sexta-feira, 17 de junho de 2011

COMENTÁRIO QUALQUER (84)

UMA ESCOLA DE DATILOGRAFIA, CELINA NEVES E A NOVA GERAÇÃO NUM ESPAÇO CULTURAL
Uma notícia me chama a atenção escondida nos jornais: “Fim de Linha – Fecha a última fábrica de máquina de escrever mecânica do mundo”. Trata-se da indiana Godrej & Boyce (http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-57/despedida/fim-de-linha ) e decreta o encerramento de um ciclo. Aqui em Bauru, um dos templos no ensino de datilografia foi a Escola Progresso, comandada por CELINA ALVES NEVES, uma versátil educadora e das mais famosas diretoras teatrais do interior paulista. Num ponto conhecido por todos, na quadra 6 da rua Gerson França, gerações aprenderam a batucar as letrinhas ali naquelas salas, também residência da vó (ou seria tia?) Celina. Em 06/09/1990 participo de um programa na rádio JB AM RJ, “as Dez Mais” com o ator Paulo Betti e ele, interiorano de Sorocaba, proclama no ar conhecer alguém de Bauru, uma mestra no ofício teatral, referência no interior paulista. Era Celina. Ela, nesse período, já adoentada, vivia com o telefone ao seu lado e ouvia muito rádio. Liguei para ela e trocaram telefonemas pela madrugada, como ela gostava. Hoje ela dá o seu nome ao Teatro Municipal de Bauru.

Tudo isso para dizer que aquele local sempre teve uma ligação umbilical entre as máquinas de escrever e o teatro. A escola fechou anos depois, a casa permaneceu fechada por muito tempo e sempre utilizada pela família. Hoje, uma brilhante idéia, acalentada pelo filho, o professor de História e seguidor dos passos maternos, diretor teatral Paulo Neves e pelos netos Thiago e Talita (hoje residente em Curitiba), possibilita a reabertura do local em algo que deve estar a contentar muito a matriarca, um Espaço Cultural. A casa toda foi adaptada e já recebe os alunos do Curso Livre de Teatro Paulo Neves e está aberto para outras possibilidades, como a da realização de temporadas com peças, para pequenos públicos, pois um tablado montado no quintal não possibilita mais que 60 pessoas. Lugar acolhedor e algo a chamar a atenção logo de cara, alguns pés de laranja, um deles muito carregado. Lugar dos mais cheirosos. Num dos cantos um grafite pintado por um amigo serve de inspiração para a criação da logo da casa, uma árvore cheia de frutos, alguns maduros, outros verdes, como os personagens a circularem pelo local. Tudo está sendo feito num mutirão, onde cada um que passa por lá dá o seu quinhão. Na foto ao lado, o desenhista Latuff, Thiago, Paulo e o ator Roger Lima (estariam eles sendo identificados num paredão de plantão policial?).

Cada cantinho ali tem a sua utilidade. Os quartos foram reformados e hoje comportam o guarda-roupa teatral, uma biblioteca (quase exclusivo com livros de peças), um cantinho relembrando Vó Celina, outro para ensaios, reuniões, etc. Tá tudo preenchido e quase pronto para a inauguração de hoje. A cada retorno por lá vejo Thiago todo sujo de tinta e cimento, pegando o touro a unha e transformando o local como uma formiguinha o faz, com sangue, suor e lágrimas. Bato palmas e lá estarei sempre que puder, pois é algo de uma riqueza incomensurável aquilo tudo. O astral do ambiente é percebido logo na entrada e o visitante vai sendo envolvido num clima divinal de algo bom, feito com o coração e com uma proposta das mais dignas. Paulo cansou de dar murro em ponta de faca e foi em busca de um lugar só seu, centralizando tudo ali, onde tudo começou. Não poderia existir lugar melhor. Só para estabelecer uma remota ligação entre o passado e o presente, Thiago me diz que na casa ao lado, um escritório, ele ouve toda tarde alguém batucando numa máquina de escrever, preenchendo formulários e fichas com uma sobrevivente da hectacombe ocorrida com as máquinas de escrever. Uma convivência que sempre existiu naquela casa.

Da inauguração de hoje, recebi via e-mail da Talita, o que reproduzo abaixo:
“Neste final de semana será INAUGURADO na nossa querida Bauru um novo espaço cultural para se produzir, compartilhar e respirar arte: o Centro Cultural Celina Neves. Assim, teremos na próxima noite de sábado e domingo atividades como, o espetáculo adulto "Balada de um Palhaço", apresentação de dança e a exposição do artista plástico Silvio Selva. Vamos comemorar este momento tão especial para a cidade e para o Curso Livre de Teatro Paulo Neves que, há anos constrói esse sonho!"

SERVIÇOS:
ESPETÁCULO: "Balada de um Palhaço" de Plínio Marcos - DIREÇÃO: Paulo Neves
DATAS: 18/06 sábado - 21 horas e 19/06 domingo - 19 horas
ENDEREÇO: Rua Gerson França 6 - 66 Centro - Bauru
INGRESSOS: R$ 7,00 (meia) e R$ 14,00 (inteira) - INFORMAÇÕES: 3243-1150 (falar com Ariane ou Roger)

5 comentários:

Anônimo disse...

que lindo isso Henrique!!! PARABENS pelo envolvimento com a culturaaaaaaaaaaa!!!


abraços. Léca

Anônimo disse...

Que espaço lindo, sensacional, gosto de lugares assim, feitos pela paixão e dedicação daqueles que amam a arte e não ficam como muitos esperando ajuda do poder publico pelegando pelos corredores atras de grana. Se queremos uma arte crítica, questionadora do estado não podemos andar com as pernas dele, nem ficar amarrado.
Parabens ao Paulo e cia pelo espaço, tiro a boina para eles. Parabens tb ao camarada Silvio Selva pela participação certeira como sempre.

Marcos Paulo
Comunismo em Ação

Anônimo disse...

O Paulo cansou de ficar com o chapéu na mão em busca de ajuda e fez o que todos deveriam fazer. Ele mesmo, com seus recursos e de alguns próximos, na qualidade de apoiadores, levantou tudo e faz algo que ninguém está tendo coragem de fazer, a de apresentar espetáculos por aqui em temporada. A peça de hoje, não estará sendo encenda somente hoje e sim, mais dois dias. Essa, como disse o moço aí no comentário de cima é a salvação da lavoura.

Aurora

Anônimo disse...

Caro Henrique - tive a honra de ser aluno da Dna Celina no velho SENAC, instalado na Rua Primeiro de agosto esquina com Gustavo Maciel (sobre a sorveteria ali existente).
Quero mandar lhe um abraço de solidariedade na dor, pela perda senhora sua mãe que conheci na Vila Bela, onde fui nascido e criado. Breve nos veremos. SOLIDARIEDADE.
Isaias Daibem

Anônimo disse...

CARO AMIGO....ESTAREMOS LÁ...
ESSA É UMA PARTE DA NOSSA HISTÓRIA CULTURAL...
DA HISTÓRIA DO TEATRO BAURUENSE...E COMO NÃO ESQUECER DA DATILOGRAFIA
QUE MTOS APRENDERAM NAQUELE LUGAR....
MTA SORTE A TODOS...
SUCESSO PRÁ ESSE ESPAÇO CULTURAL...
DONA CELINA NO CÉU ESTÁ RADIANTE DE TANTO ORGULHO...
BEIJOS
MADÊ CORRÊA