sábado, 1 de março de 2008

UMA ALFINETADA (21)
Escrevi o meu último Memória Oral e logo a seguir ouço a história de L. Percebo que uma tem muita liga com a outra e que precisam ser lidas juntas. Tentem fazer isso, depois me contem...
A HISTÓRIA DE L.
Gosto demais da trajetória de vida do ex-assessor de imprensa daPresidência da República, o jornalista Ricardo Kotscho. Vida profissional brilhante e pautada sempre pela ética. Num certo momento de sua vida decidiu dar um basta na correria e seguir adiante com novo direcionamento.Lançou ano passado o livro “Uma vida nova e feliz... sem poder, sem cargo, sem carteira-assinada, sem crachá, sem secretária e sem sair do Brasil”(Ediouro, 2007), demonstrando como foi o novo direcionamento de sua vida, pautada no “é possível ser feliz vivendo com muito menos, sem o stress diário e com maior dedicação à família, amigos e a simplicidade do dia adia”.

Por outro lado, acompanhei essa semana o desenlace de uma outra história, a de um amigo dos tempos de universidade, o L. A lembrança que tinha dele era a de um estudante envolvido com as causas sociais mais avançadas, ditas de esquerda. Depois da universidade, cada um seguiu seu caminho e perdi o contato. De vez em quando o reencontrava, era um simples cumprimento, um alô, nada mais. Agora ouço algo a respeito desse período sem notícias. L. havia conhecido uma garota burguesa, da sociedade de uma cidade vizinha. A família só fazia gosto de ver a filha casada com alguém cheio de grana. Não era o caso dele, porém conquistou a moça e acabou no altar, integrando-se de corpo e alma ao espírito do que recomendava a família dela. Mudou de vida e estilo. A noiva chegou na igreja de limousine e o casal passou a acumular capital. Chegaram a ter várias escolas particulares, viviam nas rodas sociais e prosperaram dentro dos padrões da elite nacional.

Como quem tem muito, sempre quer ter mais, surge um novo sócio e investem mais. A trajetória traçada não deu lá muito certo e a sociedade acabou desfeita. Cada um para o seu lado, tendo L., com os bolsos cheios voltando para Bauru. Por aqui, loca um ponto comercial, constrói ali um grande empreendimento, investindo uma grana preta. O retorno não veio e passado alguns meses as portas se fecharam drasticamente.Bancarrota financeira, investimento perdido, problemas mil, cabeça em parafuso, o refúgio encontrado foi numa igreja evangélica. A que lhes deu abrigo é daquelas onde as mulheres ficam de um lado e os homens de outro. Mudança radical de vida e de postura. Aquele ex-jovem revolucionário agora estava em outra. A cabeça é outra. Ele tenta se reerguer, segue o que lhe dita a tal igreja, num caminho diferente do proposto por Kotscho, que diminuiu o ritmo, porém continuando em ação. No seu caso, arriscou cada vez mais, queria mais, lutou por mais, achando que ter cada vez mais era a grande coisa de sua vida. Prefiro, cada vez mais, agir como Kotscho e viver.

Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, um que nunca teve nada na vida e que não busca ter. Quer apenas e tão somente tocar a vida sem sobressaltos, fazendo e acontecendo.

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