terça-feira, 11 de setembro de 2012

MEMÓRIA ORAL (127)
A TELEVISÃO DESCOBRIU A FEIRA DO ROLO
A Feira do Rolo é uma das maiores manifestações populares das ruas da cidade de Bauru. Conglomerado humano sem precedentes, ajuntamento de gregos e troianos, pobres e ricos, algo que nasceu meio de forma natural, para o escambo e venda de produtos, primeiro descartáveis, depois de colecionadores e hoje de tudo um pouco. Variou de local até encontrar o seu definitivo, junto da maior feira dominical da cidade, localizada em sua área central. Forçando a memória não encontro outro local a agrupar tanta gente, advinda de tão dispares locais e todos em busca, não só de algum negócio no local, mas principalmente em busca do congraçamento humano, tão em falta nos dias de hoje. Domingo pela manhã é o local de encontro, reencontro e de acertos mil. O tempo foi passando e sua fama crescendo, hoje, além da tradição, novos adeptos a cada instante.
No último domingo, 09/09, uma equipe de TV ocupa o local bem antes do sol raiar. Por volta das 4h30, o repórter Renê Lopez, 27 anos e o cinegrafista Antonio Garcia, 52 anos, ambos integrantes da equipe da TV Unesp Bauru, de cunho informativo cultural, registram imagens do local. “Queríamos presenciar a chegada dos primeiros a armarem suas barracas. Deixamos a câmara ligada num canto e registrando isso. Depois, com a imagem acelerada, ficará bonito ver de um local vazio virar isso aqui”, conta Renê, após percorrer cada canto, conhecer seus personagens e gravar entrevistas, colher depoimentos e sentir todo o clima do local. “Vi ele logo cedo, rodeou, perguntou e agora, quando está indo embora, acho que o ganhamos. Já é um dos nossos”, diz Amilcar de Oliveira, um dos líderes dos feirantes, dezoito anos de labuta e entusiasta pelo seu fortalecimento.
Ganhar as pessoas é algo feito no dia a dia e uma preocupação de todos, principalmente nesse período pré-eleitoral. “Nem queremos nos posicionar durante a campanha eleitoral, pois temos receio das mudanças. O novo chega e já quer fazer mudanças aqui na Feira e cria um clima de instabilidade”, afirma Francisco Carlos Jaloto, o Carioca, com uma banca de livros e LPs, um dos locais mais frequentados e paparicados do local. “Não podemos negar, hoje a feira não está como queremos. Está um pouco largada, falta mais apoio e carinho do poder público. Já esteve melhor, mas o que precisamos é de mais união e todos fortalecermos as conquistas já conseguidas. O recadastramento de todos seus participantes já foi prometido e faz parte de parceria sempre existente”, confessa Amilcar.
Das preocupações, os dois madrugadores acabam na sequência buscando alguns dos feirantes mais exóticos, diferenciados e exercendo ofício a distingui-los dos demais. Ainda na banca do Carioca um dos assíduos frequentadores é o aposentado Raul Francisco Canhetti: “Se venho na feira, tenho que vir aqui também, uma faz parte da outra. Acho sempre coisas interessantes e dificilmente não levo algo daqui, um livro, uma ferramenta, uma peça de decoração, além das conversas em cada parada”. Olhando atentamente para os lados é a constatação de que o dito por Canhetti é a mais pura verdade. O sol arde forte numa cidade sem chuva há quase dois meses, mas o local está apinhado de gente. Quer dizer, o largo da rua Julio Prestes literalmente ferve nas manhãs dominicais, faça sol ou chuva, frio ou calor.
Outro entrevistado foi seu Carlito Sauer, 81 anos e há 60 trabalhando com moedas e cédulas antigas. Mumismata teve loja em Botucatu e Bauru, mas com a chegada dos anos o local  ideal para promover seu trabalho foi na feira. “Criei uma clientela, eles voltam sempre e surgem novos a cada dia, até de cidades distantes. Eu não só vendo, acabo trocando muita coisa e o mais gostoso é motivar os mais jovens a começarem colecionar selos, moedas e cédulas. Só não venho quando adoentado. Chuva não me assusta”, conta. O nipônico Roberto é um desses e vem sempre preparado para novas aquisições: “Difícil o dia em que não faço um novo negócio, por menos que for. Virou distração, pois nem sempre gasto. A troca ainda vigora entre os colecionadores”. Sueli Basseto, 48 anos, moradora de Birigui confirma isso: “Não conhecia isso aqui, mas foi chegar e gostar. Comprei baratinho esse suporte de luz, R$ 5 reais. Nem acredito. Vou pintar e vai ficar lindo, novo”.
Tendo que deixar o tripé da câmara de filmagem num dos lados, nem ela escapa da argúcia dos frequentadores. “Quanta custa?”, pergunta um a observar o trabalho dos dois. “Pensei que estivessem gravando programa político, mas ao saber que é uma reportagem sobre a feira, faço questão que registrem, isso aqui é o melhor lugar para passear na cidade de Bauru. Pode perguntar para a maioria, onde você vai aos domingos? A resposta é nessa feira”. Num outro canto alguns comercializam relógios antigos e dentre eles um em destaque, seu Machadinho, 73 anos, falante e tendo acabado de fazer um excelente negócio. “Não me chame de Machado, sou o Machadinho, muito conhecido aqui. Cheguei hoje de bicicleta e acabo de trocá-la por um relógio, conseguindo até um troco de sobra. O gostoso disso aqui é a diversão. Vou te confessar, não era rolista, mas só de vir aqui todos os domingos acabei por me tornar mais um”, conta entre sorrisos e arrastando mais um para mostrar as novidades ouvidas e sentidas no pulsante canto dos relógios.
Ainda no local, Renê entrevista Franco, técnico de escolinha de futebol e outro a fazer negócios com relógios. Cada um possui uma história diferente: “Não vivo disso, mais perco que ganho. Vir aqui virou um hobby dominical dos que querem passar um domingo diferente. Canso de um relógio, trago aqui e troco por outro”. Na sequência o entrevistado é Roberto Carlos de Oliveira, o popular Betinho, 45 anos naquele dia e com uma barraca de conserto e revenda de vídeo games: “Meu pai foi dos primórdios da feira, ainda na avenida Nações. Comecei vendendo pintinho, carregando aquelas caixas nas costas. Meu pai aposentou e eu continuei. Isso que estão vendo aqui faz parte da história de Bauru, meu pai faz parte dela e eu prossigo sua saga”.
Pouco antes das 11h, os dois já cansados pegam os últimos depoimentos e dá para filtrar mais algumas particularidade dos entrevistados. Presenciamos o livreiro Carioca fazendo uma venda, caixas de livros expostos, quatro por R$ 5 reais e dizendo a um cliente: “Quantos tem aí? Cinco. Confere. Não precisa nem mostrar. Ainda confio no ser humano. Se falou tá falado”. A maioria age igual e de outros, algo sobre as agruras encontradas em alguns casos: “Tem gente que chora num precinho de R$ 3, R$ 4 reais e outros que me devem R$ 1 real não voltam para pagar”. Permanecer algumas horas por ali é ir juntando só um bocadinho do muito pairando no ar do local. Renê e Garcia vão embora com outra missão, a de condensar tudo o que registraram em trinta minutos de programa. Tarefa para endoidecer gente sã.
Em tempo: Esse escrevinhador também deu seu depoimento para o programa, mas isso fica para ser conferido quando o mesmo for ao ar. O fato é um só e deixo aqui registrado: Adoro a Feira do Rolo e sou um dos seus mais fervorosos defensores.

