quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

AMIGAS DO PEITO (140)


A TRISTEZA ESTAMPADA NAS FACES DE ILDA E DRI – A BANCA DA GETÚLIO FECHA AMANHÃ
Está fecha amanhã, sexta, 08/12.
Chego de Sampa e passo na banca da Ilda, ali junto ao verdadeiro e original aeroporto de Bauru, debaixo da caixa d’água do DAE, na avenida Octávio Pinheiro Brizola. Ela não está, vejo se chegou a revista Piauí do mês (compro revistas em duas bancas na cidade, pouco numa, pouco noutra), pois já a havia visto nas bancas da capital, mas deixo sempre para comprar com os resistentes jornaleiros daqui. A revista está chegando e Ilda havia saído para resolver problemas. Pergunto por ela e ouço algo:

- Ela está triste. Não sabia?

- Não sabia o quê? Que aconteceu? – pergunto.

- O sr não sabe? Ela vai ter que fechar a banca de revistas lá na Getúlio Vargas, a junto do Confiança Max. Foi até onde deu e agora paga para mantê-la aberta. No máximo sexta entrega o ponto. Está correndo para fazer as devoluções.

Minha reação foi a de perguntar pela sempre simpática DRI, a simpática funcionária daquela banca, uma espécie de companheira de todas as horas, fiel escudeira de Ilda.

- E o que irá acontecer com a Dri? – pergunto.
Dri, 13 anos e desempregada.


- Também não sabemos. Ilda está até mais triste por causa dela. Não tem como abriga-la aqui e creio que já esteja até procurando outro emprego.

O que dizer, além disto, aqui relatado? Nada. O curto diálogo diz tudo. O que acontece com essa banca é espelho de uma avalanche de portas sendo fechadas país afora. Com esperanças praticamente zeradas, país na lama, bancarrota total pro povão, pro trabalhador, pra quem depende de seu pequeno negócio para sobreviver. Se tudo estava apertado, agora tudo anda pela hora da morte. Ilda jogou a toalha e fecha uma de suas bancas e deve estar a coçar muito a cabeça, pois não sabe quanto tempo mais resistirá com a banca lá do Aeroporto, sua fonte de renda.

Vou ver a DRI, Adriana Marques, 13 anos trabalhando ali na Getúlio, numa banca funcionando no mesmo lugar há mais de 20 anos. Ela ao me ver e dos motivos de ali estar cai em prantos. Choramos juntos e me diz:

- Já penso nos bicos durante a semana e se Ilda precisar, continuarei lhe ajudando aos sábados e domingos. Mas não dava mais, não imagina a tristeza de ficar aqui o dia todo e vender quase nada. A gente chega até a pensar ser incompetente.

Passa um cliente e também lhe dá apoio. Conversam sobre a decisão do fechamento e por fim, antes de ir, lhe diz:
Está permanece aberta.


- Torço para que daqui alguns meses, te reencontre e esteja em algo melhor. Tem males que vem para o bem. Você vai vencer.

Escrevo delas, de Ilda, Dri e desse negócio das bancas espalhadas na cidade e ainda abertas. A defronte a Prefeitura voltou a fechar, desta vez em definitivo e a do Wal Mart não mais reabrirá. Impossível, mesmo com todos os problemas do mercado de revistas e jornais, com queda acentuada de vendas e, principalmente de leitura do brasileiro, não relacionar com este triste momento do país, vivendo um de seus piores momentos. E mesmo diante da hecatombe nacional provocada pela chegada desses insanos golpistas, rentistas e tudo fazendo por uma já abastada minoria, eles insistem, na maior cara de pau em continuar apregoando que tudo está sendo sanado, resolvido. Vivem esses em que país? Governam para quem mesmo?

3 comentários:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK 1:
Helena Aquino Triste isso. Infelizmente o Brasil não é um país de leitores. No geral. Amigos, pessoas que conheço, ficam abismados por eu ler tanto, por ter esse carinho com a leitura. Já ouvi até me dizerem :- você não faz nada, só lê?
O que dizer? Leio sim, não vivo sem isso, mas faço muita coisa, às vezes até muito mais do que quem não lê nada .
Uma pena o fechamento da banca. E tomara que a outra persista.

M Cristina Zanin Sant'Anna Nossa , desanimador mesmo. Sinto falta de bancas, livrarias, acesso a cultura, conhecimento etc. Estão emburrecendo o povo cada vez mais.

Gilberto Truijo MUITO TRISTE A NOTA. CONHEÇO MUITOS FREQUENTADORES DESSA BANCA. BRASIL CADA VEZ MAIS DIFICIL.

Thiago Roque poxa, que tristeza. banca de jornal é ponto de conversa, de informação, de debate... machuca muito quando fecha. força a todos.

Audren Ruth É assim. Aqui é desse jeito! E é uma pena muitas das vezes não se poder fazer muita coisa! Que droga!

Paulo Neves Neves Muito triste pela Ilda e Pela DRI...retrato de um país...veja Brecht em janeiro ele explica tudo...

Bkl Bruno O mundo mudou, acabou esse segmento...fica na memória, já gastei milhares de reais em bancas de revistas (coleções) desde que nasci até os meus 20 anos depois parei de consumir, mas era uma época muito boa da vida....

Fatima Brasilia Faria Muito triste, banca de jornal é mais que isso, é um butiquim literário de discussões interessantes, encontros agradáveis e papos memoráveis. Fiz coleções ao longo da vida e contava sempre com o cuidado do pessoal da banca pra não "pular" nenhum exemplar. Vamos sentir saudades.

