quarta-feira, 8 de junho de 2011

RETRATOS DE BAURU (102)

LARANJEIRA, CÁTEDRA DE BOINA
José dos Santos Laranjeira é bauruense, mas daqui se foi quando tinha 3 meses de idade. Viveu intensamente a juventude no Uruguai, voltando para cá nos anos 80. De lá, trouxe algo a acompanhá-lo para sempre, um sotaque castelhano não visto em nenhum outro bauruense e algo muito próprio dos povos dos pampas, o fervor da luta contra os desmandos de grupos oligárquicos. Professor de artes visuais na Faculdade de Arquitetura da UNESP Bauru é autor de imponentes peças como escultor, algumas famosas como a pomba da Praça da Paz e o monumento aos pracinhas, da Praça dos Expedicionários. Com 52 anos, vive intensamente o que faz e como morador de uma região problemática, tendo quase defronte sua casa, os altos muros do condomínio Villagio e ao lado os problemas sociais advindos de uma população muito pobre ao lado dos trilhos férreos, escolheu esses para conviver e estabelece uma relação de proximidade não compreendida por muitos. Casado com outra professora universitária, a Carmen , pai da Mariana e da Carolina, está permanentemente com as mãos sujas de barro, envolvido com alguma escultura nova e tendo na cabeça uma boina, ao estilo Che, do qual é fervoroso admirador. Falar do Uruguai e contar um pouco dos primórdios históricos da América Latina, tão distante de nós brasileiros é algo que faz com gosto e satisfação, como a palestra ministrada ontem no segundo dia da III Mostra Latino Americana do Colégio D’Incao. A garotada o cercou cheia de curiosidade ao final e só por isso, seu sorriso cresceu e ficou mais vistoso. Uma frase na palestra de ontem a ressaltar sua linha de pensamento: "Precisamos ter sensibilidade suficiente para ser respeitoso com o outro, dito diferente. O não entendimento disso faz com que muitos ainda morem nessa cidade em situações desumanas".
PS 1: Essa última foto é de 2007, num ato público realizado no Museu Ferroviário e demonstra que o gosto pela boina continua o mesmo. Das grandes, todas as demais foram tiradas ontem.
PS 2: Vivaldo Pitta faleceu ontem e dele escrevo mais nos próximos dias. Perpetuou férrea história.

2 comentários:

Anônimo disse...

Henrique Perazzi de Aquino é um historiador ao vivo em tempo real.

José dos Santos Laranjeira

Anônimo disse...

Fui aluno dele na Unesp e é um dos mais criativos e lúcidos. Sempre muito antenado e com sua ação voltada para o bem comum. Dentro daquilo tudo que lá presenciei, uma cabeça pensante e atuante.

Maria Lúcia - Jaú