domingo, 27 de dezembro de 2015

CARTAS (152)


ARAUTOS DO CONTORCIONISMO*
* Carta de minha lavra e responsabilidade publicada na edição de hoje, Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade - Bauru SP:

Cada um pode achar o que quiser a respeito de tudo, mas quando sua definição envolve a História (com H maiúsculo) alguns cuidados devem ser tomados. Opinar sempre fez e fará parte do negócio humano. Mas quando algo resvala em tentar reescrevê-la ao bel prazer e conforme conveniências de plantão, o alarme é ligado, alerta máximo para não ocorrer aberrações conceituais. Sempre se tentou escrever a história pela visão de vencedores, mais fortes, espertos, ladinos e sabichões. Isso pode até colar por um determinado período, mas historicamente não tem valor nenhum. Lixo da história para eles. Entendimentos distorcidos e defendidos como definitivos não possuem valor além da própria opinião da pessoa ou grupo, nunca como regra de definição de conceito.

O exemplo maior é o que ocorreu no Brasil em 1964. Durante todo o período de exceção, obrigados pelos mandatários de plantão vigorou o nome Revolução para o ocorrido. Isso não se sustentou além do período de força. O que de fato ocorreu, mera quartelada, a denominação acertada, portanto, Golpe de Estado. Pronto, sem tirar nem por, termos bem distintos um do outro, assim como água e o vinho. Saudosistas ainda utilizam Revolução, mais por devoção ao autoritarismo, mera subserviência, alguns por medo do que representou o poder militar e outros por ainda não entenderem nada.

O tempo passou e hoje algo no ar como no período de 64 tenta desanuviar mentes e, consequentemente conceitos. Ninguém impede ninguém de defender o que lhe aprouver. Que assim o seja. Nada como assumir o que se vai na cabeça e sem a necessidade de justificar com termos onde não existe a mínima possibilidade de aceite, encaixe inconcebível. Hoje nova tentativa de se rasgar novamente a regra, passando por cima de conceito universalmente aceito, para desdizer da existência de um golpe em curso. Aberrações são utilizadas na defesa deste nada seleto agrupamento de ideias e interesses. A democracia só é questionada quando se afirma no sentido da legalidade que se quer driblar. A questão da História não é agradar ou desagradar pessoas ou grupos, pois aqui os “fins não justificam os meios”. Se antes, para o Golpe de 64 foi necessário chamar os militares para sacar um presidente legalmente eleito, hoje quem cumpre esse papel é Eduardo Cunha, o Judiciário e parte da mídia.

Já no caso do dito impeachment, algo prescrito em nossa Constituição, simples demais. Quando não segue o que lá está contido, impossível ocorrer impedimento sem denomina-lo de golpe, de manobra insana e totalmente ilegal. Pedaladas ocorrem nesse país de norte a sul, em todos os municípios, praticamente institucionalizada, porém quando o intuito é fazer de tudo e mais um pouco para sacar alguém do qual se discorde, daí vale tudo. Esse vale tudo tem nome: é Golpe, a História demonstra bem isso. Não existe em sã consciência nenhum historiador sério defendendo o contrário, pois estaria agindo contrário a tudo o que aprendeu até então. Daí, a existência de um algo mais no imbróglio atual. Alguns estando inseridos no que está em curso, se omitem de dar opiniões e cientes da inconsistência do movimento se calam. Estão entre a cruz e a espada. Ou jogam na lata do lixo tudo o que aprenderam ou dão a denominação correta para o que está a ocorrer no país. A História não julga como sérios profissionais a serviço de grupos de interesses, de poder e quando cientes da má utilização de termos históricos não os denunciam. Reside exatamente aí o grande poder do Historiador, o de nunca, doa a quem doer, falsear a História. Temos um papel a cumprir nesse exato e histórico momento.

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História.
O chargista LAERTE é mais que ótimo ao explicar tudo desenhando.

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