terça-feira, 6 de março de 2018

BEIRA DE ESTRADA (91)


O TURISTA E AS BANCAS DE JORNAIS E LIVRARIAS
Viajar é uma coisa, existem lugares inimagináveis em todas as viagens, mas em todas, mesmo nos lugares mais simples, eis algo pelo qual não abro mão de visitar: as bancas de jornais e as livrarias. Faço questão de conhecê-las e no caso desta última viagem, França e Itália, mesmo não dominando nem o francês, nem o italiano, não deixei de frequentar esses lugares.

E em cada lugar, por menor que fosse, sempre uma parada para observar, fuçar, colocar as mãos, olhos e boca (eu babo em cima de papéis). Mesmo em pequenos vilarejos escondidos no meio da Itália, bancas e mais bancas e muitas livrarias. Ou seja, a leitura ocorre e isso me faz ver o que estão lendo.

Uma banca europeia não difere muito de uma brasileira. Tem publicações para todos os gostos e gêneros. A segmentação das publicação faz ter de tudo, mas além disso eu ainda vejo algo que hoje, infelizmente vejo cada vez com menor intensidade por essas nossas bandas: os leitores de bares e restaurantes. Na maioria dos estabelecimentos observei disponíveis os jornais do dia, vários deles, muito mais que revistas e em todos os lugares, disputadíssimos. Muitos se dirigem aos restaurantes, tomam um simples café e leem muito.

Em alguns lugares vejo um aparato especial para abrigar o jornal. Num deles, uma espécie de pasta com cartão grosso e cheio de publicidades, onde o jornal é fixado e assim mais fácil o seu manuseio. Tudo para facilitar a vida de quem estará folheando-o. E me postava a observar a expressão dos leitores, todos absortos, como que em transe. Como é bonito isso, essa espécie de desacoplamento do mundo real, para fixar-se no mundo da leitura. A pessoa como que fica num estágio de flanar no ar, voar ou mesmo mais que isso, pairar numa névoa.

Atrasei os passeios para poder ir parando nas livrarias. Queria algo mais do que uma simples foto na fachada. Entrei e algo diferencia as livrarias daqui do Brasil. Lá ninguém te incomoda, eles não se aproximam para querer saber oi que quer, mas te deixam à vontade. Só quando você vai até um dos funcionários e informa o que deseja, daí ele te percebe. Não consigo ter tranquilidade numa livraria brasileira tal o assédio.

Eu comprei alguma coisa, mas oque trouxe mesmo foram folders, mapas, guias e folhetos de espetáculos. Por onde passava recolhia o que via pela frente e depois quando em casa, fazia uma triagem onde procurava descartar o menos interessante. Mas o que seria menos interessante? Dentro de minhas malas mais de três quilos de papéis. Brincaram comigo que o excesso de peso de nossa bagagem foi em decorrência dos meus papéis. Mas os trouxe para curti-los agora, já no Brasil, onde tentarei reviver cada um, como foi conseguido e o seu conteúdo. Tudo isso requer tempo. Ainda não tive, eles estão todos no fundo de uma das malas e os separarei em breve. Papéis cheios de vida.

Na hora da despedida, numa banca no aeroporto de Amsterdam e depois no de Milão, quase no embarque trago dois jornais, um em italiano, o La República (junto deste uma revista semanal, como fazem aqui no Brasil com algumas delas) e outro só de Literatura. Tento folhear na viagem, demoro para conseguir ler um mero parágrafo, mas no esforço algum sucesso. O cheiro desses jornais, um papel mais fino que o nosso é algo inebriante. Só espero que a leitura deles não me desanime como as atuais publicações golpistas brasileiras, uma mídia vendida. Trago e neste momento estão aqui ao meu lado, onde tento ler algo a cada folga. Na verdade o mafuá é uma imensa reunião de muitos papéis, de toda espécie, gênero, finalidade, tendência e ideologia. Vivo no meio deles todos, daí o amor desmesurado por tê-los em abundância.

Na volta ao Brasil, mal chego no aeroporto de Guarulhos, 5h30 da manhã de segunda, um dos primeiros lugares onde vou é na banca e livraria Saraiva, buscar a Carta Capital. A leio de cabo a rabo no retorno até Bauru, quatro horas e meia de viagem. Estava necessitado de Brasil. No momento de outra coisa, algo distante da leitura e dos papéis, feijão. Ah, como senti falta do danado...

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