sexta-feira, 15 de junho de 2018

CHARGES ESCOLHIDAS A DEDO (135)


COPA, CAMISA VERDE-AMARELO, SELEÇÃO E O TORCER

Eu sempre gostei demais de futebol, nunca escondi isso de ninguém. Sempre o fiz sem deslumbres de fanatismo. Não frequento os estádios de futebol do amador de Bauru (já o fiz em antanho, sendo torcedor do extinto ARCA), mas não perco jogo do EC Noroeste, o time de minha aldeia. Já viajei e viajarei outro tanto atrás do glorioso e centenário time do coração, pelo qual “sofro mais quando perde o Noroeste, do que o time grande pelo qual torço” (no meu caso, o Corinthians), para citar frase do radialista avaiense Jota Martins. Vou aos estádios não só atrás do Noroeste ou mesmo do Corinthians, mas onde ocorra algo que me atraia. Conheço desde o Maracanã, La Bombonera, Arena de Natal e do Atlético Paranaense, como os acanhados Rua Javari (que adoro de paixão) ou os charmosos estádios do Santacruzense ou do finado Oeste em Itápolis, ambos encrustados parede meia com bairros residenciais. O romantismo no futebol me atrai mais do que a paixão. Torço desbragadamente pelo Noroeste, mas não me abstenho e sem nenhum tipo de problema saio de Bauru numa manhã de domingo para presenciar um jogo do XV de Jaú no Zezinho Magalhães. Adoro estar no habitat do Alfredo de Castilho, a casa do Noroeste, lugar frequentado por mim desde moleque. Conheço cada canto daquele reduto. Ou seja, tudo para DECLARAR, o futebol é algo a me mover.

Imagina eu deixar de torcer pelo Noroeste pelo fato de discordar do procedimento de seus dirigentes. Se assim o fizesse não torceria por mais nada. Tento levar o amor pelo futebol de outra forma. Tive afinidade com poucas diretorias de times de futebol. Talvez a mais querida tenha sido a Democracia Corinthiana, época de Sócrates, Casagrande e Adilson Monteiro Alves. Todos sabemos que nos bastidores do futebol acontece de tudo e mais um pouco, desde lavagem de dinheiro, aproveitadores contumazes, rufiões, salafras e afins. Tudo isso junto de alguns realmente gostando e defendendo o time do coração. Dessa e com essa mistura o futebol sobrevive e continua sendo isso tudo que vemos pela aí. Já fui crítico até a medula de dirigentes do meu Norusca e nem por causa disso deixei de ir aos estádios. Não conseguia me manter distante. Botava a boca no trombone aqui e ali, mas lá estava. Sempre deixei claro o que penso e essa transparência me avalia para continuar torcendo, mesmo quando fizeram horrores com sua vida administrativa. Ele sobreviveu a tudo isso e hoje, vive a continuação de sua vida, da mesma forma como sempre o fez, sem tirar nem por. E daí me faço a pergunta: E se esses não existissem, o que seria do time? Responder a isso seria para laudas e laudas. Torço, crítico e vida que segue.

Passemos para o que se passa com a camisa canarinho nesses últimos tempos, quando foi utilizada nas ruas para sacramentar o cruel e insano golpe em curso no país. Abominável sua utilização, algo marcante e a estigmatizar o momento e o pessoal que dela fizeram uso indigno. Foi e é algo repugnante. Misturaram as duas bolas, a do futebol com a política. A camisa verde-amarelo foi indignamente utilizada e acabou marcada como a representar os golpistas. Ela sempre representou o país e se foi utilizada por eles, todos o sabemos, não os pertencem e precisa ser resgatada. Insensíveis que são, continuarão misturando alhos com bugalhos. Cabe aos sensatos mudar o rumo disso. Como? Difícil. A princípio aboli as cores de minha vestimenta, até por não querer ser confundido com nada do ocorrido. Escolhi a cor azul, a da segunda camisa da Seleção para torcer pelo Brasil na Copa, mas não aboli a verde-amarelo. Ninguém deve fazê-lo, mas também não farei papel de bocó de mola desfilando com ela. Outra coisa é o momento do futebol atual, o papel da maioria dos craques do momento e como vivenciam o momento vivido pelo país. O maior deles, Neymar é um exemplo que não quero seguir. Torcer pelo Brasil é uma coisa e ser contra os engomados da bola é outra. Mas, como já enfatizei no quesito Noroeste, o mesmo se passa em outras proporções com a Seleção e a Copa do Mundo. Claro que torcerei pelo Brasil, mesmo contrário a muita coisa que vejo acontecendo não conseguirei me manter distante do que sou impulsionado pelo meu interior. Junto do amor, a decepção toda pelas desventuras do país e meu amor pelo futebol, daí torcerei e verei os belos jogos, os belos times, o espetáculo em si, mas sem a empolgação de antes. Não conseguirei me manter distante. Jogos com a Argentina, Peru, Uruguai, Portugal, Islândia, Alemanha e outros eu assistirei.

Segue o jogo e ainda vendo como faremos para resgatar a camisa canarinho para uso no futebol e não para as desventuras e aventuras de ignóbeis pelas ruas brasileiras. Se o momento é voltado para o futebol, não existe maneira de se manter indiferente e afastado. Estaria mentindo se dissesse estar me lixando para a Copa. Não estou. Ontem gostei da Rússia ter ganho e bem na estreia e hoje, torci para o Uruguai contra o Egito, pois venero esse espírito guerreiro. E não deixei de me emocionar com o choro do craque egípcio Salah quando seu time tomou o gol no final da partida. Esse sentimento pelo seu país, uma ditadura cruel e insana, não o faz deixar de ali estar e fazer o que sabe com maestria. Já quanto ao espírito da Copa ou ânimo para torcer, esse vai de cada um. O meu está em baixa, a situação endureceu as relações e prefiro me ater a outros assuntos e preocupações, muito mais urgentes e necessárias. De futebol, por enquanto, é só.

OBS.: A charges do amigo Fernandão, publicadas no JC refletem o espírito do torcedor brasileiro.

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