quarta-feira, 12 de maio de 2021

FRASES DE LIVRO LIDO (165)


OS QUE PASSAM POR BAURU SÓ PARA INCENTIVAR O PIOR
Quem passou ontem pela cidade foi a deputada estadual Valéria Bolsonaro (sem partido) e mais uma vez foi paparicada pela mídia massiva/hegemônica da cidade, comparecendo em programas de rádio e no Café com Política do JC. Inacreditável, mas veio aqui para reafirmar seu compromisso com a destruição da área preservada de cerrado em nossa região. Apregoando ter tido conversas com empresários, autoridades e políticos da cidade, os considerados "Forças Vivas", está propondo na Alesp - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a flexibilização (como gostam desse indefectível nome aqui por Bauru) da lei que hoje garante reservas ecológicas na região de Bauru. Eles inventam que, só será flexibilizado as regiões já degradadas, mas na verdade, querem um liberou geral, para a partir daí implantar novos condomínio residenciais para abastados e abonados, nada de integração social ou algo parecido. O grande negócio em questão sempre foi o movimento imobiliário e seu lobby, jogando sempre pesado para fazer uso desses redutos até então intocáveis.

Usam de desculpa esfarrapada e fazem algo bem parecido com o que o ministro Ricardo Salles, o que está na pasta do Meio Ambiente, mas na verdade, tocando o trabalho e "passando a boiada". Podem reparar, mas esses que hoje se dizem representantes desses grupos de poder estão cada dia mais desconectados com proteção e amparo, pois só pensam em lucro, grana no bolso e nada mais. Tudo se resume nisso. O progresso para eles é destruindo o que existe em pé. Para esses não existe nenhum tipo de compreensão de que, destruindo o que nos resta de floresta de cerrado, a área quando degradada nunca mais terá recuperação. Não existe no momento nenhuma indústria querendo aqui se instalar, algo programado nesse sentido, mas só especulação imobiliária e nada mais. Depois de destruído, não existe mais isso de compensação ambiental.

A intenção é sórdida. Pelo tipo de empresários e políticos com os quais a deputada conversou aqui na cidade, citando gente do SinComércio como baluarte, já da para sentir o grau de destruição proposto e pensado. Tudo é demanda de gente querendo fazer dinheiro fácil no momento. Balela isso de só se fixar em supressão de cerrado em área urbana, pois a intenção é mais ampla, dizer uma coisa e já imaginar tudo liberado. Atualizar as leis para estes é torná-las favoráveis ao seus interesses, nada além disso. Não existe outro motivo. Não falam num só momento em recuperação de biomas ou de preservação espécies e animais. Devastar, devastar e devastar, isso o que querem e sem nenhum controle.

NA BATISTA CIRCULA A GRANDE FAMÍLIA DOS "TÔOYANO"
Essa quem me contou foi o Antonio Pedroso Junior. A denominação dada para os que hoje circulam pelo Calçadão da Batista, centro velho da cidade e tudo mais, como se nada estivesse ainda em curso, vida normalizada e pandemia já longe de todos nós, foi dada por outro amigo, o Antonio Carlos Ferrasi. Este, velho bardo das hostes da Prefeitura Municipal, hoje curtindo seu descanso e da última vez que circulou pelo centro da cidade e presenciou o amontoado de gente, todos de um lado para outro e poucos com compras nas mãos, uma certeza: "São todos membros da grande família dos Tôoyano". Esses, os que saem de casa só para olhar representam um grande perigo na propagação do vírus. Não conseguir se segurar nas calças causa grandes danos para todo o restante da população, principalmente para aqueles que, conseguem se manter distantes disso tudo, mas acabam sendo infectados por outras formas. A turma do Tôoiano é danosa, pois o faz também no descuido total, sem máscara e sem manter o mínimo de distanciamento ainda mais do que necessário. As fotos da Batista eu recebo de outro amigo, Kyn Junior, outro que, circula pelas ruas, assumidamente membro da tal família, portanto, permaneço distante de aproximações corporais com o dito cujo. Poderiam muito bem se segurar mais um bocadinho, né! E você, também é da turma e família do Tôoiano?

ORIGEM DE JAHU SEGUNDO JOZZ ZUGLIANI BATE COM AS ENCHENTES NO CENTRO JAUENSE
Existem muitas versões para os acontecimentos históricos. A verdade nunca é única e precisa ser entendida na sua diversidade. Em alguns casos tem para todos os gostos. Acabo de tomar conhecimento de algo sobre a origem da cidade de Jahu – adoro escrever Jaú com “h” - e ela me caiu às mãos pelo amigo, professor, designer e desenhista como poucos, Jozz Zugliani (jozz.com.br ou https://www.facebook.com/jozzzugliani). O cara é da safra de 1983, portanto, muito novo, saiu de Jaú cedo, conheceu o que de melhor o mundo tem, bateu cabeça, se especializou no que sempre gostou de fazer e decidiu voltar, pelo menos até terminar seu doutorado e quiçá, a pandemia. Desenhando desde muito cedo, faz do traço o seu contato com o mundo. Dias atrás fico sabendo que estava lançando um novo livro, o “A Cidade Submersa”, claro, versando sobre sua cidade e de como entende o nome que lhe dá origem. Pelo menos foi assim que entendi sua obra visionária e cheia de bons presságios. Comprei e tinha a mais absoluta certeza, viajaria sem tirar os pés do chão. Não deu outra.

