domingo, 23 de setembro de 2012

ALFINETADA (102)*
*continuo reproduzindo aqui no blog meus antigos textos (ainda no ano de 2000) publicados no semanário O Alfinete, de Pirajuí SP. Com a leitura percebe-se como em apenas 12 anos, muita coisa mudou em nossas vidas, até a forma como encarávamos algumas questões. Hoje mais três textos:

PREPAREM-SE: VEM MORDAÇA POR AÍ  (16) – publicado na edição nº 80, de 09/09/2000
Triste e séria constatação:  o governo FHC quer encobrir de seu povo muita coisa errada que aconteceu nos bastidores palacianos. Para chegar nessa conclusão poderíamos seguimos vários caminhos, tais os descaminhos presenciados no mau trato com a coisa pública e os mais variados escândalos, envolvendo pessoas eminentemente ligadas à atual administração. Escolhemos um deles, talvez um dos mais importantes: A LEI DA MORDAÇA. É muito fácil entender o que se passa. Escândalos pipocam, a corrupção está quase institucionalizada e um dos órgãos que mais a combatem é o Ministério Público na figura de seus procuradores. Eles tem um papel fundamental na condução do processo democrático, pois encaminham, denunciam e acompanham os vários processos de corrupção dentro da coisa pública. São hoje um dos poucos órgãos que ainda conseguem cumprir o seu papel sem interferência, pois quando iniciam um processo, não podem ser substituídos. De um a certa forma são intocáveis, tornando-se uma pedra no sapato dos corruptos. Prefeitos, vereadores, políticos de uma forma geral, que tenham seus nomes envolvidos em casos de corrupção, odeiam os procuradores da República. Querem os ver pelas costas. Nada mais justo que, dentro do cumprimento da lei, a opinião pública fique sabendo e acompanhe o desenrolar desses processos. A importância do trabalho deles é tão grande que, sem a divulgação não ficaríamos sabendo da existência dos “Lalaus”, “Caciollas”, “Luis Estevãos”, “Eduardo Jorges” e tantos outros. Pois não é que a tal LEI DA MORDAÇA nada mais é do que um cala boca nesses procuradores. O que essa lei vai proibir é justamente a divulgação de fatos escabrosos, como os citados, enquanto não ocorrer a sentença final. Após sua promulgação não vamos mais acompanhar nada. Se ela já estivesse em vigor, nem saberíamos quem é o “Lalau”, pois como ele não foi julgado, não poderia ter sua vida exposta, mesmo com todas as provas e evidências de seus atos danosos. Pior que tudo isso é o projeto já foi aprovado na Câmara de Deputados, bastando somente o Senado para a sua promulgação. Infelizmente, o governo FHC tem como certa essa aprovação e pega pesado nesse sentido. Os corruptos todos devem estar de babando de contentamento. Agora, respondam-me somente a uma simples perguntinha: um governo, que faz tudo para que uma lei dessa natureza entre em vigor, está com boas ou más intenções?
O POVO GOSTA OU NÃO DE BOA MÚSICA (17) – publicado na edição nº 81, 16/09/2000
Tenho uma mágoa profunda com o indústria musical brasileira por causa da imposição que produz como gosto musical, dito “popular”. É aquilo que denominamos de sacanagem explícita. Sempre o que eles querem é imposto nas rádios e ver nas TVs. Fica evidente que essa indústria esconde uma arte popular sofisticada inquietante, viva, mantendo milhões de pessoas no curral do emburrecimento, abrindo uma larga avenida de lixo cultural, essa merdalhada toda de axé, pseudo-sertanejos e pagodes, bundas que movimentam milhões de dólares. É a coisa mais triste constatar que, para cada Cartola, Luiz melodia ou Lenine escondido, abra-se o espaço para dez “É o Tchan”. A justificativa que eles usam na defesa é difícil de engolir: “O povo gosta de É o Tchan. O que fazer?”. Além de tudo são cínicos, como se não fosse investido milhões para fazer o povo gostar do que tocam. Usam outro argumento: “O povo não gosta de música boa”. Aqui eles assumem que o que fazem é porcaria, mas continuam fazendo, pois isso geral altíssimos lucros. Sei que vai ser muito difícil nosso povo deixar de gostar disso, pois infelizmente, é somente isso que se ouve. É uma verdadeira lavagem cerebral, com essas letrinhas pobres e deseducativas. Quer coisa mais baba de ovo do que o discursinho repetitivo desse povinho do pagode, axé, country, breganejo, etc. Cantam sempre a mesma coisa. Esse negócio de ficar dizendo que faz e acontece, que deita e rola, que tem “marcas de batom no casaco de vison”, boquinha de garrafa, pular cordinha, ir varrendo; isso é puro lixo cultural. O Brasil tem plenas condições de fazer (e faz) coisas maravilhosas em matéria musical. Pena sermos vítimas desse complexo e pernicioso sistema, que começa na educação deficiente e termina na ganância das grandes gravadoras. É por isso que sou mais o samba da minha turma. O samba antigo é bem articulado, bem informado, falava de tudo. Hoje, somos martelados o tempo inteiro por músicas vagabundas, de poesia muito fraca, melodia péssima e mal copiada dos outros. O que reivindico é uma democracia estética. Que todos os estilos tenham oportunidade para o público fazer suas escolhas. Está mais do que na hora de colocar em xeque a ditadura do (des) gosto imposta pela aliança jabá-brega, uma vez que é sabido não vivermos num regime de liberdade de escolhas sonoras. Mas, esse é um assunto para ser discutido em pequenas pílulas. Seria bom os leitores se manifestarem, para prolongarmos o papo.
ALFINETAR É MUITO BOM. E SER ALFINETADO? (18) – publicado na edição nº 82, de 82, 23/09/2000


