segunda-feira, 26 de novembro de 2007

MEMÓRIA ORAL (13)

ELES JÁ LERAM MAIS DE CEM LIVROS NESSE ANO

"Incentivar a leitura num mundo cada vez mais distante dela", esse é o propósito principal do 3º Prêmio Leitor do Ano, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Cultura de Bauru, através da sua Divisão de Bibliotecas e pela Livraria Jalovi, que patrocina tudo. O objetivo é dos mais nobres e pelo terceiro ano consecutivo, além de incentivar o hábito da leitura, premia os usuários de todas as bibliotecas municipais que mais se utilizaram de seus serviços. "Premiamos os que mais emprestaram livros durante o ano, os nossos mais assíduos frequentadores e os que fizeram as devoluções em dia. Para incentivar a leitura em todas as faixas etárias, distribuimos a premiação dentro de três faixas etárias, premiando crianças, jovens e adultos", conta Elizete Maria Barro, diretora da Divisão de Bibliotecas.
Quando foi lançada em 2005, comemorava-se o Ano Ibero-Americano da Leitura, surgindo a idéia da premiação, em algo para aglutinar e destacar pessoas que, tivessem o hábito da leitura bem evidenciado em suas vidas. Estava criado o Prêmio Leitor do Ano e para sua viabilização, logo que contatada, a Jalovi, a mais tradicional livraria da cidade, topou ser a doadora aos premiados anuais e mais que isso, ofereceu a livraria para ser o palco do evento. O inesperado foi o crescimento de cada evento e uma participação revigorada a cada edição. Nesse, o salão central da Jalovi, no centro da cidade, parecia pequeno para abrigar as quase 200 pessoas que, na manhã de sábado, 24/11 lotaram todo o espaço.

Os grupos foram se formando com pelo menos uma hora de antecedência. Como o espaço é amplo; leitores, curiosos e convidados foram se aglomerando junto às prateleiras e balcões. Num evento como esse, raramente o homenageado comparece sózinho, fazendo questão de trazer junto algum familiar e pessoas próximas. Quem se destaca entre os presentes é o presidente da ABL – Academia Bauruense de Letras, Munir Zalaf (que acabara de ser reeleito pela 4ª vez ao cargo) e Joaquim Simões Filho, escritor e Secretário Geral da ABL. Ambos se espantam com a grande movimentação, pois acabavam de tomar conhecimento de uma pesquisa, apontando que o brasileiro lê em média 1,2 livros por ano. "Precisamos e devemos frequentar mais nossas escolas, incentivando a leitura desde a infância. Isso faz parte de nosso projeto, que também irá visitar os escolares das outras faixas etárias", diz o presidente Zalaf.

O evento começa pouco depois das 11h, com apresentação da Elizete e tendo o pontapé inicial com um coral infantil da escola Liceu Noroeste que, canta e encanta a todos. No refrão da primeira canção, a palavra "amigos" era repetida várias vezes, sendo escolhida a dedo, pois o grande lema da leitura é a de que o livro acabe se tornando uma eterna amizade, um relacionamento duradouro. Estava comprovada a tese de que a junção de crianças e livros é sempre muito saborosa. Nada mais propício para o momento. Munir Zalaf é o único convidado a se pronunciar e o faz de forma emocionada, lembrando algo que o poeta e escritor Mario Quintana havia profetizado lá atrás: "O alfabetizado que sabe ler e não lê é um analfabeto". Ainda mais profético diz que "a leitura é um benefício de ontem, de hoje e para toda a eternidade".

São chamados para receber os livros, os trinta premiados, distribuídos entre a Biblioteca Central e seis ramais, das vilas Tecnológica, Progresso, Mary Dota, Geisel, Falcão e distrito de Tibiriçá. Os títulos são dez com temática adulta, seis juvenis e quatorze infantis. Todos são chamados nominalmente e convidados para uma alegre sessão de fotos no meio do salão. Dentre todos os premiados, dois se destacam. "Essa aqui é nossa freguesa habitual. Toda semana está aqui", diz o gerente da loja Nilo Sérgio Alves Júnior, direcionado para Cibele Ana Aparecida Rossetti, 46 anos, solteira, oficial de justiça e que faz da leitura e da coleção de peças com temática de gatos, o seu passatempo. Veio acompanhada do pai, aposentado da ferrovia, grande incentivador nos dois hobbies. "Ela gosta de ler e eu estou nessa. Ajudo ela a comprar tudo, pois sei que isso a faz bem", salienta o pai, seu Vero.


Cibele não consegue mais ficar longe de um livro um dia sequer, tendo vários sendo lidos ao mesmo tempo. Diz que, em sua casa, é livro de um lado e rádio de outro, alternadamente, ou tudo ao mesmo tempo. A paixão pelos livros é tão intensa que, a cada quinze dias pega três livros na Biblioteca Central e a cada semana, mais três na da vila Falcão. Fazendo as contas, com um mês de quatro semanas, são 18 livros ao mês. Uma recordista, considerando o pouco tempo, pois além do trabalho, cuida do pai adoentado: "Encontro um tempo pela manhã, outro no final da tarde e à noite. Nos finais de semana leio muito. TV eu quase não assisto, muito pouco. Certa feita gostei tanto de Fernão Capelo Gaivota que, o copiei inteiro num caderno. Só depois fui comprar o livro. Há uns 15 anos atrás contei e já tinha lido uns 500 livros, hoje parei de contar, mas acho que já passei dos mil".


