sexta-feira, 3 de junho de 2022

MEMÓRIA ORAL (281)


DINHO, UM CARA DAS QUEBRADAS QUE FAZ E ACONTECE PARA SOBREVIVER – PRECISA DE UM “MARIDO DE ALUGUEL” PARA RESOLVER PEQUENOS PROBLEMAS DOMÉSTICOS?
Uma árvore caiu sobre o Mafuá gerando danos, necessitando de ir atrás de profissionais para recuperar meu telhado danificado. Ouço de pessoa próximo que, estou sempre enroscado por procurar sempre os serviços dos ditos “Pedrões”, que é como me dizia os tais não estabelecidos, os simplões que fazem de tudo um pouco, resolvem a coisa ao seu jeito. Ouço, engulo em seco e aceito conselho do amigo Kyn Junior, indo atrás de um dos tais Pedrões para me fazer o serviço. Diante de cada pela de telha ao estilo Eternit, metro de meio de comprimento estar custando mais de R$ 160,00, paramos no João, lá nos altos do Jardim Santa Edwirges, um demolidor a revender peças usadas. Encontro o que procuro por R$ 60,00 em bom estado e pelo estado atual do Mafuá, tudo caiu como uma luva. Um amigo, Claudio Lago me transporta tudo e quem vai executar o serviço, alguém também indicado pelo Kyn e é deste que quero escrever algo mais.

Passamos na casa do DINHO, o Reginaldo Sirino, 43 anos, morador ali nas imediações, mais precisamente no Petrópolis. Defronte sua casa um amontoado de reciclados, tudo espalhado pela calçada e dois carrinhos ali parados, à espera de seus condutores para vasculhar o bairro em busca de algo no qual façam uma grana e coloquem comida dentro de casa. Na casa são seis adultos, ele, o Dinho, eu irmão, mais outro e três mulheres. Os três homens saem à luta e as mulheres ficam em casa fazendo a comida, cuidando da casa e das crianças. Eo pega se dá de forma contínua, sem tréguas. Dinho mesmo faz de tudo um pouco, trabalha como se fosse uma espécie de coringa, daqueles que jogam em todas as posições, sempre em busca do gol, ou seja, de algo rentável no final de cada dia. Não vislumbra nada além disso, o resultado de um dia, assim resolvendo o problema daquele dia. O de amanhã é algo a ser pensado quando acordar no dia seguinte. Se não tiver nenhum serviço engatilhado, pega o carrinho e vai em busca de reciclados em pontos já conhecidos. Essa sua rotina.

Kyn o conheceu nas imediações do supermercado Panelão, um dos maiores pontos comerciais da região. No entorno deste mercado, floresceu muitos pequenos e médios negócios, movimentando em muito o bairro e junto deles uma gana de pequenos trabalhadores, sem emprego certo e em busca de algo para fazer e ganhar algum. Dinho circula por ali também, assim como por outros lugares. Ele sabe fazer muita coisa, ofícios aprendidos ao longo da vida e da necessidade. Já trabalhou como pedreiro, pintor, encanador, servente, carregador e neste momento, diante de minha necessidade, me diz de outros lugares onde já atuou como telheiro. Sua conversa me convence e ele vem conosco, pois o tempo está nublado e como ele sabe algo e eu não sei nada, será ele quem irá subir no meu telhado e resolver o meu problema.

O danado foi ontem lá, mas já era tarde e a chuva estava chegando. Cobrimos tudo com uma lona e plásticos, resolvendo o problema diante da água que veio logo a seguir. Hoje bem cedo estava a postos no horário combinado, carregamos as telhas e ele subiu no telhado como um gato, sem escadas, pois não havia nenhuma disponível. Trouxe furadeira emprestada de parente e lhe passamos as telhas, ele as matando no peito e em pouco mais de hora e meia de telhado, tudo pregado, milimetricamente resolvido. Ontem, antes de deixá-lo em casa me diz se posso adiantar R$ 20, pois o dia não tinha sido dons bons. Adianto e hoje lhe pago o resto e algo mais, pois o danado se mostrou um valente. Eu não mudo e continuarei me servindo dos serviços destes, os tantos nas rebarbas da cidade, vistos como das quebradas – como disse lá atrás Plínio Marcos, com seu livro “Nas Quebradas do Mundaréu”. O seu serviço, igualmente como seria com um profissional com CNPJ, me atendeu as expectativas. O vi trabalhar e tenho que reconhecer, gente como ele se desdobra, se multiplica e se amplificam na hora da necessidade. Fazem o que sabem e o que não sabem, não decepcionam e assim sendo, como o Mafuá é também território de gente em busca e lutando por um mundo mais digno, ele não só tem espaço, como pode começar também a frequentar o lugar.

