terça-feira, 13 de dezembro de 2022

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (172)


BURACOS QUE VIERAM PARA FICAR
Conhecida como uma das cidades mais esburacadas brasileiras, Bauru recebe de braços abertos os novatos, como esse, se tornando famoso no dia de ontem, pela sua elasticidade e profundidade. Localizado numa das esquinas da rua Áraujo Leite, duas quadras abaixo da Duque, onde um dia foi idealizado o sonho de ali florescer um shopping com a marca Maksoud Plaza. Nada daquilo vingou, a cobstrução permaneceu mais de uma década em estacas, com tapumes na calçada e agora, para não fugir à regra, mostra suas novas possibilidades e qualidades. Veio para galgar o pódium.

ELE É O CARA AQUI PELOS ALTOS DAS NAÇÕES 
Nunca perguntei seu nome. Até já me disseram, ou ele mesmo me disse, mas não gravei. O conheço há alguns anos. Sempre pela região dos Altos das Nações, lado de cá, entre o Habib's e o Itaú, seu reduto. Chegou a montar algo com a sua cara no canteiro no meio da avenida. Espécie de varal, onde estendia algo do que queria mostrar para todos. Vez ou outra seus pertences estão ali debaixo da marquise do Itaú, de onde sai para confabular com os motoristas ali parados no sinal das Nações. Fala sózinho, mas quem não faz? Eu mesmo estou ficando catedrático nessa especialidade. Vez ou outra tem algo nas mãos e fica no canteiro, gesticulando muito, falando em voz alta, numa conversação que, sempre fiquei curioso em ouvir, mas nunca captei. Queria mesmo buscar inspiração para minhas prosopopéias solitárias.

As vezes até paro o carro e fico a admirá-lo, como um bailarino no meio daquela confusão toda, sabendo se safar muito bem de todas as investidas. O vejo conversando pouco com motoristas. Na maioria das vezes ele é quem fala. Deve ser muito bom de prosa, desses que a gente se aproxima e tudo depois gira em torno do assunto a lhe interessar. Envolvente, essa a melhor definição pata tão singular pessoa. Se apresenta bem diferente de todos os demais que cruzo pelas esquinas desta cidade. Traje inpecável, sempre renovado. Gosta muito de um paletó e confesso, algo que lhe cai muito bem. Não sei o de guarda suas roupas, mas sei ter muitas peças, pois raramente repete vestuário.

Poucas vezes o vejo fora deste quadrilátero. Poucas vezes pelo calçadão da Batista. Sempre altivo, pescoço empinado, fala agitada e sendo cumprimentado por muitos. É dos mais populares desta cidade. Nada sei dele, além do que vejo e mesmo ciente de padecer pelas ruas, toda manhã ao sair de casa, passando pela região onde sei é seu reduto, quando não o encontro, desço mais triste. É até chato dizer isso, pois não o queria vê-lo na situação onde se encontra, mas já é destes a fazer muita falta quando não mais for visto por estas bandas. Hoje mesmo, descendo de carro a Henrique Savi, ele numa esquina e conversando com uma planta. Parei e o fotografei, ele sorriu para mim e não se abalou, continuando o papo. Desci para meus afazeres e dele escrevo isso. Poderia fazê-lo de forma mais depurada, com mais dados, mas não, fica assim mesmo, algo feito só para enaltecer estes tantos ainda me chamando muito a atenção. De todos os que já escrevi ao longo do tempo, este hoje é o personagem mais despertando minha curiosidade observativa. Quem souber de algo mais, aproveite o momento e me conte, mas só o enaltecendo. Nem que seja ao menos pra me dizer seu nome. (obs final: O NOME DELE É POETA ANDRÉ)

"O BARÃO", AUTORIA DE JOSÉ CARLOS BRANDÃO*
* Texto publicado hoje na coluna Opinião do Jornal da cidade - Bauru SP. Assino o jornal, chego em casa para o almoço, havia publicado texto sobre o poeta das ruas, André e vejo este texto de outro poeta e bem pertinente ao tema. Lindo texto e assim, o compartilho:

"O homem entrou no bar, foi direto à lixeira, abaixou-se e passou a escolher com presteza os alimentos ainda não estragados, pedaços de coxinha, de quibe, de pastel. Abaixou-se com uma certa dignidade, com nobreza. Não é à toa que eu o chamei de "barão". Tinha um porte altivo, vestido no seu longo sobretudo - e era tempo de calor, mas o sobretudo fazia parte de sua indumentária de um ser superior. Não importava um ou outro rasgo, uma ou outra mancha de sujeira: quem o vestia era um ser especial, acima do comum dos mortais.

Eu me lembrei do "bicho" de Manuel Bandeira, que era um homem. O meu barão não lembrava um bicho, nem um simples homem, mas alguém acima do comum dos mortais. Tinha orgulho o barão, tinha orgulho de sua condição humana. Que circunstâncias da vida o tinham levado àquela decadência? Não, não, mil vezes não. Ali não havia nenhuma decadência. Decaídos éramos nós que o observávamos, que tínhamos vergonha de o observar. Como poderíamos olhar do alto quem estava acima de nós? Olhávamos como se por uma graça especial, de nossa condição decaída. Um homem.
 Aquele ser que tem orgulho de sua condição. Posso assegurar que o Barão tinha a nobreza desse orgulho. Os políticos que se humilhem com a própria cegueira, os poderosos que se rebaixem com a sua própria insignificância. O Barão, meus senhores, é um homem.

