, mas estavasem tempo, daí me pergunta: "Você assistiu o Roda Viva de ontem com o publicitário Renato Meirelles?". Disse que não. Pede para que perca um tempinho e o faça. Marcamos a conversa pessoal, olho no olho e fico de assistir. Localizo programa pelo youtube e assisto, do começo ao fim. Gosto do que ouço. Eis o link deste Roda Viva: https://www.youtube.com/watch?v=c6aSJMbINSc

Anotei até algumas frases, bem dentro do que estou a pensar depois da última eleição: "Qual o rumo da direita hoje? A direita, como se vê, é muito maior que o bolsonarismo. Temos eleitores da direita muito menos homogêneo que antes. Parte deste eleitorado não queria continuar discutindo e polemizando, brigando com o petista ou a esquerda, mas discutir os problemas de sua cidade. (...) A tendência que veio para ficar é a da busca pela prosperidade, diferente da empreendida pelo PT e pela esquerda, muito em cimado tema CLT, carteira assinada. (...) Existe uma enorme dificuldade da esquerda em trocar de pele. (...) Lula foi enorme, só ele conseguiria derrotar Bolsonaro, mas e o futuro dela sem Lula. (...) Se faz necessário olhar mais para a vida das pessoas, do que continuar só buscando através do olhar acadêmico. (...) Dificuldade de coenexão. (...) Não é pecado sonhar em algo para você e não só pelo coletivo. (...) O Estado Mínimo já existe no Brasil e precisa ser entendido, mudar o discurso e abrigá-lo".

A cabeça ferve pensando nisso tudo. Sempre é bom - nestes e em todos os casos - pensar junto com outros. Daí, as coincidências da vida. O telefone toca outra vez e do outro lado um jauense, conhecido de outros carnavais, o jauense André Galvão, do PV daquela cidade. Ele sai de uma eleição "destroçado", como me diz. Conta detalhes e quando lhe conto do que acabo de ouvir, diz ser sobre exatamente isso o que precisamos conversar. E falamos, rapidamente, pois logo tem que voltar pra sua cidade. Antes de partir diz estarmos "fazendo política à moda antiga, algo que precisa ser repensado, pois definhamos a cada novo pleito. Mudamos ou seremos engolidos". Foi mais ou menos isso.

Junto tudo e penso eu, cá com meus botões. Eu quero mudar? Sei lá se quero, pois aprendi a fazer política de um jeito e o acho correto, mas tenho que concordar, os tempos são outros, as relações trabalhistas são outras e pelo visto, no mínimo, não estamos a entendendo muito bem. O exemplo que ouvi no programa da moca negra, trabalhadora que pegava dois ônibus para se deslocar no emprego com carteira assinada, ganhando muito mal, pouco mais que o salário e hoje, montou seu pequenio negócio, um salão de beleza, onde não se desloca mais como antes, ganha mais e chamou mais duas pessoas para trabalhar com ele. Ganham mais, ninguém está registrado, mas quando ouvem a esquerda dizendo do mal que é este momento, com gente como ela sendo considerada empreendedora, mas explorada, não entende direito e pensa, "eles estão falando mal da forma como encontrei para dar minha volta por cima".

Sim, isso pode e deve ocorrer. E como sair do discurso de só criticar, de desdizer do trabalho como se dá pela aí, sem entender como já é uma realidade. Como continuar insistindo na tecla da necessidade de registo, de leis trabalhistas, de carteira assinada, sem ferir quem já está atuando de outra maneira? Difícil. Essa "troca de pele" não é nada fácil. Eu não quero mudar tudo e começar só a elogiar tudo como vejo acontecendo, o Estado Mínimo já implantando e em curso, pois vislumbro enormes dificuldades pela frente, com redução drástica de aposentados. Sem recolhimento junto ao INSS, sem aposentadoria, mas na cebeça de quem atua, uma outra forma de encarar isso tudo. E como não ferir quem já mudou, continuando a ser trabalhador, porém, sem sindicatos por detrás do que fazem, sem amparos legais, mas a forma encontrada para se safar a estes tempos?

Que conversa longa, hem! Sim, creio eu, estou ainda nos meandros da mesma. Busco neste momento, entender como a esquerda e o PT, onde me encontro, conseguirá ir de encontro a outro momento, entendimento e discurso, sem ferir seus princípios e com outra pele, conquistar essas pessoas. Escrevo isso tudo, mais em busca de ouvir outros (as). Isto deve estar mais do que na pauta do dia, pois está nos compromissando seriamente enquanto força política. Outros tantos - alguns abomináveis -, já se utilizam de outro discurso para conquistar as pessoas e, pelo visto, conseguem atingir seus objetivos com maior facilidade. Enfim, sei, não devo falar só o que as pessoas querem ouvir, mas fazê-la entender também da exploração em curso. Como conciliar isso tudo, sem ser entendido como ultrapassado, fora do seu tempo e não mais conseguindo chegar no coração das pessoas? Por enquanto, conversei só com duas pessoas, assisti um programa de TV e estou, neste momento, ruminando sózinho sobre isto tudo. O momento é mesmo de muita reflexão, até para entender e sobreviver. Como estão a entender isto tudo? Enfim, mudar ou não, trocar de pele ou não, se adaptar ou não, radicalizar ou não?

OBS.: Na sequência das fotos, o Renato, Milton e André. Por fim, uma charge do programa, levando em consideração não ter muita pelo genérico termo "progressistas", um nada original balaio de gatos.