Na despedida de hoje, ele circulou dentro do lugar e me disse ter feito um bom trabalho para não molhar os livros e discos ali vistos, mas diante da quantidade me pergunta: “O senhor já leu tudo isso?”. Paro no posto de combustível a seu pedido para comprar um maço de cigarros, pois não havia fumado nenhum desde cedo e já estava trêmulo, quando lhe respondo: “Não li nem a metade, mas aqui circulava muita gente. Paramos um pouco por pouca da pandemia, mas por aqui vinham grupos políticos, carnavalescos, musicais e culturais. E precisamos de um telhado bom para dar continuidade. Cada um lê um pouco e leva ao outro um bocadinho de conhecimento”. Ele ficou interessado na conversa e por causa de gente como ele, o Mafuá terá que renascer das cinzas, nem que seja a fórceps. Mas isso tudo até aqui escrito o foi por causa do mais novo amigo conquistado, o DINHO, que cumpriu o combinado e na semana que vem volta para reparar mais um bocadinho do estrago hoje visto no Mafuá. Gente como Dinho tem a cara do lugar, faz e acontece e assim sendo, indico ele para pequenos serviços domésticos, até para que ele consiga ir tocando seu barco dentro dessa tempestade que é a vida correndo solta aí fora. Precisando eu passo os dados dele e, tenham certeza, ele chega e resolve. Provei e está mais do que aprovado. DINHO sabe muito, fez milagre e deixou o Mafuá mais apresentável e sem goteiras. Sou um "Pedrão" e daí, por que não continuar junto deles, ainda mais por saber de como tocam suas vidas. Sigo junto.

prestem atenção
CHAMADA CONVITE PARA O 89 LADO B , DOMINGO, 5/6, 11H COM NEIZINHO, CRAQUE DO ARCA, HISTÓRIAS DE QUEM DEU A VOLTA POR CIMA - DAS RUAS PARA UM ABRIGO PARAÍSO
Eis o link de 8 minutos: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/27068405857455. Neizinho, com seus 1h50 foi grande demais, jogou muito bola, futebol amador de Bauru, atuou por 20 anos no Bradesco, depois sua vida declinou, foi ser dono de bar e caiu no alcoolismo. Vivenciou, mesmo com apoio familiar, momentos ruins, onde passou fome e frio. Fez de tudo um pouco para superar o momento ruim, morou em tudo quanto é abrigo e se alimentou de todos os meios possíveis e disponíveis nesta cidade. Conseguiu se aposentar e hoje foi agraciado para residir no Residencial Vida Longa. Conhecer sua trajetória e história de vida e tomar conhecimento de algo das entranhas bauruense. Vamos juntos?

UFA! O BOM PASTOR ADMINISTRA O RESIDENCIAL VIDA LONGA PARA IDOSOS – SERIA O PARAÍSO PARA OS ALI RESIDENTES?
Tem instituições que é mais do que possível se colocar a mão no fogo em Bauru, outras nem tanto e por fim, várias que estão aí só para misturar as coisas, complicar o meio de campo e melar o campeonato. Hoje fui conhecer e sem querer, algo recém inaugurado na cidade e onde ocorreu de minha parte, uma espécie de amor à primeira vista. Trata-se do Residencial Vida Longa, uma vila cercada, ao estilo dos condomínios residenciais, projeto do governo do estado de SP, construção e mobília, propiciado em várias cidades e para a população da terceira idade. Para quem conhecia o Lar dos Vicentinos, algo existente na maioria das cidades, eis um passo adiante, pois o beneficiado não paga nada, nada contribui, mas recebe uma moradia decente, com mobília, sem nenhum custo, com a promessa de ser mantido após a entrega pela Prefeitura Municipal da cidade beneficiada.

