MEMÓRIA ORAL (299)

O QUE É A PREMIAÇÃO ZUMBI DOS PALMARES DOS BATÉ/COSMO EM TIBIRIÇÁ - HOMENAGEM PARA ROQUE FERREIRA

Eu frequento Tibiriçá faz algum tempo. Algumas décadas. Quando conheci os Baté/Cosmo, vi neles, algo pelo qual tinha que me aproximar, pois representam muita coisa do que sinto em falta pela aí. Vou e volto lá com certa frequência. Não existe festa na casa principal da família, hoje comandada pela matriaca, dona Irene, quando convidado, que não compareça. Meu envolvimento é tamanho, tanto que, junto de Ana Bia, estamos também junto deles no bloco carnavalesco Estrela do Samba. Este evento anual, quando a família rende homenagem a quem esteve ao seu lado o ano todo, coincide com a data magna de Zumbi dos Palmares. Já escrevi isso anos atrás e volto a fazê-lo. De todas as homenagens e prêmios que vejo acontecendo em Bauru, este, para mim, o mais significativo, pois nasce do chão, frutifica de algo natural, sem firulas. Não se faz necessário voto popular ou algo parecido.

É uma linda festa. A família confecciona medalhas e as distribuiu aos presentes. Neste ano, o homenageado foi Roque Ferreira. Quem fez uso da fala pela família, foi Dulce Baté e ela falou algo do fundo do seu coração, rendendo homenagens ao Roque e das ligações dele com a luta, que é a de toda sua família. Eles fazem uma quantidade e a distribuem sem nada previamente combinado. Uma só exigência, a pessoa precisa estar presente. Dentre os presentes, difícil alguém que não saia presenteado e isso é grandioso, representa muito da família Baté.

Essa festa/evento sempre ocorria num espaço maior, na Casa Rural, um salão grande bem na entrada do distrito, mas essa atual administração, a da fundamentalista Suéllen Rosim, além de fechar a biblioteca ramal do distrito, fechou o posto de saúde local, com a justificativa de que estaria reformando-o e transferiu para este salão todas as suas atividades. A biblioteca nunca mais abriu, o posto policial fechou e também não foi mais aberto, o posto de saúde teve sua reforma interrompida, ou seja, o que era provisório, acabou sendo praticamente fixado como o novo posto de saúde. E o salão, antes utilizado para tantas atividades, principalmente culturais, estava com suas atividades encerradas. Dessa alcaide, Suéllen Rosim, espera-se tudo e neste caso, o que se esperrava era ela cumprir o prometido, mas não o fará. Esqueceu o distrito, mas seus moradores se viram como podem. Neste caso, a família Baté decidiu sem pestanejar, a festa deste ano ocorreria na casa da família.

E assim foi feito e tudo ocorreu lindamente. Se tem males que vem para o bem, a reunião de populares, amigos, convidados e moradores preencheu divinalmente todo o espaço. A chuva estava ameaçando cair, mas como nos dias anteriores, o vento a levou para outro lugar. Além de toda a premiação, existe outro diferencial desta família. Eles não fazem festa sem oferecer alimento para os convidados. A família, num todo, sofreu bastante até conseguir se firmar e como muitos dos seus passaram fome no passado, tudo o que fazem é com o intuito de demonstrar o quanto são gratos pelo momento atual. Ninguém sai de suas festas com fome. Isso é marcante.

Tudo começou hoje na praça central da cidade, com banners do Roque, do Zé Cosmo, falecido anos atrás e de Zumbi dos Palmares. Acompanhando o cortejo que seguiu até a casa da família, dois grupos de capoeira e os convidados. São duas quadras, mas vê-los novamente pelas ruas é como se certificar de que, eles são a própria cara altruísta deste distrito rural bauruense. Com todos acomodados no quintal e numa área coberta, Dulce Baté convida algumas pessoas e começa a distribuir as medalhas. A vi, momentos antes, junto dos seus, com um papel na mão, como em todos os anos, anotando os nomes dos presentes, ou seja, essa a lista dos homenageados.