Eu o conhecera em suas andanças pelo centro da cidade. Depois veio a pandemia, fui eu que parei com minhas andanças. Agora mesmo, que a pandemia se foi e não se foi, ainda é um perigo rondando, tenho saído pouco. Assim, não vi mais o Barão. Anda ainda pelo centro da cidade, na Praça Ruy Barbosa, no Calçadão ou na Praça Machado de Melo? Não é meu parente, nem é meu amigo, nem sequer um conhecido - eu o chamei de Barão, tinha um quê de nobre e tinha um certo ar de mistério, que continua, que se acentua. Penso com terror, ou ao menos com dor, que pode ter morrido. Pode ter pegado Covid e não ter resistido. Talvez uma outra doença ou um acidente. Mas não precisamos ser assim trágicos. Não pode simplesmente ter viajado, ou melhor, voltado para o seio de sua família? O fato é que eu me preocupo com o meu barão.

Espero que esteja bem. Espero que não tenha lhe acontecido nada de mal. Alguém precisa ter alguma empatia com a humanidade, com o outro, esse ser tão diferente. Vemos os pobres como bichos (volto ao "bicho" de Manuel Bandeira) ou bandidos. Aqui chegamos ao lema atual: "bandido bom é bandido morto".

Porque temos medo de bandido, não precisamos ser assassinos. Chegamos a temer quem não é como nós, e temos pensamentos assassinos com a maior inocência do mundo. São muito difíceis as relações humanas e nós precisamos melhorar muito para sermos dignos de pertencer à humanidade. Barão, eu o respeito".

ACEITAR OU REAGIR, EIS A QUESTÃO - PASSANDO DA HORA
Não nos enganemos, São Paulo é hoje a principal base do bolsonarismo no País e Bauru, com sua incomPrefeita fundamentalista já é base, não só do conservadorismo, mas de uma extrema-direita retrógrada, perversa e perigosa. A rádio Jovem Pan, ops, desculpa, Velha Klan, com seu diretor Alexandre Pittoli é reduto deste anti-jornalismo baseado só na intransigente defesa do que de pior temos. Soma-se a isto que, a maior parte dos bolsonaristas é constituída de evangélicos, os quais correspondem a 45% do total. Não se iludam, o estado de São Paulo se tornou o QG do bolsonarismo. O novo governo, com Lula ontem diplomado tem o desafio de cooptar a direita ainda não bolsonarizada ou mesmo, decepcionada com a perversidade e falta de equilibrio do ex-capitão. Isso é importante, em um primeiro momento, até para isolar cada vez os bolsonaristas e, depois, para conquistar o apoio desses eleitores. Estamos numa guerra e esse o quadro, sem tirar nem por. Não nos iludamos, a sociedade onde vivemos, principalmente a do interior paulista é majoritariamente conservadora. É aqui que o bolsonarismo bebe, essa é a fonte deles. Nem todos os conservadores são bolsonaristas, reacionários ou extremistas, mas a maioria não foge à regra. De uns tempos para cá, algo que não acontecia no país, os candidatos se apresentam ao eleitor como representante da direita, assim de forma direta e reta.
A política brasileira foi ideologizada e, muito personalista, dificilmente perderá este perfil. Analisem quem votou no capiroto e constatem, a maioria deles se diz de direita. Isso é inédito no Brasil. Normalmente, a maioria se definiria como de centro, outro tanto não saberia responder. E ele contou com uma poderosa máquina de comunicação digital para manter essa chama acesa. O trabalho hoje é produzir respostas para as pessoas e fazer com que abandonem este posicionamento. Do contrário, se nada ocorrer, eles continuarão iludidos e seguindo este tipo de liderança.
LACRANDO: "Por falar em terrorismo, quando alguém terá coragem para desalojar o grupelho de golpistas que se apossou da área militar na porta de uma tradicional escola em nossa cidade?
E continuo: quando os 2 vereadores incitadores de crimes contra a ordem democrática serão cassados e punidos?
Estes fatos são gravíssimos e merecem a atenção dos baurueneses. Ora, a cortina de fumaça expelida na polêmica votação do aumento do número de cadeiras na Câmara não pode ofuscar problemas desta magnitude. Aliás, está sendo demagogicamente usada por " forças vivas" oportunistas, que se organizam para retomar o poder na nossa urbe em 2024", Claudia Eugenia Claudia Eugênia De Sena Melo.

ARGENTINIZANDO O DIA
Escolhi uma das montagens para postar aqui.

Daniel Paz é argentino da gema. Rei do traço, chargista e cartunista famoso naquele país. Desenha demais, escreve com a mesma intensidade e qualidade. Todo dia tem charge sua, lida por mim, na primeira página do melhor jornal diário latino-americano, o Página 12 - leio virtualmente toda manhã, quando muito viajo pelos temas abordados. Desde a ida da Argentina para as quartas de finais, tem publicado algo em sua página nas redes sociais, compartilhado por mim neste momento, quando em menos de duas horas a Argentina entrará em campo para enfrentar a Croácia. Ele pegou fotos dos jogadores argentinos comemorando gols, substituiu a carinha por de personalidades. Todos fazendo na cancha de jogo. Como estarei junto deles no dia de hoje - e também na final da Copa, que virá -, cá está a minha forma de demonsrar o apreço que tenho por eles, os hermanos, algo conquistado após dez anos, entre idas e vindas, para participar junto de Ana Bia Andrade de congresso acadêmico na Universidade de Palermo. Pelo carinho para com Maradona, Hebe de Bonafini, Péron, Cristina e Nestor Kirchner, Victor Hugo Morales, Miguel Rep, Mercedes Sosa, Alberto Fernandez, Fontanarossa, Quino, Che Guevara, Victor Heredia, Léon Gieco, Teresa Parodi, Axel Kicillof, Fito Paez, Ernesto Sabato, Julio Cortázar e outros tantos, cá estou hasteando a bandeira azul e branca. Até a vitória...
PS Final: O jogo terminou 3 x 0 pra Argentina e ela foi pra final da Copa do Mundo do Catar.

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