sábado, 20 de fevereiro de 2010

TEXTOS NO JORNAL BOM DIA (61) e OS QUE SOBRARAM (07)

OS POBRES DIABOS - primeiro vamos ao texto, publicado no BOM DIA Bauru, de hoje 20/02
“Espanta-me a quantidade de gente que acreditam ser de esquerda e, de verdade, são fascistas. Confesso que nunca me deixei impressionar por muitos entre os dispostos a se dizerem de esquerda. Talvez, a maioria. Haja vista algumas figuras exemplares. FHC, José Serra, Francisco Weffort, Roberto Freire, Jarbas Vasconcellos, Gabeira, etc. Jornalistas às pencas, professores universitários aos magotes. Há também alguns heróis, gente de coragem e fé, como Marighella ou Duque Estrada”, Mino Carta em seu ex-blog, 28/01/2009. Dentre os ex, incluiria Marina Silva, aproximando-se sorrateiramente do PSDB. Escrita profética. Sinto o mesmo, desilusão muito grande. Não tolero mais o discurso de uns que gostam de se arvorar como esquerdistas, ótimo meio de continuarem em evidência, dito progressistas. Muitos já estão em outra, aderindo de mala e cuia à benesses. Recebo em casa um amigo sincero. Brigou com a esposa por ter assumido cargo público de destaque numa cidade vizinha e preferiu não ser beneficiado, tendo os filhos em escola pública sem enfrentar fila de um ano para conseguir vaga. Esperou e perdeu a esposa. Esses são cada vez mais raros. Afinal, o ser de esquerda é um ser igual aos outros ou ainda pode se arvorar de pensar e, principalmente, agir diferente? Esse um detalhe. De outro, ouço algo profético sobre o assunto. “A luta hoje não é mais entre a esquerda e a direita e sim, entre uma direitona e uns poucos pobres diabos que não se venderam”, me diz.

Agora vamos ao autor da frase entre aspas no texto, MINO CARTA. Quando criei esse título, "Os que sobraram e Os que fazem falta", foi para enaltecer os que lutaram uma vida toda e os que continuam a lutar e dignificam o lado mais humano da vida, em busca de dias melhores para uma imensa legião de desgraçados e infelizes, que rastejam e gramam diante de um mar de insensibilidade a grassar nesse planeta. Procuro, num mês escrever sobre um que ainda luta, um dos tais "pobres diabos" do texto acima e no outro, um que lutou enquanto viveu. Por aqui não me canso de falar de MINO CARTA, pois é um jornalista como poucos, um eterno desbravador e lutador. Sou rato de banca de revistas, leio de tudo um pouco, desde revistas e jornais. Aumentam significativamente o número de publicações, tanto que brinco com um jornaleiro amigo: "Tá faltando espaço, hem?". Falta espaço para tanta publicação, mas na sua maioria, são todas descartáveis. Hoje mesmo, fora de Bauru, em Ourinhos, pergunto numa banca quando chegariam as semanais. A moça sem pestanejar me diz: "Qual delas o sr quer, a Ti Ti Ti, a Capricho, a Caras...". Tento não demonstrar meu abestamento, pois mesmo diante de minha falta de cabelos, barba branca e corpo já não tão jovial, acredito que a mocinha me comparou a um débil. Isso mesmo, desculpem, mas só uma pessoa com alguma deficiência consegue ler isso. Tive que explicar o que queria e só aí fui informado. Hoje, a banca está abarrotada, uma revista quase por cima da outra, mas poucas passam pelo meu crivo. Colecionava e lia mais revistas e jornais no passado. Hoje sou mais seletivo, permaneço fiel a umas seis, no máximo oito publicações e a que mais me encanta é a revista semanal CARTA CAPITAL, cria do Mino.

Mino, italiano, radicado entre nós desde os tempos em que a Móoca e o Brás eram bairros paulistanos mais palatáveis (lançou recentemente um livro belíssimo sobre o tema), defende essa nossa terra mais do que muito brasileiro nato. Trata-se de um jornalista quase único, engajado no que faz, fica inquieto com esses vendilhões nativos, tão insensatos e cruéis com seu povo, que acaba escrevendo para poucos, uns abnegados, que na verdade não são tão poucos, pois a tiragem de sua revista chega aos 70 mil exemplares semanais, com uma distribuição segmentada mais em cima dos maiores formadores de opinião do país. Não existe no mercado editorial brasileiro uma revista semanal com tão poucos anúncios (contei cinco na edição da semana passada). Compra brigas semanais por um simples motivo, defende o país contra os exploradores e daqueles que se mostram como mocinhos, mas apunhalam o Brasil de forma vil e covarde. A amostragem disso é que teve que inventar seus empregos. Não fosse possuir uma revista sua, a maioria das portas lhe estariam fechadas, como se fecham, algumas de mêdo, outras por convicção de estarem em campos opostos. E é exatamente isso que me cativa nesse briguento (é uma pessoa doce, mesmo aparentando ser criador de caso) defensor intransigente da "verdade factual dos fatos". Vê-lo lutando como um quixote contra esses fustigantes e cada vez maiores moinhos (que não são de ventos) é algo para enobrecer e dar mais força, para que nós (me incluo nos poucos pobres diabos a resistir), aqui no nosso pequeno rincão continuemos fazendo o mesmo, cada um com a sua arma e disposição.