Não vou me lembrar do nome de todos os homenageados, daí prefiro não citar nenhum, pois com certeza iria me esquecer de outros. Ressalto o principal, o espírito da festa. Muitos deles falam, curtos discursos, tudo no gogó, sem uso de microfone e quando cada um se apresenta, emoção renovada. Ao final, a comida é liberada, forma-se uma fila e todos se satisfazem. De todos os discuros, a mais representativo do dia foi o de Tiana, a atual presidente do Conselho da Comunidade Negra, fazendo um apanhado do que é a luta do negro na sociedade brasileira. Foi uma aula, ouvida atentamente por todos.

Num evento como este, o principal são as conversas ali possibilitadas. Para mim, momentos de extrema felicidade quando por lá e com essa rara oportunidade de se deparar com gente disposta a dialogar de forma franca, aberta, sincera e com aquele sorriso no rosto. Eu costumo dizer que a família Baté/Cosmo pode ser simples, mas não são bobos, muito menos bocós. Foi-se o tempo. A maioria vive na simplicidade e são felizes assim. Eu me sinto em casa quando por lá. Sou amigo de muitos deles, algo eivado principalmente de sinceridade. Não podemos desvincular o ocorrido por lá no dia de hoje com a data comemorada amanhã, a de Zumbi dos Palmares. Viva os Baté/Cosmo e Zumbi dos Palmares!

Obs.: Desculpem, poderia ter produzido um texto melhor, mais apaixonante, porém estou tocado negativamente pela vitória de Javier Milei na Argentina e a cabeça anda, neste momento, girando decibéis acima do normal.

pela manhã, antes do pleito começar
HOJE DIA DECISIVO NO PAÍS HERMANO, A ARGENTINA E A POSSIBILIDADE DE VENCER A PERIGOSA ULTRA-DIREITA, ATÉ PIOR QUE BOLSONARO

Repoduzo abaixo as três primeiras páginas do melhor jornal do nosso mundo, o argentino Página 12, dias 17, 18 e de hoje, 19/11. Refletem algo do que vivencia o país vizinho. Já passamos por isso. Na verdade, vencemos isso no último pleito, mas não vergamos definitivamente a crueldade e insanidade do que estão a propor os representantes maléficos de uma ultra-direita propondo, em primeiro lugar, aniquilar a esquerda. Lá, pelo que se vê e se viu na história recente de nossos países, mais cruéis e violentos que nós. Leio sobre toda a proposta de medo sendo espalhado, como os quatro presos antes de promoverem atentados contra o candodato Sergio Massa e sendo divulgado proposta de assassinar todos os congressistas, como única possibilidade de implementar a ditadura porposta por Javier Milei. A Argentina precisa se reiventar e aposta num processo de união nacional, que certamente não será alcançado, mas será o melhor para o país, pois não contribuirá para desestruturar tudo, tornando o País ingovernável e violento, como se abserva se vencer o maluco.

Leiam o que o Página 12 posta hoje numa de suas colunas: MARADONA - “Existem direitos JÁ conquistados com muito esforço, como a lei do aborto, o ESl e o casamento igualitário, que não podem ser revertidos”, escreveu Dalma Maradona em sua conta no Instagram. Foi um posicionamento claro contra o segundo turno. Depois acrescentou que “eram 30.000 e questionar isso é reivindicar aquela era ATROCIOSA e atropelar a história do nosso país”. Ela rejeitou qualquer possibilidade de venda de órgãos ou de uso gratuito de armas, teve orgulho de estudar em uma universidade pública e acabou se perguntando “Como vamos ter um presidente que odeia o país que quer governar?” Gianinna também recorreu à mesma rede social e sem mais delongas afirmou: “Quem ama Diego não vota em Milei”.

Meu amigo Jeferson Barbosa da Silva, o Garoeiro, direto de seu exílio em Natal RN, me envia a capa de ontem pelo e-mail, a do leão com as patas curtas e me sugere publicação com um reforço, acatado por mim: "Las mentiras tinen las patas cortas pero los charlatanes, las piernas muy largas". Decifrando o enigma a mim enviado, entendendo ao meu modo e jeito, sei do perigo em curso, mas apostando na vitória de Sergio Massa, o nome possível neste momento por lá para não viabilizar a chegada da escancarada pervesidade. Ouço aqui do meu canto a maravilhosa rádio 750AM, Victor Hugo Morales e equipe, dia todo plugado, cheio de esperança e crendo que, a Argentina conseguirá dar a volta por cima. Quem propõe neste momento finalizar relações com Brasil e China, os maiores parceiros econômicos da Argentina, dolarizando tudo, sem mascaramento e privatizando até a alma do país, com o fim do ensino público gratuito, este deve ser não só repudiado, rejeitado, como criminalizado.

