sábado, 15 de maio de 2021

REGISTROS LADO B (45) e DICAS (208)


NO 45º LADO B, O RELOJOEIRO IRAQUIANO, 6 ANOS DE BAURU, ALI ALANSSARI E AS HISTÓRIAS DO OUTRO LADO DO MUNDO MISTURADAS COM AS NOSSAS
É com grande prazer que trago aqui a cada semana bate papos reveladores, destas tantas pessoas, merecedoras de todo destaque do mundo, mas com pouco espaço para contar suas belas experiências de vida e histórias, lutas e embates. Não fosse as redes sociais, pouco conheceríamos de tanta gente, cada qual envolvido numa luta não só pessoal, mas coletiva, todos com muita história e merecendo ser contada. Na conjunção delas todas o entendimento de fato do que se passa conosco nestes tempos. Se a mídia massiva/hegemônica deixa a desejar, cá estamos, os tantos escrevinhadores por essas vias alternativas a narrar e divulgar o que acontece nas entranhas deste país. Faço a minha parte, contando algo aqui de minha aldeia, Bauru SP. Conto com prazer e contentamento, pois a cada nova semana, me empenho muito em buscar trazer alguém que possa passar algo novo, um questionamento diferente, ousado, revelador e contundente. Lá se vão com a de hoje, 45 conversas e em cada, algo de salutar, a fala de gente enfronhada na luta desta vida, a imensa maioria ciente de que, um outro mundo é possível, daí a luta de toda uma existência em prol dessa utopia. Este o propósito do projeto "Lado B - A Importância dos Desimportantes".

Imbuído deste ideal, que carrego comigo desde sempre e dele não abandonarei, cá estou para lhes apresentar ALI ALANSSARI, iraquiano de 57 anos (nasceu em 1964), relojoeiro por tradição familiar, tendo se mudado do Iraque para o Brasil há seis anos, vindo diretamente para Bauru. Não suportando mais a instabilidade em seu amado país, deixa para trás os filhos já criados – estes até hoje por lá – e sai em busca de um lugar mais palatável para viver e tocar o que lhe resta de vida. Descobre o Brasil, segue os passos guiados por amigo via redes sociais e cá aporta para fazer o que sabe, o negócio com relógios. Sua trajetória será aqui revivida, desde sua infância, o envolvimento com a profissão, a vida no governo de Sadam Hussein e depois, a guerra, destruição de seu país, guerra infindável e a decisão de vir em busca de algo diferente, a busca pela paz e tranquilidade. A chegada ao Brasil, logo a seguir Bauru e logo de cara, montando sua relojoaria, a Shirley, primeiro na rua Araújo Leite e agora, um mês atrás, quando conseguiu comprar um pequeno imóvel e transferir tudo para a rua Gérson França, 6-13. São tantas histórias, todas entrelaçadas e de muito aprendizado.

Eu trombo rotineiramente com Ali ou Alawwi, ou mesmo com o Iraquiano, na feira dominical, a do Rolo, onde bate cartão para ver as novidades num grupo de comércio de relógios existente no local. Ele chega com sua bicicleta, seu meio de locomoção na cidade e ali se instala, com sua fisionomia peculiar, atento, falando pouco, mas sempre proposto a um bom papo, desde que instigado. Eu, desde que o conheci, me interessei por conversas outras e sempre batemos longos papos, alguns publicados no meu blog, o Mafuá do HPA. Ele querendo sempre falar de seu negócio, até para fortalecer o que faz, divulgar e eu, falando disso, mas o instigando a contar suas histórias, principalmente as de seu país. Ele não foge da raia, conta tudo e fala muito de sua profissão. Ali tem algo peculiar hoje dentro da Bauru dos tempos atuais. Já tivemos na cidade infindáveis relojoarias e relojoeiros, mas os tempos mudaram e o relógio em si, perdeu muito do seu significado, num país perdendo valores. Hoje muitos se informam das horas pelo aparelho do celular e o relógio foi encostado. Ele briga contra isso e sempre que me vê, o questionamento: “Cadê seu relógio de pulso? Se tem, por que não usa?”. Hoje temos funcionando em Bauru uma dezena de relojoarias e ele, o único relojoeiro em atividade. Já tivemos muitos, nomes conhecidos de todos nós, mas hoje, só ele. Uma história realmente mais do que interessante de ser contada e espalhada com o vento.

