segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

UMA ALFINETADA (43)

QUANDO SE AGE DESSA FORMA, NÃO EXISTE MEIOS DE UM PAÍS AVANÇAR
(Esse saiu publicado n'O ALFINETE, edição do último sábado e hoje sai aqui).

De vez em quando bato numa tecla aqui nesse espaço e sou criticado. Afirmo que uma das maiores causas do atraso brasileiro se deve à sua classe dominante, a denominada elite, detentores do capital, das terras, dos empregos e das grandes posses. Reafirmo a cada investida que a grande maioria de nossa elite não pensa no país num todo e sim, somente no próprio umbigo. Tudo é feito somente em função do seu próprio e único benefício. Não aceitam em hipótese nenhuma uma divisão mais parcimoniosa do grande bolo financeiro. E isso, com toda certeza, provoca um grande estrago para o Brasil, pois a grande massa é alijada de tudo, ficando com umas migalhas, necessárias somente para sua sobrevivência. Essa ganância é causa primordial de nosso atraso.

Quando me pedem exemplo, cito vários e nessa semana tomo conhecimento demais um. Uma grande empresa da área de vendas, especializada na comercialização via telefone, possui no seu quadro funcional mais de 70 pessoas, todas plugadas em telefones, fazendo ligações ininterruptas Brasil afora, por mais de 12 horas diárias. Fazem e acontecem. Já fiz algumas compras dessa forma e sei como agem, como recrutam, como lucram e como tratam seus funcionários (se pudesse compraria tudo o que essas operadoras me oferecem, mas sou um "pronto"). Esse o ponto em que me atenho nesse momento. Lucram muito, mas na hora de dividir o bolo, de respeitar os direitos trabalhistas, não o fazem da mesma forma com que criticam a alta de impostos e os desmandos governamentais. Quer dizer, são perfeitos lobos em pele de cordeiro.

Explico. Do que tomo conhecimento, estarrecido fico. Nenhum dos seus funcionários batem cartão. Não existe nenhum tipo de controle de entrada e saída, horários controlados ao seu bel prazer. Descontrole gerenciado e que só atende a um interesse, ou seja, manipulação para benefício próprio. Horas extras nunca são pagas. Obrigam seus funcionários a fazer um horário reduzido de almoço, induzindo a fazerem a refeição no próprio local de trabalho. Cobram por isso. Não fornece vale-refeição, ou melhor, descontam do salário de todos um valor pela refeição fornecida. Funcionários são registrados por um valor e recebem menos que o salário mínimo, promovendo uma infinidade de descontos, sem que nenhum deles aconteça por escrito. Tudo feito verbalmente, no convencimento, ou melhor, numa velada ameaça. Sempre existe uma fila de novos recrutamentos a amedrontar todos.

Querem mais. Vejam só como atuam em relação ao seguro-desemprego, que é lei e deve ser pago a todo trabalhador demitido após um tempo determinado de registro em carteira. Promovem uma demissão de muitos funcionários com a alegação de que irão ser recontratados no início do ano, numa nova firma, num acerto contábil. O funcionário passa a receber o seguro, só que continua trabalhando na empresa, sem que a mesma lhe pague nada. Olhem o absurdo: o funcionário recebe do seguro-desemprego e trabalham alguns meses de graça para a firma, na esperança de serem recontratados. O tratamento dado aos funcionários é como se fosse uma relação de pai para filho, bonzinhos, muito diálogo, numa embromação de dar gosto. Enrolação e promessas.

Dá para o Brasil caminhar para frente com gente assim? Como vamos chegar ao Primeiro Mundo com gente assim no comando de empresas? Esse tipo de patrão viaja todo ano para o exterior, está rotineiramente em colunas sociais, festas mil, diz horrores do atual governo (como podem falar mal de alguém se agem dessa forma?), vivem nababescamente e se intitulam os grandes alavancadores do nosso progresso. É disso que falo. Enquanto perdurar esse tipo de relacionamento capital-trabalho, com um explorando o outro ao máximo, nunca sairemos da letargia, do atraso e da inoperância. É claro que não generalizo, pois muitos empresários não pensam e agem dessa forma, mas os que o fazem são uma pedra no sapato do nosso progresso, verdadeiras "laranjas podres" dentro do grande balaio, que é nosso empresariado. Resolver isso, que também não é um mero caso isolado, é mais do que necessário. É essa elite que critico, cutuco, espezinho, instigo e faço questão de me posicionar contrário.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nenhuma dica de qual empresa é essa?
"Sifu" para eles.
Pd.

Henrique disse...

MEU CARO "Pd."
Não posso fazê-lo, mas que é um grande FDP, isso é.
HPA