Confesso aqui, aprendi a amar a Argentina, pelo menos a que tive o prazer de conhecer, desde a primeira vez que lá estive, em 2007, para junto do amigo Marcos Paulo Resende assistir um comício do venezuelano Hugo Chávez e depois, acompanhando a esposa Ana Bia, nos anuais congressos acadêmicos na UP - Universidade de Palermo, quando acabo também apresentando trabalhos, mas o que faço mesmo é perambular pelas ruas de Buenos Aires, conhecendo suas entranhas. Quem volta continuamente, como tenho prazer e privilégio de fazê-lo, a cada ano, não tem como não gostar, não só do lugar, mas das pessoas. Evidente que, como em tudo na vida, procuro o que me interessa, as pessoas e lugares que me dizem algo. Todos temos um lado, eu vivencio nas idas e vindas algo do kirchnerismo, buscando entender o que venha a ser esse arraigado peronismo, latente na parte mais invisível do país. Daí, impossível não torcer e muito por uma saída, ainda possível, vergando os vetustos de lá, a Sociedade Rural, Clárin, La Nácion e a Suprema Corte deles, hoje muito macrista, ou seja, totalmente parcial e com decisões anti-populares. A luta continua...

começo da noite, após resultado eleitoral

COMPARO A VITÓRIA DE JAVIER MILEI NA ARGENTINA COM A DE SUÉLLEN ROSIM EM BAURU - E AGORA, MILEI???

Explico. Como já é sabido até pelas pedras do reino mineral, Suéllen Rosim não esperava ganhar o pleito eleitoral em Bauru. Quando muito, quando se lançou em campanha, tinha intenções de ganhar corpo, se tornar mais conhecida e concorrer depois a deputada federal - ainda uma meta a ser alcançada. Tudo conspirou a favor e ela, a diferente, a novidade, a cara diferente, acabou conquistando o eleitorado e deu no que deu. Foi eleita e até hoje governa sem ter em mãos um programa de governo ou algo neste sentido. Faz tudo no atropelo e afobação, vide as compras dos imóveis na bacia das almas, prorrogação da prorrogação. Improvisa em tudo, algumas vezes se dá bem e na maioria se dá muito mal, perceptícel pela quantidades de CEIs onde esteve encralacrada. Escrevo dessa administração quase todos os dias e assim sendo, me atenho neste texto a essa observação, a de como chegou e ganhou o primeiro pleito pelo qual concorreu.

E agora, vamos para o ultra-direitista e amalucado Javier Milei, eleito nesta noite presidente da Argentina. Creio eu, que quando se lançou como candidato não tinha lá muita noção de onde chegaria. Na primeira votação, a sondagem inicial, surpreendeu e daí por diante só cresceu. Hoje, eleito, não tem sequer um só governador eleito de seu partido. Tudo bem, a maioria destes pode se aproximar a partir de amanhã, mas o fato é que, assim como nossa Suéllen, Javier é ainda um político sem grande nomes no seu entorno. Seu programa de governo - se é que existe - é a própria destruição do país, com aberrações inenarráveis. O conservadorismo lhe deu apoio, como o ex-presidente Maurício Macri e o dono do país, o proprietário do jornal Clárin, mas tudo ainda é um incógnita. Ainda sem um grupo constituído, Milei deve agir como Suéllen. Vejo imensas senelhanças dos dois na forma como foram eleitos. A novidade ocupou o vácuo, que na verdade, cairam-lhe no colo. Até agora estamos discutindo como foi possível ela chegar ao poder, o que teria acontecido e agora, vejo o mesmo sendo discutido lá na Argentina. Daí, Milei foi eleito e a pergunta que não quer calar: E agora, Milei???