Em 04/10/2016 publiquei: ALLAWI, O RELOJOEIRO IRAQUIANO EM BAURU - Tem quem viaje mundo afora para fazer turismo, desses só alegrias. Porém, viceja hoje os que saem vagando em busca de outro lugar para viverem. Esse é o caso dos tantos refugiados do mundo árabe hoje vagando pelos mares em busca de uma terra firme. Dentre tantos que zarparam para outras paragens distantes das suas, em cada um reencontrado pela aí, uma história inebriante de vida. Esse eu o descobri na feira, conseguiu sair numa digna situação e fui conferir sua história no seu local de trabalho. Daria para escrever uma baita e longo texto, mas por enquanto fico nessa rápida apresentação. ALLAWI KRAIDI é iraquiano, relojoeiro de profissão, profissão herdada de uma família onde muitos dos seus exerceram o mesmo ofício, algo passado de pai para filho. Manteve uma loja bonita, bela decoração, bem no centro de Bagdá, mas por causa das muitas guerras levadas até seu país, todas fecharam as portas. Divorciado, após receber proposta de um amigo estrangeiro morando em Bauru, aqui aporta dois anos trás e permanece um tempo trabalhando ao seu lado, perto do Bauru Shopping. Aos 52 anos, viu a necessidade de ter novamente seu próprio negócio, criou coragem e se estabeleceu com a Relojoaria Shirley, na rua Araújo Leite 20-69, lugar onde também mora. Conta algo inebriante de sua terra, “um país muito rico, Bagdá porta de entrada do Oriente e 50% do meu país falando, além do árabe, o inglês, tudo aprendido na escola pública, mas hoje tudo destruído. Deixei meu filho para trás, ele engenheiro, casado, ainda trabalhando por lá e eu, com 35 anos de experiência com relógios, vim para o Brasil e Bauru. Tinha que sair, não havia mais o que fazer por lá”. Relembra de décadas atrás quando muitos brasileiros trabalharam no Iraque, a maioria construindo estradas, quando empreiteiras daqui atuaram no seu país. Diz não ter mais motivos para voltar, seu país foi destruído e ele, mesmo ganhando pouco no Brasil, vive mais feliz. Conta sua história, mesmo as tristes com um característico sorriso no rosto e diz adorar as mulheres brasileiras, as magras como ele. De uma delas, Shirley, uma amiga que muito o ajudou quando da chegada, conversavam em inglês e o ensinou português, homenageou dando-lhe o nome ao seu estabelecimento. Hoje, mesmo com muitos árabes pela cidade, ele o único iraquiano, mas confessa: “Já não me sinto tão sozinho”.

Eis o link para assistir o Bate Papo de 40 minutos, tempo pedido pelo Ali, pois afirma que, "ninguém assiste conversa longa hoje por falta de tempo": https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/4539500382746602