Existem milhares de livros de história, com versões escorreitas sobre fatos do passado, mas meras abordagens vistas pelos olhos do conquistador, daqueles que chegaram, dominaram e se acham donos também de todas as versões. Jozz escreve e desenha uma outra versão, que pela sua cabeça tem uma conotação além da ficção. Na verdade o curto texto é um poema, baita texto e quando intercalado com o seu traço, ganha numa abordagem futurista e cheia de premonições. Na abertura do prefácio ele desenha algo divinal junto com essa ideia mirabolante de como deve ser as coisas arrebatadoras: “Memória sempre foi, sempre será, sempre é, em frente em frente, pó motivado...”. Um Caderno de Esboço, onde o artista divaga, viaja, brinca, fala sério e demonstra a que veio, expõe suas intenções e sapiência. Na junção dos desenhos com sua escrita e versando sobre sua aldeia, Jaú, um deslumbre.

Li e reli várias vezes e nem sei se captei tudo, tendo que reler ainda mais boas vezes. A cada relida acrescento algo a mais. Essa forma de observar do Jozz para com o lugar onde nasceu e voltou a viver pode surpreender muitos, mas mostra as vísceras de como enxerga a bucólica, insólita e mal entendida Jaú. O índio que escapou de ser capturado, dizimado como seus irmãos e ao pular no rio, ressuscita como peixe, o próprio, Jahu (“Ya-hu Jahu Jaú – sacou?”). Eu trabalhei em Jaú por dois anos e aprendi a gostar da vizinha cidade, separadas por outro rio, o Tietê. O rio lá deles, cortando e muitas vezes alagando seu centro velho está entrelaçada com esse rio. Para o Jozz “as marcas, traços dos rostos das pessoas se entrelaçam na mesma linguagem dos paralelepípedos, parapeitos, ornamentos e árvores, conectados por linhas de expressão tão severas quanto fios de alta tensão e faixas de asfalto que enredam a terra”. Só esse trecho vale uma tese, um trabalho acadêmico, um estudo de caso, uma discussão pra lá de acalorada.

Bandeirantes que dizimaram os índios do lado de cá do rio Tietê, fincando o progresso (sic) de Bauru, por lá pescaram o peixe e daí o nome da cidade, Jahu. Mas se o peixe assim se chamava, outros assim já haviam o denominado. Finda aí a louvação aos bandeirantes. A pesca se deu onde hoje viceja a cidade. “Há poesia tanto na pesquisa histórica científica como na lira de um pescador...”, ele demarca como entende a história que lhe foi transmitida e ele a reinventa ao seu modo e jeito. O mais gostoso de ler Jozz é compreendê-lo, ainda mais quando diz: “No período em que perambulei por aqui aprendi que o pouco que sei e sou não pertence somente a mim, deveria ser compartilhado”. Orgasmo total. E logo na sequência cita Darcy Ribeiro: “Um homem é um homem, mais os amigos e amores que guarda no peito. Será? Quem plantou em mim, amigo tão amigo, amor tão amado que me fez teu servo? Eu sou eu mesmo, eu só. Não guardo ninguém comigo cativo. Também a ninguém me avassalo”.

Ele vai fechando tudo, a compilação de ideias quando se deixa “ser levado pela correnteza”, enfim, a água “que tomou a cidade, um líquido velado que transborda de um rio adulterado, ele entra pelas portas e janelas e isola sonhos”. O seu Jahu me cativou e navega por toda cidade, como pássaro alado, mesmo que não o compreendam. “Todos precisam ser livres, mesmo que queiram naufragar. Minha motivação é mostrar que ainda é possível voar”. É claro, evidente, nítido que, o Jahu assim por ele concebido seria caçado, flechado, dissecado, enfim foge do convencional e do que já estava pré-estabelecido. Mas, percebo que vale muito mais do que quase tudo o que já foi escrito sobre a história daquelas plagas. O Jahu dele sobrevive, pois renasce como um fênix, “um peixe fora d’água na cidade submersa”.

Para encerrar esse longo texto, divago sobre algo vivenciado por mim tempos atrás. Um jornal foi lançado na terra com nome de peixe, circulou por algum tempo, comprou brigas, contou a história por outra vertente, bateu de frente, mas feneceu. Foi também caçado, laçado, flechado, perseguido e por fim, uma das tantas enchentes do rio, alagou sua redação, aniquilou o projeto e ele ali se afogou. O Bom Dia Jaú, cuja foto de seu editor Chu Arroyo tentando voltar pra redação, diz muito para mim, pois algo foi tentado, mas naufragou. Tempos depois, o próprio representando os “donos do poder” local, o Comércio de Jahu, também não resistiu. Dizem que Jahu não é terra fácil e para amadores, cercas contornavam a cidade, impossibilitando intrusos e inovações. Barões existem lá e cá, por todo lugar. Uns faliram, outros vivem de fama, mas querer confrontá-los é tarefa pra muito corajosos. O atual alcaide, fundamentalista autoritário, bem diferente do anterior, se mostra vulgar, bolsonarista e prepotente, idêntico a alcaide de Bauru, provavelmente preferem as versões privilegiando o passado honroso dos bandeirantes. Jozz e nova geração de retratadores do passado, investem no oposto e possibilitam a melhor interpretação, bem dentro do que prega Jorge Drexler, cravado na última página do livro: “Hay gente que es de um lugar/ No es mi caso,/ yo estoy aqui de paso...”. Isso de juntar as cheias do rio e recontar a saga do Jahu me encantou...
Obs.: Na última foto, Chu Arroyo, então editor do Bom Dia Jaú quando escapou de afogamento no rio Jahu, mas logo depois o jornal naufragou.

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