Meu pai trabalhou a vida inteira dentro das hostes ferroviárias a já não mais existente Cia Paulista de Estradas de Ferro, con hecida também como FEPASA. Ele na fepasa e meu avô, por parte de mãe na NOB, ou Rede Ferroviária Federal. Meu pai, Heleno Cardoso de Aquino, como Chefe de Estação em várias cidades, encerrando suas atividades na famosa estação da praça Machado de Mello. Meu, avô, José Perazzi, foi marceneiro dentro das Oficinas da NOB, uma que um dia chegou a ter no todo aproximadamente 4 mil funcionários. Vivi minha infância e adolescência envolvido em histórias e tendo contato imediado de primeiro grau com a ferrovia. Tenho, portanto, o amor advindo desta atividade, a do ser ferroviário, encruado dentro de mim.
Vez ou outra, meu pai pegava a família toda, ele, minha mãe Eni Perazzi de Aquino, meus irmãos, Helena, Erci e Edson e embarcávamos para visitar parentes em São Paulo, na maioria das vezes se hospedando na casa de uma tia, num sítio em Franco da Rocha, num tempo em que não era perigoso perambular pelos lados aindas senso ocupados na zona rural daquela cidade. Hoje tudo está devidamente ocupado e há mais de 40 anos não vou para aqueles lados. Em muitos casos parávamos em Jundiaí e seguíamos com um trem urbano até Franco da Rocha, noutras vezes, a maioria, íamos até a Estação da Luz e de lá, com um trem pinga pinga chegávamos ao destino.
Inesquecível a Estação da Luz daqueles tempos. Quando atingi a maioridade, fui trabalhar na FEB e depois na Bradescor, viajei sózinho, daí já pagando a passagem, me hospedando em pequenos hotéis lá perto da Luz, tudo nas primeiras aventuras paulistanas. Muitas boas recordações destes tempos, quando adorava não só vir de trem, como perambular pela zona boêmia, lá pelos lados da Major Sertório, hoje locais pelos quais não andaria mais desacompanhado à noite. Durante o dia, sem problemas, mas à noite, como adorava fazer, nem pensar. Todas essas andanças eu fazia de trem e chegando ou saindo via Estação da Luz. Algumas vezes também viajei de ônibus, pelo terminal rodoviário antigo, aquele com as telhas coloridas em acrílico. Uma tia morava ali perto na rua Conselheiro Nébias. O trem sempre esteve permeando minhas andanças paulistanas.
Agora, passados uns 45 anos disso tudo, olho para o teto da Estação da Luz e como, nisso nada mudou, as recordações brotam na minha mente. Viajei de trem até quase o final, quando FHC privatizou todo nosso parque ferroviário. Foi um desastre, fonte de muita tristeza para meu pai e, consequentemente, para mim. Lá no interior pouca coisa mudou e do lado de fora, algumas edificações ainda estão de pé, porém a maioria com as portas lacradas. Ainda resiste um hotel de alta rotatividade diante de sua porta principal e mulheres circulam com saias justas e curtas defronte. Nos meus tempos de juventude algumas delas ferviam meu sangue, hoje é como um filme velho, querendo ser revivido, com as lembranças brotando conforme ando de um lado para outro da estação.
O movimento lá embaixo, junto da plataforma de embarque é o mesmo. As dos meio nos levavam para as cidades próximas e a plataforma da lateral era onde chegavam os trens que iam até Bauru, depois seguiam até Panorama. Eu e meus irmãos percorríamos o trecho toda da viagem numa brincadeira inesquecível, a ir decorando os nomes das estações, uma por uma. Por um bom tempo as tinha todas de memória, mas com a passagem do tempo e com o chips já um tanto cansado e cheio, nã oconsigo mais me lembrar de todas. Porém, me lembro muito bem dos trens. Tivemos ótimos trens, mantidos com o devido esmero, só descuidado ao final, quando tudo já estava mais que consumado. O PSDB, para mim, seguirá por todo o tempo com essa marca mais que negativa em seu currículo. Tivemos uma malha ferroviária de muita envergadura, hoje praticamente destruída, necessitando ser toda reconstruída. Eu sei, o trem de passagereiros um dia voltará a circular por estes trilhos, pois com o passar dos anos será inevitável a chegada até a capital via rodovias. Hoje já está complicado, imagino daqui há mais algumas dezenas de anos. Creio eu, tudo voltará um dia, essa ligação São Paulo/Interior, tendo como ponto de partida e chegada a Estação da Luz.
A HISTÓRIA DO TRIO DE CEGOS, ATUANDO NA MASSOTERAPIA
Eu e Ana Bia fomos convidados a visitar um antigo orientando seu, Alessandro Pelegrini, o Alê, morando na vila Clementino. Estivemos lá hoje à tarde e fomos presenteados com algo inusitado. Além da recepção com acepipes, um trio nos aguardava por lá. Três massoterapistas estavam à nossa espera, pois numa clínica junto da casa, inauguravam ali neste momento, sessões semanais onde estarão daqui por diante, toda quarta atendendo clientes no local. Tudo seria normal não fosse os três cegos.
Sheila Cardoso do Amaral, 49 anos, seu esposo Joel Soares de Lima, 50 anos e Dário Neves, 43 anos, todos cegos, participando de atividades ligadas a igreja católica ali nas imediações, foram convidados pela mãe do Alê para iniciarem atividades semanais em sua clínica. Ouvimos atentamente a história de todos eles, cada qual com uma vivência e anos sem enxergar. Estavam à nossa espera e recebemos a massagem terapêutica. Todos nos confidenciaram de terem se iniciado nos trâmites do aprendizado da massagem, pois enxergaram nela um ofício onde a falta de visão não seria impedimento.
Ao final, Sheila conta de como se dá a vida de todos, das dificuldades, ao apoio coletivo e também de como recebm ajuda diária, advinda de todos os lados. O que mais me impressionou foi saber que todos moram bem longe dali e fazem um viagem diária muito longa. Ela e o marido saem de Carapicuiba e caem na cidade grande. No retorno de hoje, contam que não pagam passagem de metrô e nem de ônibus urbano, tendo duas viagens, fazendo uma baldeação para outro trecho, chegando num terminal, pegando um trem, chegando em Carapicuíba, depois mais um ônibus urbano e no ponto onde descem, mas dez minutos a pé até suas casas. Fiquei impressionado.
Sheila diz, essa dificuldades todas não a fazem desistir de sair de casa todos os dias para trabalhar, atuando na massoterapia numa empresa de telemarketing, mais de mil funcionários. Os demais, atuam muito se doando em eventos comunitários e finalizado o aprendizado. Os acompanhei té perto da estação do metrô e até lá, chegaram sem necessitar de ajuda. Contam que, em todas as estações recebem ajuda dos seguranças, os levando até o primeiro vagão, com a estação onde descerão avisadas para receberem por lá o mesmo tratamento. Depois da ida deles, sentamos mais um tempo com Alê e sua esposa Carol, colocando a conversa em dia.
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