UMA CARTA (26)
JOVENS UNESPIANOS EM BUENOS AIRES
Eu adoro a Argentina, mesmo tendo que escutar piadinhas sobre os ‘porteños’ com certa freqüência. Estive lá com o Marcão em 2007, quando o Chávez promoveu o famoso “Fuera Bush” (saiu aqui no mafuá, num Memória Oral de 04/04/2008). Foi uma visita mais do que política, das que não me esquecerei jamais. Semana passada o Jornal da Cidade em seu Caderno de Turismo voltou a falar sobre Buenos Aires. Bateu uma bruta saudade e fui pedir ajuda para MAYARA PAVANATO (ela é filha de um amigo de mais de vinte anos, o Antonio Carlos Pavanato, quando trabalhamos juntos na Bradescor), que lá esteve no final do ano passado junto com estudantes daqui e de Assis. Relatos estudantis me encantam. Bati os olhos e algumas coisas me chamaram muito a atenção: 1) Uma greve no metrô bem diferente da realizada por aqui, 2) Pichações por lá só com dizeres políticos, 3) As constantes manifestações políticas nas ruas (como são diferentes de nós) e 4) Pode ser estranho, mas prefiro viagens assim, via terrestre, quando vamos descobrindo aos poucos o país e não pela via aérea, quando descemos no local e não sentimos os cheiros do país. O vapt-vupt tem suas vantagens e, acredito mais desvantagens. Eles terão histórias para contar por um bom tempo e eu “gileteei” tudo, pois pelo relato da Mayara já a estou vendo numa redação, batucando belos textos. Ela está no segundo ano de Jornalismo, em Bauru. Esse é longo, mas vale a pena. Vibrei e fiquei querendo mais...
Henrique: A viagem, em suma, foi incrível. Logicamente com algumas circunstâncias não muito agradáveis, situações um tanto quanto ''fora dos planos'', mas foi muito bom. Saímos do bar do Baiano, aquele em frente a Unesp, no sábado, dia 6 de dezembro, às 18h. De Bauru fomos para Assis, pois lá estava uma outra parte da excursão, inclusive quem estava organizando.
Chegamos em Foz do Iguaçu domingo, não me recordo o horário. Sei apenas que havia filas enormes e um calor infernal! Aliás, calor foi algo que enfrentamos todos os dias, para nossa tristeza, pois nos ônibus não havia ar condicionado. Você não imagina o tormento! Fizemos o passeio no parque das cataratas e, mais uma vez, não recomendo. A vista é realmente maravilhosa, mas não sei se porque somos estudantes e como tais, quebrados financeiramente, achamos tudo muito caro. Para se ter uma noção, uma garrafinha de água chega a custar R$ 3,00 e um almoço no restaurante que há lá dentro, R$ 40,00 por pessoa. Ah, e um detalhe: não há bebedouros no parque. E para andar todas aquelas trilhas, subir e descer todas aquelas escadas, achamos que fosse essencial os bebedouros ali. Afinal, não dá para ficar pagando R$ 3,00 sempre que sentirmos sede. A solução foi nos refrescarmos com água torneiral mesmo!
Enfim, saímos de Foz (bastante frustrados, diga-se de passagem) e rumamos para Buenos Aires. Foi bastante demorado, mas os motoristas disseram que não tanto quanto pode ser. Há casos de demoras extremamente longas na fronteira! As estradas argentinas assustaram um pouco. Não há nada! Se tivéssemos qualquer problema com o ônibus, por exemplo, não sei como seria. Raramente há alguns postos de gasolina ou restaurantes, com comidas não muito convidativas.