COMENTÁRIO FINAL: A conversa com o iraquiano Ali era muito aguardada por mim. Meus motivos são simples. Em primeiro lugar, a curiosidade de conhecer um pouco mais da cultura de alguém do outro lado do mundo, um muçulmano, morador de um país praticamente destruído pelo poderio dos Estados Unidos. Ver como ele entende o seu país antes da destruição, período de domínio de Saddam Hussein e depois, o nunca mais unificado Iraque, sobrevivendo numa intermitente guerra de tribos, bandos e grupos antagônicos, tendo pro detrás o disputado petróleo. Ali viveu ali por mais de 35 anos, conheceu o ramo relojoeiro, dele foi a fundo e montou negócio no Iraque, depois na Líbia, conheceu praticamente todo o Oriente Médio, mas cansou de tanta incerteza e insegurança. Por 16 anos vagou por vários países até conhecer alguém no Brasil e este lhe apresentar uma outra possibilidade. Ele veio e não se arrepende. Conta dos motivos, mais liberdade e segurança. Se mostra deslumbrado com o Brasil. Não revê seus familiares há décadas e considera o Brasil sua nova nação. Diante de tudo o que passou, prefere não discutir sobre política daqui, mas fala da do seu país. Quer evitar problemas por aqui, pois luta pela cidadania brasileira. São sete anos de Brasil e seis de Bauru. Por seis esteve localizado na rua Araújo Leite, quadra de cima da avenida Duque de Caxias e hoje, conseguiu comprar com a ajuda de seus parentes do Iraque um imóvel próprio, transferindo para lá a Relojoeira Shirley. Ali fala sobre tudo, não se omite e sempre muito objetivo, aprendeu o português estudando muito, sozinho e com um livro, desses de tradução inglês para o português. Decidido, produz uma conversação das mais interessantes. Quando trata do tema de sua especialidade, com sabor mais do que especial. Hoje, algo se sobressai e ele, resiste bravamente como o único relojoeiro em atividade na cidade, uma vez que o últimos dos velhos, adoentado, se afastou das atividades. Enfim, uma conversa que merece ser ouvida do começo ao fim e como teve duração mais encurtada, ao término, um sabor de quero mais, pois muitos temas ficaram em aberto e muitas perguntas e questões ainda por responder. Ali é um sujeito dos mais abertos para um bom bate papo. 


ÚNICO ACONTECIMENTO CULTURAL EM BAURU ESTE ANO*
* 13º texto deste mafuento HPA para edição semanal do DEBATE de Santa cruz do Rio Pardo. Esclarecendo: Trata-se do único evento cultural em Bauru com a chancela da Secretaria Municipal de Cultura / Prefeitura Municipal de Bauru em 2021. Muitos outros ocorreram, mas bancados pelos próprios artistas ou por outros incentivos. Vindo da Prefeitura, nada a acrescentar.

A semana se encerrando foi de sufoco para a secretária de Cultura de Bauru, Tatiana Sá. Tudo começou com uma Audiência Pública marcada para quarta-feira, quando foi praticamente encurralada pelos artistas locais, todos de pavio muito curto pela ausência total de atividades e propostas para a pasta. Desde que a novíssima (sic) prefeita foi eleita, Suéllen Rosim, demonstrando apreço desmedido para com o ex-capitão presidente, Bauru se vê cada vez mais enfronhado em atos fundamentalistas e negacionistas. Um descalabro, culminando com uma Cultura totalmente inerte e diante de uma classe artística, necessitando cada vez mais de atividades, ações e proposituras. Elas não despontam e em cada novo ato, uma só certeza, a paradeira é ato deliberado e norma de conduta da nova administração.

A secretária bem que tenta, mas diante de algo vindo de cima, a imposição pelo nada fazer, tudo o que se vê são promessas, algo evasivo e feito para ir enchendo linguiça ou mesmo ir empurrando com a barriga. Até o presente momento, algo repetido como ação cultural local de grande porte, a execução da lei Aldir Blanc, porém, como se sabe, trata-se de propositura federal e não local, só ocorrendo depois de muita pressão da classe artística. Em Bauru, logo de cara, mostrando a que vieram, o cancelamento de Lei de Estímulo à Cultura, algo em andamento desde ano passado. O artista que já não tinha nada, ficou chupando o dedo e para não assumir o erro, encontrou-se um culpado, a administração anterior.

Todos os projetos paralisados e algo em curso, a não permissão para que nada ocorra dentro das hostes da Cultura envolvendo gastos. Estes estão proibidos. A desculpa é esse tal de contingenciamento, que nada mais é do que a desculpa da utilização do dinheiro que iria ser utilizado aqui, agora tudo desviado para finalidades tendo como chancela a pandemia. Bela desculpa para deixar de realizar cronograma de atividades e eventos que sempre ocorriam anos após ano. Sempre a pandemia, ou seja, ela geradora de tanto mal, serve neste momento como desculpa para deixar de fazer o prescrito e previsto.