Escreveria dele laudas e laudas se preciso fosse. Não imaginam a ansiedade que fico a cada semana em busca do seu editorial na revista. Tenho certeza de ser o primeiro a comprá-la na cidade. Estou na banca todo sábado logo após o almoço em busca do meu exemplar da revista (prefiro não assinar, pois só receberia na segunda ou terça) e devoro seu texto logo de cara. Dizer que concordo com tudo o que escreve é muito provável, mas discordo sim, em pouquíssimos temas. Porém, isso não desmerece em nada no resultado final da admiração e contentamento por encontrar em sua fala, escrita e postura algo a ser admirado e seguido. Um exemplo. Acho que comecei a admirá-lo no Jornal da República, depois na antiga e saudosa Veja (hoje ela não me serve nem para embrulhar peixe), depois na Isto É, em alguns poucos programas na TV e depois em Carta Capital. Assim como ele, dou cada vez menos credibilidade à dita grande imprensa brasileira,que sempre esteve do lado dos poderosos (aliás, faz parte deles). Se ainda leio algo é para me indignar cada vez mais. Ele afirma quando perguntado: "Nossa imprensa é uma merda, pois reflete a voz do patrão". E pronto.

Não quis colocar aqui nada como um histórico de Mino. Preferi ir despejando tudo num momento de emoção, do jeito que minha mente ia elaborando, sem ordem nenhuma, mas com muita emoção. Mino é daqueles poucos a continuarem me motivando, um verdadeiro "dos que sobraram", figura sem peça de reposição disponível no atual mercado globalizado. Portanto, preservemos o dito cujo em formol (acho que ele preferiria em vinho) o quanto pudermos. Ontem vasculhando a internet descobri uma preciosidade do Mino. No site da revista Brasileiros, uma entrevista sua, falando sobre a Móoca, Brás, História do Brasil, jornalistas, enfim, de tudo um pouco: http://www.revistabrasileiros.com.br/secoes/videos/noticias/977/

4 comentários:

Anônimo disse...

Henrique só para constar a reflexão de saída da frase que vem de algo do saudoso Darcy Ribeiro onde ao comentar sobre suas derrotas dizia, "Me orgulho muito das minhas derrotas, pior seria ter ficado ao lado dos vitoriosos", daí vem a frase reflexiva "A luta hoje não é entre esquerda e direita, e sim entre vencedores e uns poucos pobres diabos que NÃO SE VENDERAM"
Isso é a mostra de nossa realidade.

Marcos Paulo
Comunismo em Ação

Anônimo disse...

Henrique

Lindo esse vídeo do Mino.
No finalzinho uma senhora aparece e pergunta:

- Mino tô com saudade de Você...

Ele olha bem para ela e lhe diz:

- Tô aqui, carregando a minha velhice.

Faltou sangue em nossa história. Todos os outros países tiveram sangue em sua independência e aqui nada. E ele conta a história da nossa, com D Pedro I em cima de um muar, uma mula e seus problemas intestinais. Vibrei mais ainda com uma frase que você repetiu, a de que se formos contar a história do país pela da imprensa, será uma história sofrível, de "merda".

Conhecia pouco dele e vou ver se acho mais coisas na internet.

Marisa

Henrique disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Aqui em Bauru existem mesmo um monte de professores universitários que se dizem de esquerda, mas só da boca para fora. Jornalistas nem tanto, já existiram mais. Hoje, eles nna maioria das vezes não possuem ideologia nenhuma. Em alguns partidos muitos ainda se deizem, mas quando vamos verificar o que fazem e como fazem, tudo vem por terra. O fechamento do texto, quando afirma que só mesmo uns pobres coitados ainda continuam abnegados na luta pelo social, entendo que é isso mesmo, cada vez menos pessoas se interessam por lutar pelas causas populares, direitos humanos, reforma agrária, etc. Esse o nosso tempo, mais triste impossível.

Thiago, de São Paulo