Ela é dessas que lê tudo o que lhe cai nas mãos: "Pego um autor e se gosto dele, leio tudo o que escreveu. O hábito da leitura peguei do meu pai. Minha mãe lia bem menos. Não tenho preferência por autor e gênero e acho isso muito bom, pois diversifico bastante". Se a deixam discorrer livremente sobre o assunto, não para mais, pois a leitura é uma espécie de fio condutor de sua vida. Em casa diz possuir duas estantes cheia deles no quarto e o pai mais duas no dele. Quando lhe pergunto se costuma emprestar os seus, responde rapidamente: "Não gosto muito. É que o pessoal não gosta muito de ler e os que emprestei, tive problemas com a devolução. Tive que cobrar várias vezes". Aproveita a estada na Jalovi e como gosta muito de biografias, reserva para o próximo pagamento a feita por Nélson Motta sobre a vida de Tim Maia, que custa R$ 49 reais. Quando já me havia afastado, fez questão de voltar a me procurar só para dizer, também adorar os ilustradores, fazendo até pesquisa sobre eles.

Outro devorador de livros, Jorge Frederico Simões da Silva, 39 anos, casado, pouco antes de receber o seu presente falava algo que, deixou muitos presentes com os olhos arregalados: "Eu já li mais de cem esse ano". Ele se diz numa situação privilegiada no momento e com ela alavancou aquilo que tanto gosta e não tinha tempo para fazer: "Tive uns problemas cardíacos e fui obrigado a me afastar de minhas atividades profissionais. Em casa o dia todo, passei a me ocupar com a leitura, tirando o atraso. Estou mais feliz do que nunca". Ele mora no Geisel, um bairro popular da cidade e se diz entristecido com os jovens de lá e pelo desinteresse atual deles pelos livros: "Peguei esse hábito de forma diferente e já não muito novo. Tinha uma banca de revistas e vendo aquilo tudo ali do meu lado, fui pegando gosto pela coisa. Das revistas passei aos livros e hoje não consigo mais ficar sem. Fico triste em ver a meninada daqui nas ruas e poucos frequentando as bibliotecas". Diz possuir um outro hábito, o de ir grifando as frases e copiando num caderno, para ir revendo quando tiver dificuldade de lembrar algo já lido. O poeta Joaquim Simões, quando convidado ao evento, encantado com a quantidade de livros que alguns já haviam lido no ano, trouxe três exemplares do seu último livro publicado, o Liberdade Absoluta", fazendo questão de entregar pessoalmente aos agraciados, com umas palavrinhas de incentivo feitas ao pé da orelha. As conversas se sucedem de forma bastante animada e um dos mais ocupados com o movimento todo era o gerente Nilo que, faz qualquer negócio para ir vendendo o fruto do negócio a lhe ditar e conduzir sua vida. A livraria não permite o parcelamento do cartão com valores inferiores a R$ 30 reais mês, mas diante da inquerência desse que vos escreve, já com o escolhido nas mãos, tendo um preço de R$ 52,90, responde de bate pronto: "Não seja por isso. Negócio feito, o livro é seu". Eu, que havia ido assistir o evento, sigo os agraciados da manhã e saio de lá com o que havia me motivado a ir até lá, ou seja, um livro. No meu caso, o "Diário Selvagem – O Brasil na mira de um escritor atrevido e inconformado", do jornalista Carlinhos Oliveira, da editora Civilização Brasileira, um catatau de quase 500 páginas. Ainda deu tempo de comentar na última rodinha a ser desfeita no local que, havia colocado em prática um pensamento de Erasmo de Roterdã: "Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda sobrar algum, compro roupas e comida".
Legenda das fotos:
Elizete no cerimonial do evento.
O salão da Jalovi lotado no momento da premiação.
Os premiados recebendo seus livros.
Cibele recebendo seu livro das mãos de uma bibliotecaria
O poeta Joaquim Simões, leitor Jorge Silva e escritor Munir Zalaf
Elizete e Nilo nos finalmentes do evento


Henrique Perazzi de Aquino, escrito em 25/11/2007.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Henrique tudo bem?

Saudade de você, de sua terra!
No domingo, fazendo um falso "bauru" no lanche para mim e para meu filho, contei p/ ele a história do "verdadeiro" BAURU, que agora já não corre mais o risco de cair no esquecimento. Pena que por aqui a gente não encontra o verdadeiro, acho que só aí mesmo, não é?
Viu, sempre lembrando de você!


Bem, adorei a reporatgem abaixo!
Também gosto muito de ler, apesar do tempo curto (trabalho, faculdade, casa, filho, mãe que mora comigo e está doente), consegui ler até o momento pelo menos 35 livros. Me dou por contente, pois pensso que se tivesse tempo livre realmente, chegaria a uns 150 pelo menos. Como um dos leitores falou, se gosto de um autor, leio tudo que ele escreveu e o que escreveram sobre ele. Gosto muito das biografias, a partir delas a gente se sente meio amigo do escritor. Descobre coisas do tipo " Jean Paul Sartre é sobrinho-neto de Albert Schweitzer" ( sou fã dos dois).

E seu livro sai quando? Você adora escrever, não?

Um beijão e boas leituras aí!
Romi - Curitiba PR