O ato de escrever semanalmente está sendo uma grande novidade para mim. Nada de angustiante, mas algo que tenho como uma espécie de obrigação a ser cumprida. Muitas vezes, deixo tudo para a última hora e o assunto não pinta facilmente, mas mesmo assim, o texto tem que sair, pois o Marcelo (manager n’O Alfinete) fica do lado de lá com seus prazos de fechamento a serem cumpridos. Eu ainda prefiro escrever tudo com minha velha máquina de escrever. Não aderi totalmente às facilidades do computador. Batuco letrinhas desde os treze anos, possuindo uma intimidade muito grande com minha Olivetti. Isso tudo torna um pouco mais lento o processo, mas no final tudo acaba dando certo. Pelo menos já se passaram 18 semanas (parece que foi ontem). Tentei fazer tudo de forma mais ou menos organizada, reescrevia quando necessário, corrigia os inevitáveis erros, mudava palavras aqui e ali. Mas desde que li um texto do cineasta Ruy Guerra, estou seguindo seu conselho: “No início levava uma semana para escrever uma crônica. Aí pensei: não pode ser assim. E fui pedir conselhos ao Gárcia Marquez. Ele me disse: ‘Crônica é o seguinte, no dia de manda-la não marque nada. Acorde, escreva e, na hora de mandar, mande. E só vai ver depois no jornal porque quando está publicado é sempre melhor do que quando está escrito’. Adoresse sistema. O problema é que o Marcelo vai continuar reclamando pelos meus atrasos. Vai continuar gastando uns tostões de interurbanos. Além disso tudo, dificulto um pouco mais para meu amigo de Pirajuí, pois ele sempre me pede para passar os escritos por e-mail, mas continuo fazendo por fax, obrigando-o a reescrever tudo. Escrever faz um bem danado para a gente, porém nem sempre o fazemos da forma mais adequada. Nossa língua não é das mais fáceis e estamos sempre aprendendo coisinhas novas. Ir colocando no papel coisas passadas, como encaramos a vida, nossa interpretação de alguns fatos e falar do alheio. Tudo é muito bom, mas seria ainda melhor se seguida de uma espécie de comunicação mais direta com quem está do outro lado. Ou seja, o leitor ir reclamando, opinando, interferindo, criticando, sugerindo e metendo o bedelho naquilo que está lendo. Nós, que escrevemos aqui, não somos os donos da verdade (longe disso). Queremos mais é que surjam mais pessoas querendo ajudar a construir esse jornal. De quando comecei, vi muitos outros nomes despontarem e isso oxigena, faz um bem danado. São opiniões novas, muitas vezes divergentes, deixando o jornal mais saboroso, mais leve e interessante de ser lido. Alfinetar é sempre muito bom, mas ser alfinetada de vez em quando também tem suas vantagens. Quem está na chuva é para se molhar, afinal, quem coloca seu nome num texto e o publica, está sujeito a chuvas e trovoadas. Alfinetem vocês também, sempre que puderem e quiserem.

OBS DOMINICAL: Hoje, 16 h no SESC, entrada gratuita, o show de encerramento do Projeto“Sertão de Gonzaga – Uma homenagem ao mestre Lua”, com o QUARTETO OLINDA, com clássicos do repertório ‘gonzagueano’. Lá no SESC é impossível ficar indiferente à exposição OLHOS DE BARROS – A POESIA DE MANUEL, uma magnifíca exploração do rico universo imaginário poético que o poeta MANUEL DE BARROS desvenda em cada poema. A noite o encerramento da REVIRADA CULTURAL no Parque Vitória Régia, também com entrada gratuita, com dois shows na sequência mais do que imperdíveis. Às 18h30 o show GAFIERA S/A (Ralinho, Denise Amaral e troupe) e às 20h30, TUNAI e ANGÉLICA SANSONE, a KEKA no “As canções que eu fiz para ela”, num tributo à Elis Regina. Tento estar ao menos nesses lugares hoje e para finalizar deixo aqui uma gravação feita ontem na sede da Sangue Rubro, a torcida noroestina, no encerramento de uma feijoada na sede e no grito da torcida minutos antes de ir ao campo assistir os 3x0 que enfiamos no Rio Claro.

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