Chegamos em Buenos Aires na madrugada de terça-feira, por volta das 2h da manhã. Detalhe: sem tomarmos banho! Hahaha. Foi o maior período que passamos sentindo saudades dos chuveiros. E imagine todos nós nos ônibus sem ar condicionado e o calor que não passava nunca. Estávamos em situação de calamidade. Hahaha. A excursão se dividiu em vários albergues. Fiquei em um chamado Hostel Sol. Fica na avenida Lima, uma das principais. Então foi ótimo, pois havia uma estação de metrô em frente, mercado, padaria, pontos de ônibus... tudo ali pertinho. O Daniel, que é o dono, é uma pessoa incrível, assim como os funcionários que trabalham lá. São todos de maior idade e tornaram-se nossos ''avós'' na semana que passamos lá. A Maria é encantadora, o Amado é quem cuida do portão e o Juanito é quem fica lá durante o dia, enquanto o Daniel dorme. O albergue é uma casa antiga com dois andares. Tem cara de casa da vovó. Todo colorido, sem luxo, mas muito aconchegante. Tem sala com lareira, computadores, quartos de todos os tamanhos, cozinha comunitária, banheiros separados para meninos e meninas. Enfim, muito bom! Recomendo.
A cidade também agradou muito a todos. Logo que chegamos nos deparamos com avenidas de 8 pistas! E para quem tinha vindo por estradas que não tinham nem placas, imagine. Fomos aos bairros mais conhecidos, como La Boca e Recoleta. Aliás, há uma feira de antiguidades na Recoleta aos domingos. Eu e um amigo fomos ao El Tigre e é como se Buenos Aires fosse São Paulo e El Tigre fosse uma das cidades do ABC. É fácil chegar. Pegamos um metrô até a estação e de lá fomos de trem. O trem circula dentro da cidade, próximo à casas e etc. É muito bacana. Chegando em El Tigre, a cidade parece de brinquedo. Arquitetada estilo Playmobil. Hahaha. E lá é onde se pode fazer passeios de barco, além de conhecer o Mercado del Frutos (se não me engano o nome é esse). Pagamos no passeio de barco 23 pesos, o que não é caro. O Mercado é um grande aglomerado de barraquinhas que vendem artesanatos, comidas, etc. Na cidade também há um grande parque de diversões e um cassino gigantesco! Eu e meu amigo entramos no cassino e, confesso, fiquei chocada. Nunca havia entrado. São 3 andares destinados à máquinas caça-níquel e no último ficam os jogos de mesa. Inclusive, é algo interessante, pois em Buenos Aires nos deparamos com vários escritos que diziam: "Onde estão as moedas?". E nós descobrimos onde elas foram parar: nos cassinos. É uma quantidade enorme de pessoas que entram e saem do prédio repleto de luzes e sem janelas. Até nós, os não-jogadores, nos confundimos com o horário.
A Buenos Aires noturna não conheci. Optamos por sair cedo do albergue e aproveitarmos o dia. Chegávamos por volta das 21hrs, loucos por banho (o sagrado banho!) e contar todas as novidades para quem havia feito caminhos diferentes. Como estávamos em grande número, não deu certo sairmos todos juntos. Cada um queria fazer algo e acabávamos não fazendo nada. Então nos dividíamos por interesse e assim rolou muito bem. Presenciamos diversas manifestações políticas. É algo extremamente comum e os argentinos fazem muito. As pichações pela cidade também chamou muito a atenção, pois não há marcações de território de gangues e etc, mas dizeres políticos, cartazes dizendo sobre o prefeito ou presidente. Aliás, pegamos uma greve do metrô. Por não sabermos como acontecia, achamos que fosse como no Brasil, onde o metrô pára de funcionar. Mas não. A greve lá consiste em liberarem as catracas. Nesse dia, ninguém paga para utilizar o transporte. O intuito é fazer com que a empresa não lucre.
Ahh, conhecemos num mercadinho perto do albergue um cara gente boníssima. Ele é envolvido com fábricas ocupadas e morou no Brasil durante um tempo. Conhece bastante de mpb e conversamos um bom tempo enquanto íamos comprar algumas cervejas. Bom, e essa foi mais ou menos a nossa estadia por lá. Na volta foi tudo relativamente normal, exceto o eterno problema com a propina. Pararam o nosso ônibus e arrumaram infinitas desculpas para que ele ficasse retido, a não ser que pagássemos 400 pesos. Foi um tormento só, pois não contávamos com isso. O motorista tinha 40 pesos na carteira e chegou aloprando todos nós de que a coisa iria feder. Como achamos que não teria outro jeito, juntamos o que tinha restado de dinheiro e arrecadamos uma quantia. No fim das contas, não se sabe muito bem como nem porque, liberaram nosso ônibus pelos 40 pesos do motorista. Chegamos em Bauru numa terça-feira chuvosa. Acho que para lavarmos a alma e nos sentirmos renovados de estarmos de volta. Dá uma sensação muito boa passarmos pela fronteira e nos sentirmos em casa, sabe?! Nossa língua, nossos costumes, nosso povo. Tudo parece muito mais ''nosso''!