O de Bauru foi inaugurado pelo atual governador do Estado e conta com algumas dezenas de casas, com população mista, onde ao adentrar o lugar a primeira coisa que se nota é a felicidade estampada na fisionomia dos moradores. Outra coisa salutar no projeto é ter ali reencontrado dona Celenita Coelho (esposa do Cláudio, da Gráfica Coelho), da Comunidade Bom Pastor, que há décadas presta serviços filantrópicos e de assistência social em Bauru. A conheci na rua Primeiro de Maio, no coração do Jardim Bela Vista, perto da escola Guedes de Azevedo e desde então nutro simpatia pelo que faz. Em suas palavras, algo do que faz: “Desde o inicio a comunidade desenvolvia ações para cuidar de pessoas, no começo, ações tímidas, nem tínhamos projetos estruturados, depois desenvolvemos parcerias municipais e estaduais o que nos possibilitou expandir nossa missão. Hoje queremos contribuir para melhorar de qualidade de vidadas pessoas. O resultado de nosso trabalho nos faz prosseguir servindo sempre com amor. Queremos ser Luz, agir e oferecer um serviço que possibilite aos nossos consagrados, funcionários, voluntários e contribuintes realizarem boas obras. Muito Obrigado e Parabéns a você que participou de nossa história...”.

O local escolhido para o abrigo, ou melhor, o residencial para idosos é pertinho da vila Tecnológica/José Regino, na rua André Bonachella Palliareci nº 1-2. Um lugar parasidíaco. Eu me encanto, pois ao bater os olhos em muitos do que ali vi já residindo no local, sei do quanto sofreram em outros lugares, muitos morando mesmo nas ruas, passando frio e fome. Hoje, todos muito bem abrigados, em lugares mais do que confortáveis e com toda a assistência. O Bom Pastor é uma entidade também religiosa, mas não carola, não enfia a religião a fórceps na cabeça das pessoas. Possui requisitos mínimos e segue procedimentos elementares, ou seja, a religião permeia o trabalho, mas não é impositiva. Conheço Celenita e sei da seriedade de onde está enfurnada. Fui até lá hoje para fazer a chamada do meu 89º Lado B, meu programa semanal de entrevistas com pessoas fora da mídia massiva, desta feita com Sidinei Cruz Tarantella, o Neizinho, do futebol do Arca e do Bradesco, alguém penando muito nas ruas até conseguir chegar a este paraíso.

Fui lá por causa do Neizinho, nada sabia do que encontraria. Sabia ser um local novo, onde foi morar após dar muito murro em ponta de faca por aí. Entrei e me vi arrebanhado. Se o projeto é isso tudo mesmo, só tenho que loucar e dar os parabéns. Pelo que ouvi, tudo foi entregue, em algo feito em parceria e daqui por diante, toda a responsabilidade será da Prefeitura e do Bom Pastor. As administrações municipais mudam e em cada uma, cabeças diferentes e formas também muito diferentes de encarar e enfrentar o problema do idoso.
 
Tenho mais do que reservas para a atual administração municipal, mas tenho muita confiança no Bom Pastor e credito voto de confiança. Vamos acompanhar e por enquanto, rasgados elogios. O Neizinho e todos os demais lá instalados, com moradia assegurada, estão muito felizes e isso é mais do que reconfortante. Tomara tudo seja mesmo mais do que sério. Quem tiver mais detalhes deste projeto, poste aqui para poder prestar mais informações. Pelo que sei, algo parecido já foi inaugurado em outras cidades e na região, outros estão em fase de conclusão.

É pra chorar quando vi este projeto pronto e verifico outro, o das moradias populares do Residencial Manacás, onde algo foi feito "nas coxas" desde o princípio, com o desleixo de uma construtora está mais do que evidente já na apresentação da obra pronta. Este aqui, tudo impecável, tinindo de belo e funcional, feito com esmero e o outro, o Manacás, projeto habitacional de baixa renda, para pessoas já com dificuldade financeira e conseguindo finalmente suas residências, mas a recebendo já de forma inadequada e com problemas. Na comparação, a constatação de que tudo pode e deve ser muito diferente, basta querer, saber acompanhar e também exigir de quem fez a responsabilidade por entregar algo no mínimo em condições. Choca as duas realidades diante de nossos olhos ao mesmo tempo.

Em tempo: A ex-secretária municipal do governo Clodoaldo Gazzetta, Letícia Rocco Kirchner me envia este texto explicativo do projeto: "Em 2019, 6 cidades do Estado de São Paulo foram selecionadas para receber as casas do Vida Longa e uma delas foi Bauru. A área de 3.500m2 foi cedida pelo Município e o Estado entrou com a construção (R$ 3 milhões). Na época, constava a informação de que o Município receberia também o subsídio mensal de R$ 15 mil para manutenção do local. São 22 casas em condomínio fechado, mobiliadas e equipadas com eletrodomésticos. No condomínio também há área comunitária e espaços de lazer. As moradias são destinadas a idosos em situação de vulnerabilidadecom renda de até 2 salários mínimos".

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