3 comentários:

Bruna Reis disse...

Parabéns.. Seu blog é fantástico, me foi recomendado pelo grande Duílio Duka.

Anônimo disse...

PARABÉNS PELA MATÉRIA HENRIQUE.

Tb sou frequentador e gosto muito.

Um forte abraço,

João da CUT

Anônimo disse...



Henrique, no início dos anos 1950, em Pirajuí era vendido o Guaraná Colacy, fabricado em Bauru. Veja a matéria que retirei do Google sobre o assunto.
Lembrei-me também do Café Lima, de propriedade do sr. Oiga, tio de um primo meu de Pirajuí, hoje residindo em Bauru (na Vela Vista), Antônio Carlos Bonadio.

A torrefação ficava na avenida Rodrigues Alves, próxima das Nações Unidas.




Abracitos do Francisco Bonadio Costa.







28/08/12 03:00 - Tribuna do Leitor




A chaminé














Caminhando pela avenida Nações Norte, eu e minha irmã Suzana Avila, pudemos contemplar as maquínas motoniveladoras trabalhando em um terreno que outrora abrigou a fábrica de refrigerantes King, ou seja, as ruinas dos velhos barracões estavam dando adeus para a modernidade. Comecei a lembrar das antigas fábricas de refrigerantes que outrora fizeram a alegria de milhares de crianças, jovens e adultos com suas produções de guaranás, sodinha limonada, laranjada e tubainas. Que delícia, bem geladinhas, acompanhadas por bolo de fubá ou um pãozinho com mortadela.

Tivemos seis fábricas que geravam milhares de empregos diretos e indiretos, são elas: Colacy, dos irmãos Alvarez, ali na Vila Cardia, onde até hoje existe o prédio. Outra marca famosa também foi a guaraná São Paulo, de Alberto Quércio, localizada na rua do mesmo nome, em sua quadra cinco. Essa também produzia água tônica. A Refsol funcionou entre a passagem dos bairros Independência e Vila Giunta. Jamais poderíamos deixar de citar as duas mais conhecidas fábricas, pois são produtos de destaques nacional e internacional, que fabricavam os refrigerantes Antarctica, rua Marcondes Salgado, e Coca-Cola, Crush, Fanta, localizada na Praça Portugal. Sobraram as memórias que jamais poderão ser apagadas e a velha “chaminé” da indústria Antarctica, imponente, ereta, verdadeiro marco histórico.

José Eduardo Fernandes Avila, memorialista