sexta-feira, 28 de setembro de 2007

UMA ALFINETADA (3)


Antecipo aqui o que sairá amanhã lá n'O ALFINETE, de Pirajuí.

WAL MART, A EMPRESA QUE ODEIA OS SINDICATOS

Dia desses retornei com amigos ao templo do consumismo, o Wal Mart, que possui loja aqui em Bauru. Fui contrariado e explico os motivos de não gostar do tão "conceituado mega-híper-ícone, representante do desenfreado neoliberalismo globalizado". Não pensem que não gosto de mercados novos, modernos. Aliás, adoro, conforto é comigo mesmo. Só não gosto de freqüentar aqueles que desrespeitam as mais elementares leis trabalhistas, tratando seus funcionários sob o regime do medo. Como ainda tenho livre arbítrio para gastar o que ganho onde melhor me aprouver, decido ir lá só em último caso.

A empresa de supermercados Wal Mart foi denunciada nos EUA pela organização de direitos humanos Human Rights, pela sua política corporativa de não permitir que seus funcionários sejam sindicalizados. Nos EUA, eles são o principal empregador privado do país, com 1.900.000 empregados. É uma potência mundial em todos os sentidos, sendo o principal deles a insensibilidade. Cada loja, dentre as tantas espalhadas pelo planeta, empregam muitas pessoas, em sua maioria jovens, com modalidade de contratação diversa: contratados diretamente, terceirizados e através de agências.

A investigação da Human Rights constatou que nenhum dos trabalhadores do Wal Mart é sindicalizado. No Brasil, são quase 300 lojas e nenhum sindicalizado. Essa é a regra geral e a desobediência tem como resultado a não contratação ou demissão imediata. Não se trata de algo fortuito. Os gerentes recebem instruções explícitas sobre como evitar a formação de sindicalizados. Tudo nas lojas é monitorado e qualquer movimentação suspeita é alvo de vigilância. Eles fazem qualquer coisa para se manterem livres de sindicatos e funcionários mais conscientes, daquele tipo que sabe reivindicar e cobrar os seus direitos.

A situação é similar, lá nos EUA, aqui no Brasil, na Argentina, no México e em qualquer outro canto. O Wal Mart, como tantas outras empresas desse globalizado mundo, vive os efeitos de um verdadeiro terrorismo de Estado e a debilidade dos trabalhadores. Os salários são baixos, condições precárias, trabalhadores jovens sem experiência e sem conhecimento de atividades sindicais ou políticas de qualquer tipo. Verdadeiros escravos do mundo moderno, sempre de bocas fechadas.

A forma adotada é um verdadeiro desterro das autoridades e das leis locais. O trabalhador modelo da rede é aquele totalmente despojado de uma percepção do mundo como campo de forças, capaz de entregar-se de corpo e alma, de forma reiterada à metáfora empresarial da "grande família". O passado do futuro contratado é investigado, suas formas de pensar e conceber as relações, sua opinião sobre a empresa. Em caso de qualquer dúvida, descarta-se a contratação, afinal, a mão de obra é abundante.

É utilizada uma tal de política de "portas abertas", onde os funcionários tendo algum tipo de problema não podem se dirigir diretamente a seu superior imediato, tendo de fazê-lo a gerência de Recursos Humanos. Experimente perguntar a qualquer funcionário se há delegados sindicais por lá. A resposta é que não precisam, pois a empresa adota a política de portas abertas. É claro que para que isso prospere é necessário ter a cumplicidade entre o sindicato e a empresa. A lei é a do medo.

Por todos os lugares onde existe uma loja do Wal Mart, essa é a informação que corre de boca em boca: por lá ninguém é sindicalizado. Isso é um grande retrocesso. O funcionário não possui nenhuma proteção, não tendo a quem recorrer. Acaba por se submeter, sempre calado, passivo. É a necessidade do emprego. Tente falar sobre isso com alguém por lá e verá a reação de receio. Discutir esse tema em qualquer cidade onde funcione uma loja Wal Mart é coisa para louco, pois afinal, eles dão empregos e em grandes quantidades. Ninguém mais quer discutir a que custo isso é feito. Por essas e outras é que continuo gastando o meu rico dinheirinho no mercadinho do seu Zé Mane ali na esquina.

Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos e cada vez mais confuso com o mundo high-tech, pois acabo de teclar minha senha bancária no microondas. Tenho salvação?

Em tempo: a foto saiu publicada no jornal argentino Página 12, numa de suas edições de março 2007.

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