Ademir Tavares de Sousa Lamentável . . . retratos e paisagens de uma realidade cruel . . .!!

Camys Fernandes Triste... Lamentavel . Muitas bancas fecharam...

Gonçalez Leandro Em Ourinhos varias bancas principais foram construidas essas casinhas e viraram pontos de visitas ficam abertas até a noite .
A imagem pode conter: árvore, céu, casa e atividades ao ar livre

Lazaro Carneiro Carneiro Vários postos de gasolina também fechados
Muito triste, eu amava conversar com elas.

Maurício Fernandes Azevedo Godoy Deixo um beijo, um abraço para Dri que sempre me atendeu bem e sorrimos juntos algumas vezes na banca. Lamentável mesmo pq em SP por todo lugar que passei as bancas resistem diferentemente de aqui em Bauru.

Solange Matos A triste realidade do povo brasileiro que trabalha duro..

Juarez Xavier Comecei a trabalhar numa banca de jornal, com dez anos de idade. "Seu" Anísio, meu chefe, dizia que a presença de bancas de jornal numa região mostrava o nível de civilidade da localidade. A ausência, a barbárie! Ilda e Adriana, todas e todos estamos muito tristes!

Roque Ferreira Bancas de jornais e revistas povoam nossas lembranças. Uma das maiores de Bauru ficava na Estação Central da NOB. Além da banca tinha o trabalho nos trens. Com.14 anos fui jornaleiro nos trens da NOB. Saia de Bauru e viajava até Corumbá. Jornais maus vendidos era o Diário da Noite e a Gazeta Esportiva. Livros, Bocage era imbatível e A revista masculina Ferplay. As cruzadas e os livros de bolso também vendiam bem. Dava para defender uma grana.

João Carlos Dias Moreira Poxa...

João Carlos Dias Moreira Antes de entrar no primeiro ano primário tive que aprender a juntar as palavras, sozinho,pra ler gibis(fui um gibizeiro danado) que um tio,também gibizeiro,me presenteava. Até o dia que resolvi fazer minha primeira compra sozinho numa banca de revista...Ver mais

Silvio RodRIGUES Para se ter uma ideia, o centro comercial de Bauru, por ora, está sem padaria. É preocupante.

Henrique Perazzi de Aquino A unica é a do Paulistão da Treze de Maio.

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK 2:

Silvio Rodrigues É uma padaria dentro de um supermercado num ambiente frio e calculista. Há a possibilidade de que aquela padaria da Rio Branco venha a ser reaberta. Estou à procura de informações oficiais.

cLEIDE PORTES - Lendo o relato do Henrique Perazzi de Aquino sobre o aspecto de abandono da rodoviária de Bauru quero também fazer um triste relato.
Por circunstâncias da vida, que nos colocam pessoas nos nossos caminhos, hoje eu entrei pela primeira vez no prédio da Sebes, especificamente na área que cabe ao Conselho Tutelar. Ali na avenida Alfredo Maia, de frente para o viaduto.
Ao entrar no prédio já senti um certo desconforto. Que aspecto feio, triste e também de abandono.
Ali é um local que infelizmente é sempre procurado por questões tristes, de abandono, de maus tratos, de conflitos, de miséria e o cenário não podia ser mais desalentador. Paredes sem cor, pintura descascada, as cadeiras de espera todas surradas.
Olho as pessoas ali sentadas e vejo a desesperança no olhar. E pra cada adulto, uma criança ou um adolescente sentado ao lado aguardando a chamada. Na imensa parede uma velhinha e pequena TV sintonizada num programa infantil.
As chamadas dos atendentes, as tosses e as conversas sussurradas são os únicos ruídos no ambiente. Há um clima de pesar, de insegurança, de desesperança.
Fiquei pensando que o cenário poderia ser diferente. Paredes pintadas, móveis coloridos, uns vasinhos e até um pequeno espaço para que as crianças se distraiam com alguns brinquedos poderiam tornar aquelas horas de espera um pouco mais confortáveis e menos dolorosas.
Isso tudo não mudaria a realidade ou situação de vulnerabilidade de crianças e adolescentes , nem a vida daqueles adultos, mas, sei lá, creio que a gente teria a sensação de que realmente o poder público se preocupa com toda aquela gente.
Estou falando de toda aquela gente: crianças, adolescentes, pais ou responsáveis e os profissionais que ali desempenham suas funções.
Não é uma crítica à atual gestão municipal. Acho que sempre foi assim.
Aquele ambiente me contaminou de um jeito tão negativo que, eu que tinha entrado ali com tanta esperança de ver um final feliz, saí com desesperança no olhar.

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK 3:

Roque Ferreira Cleide você está absurdamente correta. Quando vou a SEBES sinto uma angústia muito grande. Neste local trabalhei por maus de 15 anos, quando ali funcionava o Centro de Formação Eng. Aurélio Ibiapina, ela conhecida " Escolinha da Ferrovia". Local muito bem conservado e tratado. O local está largado, com aspecto de abandono. As pessoas que lá são atendidas e as que trabalham mereciam mais respeito.

Cleide Portes Então Roque Ferreira, a sensação é aquela assim : essa é a parte que te cabe. ...
E pra quem já está com a auto estima baixa ....

Roque Ferreira Isso tem nome minha amiga: É o preconceito estrutural.


Cleide Portes Sim, secretaria do desenvolvimento ou qualquer outra similar deve ter uma sede bem bonita né. Também não conheço. ...

Reginaldo Tech Desalentador. O poder público trata do pobre com pobreza... e trata do rico com riqueza. Essa é a realidade.