Espero que tenha gostado. Nós gostamos muito e quem sabe no fim desse ano não retornaremos?! Hehehe. Beijos! Até mais!
Mayara
Em tempo: Mayara é aquela sorridente garota, do lado esquerdo do argentino da pousada e de uma amiga.
quarta-feira, 4 de março de 2009
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5 comentários:
Poxa, Henrique, adorei que você tenha gostado.
Fiquei muito feliz com os elogios e com certeza faço muitos a você também.
É engraçado pensarmos no que você disse em algum show do sesc tempos atrás: na época em que você e meu pai trabalhavam juntos, quem imaginaria que a filha dele fosse trocar e-mails e experiências contigo.
Surpresas boas da vida!
Muito obrigada.
Mayara
cara Mayara
A história contada por ti, na forma tão despreendida me cativou desde que bati os olhos nela. Achei que deveria postar aqui. Fiz alguns cortes, pequenos, estava longo demais. O legal de tudo isso é que deu para vocês sacarem muito bem algumas diferenças básicas entre os dois países. Acho que quando digo que gosto da Argentina, tem muito dessa forma como o jovem vai às ruas para fazer política, bater panelas, contestar muito mais do que aqui. Fiquei maravilhado de ver a forma como fazem a greve do metrô: o trem funciona e ninguém paga nada, o prejuízio é da empresa. Que consciência, não? Senti isso também por lá. São mais vibrantes para a política, para buscarem e se organizarem na busca dos seus objetivos.
Quanto a seu pai, ele me enviou recentemente (preciso achar aqui nos meus emails) umas fotos de uma viagem que fizemos juntos, para um Grande Prêmio de F1, no Rio, em Jacarepaguá. Ambos meio moleques. Vou achar e escrever o que me lembro daqueles tempos. Publico aqui e te aviso para acessar.
Um grande abraço e continue enviando novidades.
HPA, direto do mafuá
Oi Henrique!
Você não imagina a minha felicidade ao ver publicado aqui no 'Mafuá' o seu comentário e também o texto da Mayara.
Me "massageia" o ego com certeza!
Sempre comento com meus filhos, muita coisa desses nossos 20 e tantos anos de amizade, digamos que, uma amizade fraterna, sem qualquer tipo de interesse, a não ser pela mais pura das amizades!
Sou feliz por tê-lo como meu grande amigo!
Conte sim algo sobre "aquela" nossa viagem ao Rio para assistirmos a Fórmula 1, e não se esqueça dos "detalhes"... rsrsrs!!!!
Abraços meu amigo!
AC Pavanato
Sempre tive vontade de conhecer Buenos Aires, mas parece que pela via estrada, os guardas argentinos tentam nos estorquir? É verdade? Queria que a Mayara falasse mais desse contato com os policiais.
João Pedro - Piratininga
Então, João Pedro, foi isso o que aconteceu conosco.
Ao todo, nossa excursão estava em 3 ônibus. E em todas as paradas, pelo que soubemos, ao menos um teve que pagar propina aos policiais. Na última, já voltando para o Brasil, foi a que contei sobre os 400 pesos e a ''vaquinha'' dos estudantes para tentar pagar. Eles alegaram várias coisas para tentar reter o ônibus, mas não sabemos ao certo como foi a negociação, pois ficamos lá dentro.
Sabemos que no nosso ônibus chegou a entrar um policial para ver as condições e tudo o mais.
Na verdade, poucas empresas fazem essa viagem por via terrestre, tanto por causa das estradas um tanto quanto desertas, quanto por causa dessa prática de propina, que ao que parece, parece ser constante.
Ir de carro eu não sei, mas com os nossos ônibus foi o que aconteceu.
Mas não desanime. A Argentina vale muito a pena!
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