terça-feira, 15 de novembro de 2022

FRASES DE LIVRO LIDO (183)


ENTRE LIVROS, FRASES, LEITURAS E ASSIM, DANDO UMA BANANA PARA OS GOLPISTAS
Andar pela cidade do Rio de Janeiro, pelo menos para mim, tem tudo a ver com livros. Tenho meus pontos cardeais, aqueles pelos quais bato cartão e ali permaneço por instantes mágicos, inebriantes. Fiz um roteiro na tarde desta segunda, 14/11 e assim passei boa parte do dia, longe da agitação dos pervertidos. Estes, no desvio total e absoluto, estabeleceram um prazo para dar o golpe no País e este seria hoje, terça, 15/11, dia da Proclamação da República. Sei que esses bobocas não são de nada. Estão reunidos em cantos das cidades, defronte quartéis, em busca de uma quartelada, que não virá, pois o mundo inteiro já declarou ter recebido Lula e o que virá no Brasil como saudável para tudo, todas e todos. Nem dou pelota para estes e passo o dia entre livros, reverenciando algo pelo qual não consigo me afastar. Descrevo alguns destes lugares, por onde espaireci a mente, renovando as expectativas de que, em breve, todos estaremos trilhando caminhos muito mais saudáveis que os atuais. Enquanto isso, o livro me conforta.

Começo pela Livraria Folha Seca, do amigo Rodrigo Ferrari, na rua do ouvidor, centro velho do Rio. Abraço o dono deste insólito negócio e fico a fuçar algo, digo a ele que, pelo nesta viagem, trouxe revistas para ler, mas nenhum livro, pois queria comprar um ali sua livraria, algo com a cara do Rio. Fuço e me encanto com um, contando a história de personagem que desconhecia. Trata-se do "Direito a Vagabundagem - As viagens der Isabelle Eberhardt. Se hoje já é complicado uma mulher sozinha se embrenhar pela aí, imagine isso por volta da virada de 1900. Fico a imaginar os caminhos percorrido por ela, as aventuras vividas e constato, eu não fiz nada, ou quase nada até então. Outros fizeram muito mais.

Compro um do amigo Eduardo Goldenberg, dentre os tantos que ele dedica para sua aldeia, a Tijuca. Causos tendo como pano de fundo as ruas e viela do bairro onde nasceu e vive até hoje. Eu levo, pois sei, isso me contagia pra fazer o mesmo, andar pela aí, bater perna e ir também desbravando histórias. Ouço uma conversa do Rodrigo com o fornecedor de suas camisetas exclusivas da Copa, amarelas, com brasão da CBF desenhados exclusivamente pos Cássio Loredano, número 13 na frente e nas costas, além de braçadeira vermelha, segundo ele, "para não ter dúvidas do lado onde nos encontramos". Compro uma e ganho a caixinha com 10 cartões postais da Livraria, dez personalidades imortalizadas pelo traço do Cássio Loredano. Trouxe o meu de presente para Ana Bia.

Na Livraria da Travessa, a do centro, perto da avenida rio Branco, antes da Rua da Travessa, a primeira delas, hoje virando a esquina em lugar mais amplo, adentro e me perco entre os livros. Adoro livrarias que te deixam à vontade. Você entra e esquece da vida, navega por todas as possibilidades e não é nunca importunado. Numa orelha de um encontro frase de Chico Mendes: "Os trabalhadores, quando ainda inconscientes, agem como uma pessoa quando encontram um leão ferido, curam o leão e depois o leão os devora". Algo como acontece por todos os lugares deste mundo, quando trabalhadores tem dó do patrão, do algoz e depois, este na sequência o apunhala sem dó e piedade.

Teve mais um livro lá na Travessa, o do historiados das insignificâncias , Luiz Antonio Simas, novo, recém lançado, o "Sonetos e Birosca & Poemas de Terreiro". Impossível não se interessar por algo com um título destes. Compro sempre algo dele, pois além da escrita do jeito que gosto, sem babações, vai sempre direto e reto na veia do problema. Não doura a pílula. Não comprei mas fotografei uma das frases poemas, no interior do livro. Abri sem querer e de cara já me apaixonei: "O Amor incompatível - Te entreguei meu sonho mais bonito/ Como aquarela do Carybé/ Você me devolveu Romero Britto/ Pintado na caneca de café". Simas é bom demais da conta. Antes de ter que ir embora, contrariado, lei frase num dos pilares da livraria, com algo exatamente como penso do papel do livro no contexto deste mundo: "Tudo começa na livraria".

