segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CHARGES ESCOLHIDAS A DEDO (103)


ESSA AMÉRICA LATINA SE REINVENTANDO...

Hoje pelo JC um (quase) tacanho texto de um dito marxista sobre a situação da Venezuela. Carlos D'Incao se diz comunista com ligação umbilical ao PCB, mas possui uma das escolas particulares mais caras da cidade. Uma contradição quase impossível de ser explicada. Leiam o texto "A derrota do chavismo e da estupidez", clicando a seguir:http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=241505. Muito do que escreve, mesmo dolorosamente temos que reconhecer, tem razão. Mas nem tudo. "Na próxima eleição presidencial teremos a vitória de Caprilles do MUD e a direita tradicional voltará ao poder", escreveu e até aí tudo bem, Maduro pagará pelos seus erros. Na sequência da longa análise, eis a pá de cal do inadmissível para uma pessoa dita como marxista, ainda mais num pronunciamento num órgão de imprensa: "Caso tenha sabedoria, permanecerá lá por muito tempo. Nessas duas últimas décadas, o “socialismo” bolivariano teve a virtude de afugentar o capital da Venezuela, gerar um caos na política cambial, criar um estado inflacionário e possibilitar um universo de escassez dos mais diversos gêneros, além de não superar problemas básicos como a violência urbana e o trânsito caótico das grandes cidades. Não mudou as relações sociais de produção, não expropriou o grande capital, não socializou os meios de produção, enfim… De nada foi socialista… Foi só uma piada de mau gosto…". Sim, Maduro não é Chavez, assim como Dilma não é Lula, Cristina não é Nestor (mesmo sendo Kirchner), Raúl não é Fidel (mesmo sendo Castro), Ortega de antanho não é o Ortega de agora na Nicaragua e assim por diante. Sim, as relações sociais de produção não foram alteradas, mas quase fazer juras de amor para o que representa Caprilles é algo pra muito além do surreal. É duro ler muita coisa e ter que concordar, mas espero que ele compreenda que, nem sempre a razão estará também com ele, em sua análise feita sentado sob um monte de grana, se dizendo marxista e com um olhar enviesado sobre quem ao menos tentou construir um algo diferente.

Se a Venezuela está mesmo esse caos, irreversível segundo essa análise, a Argentina elegeu Macri, o que de pior existe no quesito neoliberalismo predatório (vide o encontro dele com Skaf na FIESP da avenida Paulista, reeditando algo a favor de golpes de Estado, aos moldes da antiga OBAN), o Chile claudica com um pé lá e cá, porém alguns outros navegam num mar onde não exista tanta necessidade de explícita verborragia negativista. Cito três casos: Uruguai, Equador e Bolívia. E relembro sempre e sempre de Cuba, um lugar muito visitado pelo professor em questão e ainda, mesmo com o em curso por lá hoje, uma bela experiência a ser ressaltada, valorizada e incentivada. Eu, por exemplo, não vejo como construir um estado marxista cobrando altos valores de mensalidades em uma escola particular. Isso não bate com nenhum dos pensamentos do velho barbudo. Sou adepto de algumas reavaliações e reeleituras, mas não tão drástricas e até estapafúrdias. Viver aqui no coração do capitalismo predatório e continuar querendo ser socialista é mesmo difícil, um mar de contradições, mas sem exageros além do permitido. Outro dia mesmo fui cobrado aqui e no meu blog por fazer uso de mero cartão de crédito e por possuir carro próprio. Nem discuto mais isso, passo ao largo. Mas uma coisa é uma coisa e um coisão, passa a ser motivo para discussões diferentes. Ou tudo é a mesma coisa e quase mais ninguém pode ainda querer se dizer seguidor da prática marxista, meros comentaristas com mais ou pequena aproximação e afinidade?

Finalizo com a defesa do que aconteceu no Uruguai de Mujica e com um prosseguimento mais moderado, mas em frente no novo Governo do Tabaré. Mesmo sem a pecha socialista na fachada, uma bela experiência. Comparar a Argentina de antes dos Kirchner com os avanços lá obtidos, como a maravilhosa Lei de Médios lá conseguida é saber fazer uma honesta diferenciação. E já ir vendo a cara dada por Macri é ver que tudo será posto por terra. Daí, os ruins são os Kirchner's? Claro que não. Aqui no Brasil mesmo, quando Lula e Dilma implantaram, com todos seus erros alguns avanços sociais nunca vistos e assim mesmo motivo do escárnio das ruas. Se esses criticam e se posicionam contrários a isso, os verde-amarelos nas ruas, eu só posso me mostrar a contra, pois não sou a favor do estilo Casa Grande & Senzala. E o que está em curso será muito pior do que o governo dos dois últimos. Na Bolívia pouca crítica pode ser feita, pois o índio presidente soube direcionar seu país para o bom e acertado caminho. O mesmo vejo no Correa, que mesmo dividindo a esquerda equatoriana, faz algo nunca visto em seu país. Recuar nunca, criticar sim, mas auxiliando e dando apoio na continuidade das reformas necessárias. De Cuba, nada de novo, um pequeno tentando sobreviver diante de tantos torcendo para que dê errado, mas lá se vão mais de 50 anos e a alternativa se mostra ainda viável. Gosto demais dessa forma brejeira, bem latina de ir dando um jeito nas nossas questões, bem diferente do resto do mundo. Era isso. Quem quiser fazer a boa e necessária discussão que entre na contenda. Estamos aqui e quem, segundo Vicente Matheus, entra na chuva é para se queimar. Pois que venham os respingos, de água ou de fogo.

OBS.: Naa ilustrações, a tira publicada hoje por Miguel Rep no diário argentino Página 12 (o melhor dessa América), o clamor que deveria ser a tônica de nosso clamor: resistam Bolívia e Equador! Nas demais, charges do mesmo Rep, retiradas de seu blog.

Nenhum comentário: