Passada a eleição paulistana, onde o dito fenômeno Pablo Vital, ops, desculpe, digo, PABLO MARÇAL quase convenceu uma parcela do eleitorado, o levando ao segundo turno da eleição, comecei a navegar neste mundo dos INFLUENCERS e de como se dá esse modal, essa nova forma da pessoa ganhar dinheiro, sem necessitar de carteira de trabalho, fazendo pouco caso de direitos trabalhistas e tantando a todo custo ganhar muita grana sem estar atrelada ao que antes denominavamos como mundo do trabalho. Tudo muito mudado e as transformações ocorreram muito rapidamente. Existe todo um mundo ainda antigo, a concepção do trabalho como conhecíamos e nele nos inseríamos, porém, existe hoje uma turba, cada dia mais crescente, os que não querem saber mais de procurar emprego e acreditam piamente em ficar ricos sendo influencers.
Travo um diálogo com um rapaz de cidade vizinha, aproximadamente 25 anos, recém demitido de uma fábrica e desde então, não querendo mais tentar vaga no que, até então, era a forma de seu ganha pão. Não quer mais ser empregado. Foi picado pela mosca azul e agora, tenta de tudo para encontrar um nicho, algo que, legião de fãs gostem do que poste, seguindo-o e mais que isso, fazendo começar a pingar grana assim do nada, como se tivesse encontrado um pote de ouro atrás do arco íris. Esse sonho está na cabeça de imensa legião de gente mundo afora. É a nova febre ululando pela aí e a cada nova entrada nas páginas internéticas, principalmente no Instagram, isso é não só observado, como existe uma enxurrada de gente tentando se tornar famoso da noite para o dia.
Vejo isso como um fenômeno novo, ainda não muito bem consolidado, mas onde alguns já conseguiram chegar lá, como o tal do Pablo Marçal. Ele faz parte de uma elite dessa pirâmide, dos que obtiveram sucesso e ganham zilhões com a coisa. Marçal encontrou seu nicho, o cara que acompanho rema muito, faz de tudo, inventa cada coisa, posta algo para mim, um tanto incompreensível, sem sentido, mas segundo ele, este é o caminho e assim como numa loteria, seu dia chegará. Analiso o que vejo, comparo o sucesso de uns e essa tentativa maluca de milhares, como o sistema de pirâmide, onde só uns poucos chegarão lá. Esse rapaz não posta algo específico de uma profissão, como vejo alguns. Tem de tudo, empregada doméstica se mostrando com um diferencial para atrair clientes, daí ser referência e sugestionar todas as demais. Assim como este segmento, todos os demais. Tá tudo infestado de gente, se mostrando e querendo ser visto, não só como profissional, mas como o que, dentro do que faz, tem um algo diferente e assim, destaque. São os trabalhadores por conta própria já contaminados pela avalanche de empreendedores influencers.
Nítido a existência de categorias diferenciadas entre estes todos. Todos começam praticamente lá em baixo, mas quando deslancham, adotam nova postura e daí em diante, influencers, usufruem das benesses de quem consegue picos de compartilhamentos e seguidores. A um passo de conqusitar legião fiel de seguidores, viram um grande negócio. Mas até chegar neste patamar, uma longa trajetória e como sempre, milhões ficarão pelo caminho, só na tentativa. Frustrados, ainda não existe meios de mensurar o que acontecerá com os rejeitados, os que ficaram pelo caminho. Hoje, por mais estranho que possa parecer, leio que, a atividade de influencer já passou a ser reconhecida pelo Ministério do Trabalho. Isso impulsiona ainda mais os que tentam viver disso. Não só viver, como se tornar milionário.
O que me parece mais lamentável neste meio é que, quando o cara sobre na escala, a grande maioria perde ou esquece da existência de algo parecido com ética profissional. Percebo existir um vale tudo rolando abertamente no topo dessa pirâmide. Vale tudo mesmo, desde fake news, como o pior de tudo, a maioria dos hoje no topo possuem claramente um perfil direitoso, conservador e ligados a grupos perigosos. Um parece atrair o outro. A maioria se deixa levar e se envolvem dos pés à cabeça. A ostentação me parece ser algo inerente a quem chega no topo. E desta forma, a pior possível, influencia quem está louca para sair dessa dificuldade que é ter que trabalhar, bater cartão, pegar ônibus lotado, ganhar pouco e suar a camisa diariamente fazendo algo que não gosta.
Falo por esse rapaz, do qual acompanho e não posso declinar nada a respeito. Nem ele sabe que escrevo dele neste momento. O analiso, o vejo em investidas e por outro lado, outro dia me disse algo mais, da existência de influencers do topo, promovendo cursos para iniciantes, ou seja, estão ensinando o pulo do gato e cobrando para tanto. O que não me entra na cabeça é uma só certeza, essa conta não fecha. Não vai fechar, não tem como. Não existe como atender e satisfazer a tanta gente. Impossível. Zilhões ficarão pelo caminho, descontentes e, seguramente, quando tiver a certeza de não ter dado certo, o que lhe restará pela frente, além de resignado, voltar pro seu mundinho, ganhando o que ganhava até bem pouco tempo.
Escrevo isso tudo tentando entender algo desse hiperindividualismo destes tempos. Pior que tudo, enxergo junto disso, uma aproximação destes com os ideais da extrema-direita, negando valores e tudo o mais, tudo pela causa de fazer grana fácil. Assustadoramente leio que, 75% dos jovens brasileiros possuem intenção de ser tornar influencers. Sonhar não custa nada, mas quem irá e terá condições de mostrar para estes, terem sido iludidos por uma onda perversa e que lhes destroçará também os sonhos? Eu não quero ser desmancha prazer de ninguém, não tenho intenção nenhuma de melar o sonho das pessoas, mas tem muito de irrealidade rolando paralelo nesse negócio, muito lucrativo para uns poucos e um suadouro para a imensa maioria. Mas como dizer isso a eles? Não é tarefa fácil. Se o fizer, talvez até me taxem como ultrapassado e não atento aos novos tempos. Enxergo requintes de muita crueldade embutido em como alteraram o sonho de tantos. E daí, por outro lado, os que ainda possuem os meios de produção em suas mãos, se aproveitando da situação, insuflam parlamentares para aprovar a modalidade de 6 x 1, ou seja, desanço mesmo para o quem ainda trabalha, cada vez mais reduzido.
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