Na Estação da NOB, a mais bela do interior paulista, onde até então existiam muitas salas ocupadas e atividades culturais ocorriam, tudo foi lacrado e desde o começo da gestão, obrigados a desocuparem o lugar. Existia e estava em andamento um projeto de revitalização do local, utilização pela Secretaria de Educação e ali, algo engrandecedor para revitalizar o centro velho de Bauru. Mudou o governo, mudaram-se os planos e agora, com os locais fechados, tudo também abandonado e a restauração esquecida. O motivo, como sempre, a pandemia. Ela salva e justifica tudo.

Ufa! Agora, passados cem dias da nova administração finalmente ocorre um ato cultural com a chancela Suéllen e Tatiana. “Agora vai”, dizem os céticos. Passando férias em Bauru um artista nascido na cidade, Luis Martins, conhecido internacionalmente como L7M, traço espalhado em paredes francesas, onde reside atualmente. Convite para realizar mural dentro do Centro Cultural “Carlos Fernandes de Paiva”, onde está também localizado o Teatro Municipal e ele graciosamente, em reverência para com sua cidade, produz obra de arte, sem custos para a nova gestão. A pintura eternizará não só estes primeiros meses de atividades culturais, como se prevê, será o que melhor acontecerá na cidade no quesito acontecimento dentro de toda a administração. Diante de tudo o que Bolsonaro proporciona de Cultura para o país, Suéllen e sua partner, a esforçada Tatiana Sá, pelos menos temos de agora em diante um mural para chamar de nosso. Viva para a doação de L7M, pois não fosse ele, sua arte e traço, nada teríamos para comemorar. Já estou agendando visita para conhecer de perto o único ato cultural destes novos tempos de administração tão transformadora, avançada e progressista.

Eis o link para encontrar o texto no site do jornal: https://www.debatenews.com.br/.../unico-acontecimento...

ALGO DAS FILAS BAURUENSES
Em foto de Pedro Romualdo, algo mais sobre as filas em Bauru em busca de vacinas. Quando não pelas da Covid, como na de hoje pela manhã, em busca da imunização contra a gripe, no Posto de Saúde do Jardim Godoy. Terceira idade padecendo pela desorganização de quem deveria organizar, mas se mantém com pouca organização.

QUEM A ENFRENTOU: "Eu fui tomar no PS Cardia, fiquei 1 hora na fila e isso porque cheguei já que o PS abriu, sendo que a fila praticamente dava volta na quadra e continuou assim até o momento em que saí de lá, foi o que deu para ver.
Achei um absurdo aquilo, havia idoso até impossibilitado de andar, numa fila imensa e outros com diversos problemas misturados com professores nessa mesma fila imensa.
Nem dava pra dizer "vamos deixar entrar aqui porque é idoso".
Vi idosos chegando e indo embora reclamando porque a fila estava grande e outros que tinham acabado de tomar vacina da covid saindo do PS sem a vacina da gripe porque obviamente não podia.
Minhas perguntas são por que a prefeitura juntou dois grupos enormes para vacinar e por que não deu prioridade para os idosos em outro momento, já que a maioria deles já estão vacinados contra a Covid ?
Dentro do PS estava tudo bem organizado, as funcionárias todas trabalhando e com muita agilidade e experiência. Essa desorganização veio da Secretaria de Saúde que não tem competência e não soube organizar os grupos adequadamente. E isso por que temos um médico como secretário.
Pela 1 vez na vida saí de uma vacinação frustrada. Deveria ter deixado para tomar a vacina da gripe em Jaú, pois lá a organização está melhor.
Agora eu entendo porque muitas pessoas não estão voltando para tomar a 2 dose da vacina da covid, é muito constrangedor, cansativo e revoltante você ter que passar por uma situação dessa para tomar uma simples vacina, a qual você tem direito garantido por lei.
Quando eu for tomar a vacina da covid provavelmente será em Jaú, pois trabalho lá e situação como essa tem sido rara por lá. Pois se eu tiver que tomar em Bauru, sinceramente, depois de hoje estou pensando em desistir", funcionária pública Mary Moretto.

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