Para mim, tudo começa e caba na livraria. Se pudesse fic aria horas nestes lugares. São a bateria que preciso para enfrentar depois os dragões da maldade querendo passar uma rasteira no Brasil. Eu leio, mas também luto, esgrimo mal, mas vou dar trabalho antes de ser definitivamente derrotado. Percorro a avenida Presidente Vargas, compro camisetas em promoção de escolas de samba e times de futebol. Eu sempre esperei estes produtos irem para a banca da promoção, daí compro. Compro camisetas da Mangeira, Timão, Vasco e Brasil, tudo na bacia das almas. Tô nem aí se a qualidade dos produtos deixa a desejar. É o que posso pagar no momento. Vou pro Andaraí, adentro Livraria do Sérgio Sandino, na rua Uberaba, creio que a mais desorganizada da cidade, mas onde ele encontra tudo. Queria gravar um Lado B com ele, contando inclusive suas experiências na Revolução Sandinista da Nicarágua, mas ele estava atarefado. Compro 3 livros, sobre a Nicarágua e perfis de Nara Leão e João Nogueira. Marcamos a conversa para outro dia.

Antes de subir, esperando o ônibus 606, que me deixaria no largo do Verdán, paro para tirar uma foto da fachada de uma escola municipal com o nome do maior educador deste país, Paulo Freire. Pintura nova, linda e há menos de 300 metros da manifestação verde-amarela defronte o Ministério do Exército, junto da Central do Brasil. Enquanto os babacas lá se ajoelham diante até de pneus de tanques de guerra, quase choro admirando a belezura do traço do artista ali exposto. Passa tanta gente por ali e, infelizmente, poucos admiram ou sabem de fato quem venha a ser este tal de PF - Paulo Freire.

Volto e passo em frente a avenida Antonio Carlos, onde na CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, algo que me faz perder hora e compromissos, uma exposição fotográfica com um dos maiores deste metiê, Walter Firmo, um que soube retratar a rua como nenhum outro. Seus registros nos anos 70/80 são peças únicas, verdadeiras obras de arte e sempre, só com registros populares. A noite caia, queria mais, mas as pernas doíam e me chamavam do outro lado da cidade. Tinha muito mais o que fazer. Queria ter ido espiar como anda a Livraria Leonardo da Vinci, na avenida Rio Branco e fuçar alguns sebos lá pelos lados da praça Tiradentes, mas faltou tempo e perna. Do golpe, sei que, mesmo com esse falatório sem compostura de alguns juízes do próprio STF num conferência em Nova York, o país resiste, pois Lula venceu a eleição e quer queiram ou não, estaremos com ele nas paradas de sucesso pelos próximos quatro anos. Essa ninguém tira da gente, aliás, precisamos é urgentemente tirar das ruas os radicais de ultra-direita, fascistas de carteirinha. A luta também começa nas livrarias, com estes ainda pensando e ali circulando.
OBS: Dificilmente saio de uma livraria sem comprar um livro. Sei lá o que acontece comigo, mas não consigo me segurar e quando vejo já estou com mais de um nas mãos. Eles me atraem...

BRUTALIDADE DE MANDO NO BRASIL, DESDE SEMPRE
Charles Darwin quando esteve no Recife, se impressionou com a brutalidade das pessoas e escreveu: "É uma terra de escravidão, portanto de decrepitude moral!"

Em sua travessia pelo norte fluminense, Darwin deparou-se também com os horrores da escravidão. Dois episódios lhe marcaram profundamente. Um deles aconteceu na Fazenda Itaocaia, em Maricá, a 60 km do Rio, no dia 8 de abril, quando um grupo de caçadores saiu no encalço de alguns escravizados.

A certa altura, os foragidos se viram encurralados em um precipício.
Uma escravizada, de certa idade, preferiu atirar-se no abismo a ser capturada pelo capitão do mato. "Praticado por uma matrona romana, esse ato seria interpretado como amor à liberdade", relatou Darwin. "Mas, vindo de uma negra pobre, disseram que tudo não passou de um gesto bruto".

Após sair do Brasil escreveu: "Nunca mais ponho os pés em um país escravocrata! No Recife um jovem mulato era constante e brutalmente espancado pelo seu senhor. Até hoje, quando escuto um grito na madrugada penso que é um escravo brasileiro e tremo todo. Em Salvador e no RJ as donas de casa tinham tarrachas para esmagar as articulações dos dedos dos escravos domésticos. E aos domingos iam à igreja, onde diziam amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo".

Viagens de um naturalista ao redor do mundo, Darwin. Dedica várias páginas de sua estadia no Brasil em 1832. (via perfil de divulgação da obra de Charles Darwin)

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